Ponto de vista Melanie

- Melanie! – Ouvi batidas na porta do quarto. – Melanie, está dormindo?

- Pai? – Me levantei da cama com um pouco de sono e abri a porta para ele. – O que foi?

- Você tem que se arrumar! Esqueceu do jantar da Sam?

- Como eu poderia me esquecer? – Forcei um sorriso. – Você não para de falar disso desde ontem. E por falar nessa daí, onde ela está?

- Por favor, Melanie... Seja compreensiva. Ela está com Kim.

Soltei uma risada irônica.

- Com Kim? Acha mesmo que as duas vão ser amiguinhas, pai?

- Não vejo nenhum problema nisso.

- Pois eu vejo. Nem eu consigo aturar Kim, imagine Samantha, que vem de uma cidade do interior e já mostrou não ter educação nenhuma.

- Melanie! Não fale assim da sua irmã!

- Ela não é minha irmã! – Gritei.

- Melanie... Por favor. Você prometeu que iria colaborar.

- Eu sei. – Suspirei. – Eu sei que prometi.

- Querida, me escute. – Ele pegou na minha mão. – Não é só você que está tendo dificuldades para se adaptar com a situação. Mas temos que dar o nosso melhor. Sam não tem culpa de nada.

- Sam... Já estão tão íntimos assim?

- Por favor, Melanie...

- Sabe de uma coisa? Você nunca fez um jantar para mim desse jeito! Não quero que essa garota pegue meu lugar!

- Eu quero que todos a conheçam Melanie, pelo amor de Deus! – Ele colocou a mão na cabeça e respirou fundo. – Olha, por que você não chama aquela sua amiga, a Kate, para vir pro jantar também?

- Eu vou chamar. Mas não é por que você deu a permissão. Eu já ia chamar antes.

- Tudo bem, Melanie, tudo bem. Contando com que você esteja arrumada na hora do jantar... Bom, eu vou indo, tenho que me arrumar também. Por favor, comporte-se. – Ele saiu do quarto.

Imediatamente peguei o telefone para ligar para Kate. Não iria ficar sozinha naquele jantar, não iria mesmo.

- Alô? – Ela atendeu.

- Ei, Katie. É a Mel.

- Ah, oi Mel! E aí, como estão as coisas com a sua irmã?

- Ela não é minha irmã. – Falei palavra por palavra. – Bom, hoje vai ter um jantar aqui em casa, meu pai vai chamar vários amigos dele e eu quero que você venha.

- Ah, sim! Bom, eu acho que posso ir. Que horas?

- Ótimo. Ás 20:00. Eu até te convidaria para dormir aqui se a idiota da Samantha não estivesse ocupando o quarto comigo.

- Que maldade, Mel.  – Ela riu. – Bom, ás 20:00 eu estarei aí. Será que posso levar meu irmão?

- Seu irmão? Kate, por favor! Ele é um idiota.

- Melanie, ele é meu irmão e é louco por você. Nós duas sabemos disso. E eu estou devendo uma á ele, se lembra de quando ele mentiu para meus pais dizendo que eu não tinha ido escondido ao show do Nickelback com você?

- Argh – Revirei os olhos. – Tudo bem, que seja. Apenas esteja aqui.

- OK. Eu vou me arrumar então. Tchau, Mel.

- Tchau. – Desliguei o telefone.

Odiava o fato de que o irmão de Kate também iria ao jantar, ele era realmente um idiota. Já estudamos juntos quando éramos pequenos e depois ele mudou de escola. Eu, Kate e ele éramos da mesma série e, com isso, ele sempre tentou se aproximar de mim.

Resolvi parar de pensar nos problemas que teria naquela noite e escolhi a melhor roupa que tinha no meu closet para usar. Eu estaria impecável. Estaria melhor do que Samantha Puckett.

Ponto de vista Freddie

Minha mãe, Charlotte e eu tínhamos finalmente chegado em casa. Passamos o dia todo na rua resolvendo as papeladas sobre a adoção. Minha vida tinha se bagunçado totalmente nos últimos dias e eu realmente tinha vacilado feio com Sam. Mas o importante era que agora tudo já estava resolvido entre nós.

Assim que entrei no meu quarto, me joguei na cama. Estava me sentindo exausto. Ia me preparar para tomar um banho quando me lembrei que tinha que ligar para Gibby. Eu também devia explicações á ele.

Peguei o meu novo celular e disquei o seu número.

- Olha só quem está me ligando, pensei que você estava morto. – Ele atendeu ao telefone.

- Por favor, Gibby... Estou passando por umas coisas. Meu tio que estava no hospital faleceu e agora, por incrível que pareça, eu acho que tenho uma irmã.

- Irmã? – Gibby riu. – Que desculpa mais esfarrapada, cara.

- É sério, gordão. Lembra da Charlotte? Acho que vocês se conheceram há uns anos. Então, o pai dela faleceu e, como ela não tem ninguém, tivemos que ficar com ela.

- Mas ela é maior de idade, não?

- Sim, mas tem problemas mentais, então não pode ficar sozinha. – Suspirei. – Bom, me desculpa por não ter comparecido no seu aniversário.

- Relaxa, cara. Eu te entendo. Mas e a sua namoradinha de Washington?

- Nós não somos namorados... Ainda. – Deixei um sorriso escapar. – Bom, ela apareceu e me encontrou no shopping segurando a mão de Charlotte. Por sorte, consegui explicar tudo á ela e estamos bem. E a sua namoradinha? Não vai mesmo me contar quem é?

- Você não conhece. E não estamos namorando. Ela não me dá bola, mas um dia vai reparar em mim. Hoje, por exemplo, estou indo em um jantar na casa dela. A minha irmã é amiga dela e aí vai me levar.

- Ah, entendi. Bom, eu estou exausto, acho que vou dormir. Ah, á propósito, esse é meu celular novo. Anota o número aí.

- Deixa eu adivinhar, comprou só para falar com a sua namoradinha?

- Cala a boca. – Revirei os olhos e pude ouvir Gibby rir do outro lado da linha.

- Bom, quem precisa ir agora sou eu. Tenho que me arrumar para o jantar. Tchau, cara.

- Tchau, gordão. – Desligamos o telefone.

Ponto de vista Sam

Durante o caminho do shopping até a casa do meu pai, Kim não disse uma única palavra. Senti que ela não queria falar sobre o que tinha acontecido e me senti meio mal pela impressão que ela estava tendo sobre mim. Resolvi explicar á ela a minha situação com Freddie.

- Kim... Olha, o que aconteceu no shopping, eu posso te explicar... – Ela me interrompeu.

- Você não precisa me explicar nada, Sam. Está tudo bem. Você tem 17 anos, tem o direito de beijar garotos.

- Mas... Você o viu segurando a mão de outra menina. Não quero que você pense coisas sobre mim. Preciso mesmo te explicar. – Suspirei. – Bom, eu e ele já nos conhecemos. Quando eu o vi na mesa com aquela garota, fiquei chocada. Pensei que ele não namorava ninguém mas, pelo o que ele me contou, ela é apenas uma prima. – Resolvi não contar toda a história para Kim e nem lhe dar muitos detalhes. Não gostava de confiar cem por cento nas pessoas que eu mal conhecia.

- Está tudo bem. – Ela sorriu. – De verdade, Sam. Não tive uma má impressão sobre você.

- Tudo bem então. – Forcei um sorriso.

- Chegamos. – Ela estacionou o carro na garagem. – Ah, algumas pessoas já chegaram. O jantar vai acontecer no jardim, então por favor, não passe por lá antes de se arrumar. Eu também não vou passar. É bom que as pessoas não pensem que ficamos a tarde toda fora fazendo compras, não é mesmo? – Ela deu uma risada e nós duas saímos do carro.

- Isso quer dizer que quando você quis me levar ao shopping, era apenas para comprar roupas para eu usar hoje á noite?

- O quê? – Ela ficou meio sem graça. – Claro que não.

- Eu realmente pensei que você queria sair comigo para tirar aquele ‘’clima chato entre a gente’’, como você mesma tinha dito. Mas agora, eu vejo que não. Você só queria que eu não causasse a impressão de uma garota que veio de uma cidade do interior, não é mesmo? – Aumentei meu tom de voz.

 - Sam, por favor, sem escândalos. Você sabe que não foi nada disso.

- Ah, não foi? Ótimo. Então você não vai se importar se eu colocar uma roupa que eu já tenho, não é?

- Bom... É que... Essas roupas que eu comprei pra você foram um presente, Sam. Seria muita falta de educação se você não usasse. Eu me sentiria triste.

- Sinto muito. – Encarei-a. – Eu vou ter que ser mal educada e você vai ter que se sentir triste.

Após dizer isso, sai correndo e fui para o meu quarto – ou o quarto de Melanie, não sei ainda como chamar. Não acreditava que tinha sido tratada daquele jeito por Kim. Por algum momento naquela tarde em que passamos juntas, eu tinha até pensado que ela poderia ser legal. Estava completamente enganada.

Abri o guarda-roupa onde eu guardava minhas coisas, já que Melanie tinha seu closet. Tirei de lá uma calça que eu não usava muito e uma blusa que eu tinha ganhado de presente no meu aniversário do ano passado. Já tinha decidido que não iria usar as roupas novas que Kim tinha me dado, pelo menos não enquanto eu estivesse ali em Nova York.

Já estava indo para o banheiro quando ouvi a voz de Melanie atrás de mim.

- Olha só, a princesa voltou. E voltou tarde. Quase todas as pessoas já chegaram.

Virei-me para ela.

- Eu sei. – Fui seca. – Não me lembro de ter te perguntado alguma coisa.

- Nossa! Quanta agressividade! – Ela gargalhou. – Deve ser típico ser assim onde você mora, não é mesmo? Bom, aqui em Nova York é diferente. Nós somos educados. Espero que você aprenda a ser também.

- Esse tipo de educação eu dispenso. – Dei as costas para ela e fui para o banheiro tomar um banho. Aquela provavelmente seria uma longa noite.