E o Amargo Vira Doce escrita por Iulia


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Oi. Então, eu demorei de novo. Menos que antes, mas demorei. Eu já estava com o capítulo pronto, mas estava desanimada com a ideia de voltar a postar. Acho que desenvolvi um complexo de possessividade com as coisas que escrevo. Enfim. Clove está finalmente num psiquiatra, porque depois que visitei um - psicólogo, no caso -, decidi que todo mundo deveria fazer o mesmo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/303984/chapter/18

E três dias se arrastam. Outros quatro mísseis de bunker são lançados e eu sempre corro para Cato quando isso acontece, mesmo que eu esteja em meu compartimento ou qualquer coisa assim. A rotina é mais rígida e ninguém sequer cogita a possibiidade de descumprir a programação.

Ouço uma conversa entre meu pai e Boggs no segundo dia. Eles falam sobre como Snow está arquitetando as coisas para Katniss. Peeta é a isca dela. E ele não vai querer matá-lo porque então não terá nada que pertence a ela em seu controle. Não terá como a ferir. Então ele vai continuar a fazê-lo sofrer e deixará que ela o veja sempre. Para torná-la inútil, o que ela já é.

Não que eu não soubesse disso, mas ouvir as coisas desse jeito fez tudo parecer ainda pior pra ela. É por isso que tento ao máximo parecer menos... Menos eu quando a encontro. Sorrio forçadamente às vezes e me esforço para falar com ela durante as nossas atividades juntas. Estou ciente de que em breve ela vai afundar.

Mas a coisa que mais me irrita de verdade, é o “tratamento” para o qual Cato traiçoeiramente me candidatou. Eu nunca imaginei que ele fosse ter a coragem de me mandar para isso enquanto eu estou fechando os olhos por sete segundos para me convencer a não agarrar ninguém pelo pescoço aqui embaixo. Mas ele faz disso uma motivação. “Você está piorando”, ele diz. Talvez. Talvez minha mente esteja sendo simplesmente enterrada em algum lugar ainda mais profundo do que esse bunker. Mas é esse homem que está me fazendo piorar.

O nome dele é Avery e ele é um psiquiatra. E eu ainda nunca me consultei com ele, só a ideia está me enlouquecendo. Estou fazendo coisas inaceitáveis e o uso como desculpa. Eu tenho um psiquiatra. Eu posso ser louca à vontade.

Mas depois de um extenso diálogo com Cato sobre como o seu comportamento indiscutivelmente instável é pior que o meu, que ele define como “manipulador e doentio”, decido realmente falar com o tal médico, pra prová-lo que eu não sou covarde e orgulhosa como ele.

Caminho até a enfermaria e falo que estou esperando o Dr. Avery para uma enfermeira.

– Clove, certo? O... outro garoto esteve aqui. Ele disse que você viria – ela hesita educadamente, me olhando com cautela.

– É, o Cato disse mesmo. Então, ele está ou não? – apresso, sorrindo o mais falsamente que consigo.

– Dr. Avery! – ela grita, ainda me encarando, como se tivesse medo de que eu rasgasse sua garganta bem aqui. Um homem com jeito de médico aparece. Parece o Beetee. É só um pouco menor que eu, usa óculos, tem pouco cabelo. – Clove apareceu. Ela é sua, não é?

Ergo uma sobrancelha para a mulher. Sua. Dele. Claro. Eu sou tanto desse homem quanto sou do Uranius.

– Clove. Estou surpreso – ele exclama, olhando para a enfermeira como se minha aparição fosse a coisa mais incrível que já aconteceu nessa enfermaria de bunker. Bem, deve ser mesmo. – Me acompanhe, por favor.

Aceno com a cabeça e o sigo até o terceiro box. Há uma mesa ocupada de modo organizado por papéis em branco, canetas e blocos de anotação. Tudo cinza. Tudo bem funcional. Tudo Distrito 13.

– Estou muito satisfeito, pra ser sincero – Avery diz, arrumando o jaleco animadamente enquanto se senta atrás da mesa e me indica o outro lado. – Aurelius ficou com a Everdeen, então eu ainda tinha a esperança de que a senhorita aparecesse – franzo as sobrancelhas pra ele, em um sinal claro de que estou pouco animada com essa história de se não puder ter a Katniss, tenha a Clove. Ele percebe, entreabrindo os lábios depois de me encarar por cima dos óculos, parando o que estava fazendo. – Eu a acho muito interessante, se me permite. Não quis te aborrecer.

– Todo mundo faz isso mesmo, não é? Não é como se fosse sua culpa – respondo venenosamente.

– Todo mundo, é, Clove? Eu vou adorar saber mais disso – ele afirma, sorrindo. Deve estar acostumado com pessoas como eu. Parece que eu posso praticar arremesso de facas com ele que não vai alterar seu humor. O médico pega um dos blocos, já usados parcialmente, é claro, porque aqui é o 13, e põe o meu nome no topo de uma página. – Eu preciso saber um pouco mais sobre você. Tem algum ponto pelo qual quer começar?

Ergo uma sobrancelha levemente e faço que não com a cabeça, enquanto cruzo os braços, me entediando. Ele suspira, mas acena que sim e muda de posição na cadeira.

– Ok, então, vamos começar pelo básico: O que te trouxe aqui? E você faz melhor do que dizer “meus pés” – incita simpaticamente.

– Cato. Ele decidiu que eu precisava de um médico para a cabeça – conto.

– Cato teve algum motivo especial pra isso?

– A gente foi pro 12. E eu surtei de novo lá. Você deve ter visto as gravações se me acha tão interessante assim, mas eu saí correndo deles. Depois que Katniss cantou uma música. E parei em algum cômodo na casa dela. Chorando – falo constrangedoramente.

– A música te causou isso, Clove? – ele questiona, anotando qualquer coisa no meu papel.

– Não sei. Não. Eu estava assim antes. Quando eu pensei em todos aqueles mortos. E eu sei quando isso vai acontecer. Quando vou desligar.

– E sobre esses “surtos”? Você notou algum padrão de ocorrência?

– Sempre que tem morte. Na Capital, no 2, no 12. Aqui.

– Um exemplo?

– Vamos fazer isso rápido, eu te dou dois. Na hora da evacuação, porque o Cato estava vindo comigo, mas ele decidiu voltar. Eu quase... Quase afundei de vez, mas ele apareceu antes disso. E no dia do bombardeio do 8. Eu estava aqui no 13 com meu pai e Beetee quando começou. E o Cato estava lá, então eu quebrei umas coisas.

– Bom, me parece que têm mais relação com o Cato do que com a morte, não acha?

– Está me perguntando o que eu acho? – pergunto, ligeiramente confusa. Ele faz que sim com a cabeça, me olhando por cima dos óculos. – Sei lá. Não, acho que não. O Cato está sempre em tudo, não é nada com ele.

– E se eu submetesse o Cato a tortura bem aqui na sua frente?

– Eu mataria você. – Respondo em um tom óbvio e ameaçador ao mesmo tempo.

– Bom, temos um grande avanço aqui. Cato. – Ele diz, como se estivesse se preparando para o clímax, a decisão final. Querido Deus, Cato não pode ser minha decisão final, amém. – Você me diz, Clove, que não tem relação com o Cato, que ele só aparece porque ele está sempre lá. Me diz que tem relação com a morte. E me diga, Clove, Cato não tem uma relação com a morte?

– O que você... – começo, erguendo as sobrancelhas.

– Você não está se confundindo? Trocando os pólos? Cato e morte? Cato... Não representa a morte pra você?

– Não – respondo prontamente, porque isso não faz sentido. – Talvez. Olha, ele foi meu parceiro de distrito nos Jogos Vorazes. Não pode esperar que ele não tenha relação com a morte. Eu tenho relação com a morte. Todo mundo tem. Mas ele não representa a morte pra mim.

– O que ele representa pra você?

– Eu ia me casar com ele, você sabe – falo, subindo as sobrancelhas. – Não faça tudo girar em torno dele. Eu tenho outros problemas onde o Cato não entra, sabe?

– Quais?

– Eu não durmo de noite, não consigo comer, quero voar no pescoço de todo mundo. Eu quero torturar o Snow, eu não sei o que estou fazendo quando surto. Eu choro por tudo, eu quero ir pra casa. Eu quero que a guerra acabe logo e eu não me importo com ela, então eu realmente odeio a Coin por dar um jeito de me meter em tudo que há sobre ela. O sobrinho do Snow disse que eu seria dele, e eu acordo gritando toda noite por causa disso. Eu estou com medo e carreiristas não podem ficar com medo.

– Uma lista extensa, Clove. Está tudo bem – ele diz seriamente. – Fica calma.

– Eu estou calma.

– Me diz agora: Quantos desses problemas poderiam ser resolvidos com o Cato?

– Cato?! – berro, me levantando e batendo os punhos na mesa, realmente irritada. – Não, droga, não! Não entendeu que não tem a ver com o Cato?! Por que está falando dele toda hora? Está querendo me fazer ficar com raiva?!

Ele me observa de olhos cerrados, apoiando o queixo em uma das mãos sobre a mesa, como se me estudasse. Me acalmo sozinha, enquanto ele me avalia, tenta ver como eu funciono. Sento. O observo cuidadosamente também.

– Você me fez uma pergunta depois da que eu te fiz. Me responde primeiro e terá sua resposta.

– Por que acha que tudo tem a ver com o Cato? – pergunto novamente, exasperada.

– Me responda primeiro.

– Eu durmo quando eu estou com o Cato. Eu não fico com medo se eu estou com ele. Mas ele não pode fazer nada sobre as outras coisas. Eu não estou segura de verdade, nós dois sabemos – digo relutantemente.

– Bom. Eu estou te perguntando sobre o Cato, Clove, porque você mencionou que ele está em tudo. Eu quero entender o porquê de Cato “estar em tudo”.

– Minha vida está assim por causa dos Jogos. Se ele estava nos Jogos, ele está em tudo – concluo para ele, erguendo as sobrancelhas.

– Você precisa entender – ele começa, suspirando depois de um tempo me estudando de novo – que não é simples assim. Você e o Cato foram o único casal de tributos do 2 que relutaram em se matar, não se separaram, ficaram juntos até o fim. E não foi tão prático quanto Katniss e Peeta, não tinha amor aí. Vocês não eram amigos, não se deviam nada, ouso dizer que se odiavam. O grupo de vocês foi o responsável pela maior parte das mortes em sua arena. Vocês não tinham condições para estarem apaixonados. E o fim foi surpreendente.

– Nós não tínhamos nada disso. Era um jogo. Cato fingia que estava apaixonado por mim e eu fingia que estava apaixonada por ele. Ele ia cuspir aquelas amoras assim que eu pusesse aquela droga no meu estômago, nós não ligávamos um pro outro de verdade.

– A mesma estratégia do 12?

– O 12 roubou a nossa estratégia. Ou seja lá que droga eles fizeram – respondo em um tom óbvio, sacudindo a cabeça. - O Peeta gostava da Katniss, mas também “não havia amor lá”. Nós precisávamos ficar juntos até o fim para a Capital. Para que nós sobrevivêssemos também, porque o Cato é uma anta e o Tresh dava cinco de mim. A gente estava jogando.

– Cato é uma pessoa difícil de se brincar.

– A gente não batia bem da cabeça.

– Batem agora? Por causa um do outro? Clove, Cato foi o maior exemplo do que o 2 é: Orgulho, vício, força. Como ele te fez bater bem da cabeça?

– O 2 não é só isso. E nem ele. E eu não sei, eu sou do 2 também! Tenta me desassociar dele e resolver os meus problemas primeiro!

– Você não é desassociável do Cato, Clove. O que está acontecendo com você é o reflexo dele.

– Ah, o grande causador de problemas – ironizo, revirando os olhos. – Eu sou responsável pelo que eu faço.

– Você não queria matar quando chegou na arena. Você se manteve longe e você era diferente deles. Quase uma inocente. Então você ficou perto de uma pessoa de ataques de fúrias constantes e humor variável e sangrento. Por que você se tornou assim?

– Não estavam mostrando o treinamento, não é? Não teve nada disso, foi só impressão sua. Era a minha também. Eu achei que não queria matar ninguém. Mas quando tive a chance, ia arrancar a boca da Katniss com minha faca. Como eu fiz com todos esses manequins inúteis minha vida toda.

– Você ficou louca?

– É, eu fiquei – respondo hostilmente – E não foi o Cato que fez isso. Foi o Snow. Ele trabalha nisso desde que eu nasci.

– Entendo. E por que vocês dois se fazem bem?

– Cato e eu? Não sei – dou de ombros. Não sei mesmo. Não faz sentido.

– Vocês se amam?

– Está pedindo uma resposta difícil. O que quer dizer com amor?

– Me refiro ao amor convencional, romântico, o que faz as pessoas andarem de mãos dadas e se beijarem.

– Ah – dou uma risadinha de escárnio agora. - É, acho que sim. Falamos isso na arena, mas era mentira. A gente nem se conhecia.

– Então agora é verdade? Vocês se amam?

– Falamos que sim – dou de ombros de novo. – Pensamos que o que sentimos é amor. Talvez não. Ele diz, mas não posso responder por ele.

– Quantas demonstrações de amor você viu na vida, Clove?

– Quer que eu conte, é? “Ah, talvez isso seja uma demonstração de amor. Somo quinze agora”? Qual é. Não sei. – franzo as sobrancelhas, sacudindo a cabeça.

– O que você define como demonstração de amor?

– Não sei. Por que eu me importaria com isso, aonde quer chegar?

– Tente me responder primeiro, Clove – ele larga a caneta e pousa as mãos na folha, largando tudo para exclusivamente me encarar.

– Isso está me cansando – respondo em tom de aviso.

– Por favor, se esforce um pouco mais. Eu realmente quero te ajudar.

Suspiro e faço que sim com a cabeça.

– Desde que minha vida começou, então. Quando minhas irmãs mais novas nasceram, eu achei que sempre que minha mãe dizia que amava elas, eu estava vendo uma demonstração de amor, porque ela era uma pessoa que tinha carregado serzinhos semi-parasitas na barriga por nove meses e quando eles saíram, ainda teve de cuidar deles. Então eu acho que se uma mãe ou um pai diz isso, é verdade – o homem toma notas freneticamente. - Quando meu irmão me defendia dos caras maiores que eu na Estação. Quando eu vejo qualquer pessoa se esforçando pra se acalmar a outra... Olha, eu vejo muitas demonstrações de amor o tempo todo numa guerra, naturalmente, mas não sei definir o que é uma verdadeiramente. Eu poderia dizer que é uma pessoa se preocupando com a outra, ou tentando proteger ou cuidar, mas eu não sei direito. Só tenho certeza que não tem nada a ver com esses “eu te amo” que todo mundo sempre fala.

– Cato já praticou uma, Clove?

– Provavelmente sim. Com o Harry o tempo todo, quando voltou pra buscar ele. Com o avô às vezes.

– Com você...?

– Ele tenta me proteger. Tem medo que eu morra. Olha, se o Cato não me ama, ele faz parecer que sim o tempo todo, ok? – resumo, suspirando.

– E você acha que alguma vez ele te provou o contrário?

– Não. Não de verdade. Ele está só... preocupado.

– Como assim?

– Ele me prende nos lugares às vezes e não me deixa fazer umas coisas. Mas isso não tem nada a ver com não me amar. Talvez o contrário.

– Ciúmes?

– Não. Guerra. Bombas – falo sinistramente.

– Como é isso? Ele te prende? Você tem medo do Cato, Clove?

– Não mesmo. Ele me tranca no banheiro ou qualquer coisa assim.

– Ele já te agrediu fisicamente?

– Não. Definitivamente não. Ele ficaria louco se fizesse isso.

– Ele já fez alguma vez pra você ter tanta certeza de suas reações assim?

– Às vezes eu finjo que ele me machucou – digo despreocupadamente. – Faço um teatrinho, digo que o roxo que eu arranjei batendo em algum lugar foi ele que causou.

– Você inventa situações? Simula que um dia realmente o Cato parou o que estava fazendo e te bateu? E ele acredita?

– Não, eu não faço isso. Eu digo: “Cato, você esbarrou seu cotovelo em mim ontem. Isso está doendo tanto e está tão roxo”. Ele é lúcido. Não acreditaria se eu dissesse que ele fez propositalmente algo que ele não fez – esclareço.

– E como ele reage a esses supostos acidentes?

– Ele me pede desculpas. Me examina. Fica preocupado. Essas coisas de quem tem culpa.

– Interessante. E você pode dizer com toda a certeza que ele é capaz de amar qualquer coisa?

– Meu Deus, faça essas drogas de perguntas pra ele – falo alto, cerrando os dentes. Ele não se altera, então sou obrigada a responder. – Obviamente.

– Quais pessoas, especificamente?

– Honestamente, se eu quisesse falar de “amor”, teria ido atrás de alguém da Capital. Mas eu diria que o Harry, talvez seu avô de um jeito estranho e eu.

– Hum. E quanto a você, Clove? Você ama?

– Elabore melhor suas perguntas, já me perguntou se o Cato tinha feito alguma demonstração de amor. Eu disse que sim, então você me perguntou se ele era capaz de amar. Depois perguntou se eu amava o Cato. Estamos dando voltas. Se eu disse que amava ele, logicamente eu amo.

– O que você ama?

– Ah. Facas – ele arregala os olhos e começa a escrever. Sorrio. – Você me perguntou o que eu amo, mas quer saber quem eu amo. Minha família. O Harry. Cato.

– Harry é o irmão de Cato, certo? – ele parece aliviado, largando a caneta.

– Aham. Eu amo a Enobaria também, ela me treinou – falo, um pouco desconcertada. É estranho tudo isso de amar.

– Você demonstra que ama essas pessoas?

– Não.

– E como elas sabem que você as ama?

– Dá pra perceber.

– Como?

– Dá pra perceber pelo que eu faço, pelo que eu digo pra elas.

– O que você fala pra elas?

– Coisas que pessoas que amam outras falam.

– O que pessoas que amam outras falam?

– Olha, só o que eu sei é que ficar preocupado com uma pessoa é a melhor maneira de dizer que ama ela numa guerra.

– Isso é interessante – volta a escrever. - Cato virá me visitar?

– Ahan. O mais cedo possível. Então você pode fazer todas essas perguntas sobre ele diretamente – falo detestavelmente.

– Tenho impressão de que será o contrário.

– Ah. Nós vamos brigar por causa disso, então – concluo, dando de ombros e me levantando.

– Tenho muitos outros tópicos aqui, Clove. Não precisa se preocupar, não vamos falar só sobre ele.

– Vai sempre usar um dia todo para me perguntar só sobre um deles?

– Os tópicos “Amor” e “Cato” eram complexos. Nem estão prontos ainda. Eu não posso te oferecer estratégias de domínio próprio enquanto não te entender completamente.

– Eu não quero mais falar sobre ele.

– Rivalidade para com Cato. Sinceridade e estresse perigosos e alarmantes. Ataques de ódio, períodos de tranquilidade doentia, dificuldade de discernir sentimentos e de falar sobre, perda parcial de consciência... Igual a... Bipolaridade. – Ele devaneia em voz quase baixa enquanto escreve rapidamente na minha ficha. Bom, pelo menos um diagnóstico. – Geralmente Vitoriosos apresentam esse distúrbio, está dentro da normalidade. Quando vai aparecer de novo?

– Não sei. Quando eu surtar de novo.

– Não pode ser antes?

– Não sei – repito, dando as costas. – Obrigada e tchau.

Cato está me esperando na porta da enfermaria, de braços cruzados.

– Ficou louca? Você desapareceu por esse buraco – ele rosna assim que eu paro perto dele.

– Achou que eu estava onde, tentando subir de volta? – retruco, revirando os olhos.

– Me avisa, Clove – ele praticamente ordena.

– Tá, já deu. Para. Você vai entrar agora, não é?

Ele para olhando alguma coisa atrás de mim. Avery está nos observando e tomando notas.

– É ele?

– É. Vai lá – sorrio meigamente. Ele estreita os olhos pra mim.

– Você está sorrindo desse jeito bonitinho, Clove. Eu vou me arrepender disso – ele decide, suspirando e por algum motivo me beijando do jeito mais escandaloso possível, porque é o que ele sempre faz quando tem alguém perto. Quando ele sair, vou perguntar se ele pensa que está marcando território com essa coisa.

Então ele se afasta, troca umas palavras com o médico e vai para a sala. Decido esperá-lo, porque se tiver mais um bombardeio, posso correr até ele mais rápido.

No fim não há gritos. E ele não quebra nada. Espero mais ou menos uma hora, porque não tenho noção de tempo, e então ele aparece. Avery vem com ele. Eles trocam umas palavras, ele acena pra mim e Cato finalmente sai.

– Isso é uma droga, não é? – ele diz, enquanto andamos para os nossos lugares, quase rindo. – Ele só falou de você e de amor.

– Comigo também. O que ele falou?

– Me perguntou o porquê de eu ter te enganado nos Jogos. Perguntou sobre o meu comportamento para com você, o que eu achava da guerra e da relação que você tinha com ela. Perguntou sobre a gente na arena e a gente agora. Perguntou se eu amava metade do mundo. Ele falou muito mal de você, também. Você pareceu ser ainda mais problemática.

– Ah, então foi a mesma coisa. Ele também fez você parecer um manipulador horrível.

– Você é a manipuladora da relação, Clove – ele responde, irônico. Quer dizer, espero que seja ironia. – Ele queria que nós fôssemos juntos na próxima vez. Diz que tem que fechar o seu tópico e o meu tópico para então poder realmente nos ajudar.

– Ele disse que me achou interessante – comento, rindo. Cato vira a cabeça bruscamente pra mim.

– Como assim?

– Ele só disse isso. Quando eu cheguei. Disse que estava muito satisfeito por eu ter ido e falou que o amigo dele tinha ficado com a Everdeen, então tinha esperança de que eu aparecesse.

– Você é realmente um clone da Everdeen, não?

– Totalmente. Você pode me ver quebrando seu coração. Pode me ver dividida entre você e o Uranius – digo teatralmente, rindo. A ideia de que Uranius é a versão de Gale na minha história é infinitamente absurda e engraçada. Uranius montando armadilhas e atirando flechas com um corpo atlético. Cato começa a rir também, porque ele como o Peeta é um ótimo Cato. Cantando para eu dormir. E eu como Katniss. Com uma trança, uma parede pegando fogo atrás de mim e um arco nas mãos, falando qualquer coisa heroica. Patético. Isso é um pouco cruel também, fazermos graça com isso quando Peeta tem o sangue manchando ladrilhos. É uma coisa bem doentia.

Mas é do que nós rimos mais. Estamos nos escorando um no outro, agindo como perfeitos companheiros de bar do Haymitch. Mas, bem, quem liga. Temos um psiquiatra, mesmo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Acho que é só isso mesmo. Feliz dia das Mulheres. E para os garotinhos, apenas uma frase "You can". Beijos de paz. Até qualquer dia desses.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "E o Amargo Vira Doce" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.