Luz Negra I - Oculta escrita por Beatriz Christie


Capítulo 29
Capítulo 29 - A Maldição de Lucera




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Durante todo o período que vivi antes da morte de minha mãe, sempre me considerei uma pessoa normal, pensei comigo mesma. Vivíamos em uma casa simples, eu tinha meus melhores amigos e vários colegas no colégio. Gostava de sair para dançar de vez em quando, apesar de ter dois pés esquerdos, e a parte mais singular em mim era meu gosto musical.
–- Mas, ser diferente de outras garotas por não gostar de boy bands é bem diferente de ser alguém aguardado há centenas de anos por clãs de um sub mundo! - falei alto, andando em círculos. - Enzo olhou-me com as sobrancelhas unidas. - E não me olha com essa cara de desentendido! Pode falando tudo, muito bem explicadinho! - exigi, enquanto apontava-lhe um dedo "super" ameaçador.
Sim, eu estava surtando.
–- Como você pôde ver, temos condições de fazer certas coisas que os comuns não podem
–- "Certas coisas"? - perguntei com deboche, erguendo os braços para o cenário ao nosso redor.
–- Sim, esse tipo de coisa, mas isso daqui não é nada, nada perto do que o livro nos permitiria fazer. - ele apoiou-se em um monte de rochas que estavam ao lado do lago - Esse livro foi escrito pela Primeira Grã Mestra, Ava Lucera. Ela elevou a magia negra á algo jamais experimentado por um homem antes, a ponto de seu poder eliminá-la. Lucera transformou-se em um espírito maligno, parte desde espírito foi aprisionado em uma pedra de ônix pelas irmãs Gardner e a outra...
Aguardei ansiosa para que Enzo prosseguisse, mas ele não o fez.
–- A outra...? - indaguei impaciente.
Enzo respirou fundo então suspirou pesadamente.
–- Por ter feito o que fizeram, as irmãs Gardner sofreram uma maldição. A primeira filha da 8ª geração guardaria dentro de si a outra parte do espírito de Lucera e, bom, sua mãe era a 7ª geração dos Gardners...
–- E eu sou a primeira filha. - afirmei, terminando sua frase. - Eu... tenho um espirito maligno em mim. - prossegui meu monólogo enquanto tentava assimilar todas as revelações.
–- Fique calma, está tudo bem. - ele disse receoso.
–- Ah, claro! - falei histérica - Tudo ótimo! Um espírito maligno dentro de mim. Ah, não. - ironizei - é só meio espírito maligno, então tudo bem!
–- Ela está completamente adormecida, oculta em você. Só pode ser invocada pelas orações que estão no livro! - ele disse exaltado - E é aí que está! As irmãs Gardner quando fizeram aquilo não contavam com o feitiço que Lucera havia feito! - ele pronunciava todas as palavras rapidamente - Só Lucera podia ler o livro, mais ninguém! Ou seja, sem a outra metade de Lucera que está com você ninguém tem acesso às escrituras.

Senti minha cabeça girar, tentando achar uma saída para tudo aquilo.
–- Isso não pode estar certo... – fechei os olhos e joguei a cabeça para trás. – O nome de minha mãe é Liane Lake, não há Gardner nenhum, não somos nada disso!
–- O nome de sua mãe é Liane Gardner, Lake é o nome que ela adotou para sua “nova vida”. Não sei onde ela estava com a cabeça! Achar que poderia desvencilhar-se assim, tão facilmente dos Gardners. Ela era “só” filha mais velha do Grão Mestre, era obvio que todos notariam e em breve iriam atrás dela. Não é a toa que morr... – ele parou antes de terminar a frase.
–- Você não ouse falar da minha mãe! Você nem se quer conheceu ela! – falei, antes de sair andando, deixando-o para trás.
–- Conhecendo ou não – ele gritou, enquanto seguia-me. - O fato é que os Gardners não eram os únicos atrás daquele livro. – sua voz era determinada - Estar em posse dele tornou-os um clã temido e respeitado, mas depois da expulsão de Cesare, ele espalhou a notícia de que os Gardners não eram mais os detentores do grande Livro de Lucera, eles o haviam perdido. E sabe quem eles acham que levou o livro para fora das terras? – parei de andar. Sim, eu fazia uma ideia. Só poderia ser aquela que ousou abandonar sua família e clã por amor. – Isso mesmo, sua mãe – ele prosseguiu - E agora nômades e clãs estão atrás do livro, não só dele, estão atrás de você!
Mas era claro, todos queriam unir as duas partes do espírito e então, tendo o livro em mãos, acabar se tornando o Deus que Enzo se referia. Um Deus das trevas.
–- Eu não sei de livro nenhum, e se tivesse algum poder, não acha que teria me defendido quando fui humilhada daquela forma ontem? Jogada na terra – lágrimas vieram, mas eu as segurei para preservar meu orgulho – Como um nada! Acha que eu não teria usado isso para proteger quem amo? Ali, tão próximos destes seres malignos e sem ter a menor consciência...
Enzo aproximou-se de mim em silêncio e colocou suas duas mãos em meus ombros.
–- Sei que você os teria protegido, e sei que não sabe onde está o livro. – sua voz era acalentadora – Pode negar a si mesma, mas não há como fugir. A culpa de tudo isso não é sua Mellany. Olhe para os seus olhos, negros como a ônix onde aprisionaram parte de Lucera. - ele virou-me de frente para ele. - Esta é a marca mais visível de que você é a prometida... Você só está pagando pela ambição de seus antepassados, assim como sua mãe pagou.
Neste momento, o obvio finalmente veio á mim. Uma morte inesperada, a doença repentina. Tudo tão inexplicável como o dia em que cheguei em casa e não mais a encontrei viva. A lembrança daqueles oficiais levando-me até o hospital para receber a notícia. Nada disso era real, pois eles quem a haviam matado.

A reação de tia Deborah e a inocência de Abby diante a tragédia. Os choros no funeral e a casa tão vazia sem ela. Apertei meus olhos, não sabendo qual realidade seria pior. Até que num estalo abri os olhos novamente. Eu já não estava no sonho, a minha volta, somente o quarto vazio. Da janela vinha uma luz cálida, fraca como o canto dos pássaros naquela manhã. Levantei-me da cama fria e fui até o grande espelho que havia no quarto. Meus olhos estavam gelados, como na manhã do velório. Era como ter de assimilar novamente sua partida, tudo de novo. Não, dessa vez eu não iria apenas chorar. Dessa vez eu não seria a mártir.
Após aprontar-me, prendi o cabelo em um rabo de cavalo simples, vesti uma camiseta e minha jaqueta grossa, calça legging e tênis. Assim que desci as escadas encontrei com Abby e Luna.
–- Bom dia, flor do dia. – Luna riu, antes de aproximar-se de mim e cochichar – Algo fora do normal?
–- Hm... – relutei – Sim, prometo que lhe conto tudo quando voltar.
–- Vai sair? – Luna perguntou surpresa. – Achei que você fosse abrir seus presentes. Olha, sua família pode ser mala, mas gostam de presentear! – ela disse, apontando para a caixa abarrotada de pacotes no canto da sala.
–- Mas... A gente fez panquecas, de bichinhos! – Abby deu um sorriso enorme enquanto segurava seu prato para mostrar-me sua panqueca cortada com orelhas de coelho,
Era realmente muito mais agradável a ideia de passar a manhã com elas, mas eu tinha algo para começar. Pensar nisso me fez perceber o quanto essa nova decisão me afastaria delas. Cheguei a triste conclusão de que, talvez, minha presença trouxesse mais riscos do que minha ausência.
–- Sim... Vou ter de dar uma saída, é importante.– respondi erguendo levemente a sobrancelha para Luna – Estou com saudades da senhorita. – falei ao abracei Abby. – Prometo que quando voltar, iremos á um lugar especial.
–- Ninguém me convidou – Luna fingiu um beiçinho – Não ligo, de qualquer jeito não poderia ir, já hoje tenho de buscar meu bebê na UTI. – ela lançou-me um olhar acusador.
–- Não exagere tanto por causa do carro. Ele só fundiu o motor! – peguei uma orelha do coelho-panqueca – E não é UTI, é oficina. - Abby olhou-me de cara feia quando comi a “orelha”
–- Tenho que ir... Vejo vocês mais tarde! Ah... – voltei alguns passos e abracei Luna – Muito obrigada por tudo, não sei o que faria sem você.
–- Imagine. - ela abraçou-me - Infelizmente, tenho procurado por Ben como lhe prometi, mas parece que ele evaporou!
–- Entendo... - falei mais baixo, pois Abby prestava atenção em nós - Mais tarde falo com você sobre isso.
Nos despedimos e peguei as chaves do carro de meu pai. Saí com um destino certo, afinal eu não sabia o que faria, mas agora sabendo das coisas que sabia, eu teria de estar preparada.

Passei pela estrada coberta por árvores e pela casa de tia Deborah. Senti um arrepio ao passar pela igreja onde houvera a missa de minha mãe, pois recordei-me da noite em que Enzo fora levado, assim como os outros garotinhos. Enfim, cheguei a minha antiga casa. Desci do carro e passei com facilidade pelo portão frágil, até que bati na porta. Para minha surpresa, ninguém atendeu-me. Pensei que Enzo poderia estar fora, até que ouvi um barulho vindo da lateral da casa. Caminhei lenta e receosamente, circundando a casa, tomando cuidado para desviar as folhagens que haviam crescido ali. Passei pela horta, agora sem cuidados, que antes fora tão bem tratada por minha mãe. Até que vi Enzo, sem camisa, só com uma calça simples de moletom e descalço, agachado na terra.
–- Cuidando das plantas? – perguntei sarcástica. Ele não pareceu surpreso com a minha presença.
–- Comprei uma casa, não uma selva. – ele riu – Alguém tem de fazer isso.
Enzo levantou-se e bateu as mãos para tirar o excesso de terra. Era estranho olhar para ele agora sabendo o que ele realmente era, seu jeito despreocupado não evidenciava em nada a guerra que estávamos prestes a viver. Ele parou de sorrir ao notar minha expressão determinada.
–- Você disse várias vezes que não havia como fugir. – fui direta. Ele encarou-me, prestando atenção em minhas palavras – E se eu não quiser fugir, e se eu quiser enfrentá-los?


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Notas finais do capítulo

Yaaay aguardei muito esse momento :3
Agora vocês sabem o pq de tudo, estarem atrás dela e etc!♥

Criei uma pág no face, onde vou postar uns quotes do Luz Negra e imagens a ver com a estória. Já que vocês gostam das imagens que posto no fim dos cap... quem quiser, pode curtir lá :) É bom até pra nos conhecermos mais.
https://www.facebook.com/sagaluznegra

Beijos



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