A Escolhida escrita por Madu Oms


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Olá.



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No dia seguinte Josh não apareceu. E nem no outro. E nem no outro dia depois daquele.

Na verdade, durante duas semanas Josh não deu as caras na escola, e nem mesmo nos meus sonhos. Uma parte de mim dizia que eu não precisava me preocupar, que talvez ele só estivesse doente e que logo voltaria.

Mas a outra parte me dizia que não estava nada bem. Que coisas muito, muito ruins mesmo estavam acontecendo e que não eram com Josh, mas o envolviam.

Por mais que eu não o conhecesse, sentia como se precisasse cuidar dele. Ajudá-lo de alguma forma, tentar encontrá-lo, fazer qualquer coisa. Mas ir atrás. Porque ele precisava de mim.

Claro.

Eu dei ouvidos à parte que dizia “tudo bem”. Mesmo que meu coração berrasse para de ser burra, não está tudo bem.


Então, numa terça feira que seria comum se não estivesse mais quente que um fogão, Josh voltou às aulas. Ele tinha duas olheiras enormes embaixo dos olhos, que pareciam ainda piores por causa de sua pele excessivamente branca. De repente me perguntei se ele não vinha de um lugar onde o Sol não dava as caras – um lugar parecido com as segundas em Stonewood.

Já estava acostumada – ou quase – com a palidez do meu novo “amigo”, mas agora ele estava tão branco que parecia doente.

Sentou-se na minha frente na primeira aula, a de física, e só mudou de lugar na última porque Rebeca o obrigou.

Enfim, Josh se sentou na minha frente e virou para trás para falar comigo, ignorando completamente os olhares acusatórios da professora Bianca.

– Precisamos conversar.

– O que aconteceu com você? – perguntei.

– Longa história.

– Temos uma aula de física inteira.

Josh respirou fundo, e eu juro que até mesmo aquele simples ato me fez tremer na base. Ele parecia estar fraco demais até mesmo para isso.

– Pode me encontrar no café aqui na frente depois da aula? – ele me perguntou.

Minha mãe não vai se importar... Vai?

– Tudo bem.

E durante o resto da manhã eu tentei me concentrar nas aulas, mesmo que fosse impossível com Josh resmungando em uma língua muito esquisita, e com um sotaque muito esquisito também, mas que me lembrava vagamente o latim.

– Desembucha.

Eu coloquei minha bolsa não-tão gentilmente na parte de trás da cadeira, dando alguns goles no café, enquanto esperava o garoto decidir se falava ou não comigo.

– Lembra o que eu te falei, há alguns dias... Sobre os escolhidos dos deuses?

Epa.

Então não era um sonho?

– Lembro...

– Se você pensou, e eu acho que fez isso, sobre os sonhos... Ou o que você achava que eram sonhos, já deve ter concluído que eu também sou um escolhido.

Claro que já, pensei, mas não disse nada. Apenas afirmei com a cabeça e deixei que ele continuasse.

– No último sonho, você viu que Nostrae não estava exatamente como estava no outro. Meio esgotada, não é? Doente, vazia... Bom, está muito, muito pior agora. E mesmo com o poder de todos os deuses e seus escolhidos, mesmo todos os Noimosynis gastando até suas últimas reservas de energia para combater o que é que esteja tentando atacar Nostrae, não é o suficiente.

– O que são Noimosynis? – perguntei, ignorando totalmente todo o discurso que ele havia feito.

Josh revirou os olhos, e por um momento eu pensei que as córneas haviam se rompido e que ele ficaria com os olhos invertidos para sempre.

Mas foi só por um momento.

– São criaturas mágias que habitam o reino de Sócera.

– E o que seria o reino de Sócera?

– Onde vivem os deuses, os Noimosynis, os Electi, os...

Eu o interrompi mais uma vez.

– Electi?

– Escolhidos. – Josh traduziu. – É em latim. Pensei que você soubesse, ou ao menos entendesse a língua.

– Eu entendo...

– Posso continuar? – ele pediu.

Assenti, mais uma vez me controlando para não fazer pergunta nenhuma.

– Uma força muito forte está atacando Nostrae, e com base nas minhas viagens para outras dimensões, e nas viagens dos deuses também, o problema não está só lá. Sócera inteira está sendo atacada. E nós não sabemos de onde vem, ou quem está comandando esse ataque. São forças ocultas muito, muito poderosas, que estão em todos os lugares do universo, e concentrando seus ataques no centro de Sócera.

– Que seria...

– Paradisum. – ele respondeu.

– Paraíso?

– Quase como. É para lá que vão os seres com uma magia muito além da dos deuses ou dos Electi. Ou dos Noimosynis. É em Paradisum que estão os Praesidios, guardas inter-dimensionais, os Malefici, magos, e os escolhidos que já morreram e agora tem um poder ilimitado.

– Ok. E você quer minha ajuda para...

– Quero que você vá comigo para Discente, a dimensão onde os Electi são treinados. Aprenda a controlar seus poderes. Descubra qual deus te escolheu. E depois entre na guerra. Porque se você for a escolhida de quem eu penso que você é... Então nós teremos problemas.

Ergui uma sobrancelha.

Problema não é exatamente minha palavra preferida. E no plural, então? Detestável.

– Que espécie de problema?

– Digamos apenas que todas as forças inimigas vão querer acabar com você primeiro.

– Ah, essa espécie de problema...

Josh assentiu.

– E eu acho, apenas acho, que se eles descobrirem antes de nós que você é a escolhida dessa deusa, o próximo ataque será aqui.

– Aqui Stonewood ou aqui Estados Unidos? – perguntei.

Ele me olhou como se eu fosse uma estúpida por fazer aquela pergunta.

– Aqui planeta Terra. E isso seria um problema muito, muito grande mesmo. E bem difícil de reparar.

Difícil de reparar.

Se eles conseguiam causar um estrago tão grande numa dimensão – ou num reino inteiro – com criaturas mágicas e infinitamente mais poderosas que o presidente dos Estados Unidos, o que não conseguiriam fazer com a Terra?

No mínimo explodí-la em um milhão de pedacinhos.

Oh oh.

– É por isso que você desapareceu e está assim, todo acabado. – deduzi. – Estava lutando em Nostrae e gastou bastante da sua energia...

– É, é por isso. – ele sorriu. – E obrigado pela parte que me toca. Acredite, se é esse o adjetivo que me dá, quero ver como chamaria os que estavam piores que eu. Provavelmente teria que inventar uma palavra nova.

Eu teria rido da piada, se não tivesse lembrado que, em breve, estaria no meio dessa guerra também.


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Notas finais do capítulo

Tchauzinho.