O vento batia forte contra a janela do apartamento. A mulher sentada no sofá da pequena sala respirava com dificuldade, fechava e abria as mãos que tremiam por causa do choro. O ambiente era triste o pesar da perda era evidente em cada cômodo, e o tempo fechado combinava perfeitamente com o estado da mulher.

     O homem que tinha acabado de entrar suspirou ao olhar para a mulher de cabelos castanho-claros, sentada cobrida por um lençol, despenteada e com a mesma roupa da noite passada. Estava ficando sem ideias para anima-la, mais entendia a situação que a dona dos belos olhos azuis escuros estava passando.

     O desaparecimento da filha tinha a afetado bastante e a mesma estava num estado lamentável. A dor pela falta da filha e a autoflagelação de sua consciência a estavam esgotando.

     - Miranda, ainda está assim? – o homem caminhou em direção à janela e afastou a cortina bege para a luz cinzenta do dia nublado entrar.

     A mulher voltou a se deitar reprimindo o choro. Não gostava que Derek a visse chorar, mesmo que fosse seu amigo a bastante tempo. Na verdade ele era amigo de seu amado... Apenas a lembrança dele fazia com que seu coração se apertasse mais e juntando com a dor que sentia por não ter noticias de sua filha tornava a dor tão insuportável que era preferível à morte. Mas tinha descartado essa ideia, pelo menos até ter certeza que sua filha estava viva ou não e dependendo do caso ou iria se jogar da ponte do Brooklin ou a encontraria e a mataria. Não teria coragem claro, mas a deixaria de castigo até se casar.

     - Vamos levante você precisa comer. – Derek falou tirando o lençol de cima do corpo magro de Miranda.

     - Me deixe Derek. Não to afim de comer e nem de sair! – falou se levantando e indo em direção ao banheiro e se trancando logo em seguida.

     O moreno suspirou outra vez, passou as mãos pelos cabelos escuros e fitou o apartamento. Tinha roupas e fotos jogadas pela sala, à cozinha pelo o que via estava uma bagunça e o quarto da mulher era uma zona, o único cômodo que ela fazia questão de que estivesse limpo era o quarto da filha. Katherine.

     Assim como pai tinha olhos de uma cor verde tão brilhantes quanto o mar de safiras, o cabelo loiro como os raios de sol e a pele tão quente quanto o fogo de uma lareira. No entanto sua personalidade tinha muito mais em comum com a da mãe. Sorridente, controlada, não era nada paciente, principalmente quando envolvia algo que queria muito, mas acima de tudo ambas tinham o dom encantador de serem fortes. Não fazia muito sentido, mas convivendo com Miranda entendeu porque seu rei tinha se apaixonado por ela.

     De fato Derek sentia algo em relação à mãe da princesa, mas era apenas pura amizade e o dever de proteger ela e a filha. A lembrança forte de Tristan vagava ainda na mente e coração de Miranda a fazendo se esquecer dos outros homens, e claro ele não permitiria que a lembrança de seu amado amigo fosse apagada ou substituída por alguém indigno.

     A porta do banheiro se abriu e Miranda saiu com os cabelos molhados e vestida com outra roupa. Ela o olhou e depois sorriu era difícil ficar com raiva de Derek por muito tempo. Os olhos incrivelmente azuis dele eram reconfortantes e transmitiam certa segurança para ela.

     - Ainda está aqui?

     - Sim.

     Ajudou ela a organizar as coisas, conversando sobre coisas banais para afastar um pouco a mente cansada do seu maior problema. Assim que terminaram Derek a forçou a sair para comer algo saudável e que não era enlatados ou ramén instantâneo. Depois de comerem eles caminharam um pouco, dessa vez em silêncio. Miranda com seus pensamentos na filha. Derek com seus pensamentos mais distantes e envoltos por questões e descobertas.

     - O que quer? – sussurrou Mirando se sentando num banco que dava pra frente do Empire State.

     - Só estou preocupado. Você não tem comido direito e só sabe dormir. – disse a olhando com atenção. – Você não é assim. Kate. Por ela seja forte!

     Seu minúsculo discurso não teve muito efeito na mulher que ao ouvir o nome da filha se encolheu. Derek se arrependeu por ter começado a conversa, mas tinha que tentar algo ou ela se mataria inconscientemente. Miranda voltou a observar o enorme prédio.

     - O que quer que eu faça? – suspirou ao ver que estava fazendo, outra vez, o que ele queria.

     O moreno sorriu. O que pediu foi algo realmente aceitável e sabia que ela cumpriria, pois uma coisa que admirava nela era sua sinceridade e sua garra por seguir em frente. O seu pedido a manteria ocupada enquanto ele tentava descobrir o porquê de Katherine ter ido para Srenity. Era impossível viajar de volta a Serenity, pelo menos era o que ele achava, mas depois de pesquisar achou outros casos de desaparecimentos suspeitos e de aparecimentos mais suspeitos ainda.

     De possíveis idas e vindas de pessoas daquele mundo para o seu mundo natal. Se isso era possível então algo muito errado estava acontecendo em Serenity. Se ele pudesse descobrir o quê, isso facilitaria uma descoberta para trazer Katherine de volta antes que algo ocorresse com ela. Mas não sabia o que estava acontecendo.

     Todas as pessoas que tinham ido não tinha nenhuma ligação e nada de especial. Na verdade descobrira que enquanto Tristan ia e vinha pessoas estavam indo e talvez voltando. De todas as pessoas que tinham ido para Serenity poucas retornaram. Havia conversado com algumas para ter certeza e isso se comprovou, mas nenhuma se lembrava como tinha ido parar lá ou como tinha voltado.

     Se Derek não estivesse errado só havia dois únicos jeitos de atravessar os dois mundos e o primeiro era pela intervenção do destino e o outro...

     - Não é possível!Isso está comigo e não funciona mais! - descartou a segunda opção, pois era absurda de mais.

     Chegando a sua casa, tirou o casaco e trancou a porta foi direto ao seu quarto. Sentou-se no sofá que havia ali e olhou para a parede cheia de papeis com nomes, reportagens e locais. Katherine não tinha sido a única a desaparecer há um ano, mais dois jovens da mesma idade que ela e uma garota também. Pegou de seu bolso a carta que sempre carregava consigo. Seu rei tinha deixado isso para Miranda, mas ainda não era hora de entregar. Se Katherine tinha ido a Serenity já deveria saber quem ela é e quem era seu pai. Agora cabia apenas a ela decidir se sua mãe receberia ou não a carta.

    Mas isso contando com a sorte dela voltar.

     Derek sabia que as coisas não estavam bem. Primeiro o golpe que levou a vida de seu amigo e rei. Depois o ataque contra o vilarejo onde sua família estava. Logo em seguida usando as ultimas forças para vir avisar Miranda de que Tristan, seu amado jamais retornaria para ela, como havia prometido. Nunca contara o que realmente tinha acontecido, dissera apenas que tinha sido um acidente.

     Mas não era hora de lembrar do passado. Talvez.

     Se levantado e olhando pela a janela que dava vista para o CentralPark, pensou no que teria levado a pequena princesa ao lar de seu pai, tudo indicava que era um plano já elaborado, mas ninguém nem mesmo o atual rei tinha esse poder. De levar e trazer. Ele não poderia ter chamado Katherine, até porque ele não sabia de sua existência.

     - Seja como for, tudo depende dela agora.

     Mas uma certeza crescia em seu coração. A certeza de que não tinha sido o irmão mais velho de seu amigo que armara o golpe há dezessete anos. Alguém tinha armado tudo e estava por trás do desaparecimento de Katherine e das outras pessoas. Alguém mais perigoso que Gregory e Lyon.