Luz Negra I - Oculta escrita por Beatriz Christie


Capítulo 31
Capítulo 31 - Os Feri




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Assim que chegamos ao hospital a atendente nos mandou aguardar, pois só eram permitidas as visitas caso algum parente sanguíneo do paciente autorizasse. Tentei acalmar-me e explicar-lhe a gravidade da situação, mas quando ela finalmente retornou, nos avisou que não poderíamos ver tia Deborah. Senti a ponta de meus dedos formigarem, então percebi que estava tremendo. Tentei manter minha sanidade, respirei fundo e olhei para cima, dando de cara com a luz forte que brilhava sobre nós. Meus olhos arderam. Fechei-os e apoiei a cabeça no balcão, ao fundo o choro de uma criança ecoava vindo do fim do corredor e várias vozes vindas da sala de espera misturavam-se no eco. Tudo isso era como uma tortura em minha mente já tão bagunçada.
–- Olha só... - debrucei-me sobre o balcão - Você sabe o que é a dor de apanhar tanto a ponto de quebrarem não só um, mas vários dos seus ossos? - a enfermeira encarou-me de olhos arregalados e reclinou-se um pouco mais na cadeira - Sabe o que é ser triturado até seu cérebro parar de responder?
–- Mel... - Luna colou uma mão em meu ombro, tentando puxar-me para longe da enfermeira - Venha, vamos conseguir resolver isso. Por favor, a senhora... - ela falava com a enfermeira.
Uma mulher com seu filho no colo afastou-se de nós ao passar, então percebi o quanto minha aparência deveria estar assustadora dizendo aquelas coisas para a enfermeira que não tinha culpa de tudo que estava acontecendo. Segui pelo corredor sem Luna, até chegar á sala de espera na área de exames, havia poucas pessoas aguardando e a luz do teto piscava enquanto um inseto batia nela incessantemente. Sentei ali enquanto aguardava Luna que retornou logo.
–- Ela não gostaria de estar sozinha, sabe? - suspirei novamente - Ela não merece isso, nós sempre fomos a família dela.
–- Já pedi para mandarem um supervisor aqui, logo poderemos vê-la. - Luna respondeu-me - Ao menos é o que eu espero.
Assim que Luna terminou de falar, começamos a ouvir os sons ritmados de um salto batendo no piso liso, branco e brilhante do corredor. Olhamos-nos, acreditando que fosse a supervisora e logo levantamos, mas a mulher que apareceu não parecia em nada com o que esperávamos. Ela não parecia uma modelo norueguesa, mas era bonita de um jeito diferente. Seus olhos castanhos miraram nos miraram como um alvo certo, então ela aproximou-se de nós com os Cabelos castanhos, encaracolados e logos se agitando a cada passo. Ela usava um vestido amarelo e rodado, combinando com as sandálias finas douradas. Era como um raio de sol em meio aquela sala triste e cinza, mas sua aproximação causou-me um medo, que só aumentou quando ela finalmente parou em frente á mim e falou:
–- Mellany? - ela ergueu as sobrancelhas.
Luna e eu nos entreolhamos.
–- Sim. - respondi receosa.
–- Não tema - a mulher sussurrou – Sua tia me procurou - ela explicou, ainda aos sussurros - Antes de ser atacada.
Minha tia havia procurado aquela mulher, mas quais seriam suas intenções? Como eu poderia ter certeza de que ela estava do nosso lado? Percebendo nossas expressões, a mulher ergueu o pulso e o balançou, fazendo brilhar uma pedra azul que estava presa á sua pulseira. Para ela aquilo parecia explicar muita coisa, mas eu e Luna prosseguimos encarando-a com os olhos semisserrados até que ela suspirasse pesadamente e nos desse as costas, ela puxou os cabelos de lado e nos mostrou uma cicatriz. Era um X rosado e alto, onde no lugar houvera um ferimento nada bonito.
–- É a marca dos renegados – ela disse, virando-se para nós – Renegados pelos Alexandrinos, entende? – ela lançou-me um olhar apreensivo. – Agora, se quer ver sua tia, terá de confiar em mim.
Naquele momento, uma enfermeira aproximou-se de nós, com um homem ao seu lado fazendo-nos desviar a atenção da mulher.
–- Senhor, esta é a moça.
–- E qual é o problema? – ele perguntou, era um homem muito sério com um olhar impaciente.
–- Ela quer fazer uma visita a paciente do quarto 54, mas não há nenhuma autorização vinda de parentes.
–- Infelizmente não posso abrir exceções... – O supervisor lamentou, apesar de não parecer nada infeliz. Seu rosto não era lá um poço de expressões.
–- Com licença, eu sou filha da paciente - a mulher disse, fazendo Luna e eu nos entreolharmos espantadas - Não se lembra de eu ter lhe avisado que minhas amigas viriam? - ela falava com a enfermeira.
–- Ãh... - a enfermeira parecia um tanto confusa enquanto olhava nos olhos da mulher - Sim, me lembro.
–- Bom, então não há impedimentos. - o supervisor concluiu.
–- Ótimo! - a mulher pegou-me pelo braço, e foi o que também fiz com Luna. Enquanto passávamos pelo supervisor ela prosseguiu - Não acredito que tive de deixar minha mãe para ter de vir resolver isso.

Somente paramos de andar quando chegamos em frente ao elevador, do qual a mulher apertou o botão. Ela virou-se para encarar nossas expressões desconfiadas e deu um suspiro, parecendo não saber como lidar conosco. Ela entrou no elevador e segurou a porta, sem dizer mais nada. Estávamos indo para uma emboscada ou para meu alivio haviam mais pessoas ao meu lado? Ela segurava a porta em silêncio, um sinal de que não nos obrigaria a segui-la, isso seria uma escolha nossa. O que me fez pensar: um inimigo não faria isso. Ou era isso que ela queria que pensássemos? Respirei fundo e virei-me para Luna.
–- Fique aqui, e quando Enzo chegar - olhei para a mulher que segurava a porta sem parecer prestar atenção em nós - Avise-o de tudo. - ergui as sobrancelhas - Entendeu?
Luna mordeu o lábio e relutou.
–- Não vou deixar você com essa... Estranha.
Ela era uma amiga leal e corajosa, uma irmã que a vida dera á mim. Um presente que eu não estava fazendo por merecer, já que escondia coisas que estavam colocando-a em um risco tão grande. Ela sabia sobre Enzo e tudo de estranho que acontecera, mas não sabia que tu isso estava aqui graças a mim e que eu poderia ser algo muito pior do que eles.
–- Luna - comecei a falar, mas o receio de que ela não me aceitasse impedia-me de continuar. Dessa fez eu tinha de falar, teria de colocar o medo da rejeição de lado. - Você me conhece melhor do que ninguém - peguei-a pelas mãos, sua expressão era atenta - Mas, há muitas coisas sobre mim que você não sabe ainda.
–- Não importa, todos têm segredos. - ela respondeu-me, encarando o chão. Estava obviamente se perguntando o que eu havia escondido dela.
–- Eu também não sabia, até ontem. Não é algo que eu possa controlar ou deixar pra lá. - ela voltou a encarar-me com as sobrancelhas unidas. Luna era esperta e pelo meu tom de voz podia ver facilmente a gravidade das coisas - Todos têm segredos, mas eles têm a opção de consertar isso. Assim como eles eu tenho essa opção, mas será algo muito perigoso, talvez até sem volta.
Luna ergueu mais ainda as sobrancelhas e largou as minhas mãos.
–- Mel... - Ela passou os braços através dos meus e abraçou-me fortemente.
Luna afagou meus cabelos enquanto meu rosto permanecia apoiado em seu ombro. Não a abracei de volta, em vês disso tentei segurar o choro inutilmente. Eu estava mandando embora uma das poucas pessoas da qual eu confiava plenamente e amava.
–- E é por isso que você deve ir. Vai. - ordenei, afastando-me dela - Faça o que eu lhe disse e vá pra casa.
Dei-lhe as costas e entrei no elevador. A mulher olhou-me e sinalizei que ela deveria liberar a porta para partirmos.
–- Nós podemos dar um jeito Mel, juntas sempre demos um jeito em tudo. - Luna disse, antes que o elevador fechasse as portas.
–- Nunca antes uma de nós dividiu o corpo com um espírito maligno. - eu respondi, e a porta fechou-se diante de Luna e sua expressão de choque.
Sequei as lágrimas que havia em meus olhos. Parte de mim temia que Luna me abominasse, e a outra parte pedia que ela o fizesse, para seu próprio bem.
–- Você fez o que era certo. - a mulher disse, colocando uma mão em meu ombro.
–- E você, quem é? É mesmo filha da minha tia?
–- Eu? - ela deu uma risadinha - Ah, não! Aquilo foi só uma ajudinha do poder de convencimento. - ela deu uma piscadela - Me chamo Donatella, pode chamar de Dona, assim você não me confunde com a minha irmã.
–- Sua irmã? Ela também conhece a minha tia?
–- Todos conheceram ela há muito tempo. - Donatella deu de ombros, então prosseguiu pesarosa - Ela é importante para nós, assim como você é para o mundo. Ela já nos ajudou muito e não poderíamos deixar de acatar seu pedido.
–- Que pedido foi esse? - questionei.
–- De proteger você. Sabe, ela gosta muito de você e da sua mãe, então foi atrás de nós. Fico feliz que o tenha feito, é glorioso estar nesta batalha. Estaríamos aqui, mesmo que ela não tivesse nos chamado, esperamos por este dia.
–- Quando você fala "esperamos" refere-se a quantas pessoas, exatamente? Por que com os carregadores, o exército e mais sei lá quem dos Alexandrinos...
–- Sabemos bem, mas recorda-se daquela cicatriz? Digamos que há muitas por aí iguais a minha. Há muitos dispostos a acabar com os Alexandrinos, não se preocupe, com você do nosso lado já teremos uma vantagem.
–- Er... - discordei - Eu na verdade não sei se quer dar um soco sem correr o risco de quebrar a mão. Então, não contem muito com isso...
Assustei-me com a explosão de risos que Dona deu. Ela saiu do elevador ainda rindo, enquanto eu encarava-a surpresa.
–- Venha, é este o quarto. - ela tentava conter o riso.

Dona abriu a porta do quarto escuro, apenas iluminado pelo sol que passava pelas cortinas fechadas. A silhueta de um homem sentado ao lado da cama em uma poltrona despertou minha atenção. Era um homem um pouco mais velho do que Dona, tinha cabelos pretos lisos e um pouco compridos, penteado para trás de uma forma elegante. Virou-se rapidamente como um gato e nos encarou. Dona foi em sua direção e sentou-se em sua perna esquerda, fazendo-o dar um sorriso. Dona tinha formas arredondadas, e ele não, era magro e tinha um nariz anguloso, diferente do dela que era pequeno como de uma criança. Ele tinha lábios mais grossos, enquanto os dela eram finos. Os olhos dele eram azuis e os dela castanhos. Eles eram como opostos que completavam-se.
–- Este é August, mi amore - ela sorriu.
–- Olá Mellany. - ele sorriu para mim - Sinto muito termos nos conhecido em uma situação tão lamentável.
–- Sim... - respondi. Ambos eram muito receptivos, mas eu ainda estava apreensiva.
Aproximei-me da cama onde estava tia Deborah, deitada e ligada a alguns aparelhos. Pude ver que um de seus braços estava no gesso e não quis imaginar o que haveria debaixo daquelas cobertas. Peguei sua outra mão acariciei-a.
–- Sinto muito... - eu disse, levanto uma mão em direção ao seu rosto, mas ele estava tão ferido que tive medo de machucá-la. Sua cabeça estava envolta por gases e o rosto estava inchado, com hematomas e cortes.
–- Bastardi! I topi privi di morale! - August esbravejou algo em italiano.
–- Acalme-se. Iremos queimá-los, um por um. - Dona prometeu.
–- Agora eu só quero que você fique bem. - eu falava com tia Deborah, que não esboçou nenhuma reação. - Vou cuidar da senhora.
–- Nós vamos. - August acrescentou - Paola retornará em breve com as coisas necessárias.
–- Que coisas?
–- Ah, você sabe. As pedras, sal marroquino, a estaca... - Ele explicou.
Dona fez um som de reprovação.
–- Ela não sabe...
–- Não sabe? Ela não aprendeu ritualística? - August parecia surpreso e muito chocado.
–- Amore, ela viveu como uma comum até agora. Esqueceu?
–- Bom, então teremos de correr contra o relógio. Assim que Paola chegar ela terá de começar a formá-la.
–- Me formar? - ergui as sobrancelhas.
–- Amore, de que casta ela será? Feri ou Gardner?
–- Não faço a mínima ideia. - ele apoiou o queixo em uma mão, pensativo.
Eles prosseguiram o debate enquanto eu ficava cada vez mais confusa.
–- Seria bom se eu começasse essa formação sabendo do que vocês estão falando. Quem são os Feri?
–- Desculpe, nós somos os Feri. - Dona riu envergonhada - Estamos falando sobre a sua formação como sacerdotisa.


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Notas finais do capítulo

E agora los personagens nuevos são adicionados para la batalha ~~~~ yaaay todos comemora
O que acharam da Dona e do August? :3

Demorei, eu sei, mas ainda é por causa da perna...
Estou há 3 semanas de gesso e descobri que vou ficar mais 3 semanas! Sério, é péssimo D:

Vou responder os comentários jajá.
Beijão ♥



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