Luz Negra I - Oculta escrita por Beatriz Christie


Capítulo 26
Capítulo 26 - A Marca Da Vingança


Notas iniciais do capítulo

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Jullie soltou-me, então, caí na terra como uma boneca de pano. Por mais força que fizesse, até mesmo meus olhos moviam-se lentamente e minha visão já era falha.
Enquanto observada Jullie pegar um galho e andar em volta de mim riscando algo na terra, ouvi passos aproximarem-se de mim. Olhei em direção, e então eu vi, em meio as árvores e a escuridão da floresta, havia um ser com chifres, coberto por um sobretudo negro e cara de animal. Eu queria gritar e correr, queria até mesmo morrer diante daquela presença, era assustadora demais.
Apertei os olhos assim que o vi aproximando-se, mesmo sem forças, meus olhos estavam espremidos. Senti sua sombra pairar por cima de mim e imaginei que minha hora havia chego, aquele seria meu fim? Imóvel, jogada na terra enquanto meus amigos festejavam meu último ano de vida? Abri os olhos, eles estavam fixos olhando para o alto, mas, para meu total espanto, ela retirou o sobretudo, baixou o capuz que continha os chifres e retirou sua máscara. Não era Jullie, não era ninguém que eu vira antes, aquele ser era na verdade uma mulher.
           Ela ficou me encarando com seus olhos azuis, os cabelos negros voavam graças a ventania que começara repentinamente. A mulher não deveria ter mais do que 25 anos e era realmente muito bonita, seus traços eram marcantes, mas o que mais se destacava sem dúvidas era a força que ela exalava pelo olhar, pronta para atacar.
Ela deu um sorriso sarcástico e lentamente abriu sua boca, colocando a língua para fora. Ficou parada enquanto uma gota de saliva escorria de sua boca até cair em meu rosto. Então, deu outro sorriso e chutou-me nas costelas.
–- Pare! - ela ergueu uma mão e Jullie veio até ela, jogando-se de joelhos na terra, próxima aos pés da mulher. -- Então, essa é ela?
Jullie abaixou e ergueu a cabeça freneticamente, confirmando suas dúvidas.
–- Essa... - a mulher soltou um riso sarcástico - é a prometida? - ouvi seus passos aproximando-se novamente, então, abaixou-se ao meu lado. Ela usava um vestido preto rendado, meia calça e botas pretas de salto alto, uma echarpe que era de um tom vermelho escarlate assim como seus lábios, cobria seus ombros. - Essa... - ela aproximou seu rosto do meu - é a marca da vingança? Ah!... - ela usou sua unha comprida para retirar o cabelo que estava jogado em meu rosto. - Perdoe-me Mestre, mas eu esperava mais. Muito mais. - De quem ela estava falando? Eu poderia dizer que seu olhar me gelava a espinha, mas eu não podia realmente senti-la de qualquer forma. - Bom... Não importa, vamos acabar logo com isso.
Assim que terminou de falar, ela retirou-se de dentro do circulo que Jullie traçara envolta de mim. Ergueu seus braços e começou a pronunciar algo com o fervor de quem faz uma oração.

          "Pater interitus.

Pater omnium transfugae.

Pater realis acceptatione.

Pater de igne. "

Conforme ela falava, a ventania se intensificava. Seu lenço vermelho voou e começou a girar em circulos sobre mim, segundo a correnteza da ventania que fazia um tipo de redemoinho.

"Quaeso accipiat.

Haec anima quod ego custodivi.

Solum pro vobis..."

Um trovão rugiu e iluminou sua silhueta esguia. Algo entre as árvore moveu-se, desviando sua atenção e fazendo-a parar abruptamente.
–- Úrsula pare. - um pedido seco e direto surgiu. Aquela voz que já se tornara facilmente reconhecível, era Enzo.
Olhei-o agradecida aos céus, mas, para minha surpresa ele já não estava mais vestido somente com seu terno elegante. Enzo estava fardado com o sobretudo negro, em seu capuz havia aqueles chifres. Aqueles, idênticos aos dela. Ele era como ela. Meu alívio se desfez, assim como a esperança de sair dalí com vida.
–- Que bom que você chegou. - a expressão dela suavizou. - Venha, ajude-me a acabar com isso.
Com "isso" ela obviamente referia-se á mim.
Úrsula esticou uma mão e fez um sinal para que Enzo se aproximasse. Ele andou até ela e tocou sua mão. Mal pude acreditar em meus olhos, até que a frase a seguir foi como um soco no estômago.
–- Pare com isso, meu amor. - AMOR?! - Você sabe que esses são não os planos Dele. - ele disse, suavemente.
Ela baixou a outra mão, fazendo a ventania parar.
–- Os planos Dele? - perguntou ríspida. - Sinceramente, não imagino que esta seja Ela! Eles devem ter se confundido...
–- Não, esta É ela. Mas, não devemos nos precipitar...
Aquela imagem e aquela conversa me causavam-me uma dor que eu não poderia explicar.
Úrsula encarou-o perplexa. Soltou sua mão da dele e afastou-se abrindo a boca lentamente.
–- Eles me disseram, mas eu não acreditei. - gotas grossas começaram a cair do céu. - Havia boatos de que você havia fraquejado... - ela virou-se de costas para ele. Era até mesmo constrangedor presenciar aquela discussão. - Mensageiros nos falaram sobre você proteger esta... Esta criatura!
–- Mas, é claro que não! - ele pegou-a pelos ombros e abraçou-a. - Você acha, acredita mesmo que eu faria uma coisa dessas? - Soltou-a e caminhou alguns passos.
Isso foi o bastante para causar o arrependimento de Úrsula que apressou-se atrás dele.
–- Não! Mas, por que você não acabou com ela antes? Venha, vamos. Vamos fazer isso juntos!
–- Falta de oportunidades seguras. Você sabe que aqui não é um lugar ideal, estamos próximos demais de muitas pessoas. - ele explicou-lhe.
Eu sabia que era mentira. Não haviam faltado oportunidades para Enzo acabar com a minha vida, ou deixar que os carregadores fizessem isso, e provavelmente, ninguém nos encontraria naquele momento. Era a hora perfeita para livrarem-se de mim. Então, se mentia para ela, quais eram as reais intenções dele?
–- Não me importa nenhum pouco a presença desses comuns! - ela ficara agressiva novamente. - Faça. Faça agora, ou acharei que eles estavam certos sobre você. - ela estava claramente desafiando-o. Era como um teste de lealdade. Para mim, não havia dúvidas de que lado ele ficaria, mas eu estava errada.
–- Não. - ele disse, baixa e firmemente.
–- O que? - ela aproximou-se dele lentamente como uma serpente. Agarrou seu queixo com as unhas compridas e apertou-o. Passou um dedo por seu lábio inferior. - Não se esqueça meu amor, que fui eu que lhe deu uma segunda chance.
Enzo apertou os dentes.

–- Nunca esqueci. - ele respondeu-lhe, dando um sorriso frio.
–- Ótimo. - ela disse, sem paciência. - Então, faça o que tem de ser feito. Eu já deveria ter feito isso dias atrás quando vim aqui, mas aquela Gardneriana intrometeu-se...
Então, no dia em que eu fora perseguida por carregadores, Úrsula era a sombra menor que destacava-se entre eles?
–- Você tem de ir, ou notarão sua ausência. - ele segurou o braço dela e abaixou-o.
–- Não recebo ordens! - ela puxou seu braço de volta. - Mas estou mesmo cansada de ficar aqui, essa cidade é um fim de mundo. Não sei como você aguenta! - Ela andou um pouco até alcançar seu sobretudo. - A verdade é que você gosta de se fazer de comum. - ela disse, enquanto fechava uma fivela - Termine isso e volte logo, estarei aguardando você. - suas últimas frases continham um tom de ameaça.
Enzo simplesmente assentiu, então, ela desapareceu novamente entre as árvores deixando para trás Enzo, eu que estava jogada na lama e Jullie, sentada como um cão ao meu lado.
Ela levantou-se e foi até ele.
–- O senhor... - ela pronunciava tudo lentamente - Quer que trace o circulo novamente?
Ele somente assentiu, novamente. Jullie correu para pegar o galho e enquanto ela traçava o círculo Enzo pegou-a por trás e aproximou sua boca da dela. Imaginei que ele fosse beijá-la, mas não. Seus lábios não se tocaram enquanto uma névoa quase luminosa passava de dentro de Jullie para Enzo. Enquanto a névoa translúcida saía de Jullie, seu corpo desfazia-se lentamente. Até que no fim restasse somente uma carcaça escura.
            Enfim sua real aparência revelou-se. Era um carregador, que ficou imóvel enquanto Enzo retirava seu sobretudo. Assim que jogou o manto por cima do carregador, aquele ser esquelético desapareceu, como se nunca houvesse existido. Enzo deixou o sobretudo ali e aproximou-se de mim. Ele pegou minha cabeça com as mãos, erguendo meu cabelo cheio de lama e colocando-me no seu colo.
–- Sinto muito. - ele alisou meu rosto. Fechei os olhos, não de alívio, mas sim de medo. A imagem que eu tinha dele agora não poderia ser desfeita. Ele era um deles. Enzo aproximou seu lábio dos meus, mas como fizera com Jullie, nossos lábios não se tocaram. Ele fechou seus olhos, enquanto a aura translúcida passava dele para mim. Pude sentir meu corpo novamente, lentamente meus movimentos estavam voltando. Aquilo que ele havia tirado do carregador era minha alma e ele estava passando-a de volta para mim.

Assim que senti meu corpo novamente, me desvencilhei de Enzo. Ele encarou-me com as sobrancelhas erguidas, pela primeira vez parecia não saber o que fazer ou dizer.
–- Fique calma. - indicou-me, erguendo as mãos. - Ela está muito longe, mais longe do que você imagina. - assegurou-me.
Eu prosseguia olhando-o com repulsa. Como ele podia ser como ela? Como podia tê-la chamado de amor? Enfim, quem era ele?
Por baixo do sobretudo negro que vestia antes, Enzo ainda estava com seu traje de festa. Ele retirou sua camisa social e jogou-a para mim.

Continuei encarando-o enquanto a chuva grossa nos castigava. O cabelo molhado cruzava meu rosto enquanto meus olhos arregalados o julgavam.
–- O que é você? - murmurei.
Enzo olhou-me com uma expressão de dor. Joguei sua camisa no chão. Eu não queria mais nada dele, mal queria sua presença.
Para mim ele agora era uma ameaça declarada. Não me matara hoje, mas eu deveria aguardar até que ele mudasse de idéia? Tudo que eu sabia é que ele era um deles e que eles me queriam morta.


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Notas finais do capítulo

Ai, pq as vilãs são mais bonitas? Só eu acho isso?! .-.
Adorei essa montagem, parece até uma foto do filme sei lá... Tô meio perdidona esses dias :/