Luz Negra I - Oculta escrita por Beatriz Christie


Capítulo 14
Capítulo 14 - Bem Vinda




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/303995/chapter/14

No início imaginei que Luna estivesse enganada. Realmente Enzo poderia ser o professor, mas quais são as chances de isso acontecer justamente naquele colégio? Tenho certeza que qualquer colégio particular teria gosto em contratá-lo, visto que o Laura's estava bem cheio no dia em que fomos lá.
–- Tem certeza de que era ele? - perguntei. Então, tomei um gole de minha sprite. Eu precisava agir normalmente, afinal, não haviam motivos para uma reação exagerada. Ou haveriam?
–- Eu não estaria falando se não tivesse certeza Mel. - Luna prosseguiu irredutível. – Mas você já falou com ele hoje, não?
–- Não, eu não fazia ideia de que ele era o novo professor. Nem sei o que teria feito caso o tivesse visto aqui.
–- Achei que vocês tivessem conversado pela forma como ele falou comigo...
–- Com assim? Vocês conversarama? – perguntei.
–- Não exatamente. Depois de você ir ver o Andrew, Daniel e eu viemos para o refeitório. Ele não aguentou esperar, como você sabe, então deixei que comesse e o levei só até a entrada da do prédio 2. Na volta fui surpreendida por Enzo. Ele me perguntou como a Abby estava, eu disse que ela estava bem. Então, ele me perguntou onde VOCÊ estava, eu disse que não sabia. Menti, obviamente. Eu não queria que aquele cara tivesse qualquer informação sobre você, ele não é nada seu. Então ele desejou melhoras ao Andrew. – Assim que terminou de falar, Luna levantou uma sobrancelha sugestiva. – Como raios, aquele cara sabia do mal estar do Andrew?
Pensei muito antes de responder, mas só havia uma resposta.
–- Eu não faço ideia. Mas, essas notícias correm, e ele é um professor agora. Os professores parecem saber de tudo que se passa aqui. Talvez alguém tenha contato pra ele.
–- Não sei... Não sei mesmo. Foi super estranho. – Luna falou, enquanto balançava a cabeça. – Mas, e agora que você sabe que ele é o professor?
– Agora minhas opções são só trocar de curso, ou sei lá, agir normalmente. - Dei de ombros.

–- Se você está tão calma com isso. Tentarei ficar também. - Luna suspirou.
Então, pelo visto minha máscara de naturalidade estava funcionando bem.
–- O que você queria me contar na entrada?- tentei mudar de assunto.
–- Ah...- ela pareceu entristecer-se - É sobre o pai do Daniel. Depois do divórcio ele ficou muito hostil, isso o separou mais ainda da mãe de Daniel. Mas... agora ele parece estar muito doente, não tem ânimo pra nada e pegou licença no emprego...
–- Nossa, sinto muito mesmo. - Quem conhecia o senhor Halvim sabia que ele era um homem muito ativo pra idade. Estava sempre envolvido nos eventos do colégio, principalmente nos jogos. Não faltava nenhuma vez para poder ver Daniel "em ação" - Como Daniel está reagindo a tudo isso?
–- Você sabe como ele é. Ele é igual ao Andrew em relação a isso... Sempre fingindo que está tudo bem para não entristecer mais os outros. Tenho medo que uma hora isso tudo pese demais nele.
–- Vai ficar tudo bem Luna. Isso era de se esperar, afinal ele acabou de passar por um divórcio. Eles sempre brigaram, mas talvez nunca tenha passado pela cabeça do senhor Halvim que a esposa realmente fosse pedir o divórcio um dia. Uma hora isso tudo vai passar. - tentei consolá-la.
–- Espero que sim. Sinto-me muito mal quando sei que Daniel está infeliz.
–- Sei como é. - Dei um abraço em Luna.
–- E você? O que ia me contar? - ela perguntou.
Pensei em contar á Luna sobre o meu sonho, os carregadores e sobre como Enzo me libertou daquele pesadelo. Mas, ela já tinha muitas preocupações e isso só pioraria seu discurso sobre minhas aulas de culinária.
–- Nada de importante, só que Amanda está cada vez mais irônica.
–- Sempre soubemos como ela é. Ignore-a. Apesar de que Andrew me contou que foi ela quem te levou ao hospital. - Luna parecia confusa.
–- Impressionante, não é? Bom, pelo menos agora eu sei que ela não me odeia o bastante a ponto de me deixar morrer.
Ambas rimos e então o sinal tocou.
–- Droga temos que ir. -- Luna pegou sua bolsa marrom de camurça e colocou em seu ombro.
Joguei os restos de meu lanche inacabado no lixo e levei minha sprite comigo.

Ela seguiu para sua aula de Geografia, enquanto eu deveria ir para a de Inglês. Passei o resto da manhã com dores no estômago, percebi que era por estar na expectativa de vê-lo a qualquer momento. Tive de assumir a mim mesma que talvez passar 3 horas por dia na presença de Enzo não seria algo tão simples assim. Durante a aula de química lembrei-me de que havia esquecido de pedir uma carona á Luna, mas antes de conversar com ela, havia uma coisa que eu precisava fazer.
Segui rumo á secretaria, mas quem me recebeu na bancada não foi a Sra Campus, como de costume. Em seu lugar estava outra secretária.
–- Sim? - ela me encarou ao ouvir o som da porta. - O que quer? - perguntou antes de voltar a atenção á papelada que estava em sua frente.
–- Eu gostaria de trocar de aula extra...
–- Não dá. Sinto muito. - ela disse, simplesmente.
–- Como assim? Eu aceito ir pra qualquer uma que puder.
–- Nesse ano surgiram muitos alunos novos, consequentemente todas as aulas estão lotadas, tivemos até mesmo que contratar professores extras.
–- Nossa... O que eu faço agora? - perguntei, eu não esperava realmente obter uma resposta. Era mais um pensamento que fugiu de minha mente.
–- Sugiro que venha as aulas, a não ser que queira perder o ano.
Simplesmente agradeci e saí bufando de lá. Então, não haveria escapatórias. Apesar de que, nas vezes em que nos encontramos Enzo fora em geral muito gentil. E esse era todo o problema. Eu tinha que deixar de ser tão facilmente impressionável e não me deixar levar por seus encantos.

Minha última aula era de química, isso foi bom, pois pude manter a mente ocupada com outras coisas. Quando a aula terminou, eu deveria seguir rumo á aula extra. Enquanto caminhava pelo corredor que dividia as classes do terceiro andar na torre 1, encontrei a porta onde havia uma plaquinha escrito “Culinária”. “Então é aqui.”, pensei. Permaneci parada diante da porta, olhando para minhas sapatilhas pretas. Puxei as mangas de meu casaco fino, até que cobrissem minhas mãos; Fechei uma mão do lado do corpo e com a outra apartei a garrafa de sprite. Então, tomei coragem e fui em direção á maçaneta, mas antes que eu a tocasse, a porta se abriu. Enzo aparece diante de mim, com o rosto sereno.
–- Bem vinda. – ele fez uma menção com a mão, sinalizando que eu deveria entrar.
Enquanto andava, dei uma breve olhada para a turma. Havia cerca de 15 garotas e somente 2 garotos na classe, todos me olharam com curiosidade. Sentei-me na primeira carteira vazia que encontrei, ela ficava bem no meio da sala. Então, Enzo fechou a porta e sentou-se em sua mesa. Quando digo mesa, me refiro mesmo á mesa, não á cadeira.
–- A maioria já sabe, mas meu nome é Enzo Portocallo e vou ensinar culinária á vocês. Mas, o que é culinária? – ele perguntou, encarando um por um na sala.
–- É aprender a cozinhar. – um garoto respondeu, fazendo todos rirem. Exceto eu, que estava tensa demais pra isso.
–- E cozinhar pra vocês é só jogar tudo na panela e se ficar comestível está ótimo, não é? Não tem nada a ver com sensações, sentimentos ou lembranças? – ele levantou-se.
–- Tem, eu lembro muito da macarronada do meu avô, isso é uma lembrança relacionada a comida e essas paradas que você quer dizer, né? – Uma garota loira disse, do fundo da sala.
–- Exatamente, May! – ela ergueu o queixo com prazer, ao ouvi-lo dizer seu nome. Isso pareceu deixa-la ouriçada. Então, ele começou a caminhar por nós, recitando um trecho de Shakespeare.
–- “Tarde demais a conheci, por fim; cedo demais, sem conhecê-la, amei-a profundamente.”- Em nenhum momento Enzo parou para olhar em minha direção, ou aproximou-se de minha mesa. – Essa frase, deve lembrar vocês de algum momento, de algum sabor. Sabor de comida, ou o sabor de alguém.
Alguns soltaram alguns gritinhos de “uuuh” e uma garota comentou um “Nossa!” com a outra. Enquanto eu, não podia tirar de minha mente que aquela frase me trouxera á memória o lindo bolinho com uma rosa que Enzo dera para mim quando nos conhecemos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Demorei, mãããs estoy aqui! Espero que gostem. Beeeijos ♥