Luz Negra I - Oculta escrita por Beatriz Christie


Capítulo 11
Capítulo 11 - Espinhos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/303995/chapter/11

–- Nem acredito que amanhã as aulas voltam.- reclamou Andrew, enquanto caminhávamos de mãos dadas pelo mercado. - O bom é que posso voltar a detonar nos treinos!
–- Fico feliz por você.- suspirei - Pena que não vou poder estar lá assistindo os jogos e tudo mais. Utilizarei meu tempo de modo super útil...- sorri irônica.
–- Por que você não entra em uma aula extra?- Andrew perguntou.
Realmente, mesmo estando longe, havia uma forma de me manter próxima a Andrew, Luna e tudo que me fazia tanta falta. Mas o mais importante, eu ficaria longe da nova casa.
–- Pena que a senhora Strauss foi embora, eu gostava do curso de arte. Sinceramente, não sei que curso escolher. - respondi.
–- É, ela era legal comigo. Me deu até 3 pontos bimestre passado!- Era incrível como as pessoas gostavam de Andrew, até mesmo os professores. O ajudavam sem pensar duas vezes.- Só falta o queijo e podemos ir...
Andrew seguiu para a área de frios enquanto eu decidia qual seria nossa sobremesa. "Eu poderia fazer um mousse", pensei. "Não, demoraria muito".
–- Está decidido! Vou fazer o curso de culinária.- Falei em voz alta, o que fez uma senhora que estava passando ficar me encarando. - O que foi? Nunca viu uma garota que não sabe cozinhar, não?
A velha foi se distanciando de mim com um pote de geleia de amora nas mãos. Certamente estava me achando uma louca, enquanto eu ria por dentro. Que mania essas pessoas têm de julgar os outros por tudo! Por fim, decidi que a sobremesa seria sorvete.
–- Sorvete? Nesse frio? - Andy perguntou.
–- É isso ou gelatina. - respondi.
Andrew respondeu fazendo uma careta de reprovação. Seguimos para o caixa e pagamos nossa conta.

Já no carro, perguntei á Andy o que ele achava de eu entrar para o curso de culinária.
–- Isso vai ser ótimo, sabe. Não quero viver a base de miojo quando nos casarmos. - ele riu.
–- Ah! Sempre há outras alternativas, tipo o Andrew cozinhar, ou o Andy cozinhar ou você cozinhar. As possibilidades são infinitas!

Ambos rimos e seguimos conversando pelo resto do caminho até em casa. Felizmente a chuva não deu o ar de sua graça naquele dia. No lugar do céu nublado que vinha nos dominando há dias, estava um sol fraco, porém muito bem vindo. Nunca gostei de chuva, mexer na terra ou qualquer coisa desse tipo, que mamãe e Abby tanto adoram. Por um tempo até fui escoteira. Gostava de ir lá, não como as outras crianças que queriam "contato com a natureza". Eu gostava mesmo eram dos desafios, como escalar ou aprender sobrevivência.


Andy e eu almoçamos juntos. Já era fim de tarde quando ele se foi, não queríamos que houvesse uma discussão caso tia Amanda o encontrasse lá. Quero dizer, ele não queria. Eu não dava a mínima para o que ela diria. Desde criança tivera plena consciência do que ela pensava a meu respeito, mas mais importante ainda, eu sempre soube quem eu era e isso me bastava.

Ficar sozinha naquela casa era estranho. Minha mãe vivia de suas pinturas, então sempre estava em casa. Eram raros os momentos em que podíamos ficar sozinhas. Enquanto lavava a louça que se acumulara na pia, comecei a pensar em todas as coisas que não valorizamos. Percebi que nada nessa vida nos pertence, tudo é um empréstimo. E, cedo ou tarde, tudo se vai.
Tia Amanda chegou acompanhada de meu pai, que carregava Abby dormindo em seu colo. Me aproximei com intuito de pegá-la para colocar na cama, mas meu pai fez um sinal para que me afastasse.
–- Deixa comigo.- ele sorriu, então virou-se antes de entrar no quarto – Vá dar uma olhada no carro, tem algumas coisas que acho que você vai gostar.
Algumas coisas? Pra mim? Caminhei até o quintal, meio sem jeito. O último presente que meu pai me dera fora a mais de 11 anos atrás, então não soube muito bem como me comportar naquele momento.
Abri o porta-malas e sinceramente, estas eram as últimas coisas que eu esperava ver. Dentro dele, haviam vários vasos com flores de várias as cores, alguns objetos de decoração e almofadas.
–- Gostou? - Rick perguntou, enquanto colocava a mão em meu ombro.
–- Gostei, muito. Sério, eu não esperava. Elas são lindas, obrigada pai. – Eu o abracei, ele parecia tão sem jeito quanto eu.
–- De nada. Agradeça a Deborah, ela conversou comigo em Washington e durante a conversa falamos de você. Ela falou que você sentia falta do estilo da casa antiga e tudo mais, então comprei essas coisas, assim quem sabe você se sente mais em casa.
–- Tia Deborah? O que ela estava fazendo em Washington? – perguntei espantada. – Como vocês se encontraram?
–- Ela me telefonou, disse que estava pela cidade e que gostaria de conversar comigo. Estava querendo que nos conhecêssemos, pois gosta muito de vocês e não quer perder contato. Ela é uma mulher muito boa, sabe? Fico feliz de ver que vocês foram bem cuidadas. - Isso tudo era muito estranho, como tia Deborah encontrara o telefone de meu pai? Eles nunca haviam tido contato antes. E o que ela queria conversar com ele? Essa subta vontade de conhecê-lo não me agradava muito. – Que cara é essa? – Rick perguntou-me – Não precisa ficar com medo, ela não me contou nenhum mal feito seu.- ele riu.
–- Mal feito? Pai, parece até que tenho 3 anos! É só que, não faço ideia de como ela conseguiu seu telefone.
–- Pensei que você quem tivesse dado. Bom, não importa. A convidei para jantar, mas ela disse que não estaria na cidade pelas próximas semanas, que pena. Por que não vai colocar seus presentes no seu quarto?

Peguei todas as flores e, como meu pai dissera, coloquei-as em meu quarto. Coloquei as almofadas no tapete que ficava no centro do quarto e deitei-me ali. Enquanto observava as élices do ventilador de teto girando sobre mim, a mistura de perfumes me levou de volta á nossa pequena casa laranja. Rosas, girassóis e meus preferidos, os lírios encheram meu quarto com suas variações de cor. Fechei os olhos e enquanto sentia o perfume das flores imaginei que estava novamente em meu sótão. Cheguei a ouvir o canto dos passarinhos, que nos visitavam com frequência. Tudo era apertado e tecnologia não fazia parte do vocabulário de minha mãe. De repente, uma sombra me fez abrir os olhos.

–- A senhorita não estava dormindo?
Era Abby, ela sorriu enquanto passava a mão em um girassol.
–- Eu já dormi muito, tá! Por que eu não ganhei flor?- ela disse, chateada.
–- Pode pegar um vaso pra você, se quiser. - Ela se animou e logo escolheu qual queria. Como eu já imaginava, ela ficou com o girassol. – O que vocês fizeram hoje? - perguntei.
–- Fui conhecer a escolinha, aí o papai apareceu e me levou pra passear no shopping. A gente comprou um monte de coisas! - Fiquei feliz em ver que Abby parecia estar se dando bem com Rick.- Quando a gente chegou, um homem estava deixando essa flor no nosso portão. – Abby apontou para as rosas.
–- Um homem? Que homem, Abby?
Ela deu de ombros e voltou a dar atenção ao seu girassol. Levantei-me e fui falar com meu pai, que estava na sala conversando com tia Amanda. Eles pararam de falar assim que entrei.
–- Pai, a Abby disse que um homem quem deixou essas flores pra mim.- eu disse, ainda com as rosas na mão.
–- Ah, sim! Ele estava as deixando no portão quando chegamos e saiu correndo quando nos viu. Seu nome está no cartão, deve ter sido seu namorado, não?
Olhei o buquê novamente e realmente havia um cartão com meu nome escrito. “Mellany Lake”, em uma grafia refinada.
–- Essa, definitivamente não é a letra do Andy.
–- A florista pode ter sido quem escreveu o nome, isso explicaria a caligrafia. – Rick disse.
–- Mas ele também não costuma se referir á mim pelo sobrenome “Lake”.
Aquilo tudo era muito estranho. Quem mais me mandaria flores?
–- Faltam poucos dias para o seu aniversário, qualquer um pode ter mandado. – Amanda respondeu seca.
Eu não era o tipo de pessoa que recebia flores assim, muito menos de amigos. E quem me conhece, sabe que não sou fã de rosas. Virei o outro lado do cartão e lá estava escrito:

“ Alguns entristecem-se ao ver que em uma bela rosa há espinhos.
Outros alegram-se ao ver que graças aos espinhos,
somente aqueles que realmente as adore, serão capazes de tocá-las.”



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que gostem! Beijos ♥