E o Amargo Vira Doce escrita por Iulia


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Feliz Ano Novo, adeus ano velho, que tudo se realize... É fiquei com preguiça de escrever o resto da música kkkkkkk. Oi! Eu tava com esse capítulo pronto faz um tempo, mas queria marcar ele como o último de 2012 (ou o primeiro de 2013. Fiquei em um impasse e sai perguntando pra todo mundo o que era mais impactante. Minha mãe disse que o primeiro de 2013 ia ser mais, mas eu sou v1d4 l0k4 e discordei). Acho que 2012 foi um ano maravilhoso pra mim, por isso eu quero marcar esse capítulo. Ah, cês podiam me fazer um favor... Quem quer marcar a "Tendo um Fim Doce um Amargo não Conta" como lida?! o/ bora lá meu povo, é só pra tirar a falta de emoção do zero.



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–Talvez você devesse desculpar ele, Clove. Eu acho que nesse tempo meio incerto não é bom adiar muito as coisas. Vocês podem morrer daqui a dois minutos. –Bryan diz, sussurrando, me encarando pelo espaço de três centímetros entre sua cama em cima da minha e a parede. Estamos encostados tanto nela para nos escutar que é capaz de adentrarmos e acabarmos no compartimento do vizinho se encostarmos mais um pouco.

Quer dizer, conversar ás três da manhã no 13, com todo mundo dormindo, não é tão fácil.

Faço uma expressão chocada e chuto a cama, para que ele sinta o impacto lá de cima. Bryan faz uma careta e revira os olhos.

–Não vamos morrer, idiota. E ele não me pediu desculpa, não posso fazer nada. –eu sussurro, olhando de relance para Lily e Catherine dormindo.

–Tudo bem. Espero que o Cato desista de você e parta pra outra. Aqui tá cheio de gente do 2, gente que ele conhece. –ele ergue as sobrancelhas com um sorriso vitorioso. Arregalo os olhos e endureço a face.

–Ele não faria isso.

–Não? Clove, as pessoas não estão adiando mais nada. Se iam se casar, já estão se casando, se gostam de alguém, já estão namorando. –ele dá um sorrisinho –por isso eu já falei com a Grinda hoje. Mas o que mais importa é que se tem que desculpar, estão desculpando.

–Mas ele me prometeu que não ia, Bryan!

–Não foi isso que você falou. Ele prometeu tentar não ir.

–Ele quis ir!

–Ele não ia dizer não. Você sabe, Clove, é realmente ridículo...

–Ok, ok... –reviro meus olhos, o interrompendo –se ele vier falar comigo eu vou escutar.

De uma forma ou de outra, eu duvido. Cato já tentou. Muito, sabe, além do limite dele. Depois do jantar, ele bateu aqui, mas aí eu bati a porta na cara dele. É, eu abri só porque eu quis, e aí fechei na cara dele. E até no jantar, mesmo. Sempre que ele falava alguma coisa, mesmo não sendo dirigida a mim, eu retrucava. Enfim, houve algumas discussões durante o período que eu enrolava com a comida, porque como o esperado, ele também não deixaria eu ficar brigando com ele sem receber respostas á altura. E algumas até mais altas que essa “altura”.

–Você deveria parar de frescura nesses tempos, mana. As pessoas estão morrendo.

–Eu sei, Bryan. Eu estou fazendo o que eu posso. A Katniss é o Tordo. Se ela não acordar logo...

–Vamos perder. Eu soube que o Peeta pediu um cessar-fogo.

–É. Acho que ele não percebeu que Snow não vai perdoar. Se isso acontecer talvez ele apenas pegue um revólver e saia atirando em todo mundo em vez de fazer um Jogos Vorazes mais espetacular. Ou talvez um chicote, se ele colocar todos nós em uma parede. É, isso ia ser mais prático. E econômico, uma guerra gasta dinheiro...

Ele ri.

–Para de ser idiota, Clove. Acho melhor você dormir agora, chefona estrategista. Boa noite.

–Boa noite. –sussurro, me virando para o outro lado e fechando meus olhos.

***

Pego a bandeja com a comida e vou para a mesa. Dou um sorriso meio apagado como cumprimento para todos e me sento. Ok. Cereais, leite e... nabo? É, é nabo. Fico imaginando se tem alguma grávida aqui. Como será que ela agüentaria comer isso?

Pressiono os lábios e começo a comer. Hoje nem água tem pra empurrar. O jeito é meter leite. Quando Cato se senta imediatamente do meu lado, ergo meus olhos para Bryan e já o vejo me olhando. Ele ergue as sobrancelhas, sorri e abaixa os olhos.

O avô de Cato passou a ser simpático comigo depois que salvei sua vida. Ainda que quase tenha perdido a minha. Ele me cumprimenta com a cabeça e Harry também, sendo um pouco mais escandaloso, claro.

–Bom dia, Clove. –Cato fala, contrariando totalmente a ideia de passar dos limites dele tentando falar comigo ontem a noite depois da porta na cara. Eu acho que eu deveria falar mais que os Jogos me amoleceram e coisas desse tipo. Quer dizer, ele serviu pra muita coisa. Olha só, Cato está tentando se desculpar (ou quase isso). Eu não sabia que ele se desculpava. Ou que sequer achava que tinha culpa em algo.

Bom, de uma forma ou de outra nossa última discussão ontem na mesa foi bem feia.

–Bom dia. –respondo, tentando soar normal. Não dá muito certo, meu tom agressivo se sobressai, mas tudo bem.

As outras pessoas na mesa conversam normalmente, mas eu não falo muito. O que Bryan disse entrou na minha cabeça. “Você deveria parar de frescura nesses tempos, mana. As pessoas estão morrendo.”

Como uma última colherada e coloco o prato para frente. Cato olha para mim e eu estou prestes a dizer para ele que temos que conversar, quando ele se pronuncia.

–Clove, eu quero falar com você. –ele diz, fazendo todo mundo da mesa nos olhar. Provavelmente esperando outra discussão. Lily aperta os olhos, me repreendendo antecipadamente.

–U-hum. –concordo com apenas um ruído. Ele poderia ter dito algo mais gentil como “Precisamos conversar”, não acha? Ok, ele quer falar comigo, mas e se eu não quisesse? -Eu tenho comando agora, 7:30. –digo, sem olhar direito para ele.

–Pode ser, eu também tenho.

Eu me levanto e ele me segue. Temos dez minutos antes de oficialmente termos que estar lá, por isso desvio o caminho para perto dos alojamentos. Não quero ter essa conversa com alguém olhando. Vai que não dá certo e aí decidem chamar os guardas por que estamos gritando demais?

Nós paramos e ficamos um de frente para o outro. Eu o olho de cabeça baixa, erguendo levemente os olhos.

–Clove... Eu tinha que te devolver uma coisa. –ele fala, depois de um tempo, desabotoando o colar. O meu colar. Ele oferece, com a mão estendida.

–Pode ficar, se quiser. –eu respondo, sem sequer me mover.

–Não, é seu. É mais legal ver ele em você.

Legal... Muito.

–Tudo bem, obrigada. –eu digo, pegando ele nas minhas mãos.

–Quer que eu coloque? Pra você?

–Ah... Pode ser.

Coloco o colar nas suas mãos e jogo o cabelo para o lado.

–Não tente nada! –eu falo enquanto ele abotoa, pensando sem motivo que ele está demorando demais. -Fechou? Legal. –me viro bruscamente e tiro sua mão do meu pescoço.

–Clove... Para com isso.

–Pede desculpa, então. Se você não pedir desculpa, eu não vou te desculpar. Não é difícil de entender, Cato. É lógico, é óbvio!

–Eu já estou ficando cansado disso... –ele começa, sendo bruscamente interrompido por mim.

–Cansado? De mim? Ok então. Quer terminar?

–Eu não disse que estava cansado de você. –ele responde, se irritando.

–Bom, eu sei ler entrelinhas.

–Então está lendo errado. Eu não quero terminar com você. E mesmo se eu quisesse não seria tão simples. –ele pega a minha mão sem nenhuma delicadeza e coloca a aliança na minha cara.

–Talvez. Mas ficar colocando a merda da aliança na minha cara não vai te desculpar. Só estou esperando isso.

–Eu quis dizer que estava cansado da briguinha, Clove. –ele diz, ainda mais irritado. Estou só esperando ele começar a gritar e a segurar meu braço. Porque é só isso que nós sabemos fazer para impor nossas vontades.

–Briguinha, não é?

–Eu sei, eu tinha que ter te avisado. Mas não deu tempo.

–Teria dado tempo aquela hora lá na cozinha se você tivesse me dito que queria ir.

–Eu não queria te preocupar com isso.

–A-hãn, sempre com essas coisas de mentir pra não me preocupar, pra isso e pra aquilo. –eu falo, revirando os olhos. –Você mentiu porque você quis. Agora para.

–Droga, Clove! Não dá pra conversar com você, não?!

–Depois me chamam de irônica. Você agarra meu braço, me prende na parede, grita comigo e depois sou eu que não deixo conversarem comigo.

–Eu não te machuquei. Não é? –ele diz, abaixando o tom de voz, com os olhos no meu rosto enquanto pega o meu braço e o examina levianamente.

–Talvez. Mas você já fez pior. Não é como se eu me importasse. De repente você devia examinar o meu ouvido pra ver se eu ainda to escutando direito depois do tanto que você gritou ontem e hoje também.

–Então deixa eu ver. –ele diz, em um tom de desafio.

–O que?

–O seu ouvido, ué. Vai que você não tá escutando mesmo? Porque já faz vinte anos que eu estou dizendo que quero parar com isso e você está tagarelando.

–Eu já disse que não vou te responder direito enquanto você não pedir desculpa, Cato!

–Ok, Clove, ok! –ele responde, talvez alterado, mas vencido- Você venceu, desculpa! Desculpa, desculpa, d-e-s-c-u-l-p-a! Entendeu, agora?!

–Entendi! Finalmente, não é? Agora tchau, tenho que ir.

–O que? Ah, Clove, fala sério! Você fez toda essa ceninha e não vai me desculpar? –Cato segura meu braço me impedindo de sair.

–Vamos ver depois se eu te desculpei ou não, Cato. –falo, porque de fato ainda estou ressentida. Talvez com ele e com o 13 e com o 2 e com Snow e com Panem inteira.

–Eu vou ver isso agora. –ele fala, me puxando de volta de vez e repentinamente me tascando um beijo na boca, me fazendo cambalear.

Eu sorrio com desafio no começo, mas logo o empurro. Em vão. Cato sempre consegue parecer arrependido. Mesmo não estando. E eu sempre caio nessa, o que é uma droga.

–Você não presta, Cato. É só me agarrar, não é? –eu digo, o olhando com desdém.

–Talvez não mesmo. Mas nem você, pelo visto. Você retribuiu, não percebeu?

–Lógico. A minha língua, não... –começo a retrucar.

–E aí?, decidiu? –ele me interrompe, impaciente- se vai me desculpar e vamos acabar logo com isso?

–Decidi. Só se você me prometer que nunca mais enquanto eu estiver viva você vai fazer uma merda dessas de novo. Mas não é dessas promessas que você não cumpre, que fala só por falar. Você vai me prometer de verdade, sem graçinha.

–Eu prometo. E tudo o que você disse desde o começo é verdade. Pronto?

–Pronto. Sem mais disso. Acho melhor irmos, já estamos um pouco atrasados. Tomara que dêem logo uma dura na Katniss.

–Ei, calma aí. –ele diz, segurando a minha mão de novo, me prendendo.

–Ah não, já deu, vamos logo, Cato. –eu respondo, voltando lentamente até ele, com os lábios pressionados.

–Não é só você que pode exigir promessas. –ele percebe que realmente temos que ir indo e continuamos andando, Cato com um braço ao meu redor. De repente ele passa a me olhar sério, tirando o sorriso do rosto. –Você vai prometer agora que não vai mais me bater que nem ontem.

Ele continua sério enquanto eu começo a rir.

–Clove, isso doeu. Sério. Eu tinha dito que você me tratava bem, mas não sei mais não. É baixinha, mas é Carreirista do mesmo jeito, tem força aí. Você pode não acreditar, mas aquele soco que você deu na minha barriga ficou roxo, olha.

–Não, não vou olhar não. –eu digo, parando de rir e segurando o braço dele que ia levantar a camiseta. –Muita gente vai olhar junto comigo, depois você me mostra.

Ele dá um sorrisinho idiota.

–Ah, e quanto a promessa... Não posso te prometer isso não. Só depende de você, não faz mais idiotice e eu não soco mais a sua barriga. Fechado? –eu me separo dele e estendo minha mão. –E não ouse se abaixar para beijar, aquele dia da Colheita foi muito idiota.

Ele ri se lembrando e eu também rio, lembrando do vídeo que eu vi depois com a minha expressão.

–Ah, foi legal. Sua cara. –ele diz, apertando minha mão. –Fechado.

Cato torna a passar o braço em volta de mim, voltando com o sorrisinho de “eu sou o máximo”.

–Eu soube que ontem você não cumpriu a sua programação.

–É. Quem te contou? –eu pergunto, ansiosa pra saber quem foi o otário que não tinha mais o que fazer além de cuidar da minha vida. E seguir sua programação, claro.

–Ah, o Plutarch. Lá no aerodeslizador. Disse que você estava com muita raiva. E perguntou se você ainda não tinha enfiado uma faca no meu olho.

Olho para ele com uma expressão confusa. Ele começa a rir.

–Era uma brincadeira. Mas eu só entendi depois que ele começou a rir. Depois ele perguntou se você tava bem, me pediu pra ver. Quando a gente chegou.

–Só que eu tinha colocado a cadeira na porta. –eu falo, sorrindo com desdém.

–É. Eu presumi que você não queria que ninguém entrasse. Então eu falei pro Harry ir. Porque você gosta dele e não ia ter uma crise de raiva com uma criança de nove anos.

–Na verdade era pra você não entrar.

–Eu? Nossa, agora doeu, hein, Clove. Exagerou. –ele diz, curvando os lábios para baixo.

–Não exagerei não. Continua logo, que tal?

–Ok. Eu te encontrei no meio do caminho, com cara de sono e raiva. Talvez você enfiasse mesmo a faca no meu olho. E aí você começou a me ignorar, o resto da história você sabe.

–Sei... E como foi lá, com a Katniss? No 12? –digo, quando estamos descendo as escadas para o Comando.

–Ah, foi... Estranho. Ela desceu, colocaram uma aparelho de comunicação nela. Ela andou, tropeçou em um crânio...

–Crânio?

–É, lá está cheio. –ele diz, enquanto passamos pelos processos de segurança dos guardas, que nos olham por um tempo. –Todo mundo morreu. A gente tem aqui uns oitocentos e cinqüenta e poucos, no máximo.

A imagem dos garotinhos esfomeados na Passeata da Turnê no 12 revira meu estômago.

–O que ela fez lá? – continuo.

–Andou. Só isso, não falou nada. Pegou uma bolsa cheia de coisas e um gato. A Vila dos Vitoriosos deles está intacta. Não bombardearam lá.

–Porque você acha que fizeram isso?

–Ah, vai que algum repórter tem que ir lá, mostrar as cinzas, como faziam aqui com o 13? É gente da Capital, não vão dormir em barracas, devem precisar de um lugar legal.

–Também tem a Katniss, não é? A casa dela é lá, pode ter alguma coisa a ver. –eu falo, imaginando como Snow gostaria de fazer uma visita até a casa dela e deixar seu maravilhoso aroma de rosas e sangue.

–É, pode ter. Nunca se sabe. –ele diz, dando de ombros.

Nós alcançamos o Comando e nos sentamos. Enobaria pergunta se eu estou bem e faço que sim com a cabeça, sorrindo. Porque eu não estaria? Bom, talvez eu tenha motivos, mas para todos os efeitos, eu estou ok.

As pessoas se sentam depois de um tempo e logo Katniss e Gale, os fugitivos sem motivo de ontem, aparecem, se sentando em seus respectivos lugares. Katniss encara todo mundo por um tempo e logo pede um papel e um lápis.

Bom, eu não sei o que guardavam para ela, mas todo mundo ergue as sobrancelhas quando a vê pedindo algo normalmente, não como uma louca. Geralmente quando ela quer alguma coisa é uma loucura só. Mas a pulseirinha não está mais nela.

Coin se estende para passar-lhe o material e eu fico olhando para o teto enquanto ela escreve seja o que for. Só falta todo mundo ficar nessa expectativa e ela fazer... um desenho do Conquistador.

Começo a me cansar quando dez minutos se passam. Eu achei que ela soubesse escrever mais rápido. Finnick que costuma fazer isso, demorar uma hora em uma coisa de cinco minutos. Dela eu não esperava. Me viro para Cato e começamos a sussurrar coisas sem importância. De certo ele já esperava que eu me cansasse logo. Silêncio e expectativa não são para mim.

Eu faço gestos claros de impaciência, mas ela não parece perceber, está concentrada demais em suas anotações. Por fim deixo a minha cabeça cair no ombro de Cato e contenho um bocejo, porque aí eu já estaria exagerando.

–Não vai dormir, Clove. –ele sussurra discretamente, logo voltando a cabeça ao normal. O ignoro.

–Ei, Plutarch, ela está demorando demais. –alguém próximo de mim sussurra, talvez Fulvia.

Ele tosse um pouco e se curva levemente sobre a lista de Katniss.

–Já terminou?

–Já. –ela responde olhando para um relógio.

–Demorou, hein? –eu falo, baixo, erguendo a cabeça do meu travesseiro arranjado. Mas dessa vez ela e Gale escutam, me olhando com raiva. Cato cutuca a minha cintura e eu decido que não vou mais interromper cenas dramáticas e importantes.

–Já terminei, sim. Este aqui é o acordo. Vou ser o Tordo de vocês.

Os primeiros a gritar são os rebeldes da Capital. Alguns ficam dando “parabéns” entre si, mas não vejo porque. Quem abriu a boca e acabou com essa loucura de falta de Tordo foi ela. Eu apenas me viro para Cato com sobrancelhas erguidas e falo mudamente “Já não era sem tempo”.

–Mas tenho algumas condições. –ela diz, sobrepondo a voz aos retardatários que ainda estavam conversando. –Minha família fica com nosso gato.

As pessoas tem opiniões das mais diversas. Ou não. Basicamente os rebeldes da Capital acham isso uma idiotice, porque um gato não faz mal. Mas o pessoal aqui do 13 e afins acham isso ridiculamente impossível.

–O que você acha, Clove? –alguém me pergunta, mesmo vários outros não tendo calado a boca.

Dou de ombros, me endireitando na cadeira.

–Acho que podiam deixar. É melhor um Tordo com um gato do que nenhum Tordo sem um gato. Ela pegou ele no 12, não deve fazer mal.

–De repente se a gente colocasse ela em outro compartimento. Um com janela pro gato. –Boggs fala.

A votação para pessoas que concordam vence e Coin impõe algumas condições para o tal gato. Risco de execução, alimentos por conta própria e etc.

–Eu quero caçar. Com o Gale. Na floresta. –ela fala, assim que burburinho causado pelo gato acaba.

–Nós não vamos muito longe. Vamos usar os nossos arcos e flechas. Vocês vão poder ter mais carne para a cozinha. –Gale acrescenta.

–E se pegarem vocês? E se a Capital mandar um aerodeslizador? E se vocês se machucarem, hein, Katniss? –Plutarch começa, olhando com superioridade para o outro amante de Katniss.

–Não, deixe eles irem. Dê-lhes duas horas por dia, deduzidos do tempo de treinamento. Um raio de quinhentos metros. Com unidades de comunicação e tornozeleiras de rastreamento. Qual o próximo pedido? –Coin o interrompe, fitando os dois.

–Gale, vou precisar que ele fique comigo para fazer isso.

Eu não sou nenhuma vidente, ou mesmo a pessoa mais correta de Panem, mas não me parece correto ficar enrolando um cara enquanto beija o outro. Não que Peeta esteja aqui para ser enrolado. De uma forma ou de outra devia ser assim no 12.

Acho que ela tinha que sacar que mesmo Peeta não estando aqui ela não pode beijar outro. É isso que disseram que tinham visto há uma semana atrás, em uma das minhas aulas. Não sei se é verdade, mas de uma forma ou de outra, toda mentira tem um fundo de verdade. E eu bem sei que essa tem. Um fundo bem espesso.

Seria a mesma coisa se eu beijasse o Blolder quando o Cato saiu pra missão. E depois ficar indecisa entre eles e beijando um sempre que o outro sai. Mas essa é só a minha opinião. Não vale muita coisa porque eu não tenho nada a ver com isso e não sei o que passa pela cabeça dela. Mas sei como ela age. E também eu nunca beijaria o Bloder. Estaria exagerando.

Coin implica a forma que Katniss quer que ele seja apresentado. Todos começam a debater que Peeta e Katniss não podem se separar tão rapidamente assim, devem esperar e manter o romance deles em curso.

Por fim, decidem que Gale vai ser apenas um companheiro rebelde para as câmeras. Mas Plutarch finaliza com um “Fora das câmeras, ele é todo seu”. Não posso deixar de achar graça na situação, ainda que Katniss pareça não compartilhar meu senso do que é engraçado ou não, pela forma como abaixa a cabeça e fica vermelha.

Bom, ela procurou. Beija um na Capital, arranja “primos”, beija esses “primos”, marca casamento, dá um gelo nos dois, fica fazendo ceninha romântica na Arena.... Por fim recebeu de um o colar com a foto do outro. É, naquela ceninha do Massacre com o colar tinha uma foto do Gale lá. Irônico o Conquistador entregar, não?

De uma forma ou de outra, não estou desdenhando do desconforto da Katniss. Estou desdenhando dela se sentir no direito de ter algum. Não gosto de Coin, mas as palavras dela não foram de segundas intenções. Ela só disse a verdade.

–Quando a guerra terminar, se vencermos, Peeta será perdoado.

O silencio que se instala quando Katniss acaba de pronuncias tais palavras é digno de um funeral.

–Nenhuma forma de punição será infligida. O mesmo serve para os outros tributos capturados, Johanna, Cashmere e Layran.

Pigarreio.

–Katniss. –eu chamo, trazendo os olhares para mim. –E a Annie, do Finnick. Ela está lá.

Não deveria ter dirigido esses olhares para mim. Do jeito que esse pessoal daqui é oficial, podem até dizer que eu colaborei na listinha do Tordo. Mas me parece injusto não imunizar uma pessoa tão amada por um aliado, alguém daqui. Além do mais com problemas mentais mais graves que os de Katniss. Ela acena com a cabeça como se lembrasse de algo.

–Nem a Annie Cresta.

–Ou a Justin. –eu digo, embora saiba que ele nos traiu. Desde aquele dia no Centro. Ele tinha alguma coisa a ver com o Snow. Ainda assim imaginar alguém torturado por esse pessoal daqui me é inadmissível. Se a Capital não o torturou, ninguém mais tem o direito disso. Quer dizer, ninguém sobrevive a Capital, te matando lentamente ao aberto, para morrer por pessoas que se escondem em baixo da terra, sem você sequer saber o que fez de errado.

O que tudo mundo passa com Snow já basta.

–Ou a Justin Flymer. –Katniss diz, acenando com a cabeça.

–Não. –Coin diz subitamente.

–Veja bem, eles não têm culpa de terem sido abandonados por vocês na Arena. Quem pode saber o que a Capital está fazendo com elas?

–Eles serão julgados com outros criminosos de guerra e tratados da maneira como o tribunal achar adequado.

Katniss começa com o seu chilique de sempre, mas agora é por um boa causa. Ela quer que seja gravado para futuras gerações e quer que Coin se responsabilize pela segurança deles. Eu faço o de sempre, fico sentada sem falar nada esperando acabar.

Honestamente não sei o que querem comigo aqui. Porque diferença é a última coisa que faço.

–Ou então pode começar a procurar outro Tordo! –ela grita no final, batendo as mãos na mesa.

–Ainda temos a Clove, de uma forma ou de outra. –alguém sussurra para Plutarch, quando o silencio se instala mais uma vez.

–Aí é que vocês não tem a Clove. –eu falo, me curvando na mesa para seja quem for me veja. –Eu não sou nenhum Tordo reserva. Não tenho nada a ver com esse passarinho aí que ela vai representar. Não tenho um broche, uma trança, não velei garotinhas, e não tenho nenhum triângulo amoroso.

Ah claro, ainda temos a cadeira, não é? Snow me mandou sentar, eu não sentei. Talvez uma cadeira seja um melhor símbolo do que o broche, mais prático.

Mártires de guerra têm que ter símbolos, fatos marcantes e força. Nada que eu tenha. Só tenho a cadeira de símbolo. Fatos marcantes? Tentar torturar Katniss Everdeen e sentir-me tentada a matar ela mais uma quinhentas vezes. Força? Bom, eu bati no Cato.

Fora que eu disse para o bêbado nojento e atualmente abstinente de nome Haymitch que eu não seria nenhuma cópia de Katniss. Eu me lembro vagamente de umas palavras rápidas de Haymitch sobre eu ter jeito para guerras, mas na época não percebi que se tratava disso. E vou continuar fingindo não perceber.

–Não existe um triângulo amoroso. –Fulvia fala.

–Que seja. –eu digo, para evitar mais conflitos entre o suposto casal que vai caçar junto de agora em diante. –eu expliquei para o Haymitch que eu não tinha nada a ver com isso. E pra você também, Plutarch. Acho melhor começarem a cuidar das coisas da Katniss e esquecerem que eu encostei naquelas amoras.

–Convoque uma assembléia de segurança Nacional durante a Reflexão hoje. Vou dar o pronunciamento nesse momento. Mais alguma coisa na sua lista, Katniss? –Coin diz.

Katniss pigarreia e diz:

–Eu mato Snow.

Vamos ver então. Aposto que minhas facas são mais ágeis do que flechas. Não estou disposta a cooperar com uma doente mental e deixá-la matar esse velho. Esse serviço é meu. E nada que ela disser na frente do Comando, de Coin, de Panem inteira ou até mesmo de mim me faz desistir disso. Vai ser eu que vou derrubar as barbas embaraçadas de Snow. Custe o que custar.



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Notas finais do capítulo

Eu tinha pensado em dividir esse e postar hoje e amanhã, mas não achei nenhum ponto legal pra eu dividir e sair marromeno... Pra 2013 eu espero muita coisa, sabe. Tipo menos fantasmas (gente eles se multiplicam magicamente, é estranho.) Eu tinha que tá com 51 Reviews, mas pra que fazer uma pessoa feliz, né? Uma pessoa tão dócil e meiga e mentirosa como eu? kkkkkkkkkkkkk. Olha, vamos conversar gente! Me contem aí dos seus causos, sou boa com conselhos (é sou apelona. Não quer falar do capítulo, bora falar da vida, né?) Enfim, beijos sabor feliz Ano Novo! (Adeus ano velho tã tã nã nã nã. Eu cantava essa música ao contrário, sabia? Lógica pra mim não existe kkkkkkkkkkkkkkkkk.)Ei, eu esqueci de avisar que tava lendo A Arma Escarlate! Alguém já leu? Cara, é perfect. Ou quase isso, eu gostei very. Ele é tão tenso e assustador, e profundo, e... Retornemos ao perfect. Agora é sério, tchau.



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