Capítulo 10 - The Hero's Return

Amanda observou o céu de Vulcano, no momento alaranjado, e vendo o sol ainda alto, colocou o capuz sobre sua cabeça para poder sair do templo onde estava. Não havia o que ela pudesse fazer no momento; Sarek estava ocupado conversando com alguns anciões e Spock estava sendo instruído por esses, ainda parecendo adoravelmente confuso e deslocado.  

Spock está vivo. O pensamento ainda fazia seu coração se aquecer de uma forma positiva, toda a inevitável mágoa, luto e tristeza da última semana se dissolvendo e dando lugar ao alívio de ver novamente seu filho são e salvo.

Mas se Spock estava novamente em casa, vivo e perto dela, havia alguém que merecia ser agradecido por tal ocorrência, e foi com a intenção de encontrar o antigo capitão de seu filho que Amanda se dirigiu para perto de onde a Ave de Rapina Klingon estava locada, onde sabia estar à tripulação sênior da recém-destruída Enterprise.

Ao aproximar-se o suficiente, Amanda viu um homem e uma mulher em um canto, um descansando a cabeça contra o outro, suas pernas e braços se encostando – Uhura e Scott -, dois homens conversando animadamente enquanto um deles apenas fazia expressões mal-humoradas e dava respostas curtas – Sulu, Chekov e Dr. McCoy -, mas Amanda não encontrara James Kirk em lugar algum.

- Lady Amanda – Dr. McCoy foi o primeiro a saudá-la, seguido imediatamente pelos outros. Amanda retribuiu os cumprimentos, e então perguntou, se dirigindo a McCoy:

- Doutor, eu estava procurando James Kirk. Você sabe onde ele está?

- Jim estava aqui há pouco, mas ele saiu para caminhar e “se distrair um pouco” –Amanda achou ter ouvido o doutor murmurar em voz baixa “Como se alguém que não tem sangue verde conseguisse se distrair nesse inferno”, mas resolvera não comentar nada – mas pela direção, acho que ele voltou para o templo.

Amanda agradeceu a McCoy e despediu-se dos outros, voltando-se novamente para dentro do templo. Ela já estava entrando novamente, quando ela viu, a uma curta distância do templo, uma figura sentada perto de uma grande rocha. Uma figura definitivamente não-Vulcana.

 Amanda dirigiu-se para lá, mas ele estava tão distraído que não a notou até ela se sentar ao seu lado, com um pouco de dificuldade – ela já não tinha a idade e a agilidade que um dia tivera.

- James – Amanda o cumprimentou com um aceno.

- Lady Amanda – James a saudou, virando-se para ela.

- Só Amanda, James, por favor; chamando-me assim, você faz eu me sentir ainda mais velha do que já estou. – disse Amanda, sorrindo para ele.

- Tudo bem, Amanda, mas se for assim, você terá de me chamar de Jim. E só para registrar, você ainda é encantadora. – disse ele, sorrindo para ela pela primeira vez.

- Obrigada, Jim. – disse Amanda, e James – Jim – sorriu para ela e se encostou novamente na pedra.

Após alguns minutos de um silêncio que não era desconfortável, mas também não era completamente agradável, Amanda soltou um suspiro e disse:

- Jim, eu... eu não tenho nem palavras para lhe dizer o quão eternamente grata eu serei para sempre com você.

Jim pareceu desconfortável por alguns momentos e então disse:

- Amanda, por favor, você não precisa me agradecer e...

- Eu preciso sim – Amanda o cortou, suavemente – eu sei que você não fez isso por obrigação, mas você devolveu o meu filho para mim, Jim. Eu vou ser eternamente grata a você por isso, por ter retornado a luz da minha vida. E eu sinto muito por tudo o que você perdeu nessa jornada. – disse Amanda, mordendo o lábio e não mencionando em voz alta a morte do filho de Jim ou a explosão da Enterprise, fato que pareceu ter deixado Jim agradecido.

- Eu também sinto – disse Jim, olhando para o chão com uma expressão melancólica – sinto muito, Amanda. Mas por mais perdas que eu tenha tido, o fato de Spock estar vivo e bem já faz com que algo tenha valido a pena.

Amanda permaneceu em silêncio, então Jim continuou a falar:

- Amanda, é como se Spock fosse metade da minha alma. – Jim deu uma risada amarga, sem humor - Eu nunca conseguiria ficar em paz se soubesse que havia uma chance, mesmo que mínima, de salvá-lo. Eu sei que você e Sarek estão gratos, mas eu faria isso de qualquer jeito; eu faria isso por mim.

Amanda apertou um dos braços de Jim em um gesto de apoio, mas antes que ela pudesse falar algo, Jim voltou a se pronunciar:

- Eu sempre tive, ao longo da minha vida, diversas visões e idéias sobre o amor. Algumas estavam certas, outras não, mas eu estou certo de que amo o seu filho, mais do que consigo explicar. Então, Amanda, quero que você saiba que eu não me arrependo de ter salvado Spock. Fiz isso por ele, por você, por Sarek, por Bones e por todos que o conheceram, mas eu o fiz principalmente por mim. Eu não queria viver sem ele, e havendo uma mínima chance de tê-lo de volta, eu o faria.

Amanda apertou mais sua mão ao redor do braço de Jim, fazendo-o olhar para ela:

- Isso não torna o ato menos nobre, Jim. Sou grata a você, e sou grata por meu filho ter a você. Vulcanos não acreditam em sorte, mas ele não sabe o quão sortudo é por ter a você.

Jim sorriu para ela, o primeiro sorriso verdadeiro até então, e mesmo com os traços um pouco mais envelhecidos, Amanda pode entender uma das razões por seu filho ter se apaixonado por ele.

Lado a lado, Amanda e Jim assistiram o sol de Vulcano ir diminuindo no horizonte, em um silêncio confortável e cúmplice.

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  - Mãe?

Ao ouvir a voz de seu filho, Amanda virou-se, surpresa; ela achava que Spock estava no templo, e não em casa. Ao indagar sobre sua presença, sua resposta foi:

- Se a senhora estiver disponível, eu gostaria de formular algumas perguntas a você em relação ao nosso encontro durante esta manhã.

Amanda teve de suprimir um suspiro. Sim, ela não poderia estar mais feliz em ver seu filho vivo e saudável novamente, mas ela tinha de admitir para si mesma que era frustrante vê-lo novamente tão rígido e desconfortável com suas emoções.

- Sem problemas, Spock. Quais são suas dúvidas? – disse Amanda, gesticulando para Spock sentar-se ao seu lado, o que ele fez, após alguns momentos de hesitação.

- Eu me encontro ainda incapaz de responder precisamente a questão que o computador me fez durante esta manhã.

Pobre Spock, Amanda pensou. Ele parecia tão terrivelmente confuso, como um cachorrinho perdido. Ela o teria abraçado, se não soubesse que tal ato apenas o deixaria ainda mais desconfortável.

- Spock, não há uma “resposta correta” quando se trata de emoções. Às vezes, estamos tristes e alegres ao mesmo tempo, furiosos e com medo. Eu sei que você se sente confuso em relação a isso por ser Vulcano, sendo que Vulcanos controlam suas emoções, mas você também é meio-humano. Você vai aprender de novo a se sentir confortável com suas emoções, se sentir bem novamente.

- Me “sentir bem”? – perguntou Spock, com uma sobrancelha arqueada.

Amanda franziu a testa. Ela não sabia o que lhe fizera dizer aquela palavra em particular; a única vez em que Spock lhe dissera estar se sentindo “bem” fora quando lhe contara sobre seu relacionamento com Jim.

- É um estado de espírito, Spock. Você uma vez se descrevera assim para mim. Eu sei que soa estranho, não é algo que eu possa explicar, mas você vai saber quando se sentir assim novamente.

Assim, ao menos, Amanda esperava. Spock, durante estes dias, ainda não dera sinais de reconhecer o seu relacionamento com Jim. Ela via Jim fazer pequenas tentativas – “Não Almirante, apenas Jim, Spock” – e ser paciente, e ela estava certa que isso seria apenas uma questão de tempo até Spock se lembrar, mas uma parte dela estava receosa.

Spock não disse nada, mas o jeito que arqueou novamente a sobrancelha gritava “ilógico”. Amanda sorriu e perguntou:

- Há mais alguma coisa perturbando seus pensamentos, meu filho?

- De fato, há – Spock respondeu após alguns segundos em silêncio – Como a senhora deve saber, a tripulação da Enterprise e o Almirante Kirk amanhã irão se dirigir à Terra, para enfrentar julgamento.

Amanda assentiu positivamente com a cabeça, esperando Spock elaborar melhor o que estava dizendo, mas ele continuou em silêncio.

- E qual é o problema, Spock? Você vai junto com eles?

- De fato, Mãe, essa é uma pergunta que ainda não consegui responder a mim mesmo.

- Oh, você quer dizer que está em dúvida se você vai ou não? – Amanda franziu a testa – Bem Spock, essa é sua decisão. Eu iria adorar ter você comigo por mais uns tempos, mas acho que seus colegas e amigos também gostariam. E como você conviveu mais tempo com eles, em especial com James Kirk, talvez isso o ajude a recuperar suas memórias mais rapidamente, além do fato de que eles irão enfrentar um julgamento na Frota Estelar por terem salvo você. Não que seja uma obrigação moral acompanhá-los, mas seria um gesto de amizade.

Spock escutara-a atentamente, e quando Amanda terminou, ele replicou simplesmente:

- Eu devo considerar isso. Obrigado pelo seu tempo, Mãe.

- Disponha Spock. – disse Amanda, um sorriso no rosto

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 No dia seguinte, quando a ave de rapina Klingon partiu rumo Terra, Amanda não se sentiu surpresa em saber que Spock estava dentro dela. Surpresa não foi à emoção que ela sentiu; estava mais para orgulho e esperança.