A Escolhida escrita por Madu Oms


Capítulo 24
Chapter seven


Notas iniciais do capítulo

Tive problemas técnicos e isso atrasou em alguns dias a entrega do capítulo. Não vou pedir perdão pelo atraso, porque todos vocês já se acostumaram. Também não vou me enrolar muito aqui nas notas, o que tiver de importante para ser dito está lá no final.
NÃO PULEM AS NOTAS FINAIS, OU não vai acontecer nada, mas não pulem mesmo assim.
Bom capítulo!
Ah, p.s.: em Sócera não tem tempo, mas a Savanna e todos os Electis se baseiam na contagem humana de anos e horas para definir as coisas. Eles transitam bastante entre a Terra e as dimensões mágicas, sabe... E, mais importante: continuam sendo seres humanos nascidos na Terra.



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— Obrigada por me deixarem usar a energia de vocês – comecei, colocando uma mecha de cabelo para trás. Tento tempo em silêncio começava a incomodar. – Me desculpem por ter, sabe, quase matado nós três. Se meu corpo humano não fosse tão fraco, eu conseguiria ter feito o feitiço sozinha.

Corpo humano. Eu falava como se fosse Lucem. Podia ter sido ela uma vez, e podia me lembrar de tudo daquela vida. Mas eu continuava sendo Savanna. Uma forte, poderosa e confusa versão de mim mesma, mas ainda assim, era Savanna.

Josh e Avril assentiram. Eu já não sabia o que pensar sobre os dois. Tanto meu namorado quanto a minha Electi – ou seria a escolhida de Lucem? – sabiam a verdade e haviam a escondido de mim durante os últimos meses. Claro, eu tinha noção de que isso provavelmente era um pedido de Onum, mas a minha parte humana – recheada de egoísmo e egocentrismo – não queria perdoar nenhum deles.

A parte deusa ainda não tinha se manifestado sobre o assunto.

Fazia algum tempo desde que havíamos saído do Centro de Recuperações – lugar para onde eram mandados todos os Electis feridos em batalha, e nenhuma parte de mim sabia que isso existia – e nos transportado para o chalé de Josh. Como nenhum de nós falava nada, e a maior parte dos outros escolhidos estava ajudando a limpar a bagunça que a guerra havia deixado, o lugar todo estava silencioso o suficiente para se tornar perturbador.

Mas eu não sabia como começar uma conversa.

Minhas duas partes – e eu odiava sentir como se fossem dois seres separados – estavam confusas e assustadas. Queriam perguntar o que estava acontecendo, porque aquilo definitivamente não era o que eu esperava. O que Lucem esperava.

— Você deve estar confusa – Avril começou, escolhendo cautelosamente as palavras. Não conseguia definir se ela queria quebrar o gelo, ou se queria conversar de verdade. – Deve ter mil perguntas para fazer.

Muito mais de mil.

— Por quê?

Foi a primeira coisa que saiu de mim. Era muito vaga, eu tinha noção disso. Mas Avril pareceu entender o que eu queria dizer.

Por que as coisas tinham acontecido dessa forma, e não como todos havíamos planejado há dois mil anos? Por que ninguém tinha me contado sobre a mudança de planos? Por que me enganaram, me tornaram numa deusa novamente, se era tudo o que eu não queria?

— Você era a responsável por dar fim na guerra, Savanna – ela falou, os olhos violeta (iguais aos meus) brilhando intensamente. – Sua forma de deusa sempre esteve apriosionada dentro de você, e voltou à tona quando foi necessário. Não nos culpe por isso. Era o único jeito de acabar com tudo.

— Meus poderes deveriam ter sido passados para você – respondi. – Você deveria ser a responsável pelo fim da guerra, Avril, e não eu.

Não ia mentir, era ótimo ser poderosa novamente. Ser mais rápida, mais forte, melhor do que todas as outras pessoas. Mas agora eu era uma deusa com a mentalidade de um ser humano – de modo que eu sabia do que era capaz, e nem sempre seria prudente ao usar meus poderes. Ao driblar nossos planos, Onum criara uma bomba-relógio.

Avril teria tido tempo para aprender a se controlar antes que sua ajuda fosse requisitada. Ela poderia se tornar uma deusa, de dentro pra fora.

Agora quem teria que ser controlada era eu.

— Onum nem sempre age como nós queremos, você sabe – ela me deu um suspiro cansado, mostrando que havia muito mais naquela história do que eu sabia. Muita coisa havia acontecido nos últimos dois milênios, pelo visto. – Ela é a deusa do equilíbrio e da bondade, todos sabemos, mas continua uma deusa. Tem seus próprios desejos egoístas.

Me encolhi ao pensar que Onum poderia estar ouvindo essa conversa. Se tem uma coisa que os deuses odeiam, é que seres inferiores os questionem.

— Mas eu não quero ser uma deusa – respondi, sentindo um bolo se formar na minha garganta. – Eu só quero ser normal. A vida como ser humano é muito boa, Avril, muito melhor do que como ser todo-poderoso. E ainda tem meus pais...

Minha voz falhou. Meus pais. Minha família. Eles sabiam onde eu estava, mas será que sabiam que a guerra já havia acabado? Que eu estava bem, sã e salva, com minha memória milenar restaurada?

Eles sabiam que eu era uma deusa?

Josh abraçou meus ombros, e eu me encostei nele. Era por causa dele que eu havia me tornado humana, em primeiro lugar.

— Preciso que me faça um favor – falei, olhando para Avril. – Preciso que requisite uma audiência com os deuses. Eu, você e eles. O mais rápido possível, por favor.

Minha Electi passou os olhos entre eu e meu namorado, entendendo que precisávamos de um tempo sozinhos. A audiência, porém, não era apenas uma desculpa. Tínhamos assuntos pendentes para resolver com os poderosões do reino de Sócera.

— Certo – ela suspirou e desapareceu.

Josh levantou e andou até a cama dele, indicando o espaço ao seu lado com a mão. Andei vagarosamente até lá, ainda pensando em como iniciaria a nossa conversa, e me deitei com a cabeça apoiada em seu peito. Uma mão quente estava apoiada na minha cintura, e a outra massageava meu braço. Deuses, ele não sabia como isso dificultava meu raciocínio?

— Então... – Josh falou.

— Então... – repeti, mas não tinha a menor ideia de como continuar aquela fala.

— Eu senti sua falta.

Aquilo me atingiu como um tapa.

Por um momento, eu me senti... Traída. Josh se apaixonara primeiro pela minha versão deusa que existira há dois milênios, e depois pela minha versão real. Sim, nós éramos a mesma pessoa. Mas ele tivera que aprender a amar Savanna como, um dia, tinha amado Lucem. Não era a mesma coisa. Josh não sentia como se fosse a mesma coisa.

E ao dizer que tinha sentido a minha falta, ele só constatou o que eu deveria saber. Lucem era muito mais amada que eu, Savanna. E em todos os minutos que passamos juntos, Josh desejava que eu recuperasse a memória logo para que tudo voltasse a ser como era antes.

O único problema era que Lucem havia morrido há dois milênios. Eu era Savanna. Eu sou Savanna. E o sentimento que ele nutria por essa versão de mim jamais seria o mesmo que nutrira pela minha... Versão original.

Respirei fundo e contei até dez para reprimir um soluço. Teria que aprender a lidar com essa verdade, e com o fato de que eu era as duas. Josh me amaria de todos os jeitos.

— E eu a sua.

Não era verdade. Estivera com ele o tempo todo. Mas me pareceu a coisa certa a se dizer.

Senti seus braços me apertarem com um pouco mais de força, e a vontade de chorar me dominou de novo. Ele não está me abraçando. Está abraçando Lucem.

Precisava tirar minha cabeça daqueles pensamentos antes que eu enlouquecesse. Tentei me lembrar dos momentos felizes que passamos juntos quando eu ainda era uma só e não fazia ideia de nada.

— Josh – disse, me recordando de uma conversa que tivemos há muito tempo. – Você uma vez me disse que tinha se arrependido de ter escolhido a imortalidade. Por que se arrependeu?

Ele me encarou intensamente. Achei que não teria uma resposta, mas o ouvi limpando a garganta antes de falar.

— Dois mil anos é tempo demais, Sav – suspirei aliviada ao ouví-lo me chamando pelo meu nome real. – Foi horrível passar tanto tempo esperando você renascer, especialmente quando a maior parte dele eu gastei procurando Electis na Terra. Tente se imaginar vagando pelo mundo procurando inutilmente rastrear uma versão minha que você não sabia como seria, onde nasceria e se te amaria da mesma forma que eu te amei. Amo – ele acrescentou rapidamente. Ignorei aquilo. Foi um erro simples. Nada demais. Por favor não chore... – Seria insuportável, já posso adiantar.

Não tentei imaginar nada, porque não queria chorar. Não na frente dele.

Mas assenti levemente, como se quisesse dizer que compreendia perfeitamente o que Josh estava falando.

— Você está dizendo que se arrependeu de ter esperado por mim?

— Não – ele arregalou os olhos, como se aquela ideia fosse absurda. – Eu me arrependi de ter esperado vivo. Se tivesse escolhido renascer, as coisas teriam sido muito mais fáceis. Tinha uma pequena chance de nós não nos conhecermos, ou de nascermos em épocas diferentes, mas eram iguais às chances de você não me amar se eu te esperasse enquanto imortal.

Assenti novamente, mas não falei mais nada. Considerei o assunto como encerrado. Seria muito doloroso prolongá-lo mais do que o necessário.

— Avril.

— O que tem ela?

— Ela era minha Electi. Deveria ter ficado com meus poderes e se tornado uma deusa, mas Onum não cumpriu sua parte do acordo – suspirei. – Então, como eu mantive meus poderes, Avril devia ter ficado sem algum. Ela é só um ser humano imortal comum, então?

Josh sacudiu a cabeça em negação.

— Um ser humano imortal mais forte e mais rápido que os outros vagando por aí era a última coisa que os deuses queriam – ele riu levemente, mas parou quando viu que eu não o acompanhei. – Sione a adotou como escolhida.

Sione era melhor amiga de Lucem. Fazia sentido.

Ficamos em silêncio por mais alguns minutos. Ou talvez fossem horas. Era difícil saber. Estava completamente imersa em pensamentos, e meu celular tinha ficado na Terra. Minha língua coçava para fazer a pergunta de um milhão de dólares, mas eu sabia que não queria ouvir a resposta. Já era doloroso suficiente pensar no que Josh poderia responder...

— Eu não quero voltar a ser uma deusa – comentei. – Não posso.

— Vamos esperar a audiência para decidir isso, sim? Só queria que você tivesse me incluído nos planos.

Meu coração apertou de culpa.

Agora era tarde.


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Notas finais do capítulo

Sim, é só isso. De nada. Ou talvez, me desculpem.
O próximo capítulo sai não sei quando. Ainda não defini se vai ser o último, ou se a fanfic terá um epílogo. Espero conseguir postar ainda esse mês ou no começo de fevereiro, já que depois as aulas chegam e todos sabemos que eu não sei me virar com datas quando estou em aula.
Não sei se vai ter continuação, também. Planos eu tenho, só falta mesmo a vontade de escrever. Quem sabe um dia?
Little Savanna está percebendo que vai ter que lidar com problemas como: "meu namorado não me ama tanto quanto ama a ex, mas a ex sou eu."



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