A Escolhida escrita por Madu Oms


Capítulo 11
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Revisei uma vez só, não sei se está muito bom. Ficou grande.



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Confesso: tentar me aproximar de Cristopher foi mais difícil do que ignorá-lo completamente. Os motivos?

Por onde eu começo?

Talvez pelo fato dele ser tão perfeito?

Não estou querendo dizer que me senti atraída por ele, não, justamente o contrário. Mas Cristopher tinha tudo o que poderia encantar qualquer garota: a beleza estonteante sem um mísero defeito, o bronzeado perfeito, os cabelos sempre bem aparados e arrumados, os olhos dourados – que já não assumiam a tonalidade negra – brilhantes, a voz melodiosa, o porte atlético, seu jeito com as palavras... Talvez o fato dele conseguir ser tão maravilhoso me desse tanta raiva. Nenhum garoto podia ser perfeito, não é?

E isso era motivo suficiente para que eu erguesse uma sobrancelha.

As chances dele ser um Luditor querendo me descartar antes que acontecesse a batalha final eram muito grandes.

Na hora do almoço, Cristopher se sentou conosco novamente, e dessa vez eu não o barrei. Não só apenas por Josh ter me pedido para me aproximar dele, mas também porque Rebeca tinha ficado brava comigo por eu ter sido grosseira com ele.

— Ele é um amor de pessoa, Savanna! É você que com esse seu egoísmo e egocentrismo todo não consegue perceber que o Cris é um cara super gente boa. — ela dissera.

E eu não respondi.

Porque percebi que ela o chamara de Cris.

Quando Cristopher sentou-se ao seu lado, percebi o olhar de Beca se suavizando, como se pudesse ficar tranquila enquanto ele estivesse ali. A ideia em si me deixou enjoada. Juntamente com um fato que eu não queria enxergar, mas agora era impossível de se ignorar: ela estava apaixonada.

O que me deixava pior ainda era que ela estava muito brava comigo. E eu não conseguiria protegê-la de um possível mago das trevas enquanto ela estivesse me evitando.

— Então, Reb... — “Cris” falou, seu tom meloso fazendo meu estômago revirar. Coloquei o sanduíche na mesa, sem a menor intenção de comê-lo. — Topa sair na sexta feira?

Os olhos dela se iluminaram.

— Claro!

Ele sorriu, e então se virou para mim.

— Pode vir junto, se quiser. Leva o seu namorado... Qual é mesmo o nome dele? Josh, não é isso? — Lound piscou um dos olhos, como se compartilhássemos uma piada interna. — Pode levar ele também.

— Ele não é meu namorado... — murmurei. — E, não, obrigada. Eu estou meio ocupada na sexta.

Fingi não notar o olhar de alívio que Rebeca lançou para mim, peguei minha bolsa e caminhei até o lado de fora do colégio, totalmente sem paciência para ver as duas últimas aulas. Sabia que meus pais acabariam brigando comigo por estar matando tanta aula, mas eu não conseguia mais ficar na escola. Minha melhor amiga me evitava, meu melhor amigo nunca ia e ainda tinha o Cristopher, que me fazia precisar reestabelecer o equilíbrio interno a cada aula.

Andei sem rumo durante alguns minutos. Deixei que meus pés me levassem para qualquer lugar – tudo o que eu queria era ficar longe de casa e longe da escola. Só parei de caminhar quando percebi que havia me afastado demais da cidade, entrando numa mata que desconhecia por completo. Suspirei profundamente, pensando em dar meia volta, quando uma ideia me acometeu.

Tateei minha bolsa até encontrar a garrafa de sangue divino, tomando um gole e a guardando de novo. Precisaria dobrar meus esforços para criar um portal até Ligentia.

Mentalizei o parque e murmurei o nome da dimensão durante alguns segundos, até sentir o friozinho na barriga que indicava que o portal estava quase pronto. Alheia totalmente a qualquer som, intensifiquei a imagem de Ligentia em minha cabeça e murmurei seu nome com mais frequência.

Abri os olhos e sorri vitoriosa. O portal havia dado certo e, apesar de estar sentindo um cansaço enorme e uma dor de cabeça que beirava a enxaqueca, eu tinha avançado bastante.

Caminhei até o outro lado da rua e me sentei no meio-fio, tomando mais um gole da bebida divina e esperando que aquilo bastasse para conseguir voltar a andar. Talvez eu não esteja assim tão boa, afinal, pensei. Guardei a garrafa na bolsa novamente e dobrei os joelhos, colocando meus braços em torno deles.

— Tudo bem? — senti uma mão no meu ombro e me virei para trás, quase pulando de susto. — Calma, eu não vou te fazer nenhum mal.

A menina sorriu. Tinha a pele escura e um rosto tão bonito que podia ser comparada com uma boneca. Possuía cabelos negros e sedosos, que estavam presos em duas tranças. Ela usava calças com estampa de camuflagem, blusa branca, coturnos pretos e um casaco de couro que completava o estilo gângster no exército.

Ela provavelmente conseguia ler mentes, pois começou a rir. Ou talvez fosse apenas minha cara de espanto.

— Gângster no exército? Sério? — riu ainda mais, confirmando minhas suspeitas de que ela ouvia meus pensamentos.

Suspirei pesadamente. Se estava ali, não era uma Luditor nem nada que poderia me fazer mal, então não tinha motivos para suspeitar.

Tinha?

— Meu nome é Castell. — ela falou, estendendo a mão. Quando viu que eu não tinha a intenção de apertá-la, recolheu o braço e voltou a falar. — Você é terrena?

Franzi o cenho, sem saber do que ela estava falando.

— Você é da Terra. — perguntou.

— Ah... Sim, eu sou.

— Interessante. Não vemos muitos mortais por aqui, sabe? — ela deu de ombros. — Mas se está aqui, deve ter vindo na companhia de um Noimosyni ou Electi.

Ela olhou para algum ponto atrás do meu ombro esquerdo, como se procurasse a pessoa responsável por mim. Sem saber se era sua ignorância ou o fato de ela não compreender que eu estava ali por conta própria, comecei a me irritar com a menina.

— Eu sou uma Electi. — revirei os olhos.

Castell corou.

— Ah, me desculpe. — ela coçou a cabeça, tentando esconder a vergonha. — Então... Qual seu nome?

— Savanna. Savanna Jones.

Ela fez uma cara de surpresa que eu não compreendi, e então se ajoelhou aos meus pés.

— A Electi de Onum... — sussurrou. — Então é verdade...

Castell olhou para cima, e deve ter percebido minha cara de confusão, pois se levantou e fez outra reverência desajeitada.

— Todo o reino de Sócera te conhece, Savanna.

Foi minha vez de fazer uma cara de surpresa incompreensível.

Quer dizer, Josh me alertara que isso aconteceria: em breve, todo o reino mágico saberia o nome de Savanna Jones, a escolhida da mãe dos deuses. A primeira Electi de Onum. Mas eu não esperava essa reação das pessoas.

Me perguntei se teria que aguentar desconhecidos se curvando aos meus pés cada vez que fosse conversar com eles.

— Ah, perdão. — ela falou, provavelmente lendo meus pensamentos. — Eu prometo não fazer mais isso, senhora.

— Não me chame de senhora. — fiz uma careta. — Eu tenho quatorze anos. Não sou senhora.

— Senhorita?

— Não.

— Vossa Excelência?

— Nem pensar. — sacudi a mão de um modo que a pedia para ficar calada. — Que tal só Savanna ou Sav? Por favor.

Castell assentiu.

Ficamos alguns segundos em silêncio, o que me deixou desconfortável. Resolvi quebrá-lo.

— Você é uma Electi, então?

— Sou a escolhida de Scire. — seus olhos brilharam de felicidade. — Conheço cada canto dessa dimensão. Eu moro aqui, sabe? É o melhor lugar do mundo. Todo conhecimento que você possa adquirir está aqui.

Sacudi a cabeça levemente. Já sabia de tudo aquilo.

— Você pode me levar a um lugar?

— Depende. — ela ergueu uma sobrancelha.

— À casa dos Luditors. — observei Castell franzir o cenho antes de perceber que tinha falado uma bela duma besteira. — Ah, não... É que eu preciso checar... Ahn... Por favor, só me leve lá. Eu te explico no caminho.

Ela deu de ombros e começou a puxar meu braço pela estrada esburacada. Enquanto andávamos e eu lhe contava sobre Cristopher, percebi que muita coisa havia mudado desde minha última visita à Ligentia, no dia anterior. As casas haviam aumentado, e a quantidade de pessoas morando ali também. Não perguntei nada, no entanto, e continuei a falar.

— Cristopher me passa insegurança, sabe? Eu acho que não posso confiar nele... E os quatro Lounds que Josh diz conhece...

Castell parou abruptamente de andar, me fazendo parar também.

— Cristopher... Lound? — ela perguntou. — Você está falando de Cristopher Lound, o filho mais novo de Alexei Lound?

— Eu não sei. — fui sincera. — E por isso preciso visitar a casa dos Luditors. Preciso ter certeza de que ele é o filho de Alexei, e que é mesmo quem eu penso que...

Castell me interrompeu.

— Não. Cristopher não é nada do que você está pensando, Sav. — ela me disse. — Cristopher abandonou a família na dimensão dos Luditors que nós não podemos falar o nome e foi para a Terra. E se ele está justamente onde você e Josh estão... Então ele mudou mesmo de lado.

— Você os conhece?

— Acha que Josh é o único imortal fora de Paradisum? — ela riu. — Sim, eu conheço os dois. Treinei com Josh minha vida inteira. Já enfrentei Cristopher um milhão de vezes... No mínimo. Mas tudo mudou quando ele, há dois mil anos atrás, veio para Ligentia em busca de... De uma arma, acho, para Alexei, e teve uma visão da escolhida de Onum.

Arregalei os olhos, mal acreditando no que estava ouvindo.

Há dois mil anos arás...

Não existia nenhuma escolhida de Onum.

Porque eu fui a primeira.

— Ele se apaixonou por você naquele dia, Savanna. — Castell me arrastou até um banco ali perto e voltou a falar. — E decidiu que não serviria mais às forças de Alexei. O Lound-mestre já planejava esse ataque naquela época, sabia?

O modo como ela falou esse ataque me deu arrepios. A Electi de Scire dizia aquilo com a maior naturalidade, como se soubesse tudo sobre o assunto. Algo me dizia que ela sabia mesmo.

— Mas voltou para o exército de seu pai, sendo possuído pela magia negra. Voltou a ser mal, digamos assim. Depois voltou para cá, e depois para a dimensão dele, depois pra cá, e pra dimensão, sempre oscilando. Por isso os olhos mudam de cor quando ele está perto de você, Sav. Porque ele oscila entre o bem e o mal. Se lembra do que Alexei falou sobre você, e sente uma raiva insuportável, quer te destruir. Mas depois ele volta a ser bom novamente, com os olhos dourados, a cor principal de Onum.

—Não... Entendo. — sacudi a cabeça. Era muita informação para minha cabeça. Queria me levantar dali e sair correndo, o mais longe possível de Castell, de Ligentia, de tudo. Eu só queria ficar sozinha, tentar assimilar o que estava ouvindo.

Mas algo me mantinha sentada.

— Ele te ama, Savanna, desde muito, muito antes de você existir. E é a razão pela qual largou seu pai e vai lutar contra toda a família ao lado dos deuses. Você é a razão dele ser bom.

Suspirei.

Por quê ele insiste em flertar com a minha melhor amiga, então, se é apaixonado por mim?

— Não é óbvio? — ela respondeu ao meu pensamento.

Sacudi a cabeça em negação.

— Ele sente que você é apaixonada por alguém, Sav. E esse alguém não é ele. Mas Cristopher ainda tem os costumes da vida antes de te descobrir, entende? Ainda é egoísta e egocêntrico. De uma maneira mais humana, é claro. Não da maneira dos Luditors. Digamos apenas que ele acredita que você possa corresponder esse sentimento. Ambas sabemos que é impossível, não é mesmo? — ela riu. — Não preciso ser uma escolhida de Sione para saber que seu coração tem dono.

Franzi o cenho e Castell revirou os olhos.

— Sione é a deusa do amor.

— Pensei que a deusa do amor fosse Onum...

— Onum é o amor infinito, compreende? Um amor de mãe mesmo. Amor pela criação. Sione é o amor entre namorados, por exemplo. Um outro tipo de amor. Não tão absoluto quanto o de Onum, mas chegando bem perto. É algo que não tenho como te explicar, Savanna, desculpe. São milênios convivendo com os deuses, afinal.

Assenti, desejando apenas que ela parasse de falar e me deixasse assimilar as coisas.

— Sav, acho que é hora de você voltar à Terra. — ela me encarou com aqueles olhos castanhos, praticamente me intuindo a fazer o que pedia. — Já ouviu muito por hoje. Acho que falei mais do que deveria, inclusive.

Com certeza.

— Ei. — ela fechou a cara e murmurou algo em uma língua que se parecia com o latim. — Você não sabe ler mentes, sabe? Estaria muito brava comigo se soubesse... Espera. Ninguém te ensinou a ler mentes?

— Não. — respondi.

— E você quer aprender?

Eu nem precisei responder para que Castell entendesse. Provavelmente meu sorriso de ansiedade me entregou. Ela estendeu a mão para mim, mas não esperou que eu me levantasse para começar a me puxar em direção a um prédio que parecia com uma clinica medicinal. Mesmo me esforçando, não consegui ler a placa.


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Notas finais do capítulo

Os avisos do cap passado ainda estão valendo. Hey, podem me ajudar a formar uma trilha sonora pra essa fanfic? Prfvr obg.
Beijos.



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