A Escolhida escrita por Madu Oms


Capítulo 12
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é xexelento. O próimo é bem legal (mentira).



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/304951/chapter/12

Confesso que meu forte não era “dar uma segunda chance”.

Foi bem difícil aceitar os sentimentos de Cristopher e mais difícil ainda decidir que daria a ele a chance de se aproximar de mim. Apesar dele ser o filho do meu maior inimigo e também o cara que queria destruir o reino mágico de Sócera, Castell me fez entender que ele não escolheu ser parentes desses caras e que não tinha culpa pelos atos de seu pai. Precisei de algumas horas para entender isso e perceber que não morreria por dar uma chance dele se aproximar.

Morreria?

Não.

Acho que não.

Cheguei na escola e caminhei diretamente para meu ponto de encontro com Rebeca – leia-se: porta da biblioteca –, e precisei reprimir meu susto ao ver que ela não estava lá. Chequei meu celular, na esperança de ter uma ligação dela ou uma mensagem. Qualquer coisa.

Mas não tinha.

— Ela não vem. — ouvi Cristopher dizer atrás de mim.

Eu ia me virar para gritar com ele, quando me lembrei da promessa que havia feito. Engole a raiva, Savanna. E o orgulho também.

Dei um sorriso mínimo e abri a agenda de contatos, com uma remota esperança de conseguir falar com ela. Quer dizer, Rebeca podia estar morrendo enquanto o mundo caía e zumbis atacavam as pessoas comendo seus cérebros, mas jamais deixava o celular longe. Era uma das coisas que estavam em sua lista de “nunca farei isso”.

Busquei seu número na agenda e esperei que ela atendesse. E esperei. E esperei. E esperei. E nada dela me atender.

Olhei para cima, buscando os olhos de Cristopher. Ele me encarava com firmeza, mas ao mesmo tempo entendia minha preocupação. Eles estão saindo agora, Sav. É óbvio que vai se sentir preocupado. Mesmo que não a ame do jeito que ama você.

Reprimi esse pensamento, torcendo para que ele não soubesse ler mentes. Seria vergonhoso.

— Você tem notícias dela? — perguntei timidamente.

Ele deu de ombros.

— A mãe dela me disse que ela pegou uma infecção intestinal e uma virose... Mas é estranho, não? Que ela tenha ficado doente de uma hora para a outra. — e suspirei ao vê-lo erguer uma sobrancelha para mim. Eu não apenas achava que tinha algo a ver comigo, como também sabia que ela não estava doente.

— Espero que você não tenha nada a ver com isso.

Cristopher franziu o cenho, mas não falou nada. Tentei ouvir seus pensamentos, na esperança que aquilo pudesse responder as perguntas que se formavam na minha cabeça – já que era óbvio que ele não as responderia. Porém, algo me bloqueou.

— Eu não tenho. — ele disse. — Por que você sempre espera o pior de mim, Savanna? Eu nunca te fiz nada. E se eu tiver feito, me avise, por favor. Quero reparar o meu erro.

E quando viu que eu não ia responder, suspirou e deu um passo para sair de perto de mim.

— Se é isso que você quer, eu não vou mais te incomodar, ok?

Eu o observei caminhar em direção a escada que dava para as salas de aula, me sentindo a pior pessoa do mundo por ter dito aquilo para ele. Não era o culpando por minha melhor amiga estar doente que eu conseguiria me aproximar. Me dei um tapa na testa e corri em sua direção.

— Cristopher.

Ele parou no meio do caminho e se virou para trás. Seus olhos dourados mostravam que, realmente, ele estava cansado de tentar me convencer que era uma pessoa boa e que não ia me fazer mal.

E isso só fez com que eu me sentisse pior ainda.

— Olha, eu...

— Não precisa. — Lound deu um meio sorriso e voltou a subir a escada, parando no último degrau. — Eu sei que você não quer falar comigo, Savanna. Não tente se obrigar a me aturar.

— Não é isso!

Mas ele já havia desaparecido na multidão de alunos.

Você precisa parar de fazer besteira.

***

Na hora do almoço, tentei reparar meu erro e caminhei até a mesa onde Cristopher estava sentado. Precisava explicar para ele que não o odiava, e que não estava me obrigando a aturá-lo.

Estava sendo obrigada.

Mas ele não precisava saber.

— Posso me sentar aqui? — pedi.

Ele deu de ombros, mas não falou nada. Coloquei minha mochila no chão e sentei no banco em sua frente. Cristopher evitava meus olhos, e isso demonstrava que, agora, quem não queria falar nada era ele.

— Cristopher, eu não te odeio.

Ele ergueu a cabeça para me encarar, mas não parecia acreditar em mim. Esvaziei meus pensamentos e ergui a barreira da mesma forma que Castell me ensinara para conseguir evitar que ele os lesse.

— E eu sei que você não é mais... Você sabe...

— Um mago das trevas?

Cocei a cabeça. Não era exatamente assim que eu esperava que ele me respondesse, com tanta frieza. Estava esperando seu tom meloso de sempre, mas me surpreendi ao receber justamente o contrário.

— É. Mais ou menos isso. — respondi.

Ele deu de ombros e voltou a encarar o sanduíche intacto, um silêncio constrangedor se formando.

— E eu quero que você me des... Me desculpe por ter sido grossa. É que tinha algo em você que me incomodava muito e...

— Tinha? — ergueu uma sobrancelha. — E o que seria?

— Não sei... —admiti. — É sério. Talvez você tenha algo parecido com seu pai... A voz, quem sabe? Mas você faz com que eu me lembre de Alexei. E ele não é exatamente a pessoa que eu mais amo. Você me entende, não é?

— Claro.

Fiquei aliviada ao ver um sorriso se formando em seus lábios.

— Ah, e mais uma coisa...

Mas quando eu ia falar, parei. Como diria aquilo? “Ah, além disso tudo, também sei que você me ama há dez mil anos.”? Não, não poderia fazer isso. Ele não saberia, não de mim, que Castell havia me dito sobre seus sentimentos a meu respeito. Ninguém saberia.

— Eu... É...

— Você...? — Cristopher me incentivou a falar.

— Eu quero ser sua amiga. — disparei, torcendo para que não soasse falso demais. Não era exatamente isso que eu queria que ele pensasse.

Não era uma desculpa.

Era uma realidade.

Porque eu queria ser apenas sua amiga. E nada mais.

***

A semana passou mais rápido do que eu imaginava que seria. Josh voltou para a escola – o que foi um alívio, já que era constrangedor ficar sozinha com Cristopher em todas as aulas – e Rebeca continuava desaparecida, apesar de eu já ter ligado para sua mãe e confirmado a versão de Cristopher de que ela estava doente.

Mas, então, porque srta. Jones não queria que eu visse Rebeca?

Tinha algo muito errado nisso.

Deixando de fora a minha desconfiança sobre a doença de minha amiga, estava tudo dando certo. Cristopher e eu estávamos nos dando bem – pelo menos conseguíamos ficar no mesmo ambiente sem discutir por, mais ou menos, dez minutos – e ele até me ajudava a treinar de vez em quando, mesmo que eu preferisse lutar apenas com Josh.

Estava tudo “nos conformes”.

As coisas começaram a dar errado no final da semana.

Na sexta feira, como de costume, eu me transportei de Nostrae, onde estava treinando agora, para o bosque perto da minha casa. Ninguém poderia me ver ali. Era um lugar ótimo para aparecer do nada.

Andei diretamente para a minha casa, com a maior naturalidade, como se estivesse voltando de uma breve caminhada no bosque.

Entrei em casa, torcendo para que ninguém estivesse lá. Algumas vezes, eu voltava super cansada – até demais – dos treinos e meus pais começavam a fazer dezenas de perguntas, as quais eu conseguia dar desculpas esfarrapadas e passar ilesa do interrogatório.

Mas não era a mesma coisa com Valentine.

Apesar de ser mais nova que eu, ela era muito mais esperta. Sabia quando eu estava mentindo, mas se recusava a entender que eu apenas não queria compartilhar o motivo de meu cansaço com ela. Mesmo eu quase implorando de joelhos, minha irmã se mostrava irredutível. E eu tinha medo que, um dia, ela descobrisse meus segredos.

Entrei no quarto e me joguei na cama, exausta demais para trocar de roupa ou fazer qualquer outra coisa. O treino havia sido intenso demais.

— O que foi, querida irmã? — ouvi a voz irritante de Valentine preencher o quarto.

Levantei a cabeça, e a vi entrar no cômodo, fechando a porta atrás de si e cruzando os braços na altura do peito. O que quer que ela estivesse esperando, eu não lhe daria. Me recusava a deixar que minha irmã soubesse que eu era uma Electi.

—Saiu com Josh novamente? — perguntou, vendo que eu não diria nada.

Mais uma vez, não respondi.

— Vocês estão namorando, não estão?

Arregalei os olhos e me levantei bruscamente, sentindo a cabeça rodar por conta do movimento. Respirei fundo, esperando que a tontura passasse.

—Josh é meu melhor amigo. Só isso, ok? Nada mais.

Ela me encarou com o olhar incrédulo.

— Pensei que Rebeca fosse sua melhor amiga.

—E ela é.

— Você não sai com ela cinco vezes por semana.

Ergui uma sobrancelha.

— Você conta quantas vezes por semana eu saio com o Josh?

Valentine se sentou na ponta da minha cama e ficou me encarando, como se ainda aguardasse a minha confissão. Eu apenas a encarei, esperando que me respondesse. Quando ela percebeu que eu não ia falar mais nada, ergueu as mãos na frente do corpo, como se estivesse se rendendo.

— É que eu fiquei magoada por você estar namorando e não me contar.

— Não deveria, pois eu não estou namorando.

— Se você diz.

Ela deu de ombros e abriu a porta, parando de andar só para me dizer.

— Apenas acho que você devia prestar mais atenção nos seus sentimentos.

E então saiu do meu quarto, me deixando sozinha mais uma vez. Tive de me controlar para não rir. O que uma pirralha sabia sobre sentimentos, afinal?

Caminhei até o banheiro, tomei um banho rápido e coloquei um pijama qualquer, torcendo adiantado para não sonhar com nada nessa noite.

E, para a minha sorte, minhas preces não foram atendidas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Semana que vem eu posto o 12. Fiquei abalada escrevendo. Quero tentar começar o 13 logo porque ele vai ser o penúltimo ou antepenúltimo da primeira fase (leia-se: gi-gan-te).



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Escolhida" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.