E o Amargo Vira Doce escrita por Iulia


Capítulo 17
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Então. É, eu voltei. Estou falando pro nada a essa hora, mas mesmo assim vou explicar: Eu tive depressão, por isso esse “hiatos” estranhamente comprido. Entendo claramente que vocês não queiram falar nada, mas, bem, vocês nunca falaram mesmo, né. Apareci porque eu realmente sinto que tenho que terminar isso. Então... Acho que vocês nem se lembram mais onde parou - claro que não, vocês nem leram. Não comentaram pelo menos -, mas Clove tá voltando do 12 e tals.



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Corro para o Compartimento assim que meus pés pisam no Hangar. Estou suficiente cansada, envergonhada e tudo mais que não é bom. Tomo banho e me deito. Me enrosco nas cobertas como um bebê e me viro para a parede. Teria dado certo se Cato não tivesse aberto a porta como um animal raivoso saindo do cativeiro.

Eu não sei o que está acontecendo comigo, mas não estou afim de falar com ele. Isso tudo no 12 foi constrangedor demais. Eu não devia ter dado uma de Annie Cresta. Como se eu realmente não pudesse ter dado um jeito de me controlar. E no que a minha insatisfação comigo mesma resulta quando não tem nenhuma faca pra eu jogar? Eu desconto nos outros. E parece que vou até ser obrigada a isso, pelo jeito que ele chegou aqui.

– Clove, eu preciso falar com você. Agora. E você não está dormindo.

– É, mas sabe do que eu não preciso agora? Falar com você. Eu preciso fazer qualquer outra coisa, menos falar com você – respondo, jogando a coberta até tapar meu rosto. Ouço ele estalando a língua e caminhando. Caminhando até mim. Está se sentando na cama. Droga.

– A coisa é totalmente inversa. Você precisa falar comigo e isso é sério, então não começa com o showzinho se não quer brigar.

Solto o ar pela boca e me sento, me encostando na parede.

– Você vai levar isso a mau, mas eu não ligo: Você vai procurar um médico pra sua cabeça amanhã mesmo.

Passamos um tempo nos encarando e erguendo as sobrancelhas até eu suspirar e fazer que sim com a cabeça.

– Eu vou – ele sorri um pouco e faz que sim com a cabeça, como se me mandasse continuar a falar. – Mas você vai comigo.

– Qual é, você não pode nem procurar o hospital sozinha, Clove? – Cato diz bocejando, se acomodando na minha cama como se a conversa já estivesse acabada.

– Você não vai me levar lá, idiota. Você vai se consultar com o médico também – ele abre os olhos repentinamente e me olha como se... como se eu estivesse louca. – Não venha dizer que não precisa. Eu me recuso a me tratar sozinha. Como acha que seria, você teria esses seus surtos e eu não ia poder rebater com os meus, é? Não mesmo.

– Tá bom – ele diz, num tom forçadamente casual e simples.

– Eu sei que você não quer ir. Eu também não, mas a gente precisa. Porque eu quebrei toda a sala do Plutarch aqui no 13 e você quebrou a enfermaria no dia que chegou. Aposto que se a gente quebrar mais uma coisa, vamos parar naquela salinha da equipe da Katniss – continuo, erguendo as sobrancelhas.

– Que seja, Clove – responde, com os olhos fechados de novo. – E você sabe que, coincidentemente, todas as vezes que a gente quebrou as coisas aqui foi por causa de nós mesmos. Eu quebrei por que você estava baleada e você quebrou por que estavam bombardeando o lugar onde eu estava.

– Eu sei. Quer dizer alguma coisa isso?

– Não. Nada. Estou só falando – Cato diz tranquilamente. Depois ele vai embora e eu vou dormir. E eu realmente tento fazer isso, mas uns mortos do 12 estão me assustando como o inferno e eu acordo ofegante de meia em meia hora. E eu até penso em procurar o Cato, mas eu certamente me perderia no meio de todo esse breu. Então me conformo em não dormir direito. E me permito realmente pensar sobre essa ideia do casamento.

*******

O café da manhã é uma droga, Cato e minha família são uma droga, as pessoas são uma droga e o dia é uma droga. Já estou na mesa de novo, para o jantar, ignorando decididamente Cato e Bryan, porque eles estão com a ideia ridícula de me segurarem e meterem comida na minha boca. E eles podem parecer bem “brincalhões” e “legais”, mas eles não são e ninguém está se divertindo aqui. Eles estão falando sério e eu estou com muita raiva por que eu não ligo se eles estão preocupados comigo dessa vez, eu só quero ficar quieta.

– Metam essa colher na minha boca e eu juro que meto uma faca no meio do olho de cada um – rosno, cerrando os dentes e me virando bruscamente pra eles. Meu pai ergue os olhos, suspira e decide sair. Como minha mãe também não está aqui, sei que desencadeei uma discussão.

– Então eu vou ser obrigado a meter a espada no seu olho também – Cato responde simplesmente.

– Tudo por que eu não quero comer?

– Desde que você voltou do meio de um monte de cinzas ontem você não colocou uma droga de comida na boca, Clove. Você vai morrer. Sua pressão deve estar tão baixa que eu não me surpreenderia se você desmaiasse agora – ele continua triunfantemente.

– Olha, eu vou tentar ser clara: Não desce. Eu não posso comer isso sem querer forçar meu próprio vômito, entenderam? Aliás, isso é vômito!

– Isso é só sopa de ervilha – Bryan interfere, me olhando como se eu não estivesse fazendo sentido.

– Parece vômito!

– Está todo mundo comendo vômito, por que você não pode comer? – Cato volta.

– Não precisa agir como se fosse meu pai. Eu realmente posso me cuidar. E eu já te disse que nem meu próprio pai me força a comer.

– Tenho certeza de que seu pai quer que você coma, Clove – uma voz diz acima de mim. Subo os olhos e encontro Boggs. Franzo as sobrancelhas e suspiro. Cato forma com os lábios as palavras: “Se ferrou”. Fecho a expressão pra ele.

– Ela está tentando se matar. Não comeu desde que chegou do 12 – Bryan diz, arregalando os olhos.

– Se matar não é uma opção agora, Clove – ele se dirige a mim, suspirando e erguendo as sobrancelhas. – Já procurou um psiquiatra?

– Só por que eu não quero comer, é? – digo entredentes, xingando Cato mudamente.

– Isso pode ser um distúrbio psicológico maior do que você pensa. Tem reunião no Comando e preciso de vocês dois lá – ele finaliza, já saindo. Ergo uma sobrancelha para Bryan vitoriosamente enquanto me levanto e sigo Boggs. Cato vem atrás, provavelmente achando também que essa reunião vai ser entediante e insignificante e inútil como todas as outras.

Nos sentamos nos lugares habituais, as telas já em cima da mesa. Não demora a insígnia da Capital a aparecer. Então o velho desgraçado aparece. Minhas mãos se fecham em punhos tão fortes que o sangue deve ter parado de circular. Esse velho tem que ser meu. E ele vai ser. Eu vou matar o Snow de um jeito que nem a alma dele vai poder esquecer. Ninguém vai esquecer. Eu vou meter uma faca de cozinha com cerra no seu olho esquerdo. Então quando eu for para o outro, o sangue que vai ter pingado já vai ter encharcado tudo. Aquela rosa branca que ele estupidamente carrega vai ficar vermelha. Tudo vai ficar vermelho.

O Conquistador está ao seu lado, de frente para o mapa de Panem. Snow faz uma saudação nojenta com sua voz falhada e imprestável e então ele fala novamente sobre a necessidade urgente de um cessar-fogo. Ele está ainda mais... ruim. Está péssimo agora. Batendo a perna freneticamente, suando, olhando como um touro pronto para atacar.

Cato e eu nos entreolhamos e torcemos os lábios.

Peeta continua a falar. Ele lista um monte de estragos e diz que a culpa de tudo é dos rebeldes. Tem até um celeiro desabando. Então do nada Katniss está na tela. Em cima de alguma coisa que sobrou do 12, acho. Há uma comemoraçãozinha, mas eu continuo fitando a tela, esperando para ver o que vai acontecer. Peeta retorna, parecendo ainda mais confuso. Deve ter visto ela no monitor. Diz poucas palavras e logo Finnick aparece, falando sobre a Rue.

A coisa fica mais interessante. As transmissões da Capital e dos rebeldes lutam para permanecerem, mas Beetee provavelmente sabia que isso ia acontecer, então escolheu bem uns pontoprops bem curtinhos, que podem ser entendidos facilmente com batalha ou não.

Infelizmente a insígnia da Capital reaparece e eles estão de volta estavelmente, Snow e Peeta. O velho diz que “estão tentando agora tumultuar a disseminação de informações, mas a verdade e a justiça prevalecerão”. É bem irônica toda essa fala. Sobre verdade e justiça está falando a pessoa que promove uns jogos de morte para crianças e faz parecer que é uma grande festa honrosa e consegue mascarar a pobreza desesperada e indigna de todo um país com um pouco de câmeras e brilho. Grande Snow.

Depois é hora de perguntar a Peeta se depois dessa noite ele pensa em se separar de Katniss. Faz até parecer que é tudo uma briga de família e eles ainda estão juntos, só estão se evitando quando se cruzam na rua. “Ei, o que você fez hoje, sua idiota? Me fez parecer um palhaço na televisão. Snow me torturou até eu clamar por uma lança do Marvel da minha barriga. Pode ver meu pânico? Eu estou suando e meu olho está roxo, acha isso legal?” “Ah, eu visitei os destroços do 12. Snow quer me bombardear, saia da casa dele! Ele não pode te proibir de me ver e nem pode te manter aí!”. Você pode ver como parece idiota. Mas é a ideia que está passando. É no que o pessoal da Capital deve acreditar.

– Katniss... Como você imagina que tudo isso vai acabar? O que restará? Ninguém está seguro. Nem na Capital e nem nos distritos. E você... no 13... Estará morta de manhã!

– Interrompa a transmissão!

Há mais um fotograma. Katniss no hospital. E então voltam. Voltam para a voz de Peeta. Para a câmera filmando o ladrilho branco. Para as botas de alguém. Voltam para o grito de dor dele e para o seu sangue respingado no ladrilho branco.

E então acaba. Estática.

Observo Katniss sentada reta na cadeira, olhando vagamente para os lados enquanto a sala é tomada pelo caos.

– Acha que ele morreu? – Cato pergunta discretamente, também a olhando.

– Acho que não. Acho até que seria melhor se tivessem feito isso – respondo sussurrando, embora ela não possa ouvir com todo o barulho. Então me dou conta de que vamos ser atacados. Katniss e Haymitch convencem a Coin e somos todos mandados para o Nível Cinco de Segurança.

Sirenes ensurdecedoras ecoam enquanto andamos.

– Clove. Eu vou voltar. Vou pegar umas coisas no meu compartimento e pegar o Harry e o velho. – Cato diz em um tom sério. Como se estivesse só fingindo que vai nos acompanhar. Como se estivesse me contando algum grande plano e eu fosse sua cúmplice.

– Não vai não. Você não está louco. Seu avô vai sozinho e o Harry está na escola. Vão evacuar tudo sem a sua ajuda, você fica – respondo exasperada. E se eles decidirem mandar bombardear tudo mais cedo por causa do aviso de Peeta?

– Eu preciso voltar. Vai lá pra baixo, eu estou falando sério. Depois eu te encontro.

– Eu vou com você – falo, agarrando seu braço.

– Não, você vai voltar e vai descer.

– Por favor, me deixa ir com você.

– A gente tem pouco tempo aqui, você tem que descer. Por favor, não faz show agora, Clove, só desce – ele diz, parecendo cansado e triste. Péssima combinação.

– Mas e se você morrer?

– Acha outro cara e casa – Cato responde, me empurrando levemente para a massa de pessoas.

– Por favor, Cato – imploro, quase chorando. Se ele morrer, eu estou ferrada.

– Tá, eu amo você, desce agora, Clove. Por favor. Eu já teria voltado se você não estivesse me impedindo de ir.

– Eles já foram, me escuta! Não se atreva a sair procurando eles e morrer, Collins, ou eu juro que me mato para torturar sua alma no inferno – rosno, enquanto ele me sacode mais uma vez.

– Eu não vou. Se eles não estiverem lá, eu vou voltar direto.

– Não ouse me deixar sozinha nas mãos do Uranius. Eu amo você também – sussurro, o abraçando rapidamente. – Você vai voltar! – grito enquanto estou descendo, me esforçando para parar de chorar e conseguir secar as lágrimas. Todo mundo aqui é muito apático e metido a robôs, então agem como se eu fosse doente por gritar qualquer coisa no meio de uma evacuação por um bombardeio e estar chorando.

Passo por um scanner no fim da infinita escada olhando a todo tempo para trás e entro em um lugar estranho. Umas paredes de pedra, outras de metal, outras de concreto. Tem umas beliches nas paredes, cozinha, banheiros e uma pequena enfermaria. Números e letras aparecem em intervalos. Estou quase começando a procurar por Harry quando um homem me abraça de repente.

– Onde você estava? – meu pai rosna, quase exatamente como eu faço. – Estava atrás de mim e então você desapareceu, sua irresponsável.

– Desculpa – respondo vagamente, voltando a passar os olhos pela multidão. – O Cato voltou, pai. Ele disse que ia pegar umas coisas e me mandou descer – balbucio, passando a mão pelos cabelos. Agora percebo o quão estou desesperada.

– Ainda tem muita gente descendo. Daqui a pouco ele aparece, Clove. Só não ouse subir de novo – ele fala, me olhando indecifravelmente. O comunipulso dele começa a apitar e ele sobe os olhos novamente pra mim. – Não suba. Ele já vem mesmo.

Então meu pai some da minha vista. E fico realmente desorientada pelo mar de pessoas. Procuro o Harry, mas é tão impossível reconhecer qualquer um aqui quanto determinar quem é 12 e quem é 13, ou 2. Estou com medo de surtar de novo. Estou andando de um lado para o outro, olhando para a escada a todo tempo, sem conseguir parar de chorar enquanto os minutos passam. Bryan me encontra e me obriga a ir para o alojamento com ele. Minha mãe e minhas irmãs estão sentadas preocupadamente. Bryan diz que vai procurar o Harry e o avô deles por mim.

Me encosto em uma parede no canto e deslizo por ela, chorando. Cato vai morrer. E a culpa vai ser só dele.

Parece que já é tarde, muito tarde, quando me levanto. Vou dar mais uma volta e quase tenho uma parada cardíaca quando o vejo parado na entrada, procurando qualquer coisa. Seu alojamento, sua família, eu, sei lá. Não me importo, porque eu achei que ele fosse morrer, então vou até lá e soco seu peito tanto que meus pulsos doem.

– Você tinha que ter descido comigo! – grito, me jogando no pescoço dele no que eu acho que é um abraço. – E você ainda não me procurou quando chegou, eu estive à beira de um outro surto por sua causa. Você me assustou tanto, seu desgraçado! Se você tivesse morrido, eu nunca ia te perdoar.

– Tudo bem, eu ainda estou vivo – ele diz, me levantando e colocando a cara no meu cabelo como sempre.

– Não faz mais isso, Cato. Por favor. Você sempre faz e é a pior sensação do mundo. Você não entende o que você faz comigo todo dia em que me prende em qualquer lugar e sair pra morrer, droga.

Ele me desce e eu me separo, o olhando bem fixamente. A culpa é dele se eu estou assim agora. Se ele não fosse tão metido a herói protetor eu não estaria assim.

– Sei sim. Todas as vezes que você foge. No 2. No 12. Sempre que você não aguenta. Isso é ruim também, Clove.

– Só não faz mais isso – digo de novo, sorrindo para desviar o assunto do caminho pelo qual está indo. Embora seja só uma respostinha idiota dele. Me ver correr na sua frente não é como quase ver a pessoa morrer do outro lado de uma tela.

– Tá, vou tentar. E agora? O que a gente tem que fazer aqui? – ele pergunta, semi cerrando os olhos e olhando em volta.

– Tem que achar o seu compartimento aqui – ficamos um tempo rodando como idiotas, porque eu só me dei conta de que, se o meu é o 309, o dele é perto depois de um tempo. Cato lê em voz alta todas as instruções e se certifica de que os dois membros do Compartimento estão aqui. Eu arrancaria suas duas pernas se ele não pudesse se certificar disso de prontidão. Porque ele saiu apenas para procurá-los. Quer dizer, trouxe uma caixa, mas estou certa de que não foi só por isso. Enfim, o avô dele está rondando por aí, mas já está registrado. Harry está brincando com um outro menininho no compartimento dele.

Nem pergunto se eles já estavam aqui pra não brigarmos.

Depois ele tem que ir buscar um pacote na Estação de Suprimentos e eu sou obrigada a ir ajudá-lo a carregar essas coisas. Eu não sei pra quê. Como se ele não conseguisse levar uns sete desses de uma vez. É só pra não se ferrar sozinho.

A próxima instrução é aguardar novas instruções, então nos sentamos e falamos vagamente sobre o que estaria acontecendo com o Peeta agora. Nós sabemos, claro. Mas é só pra descontrair. Às vezes falamos umas coisas tão ridículas que somos obrigados a sacudir a cabeça e rir. Não é uma situação engraçada, mas é melhor rir do que chorar. Daqui a pouco vão estar metendo bombas aqui e todo mundo está suficientemente assustado sem se lembrar da Capital.

– Abre isso aí! Deixe-me sair! – alguém grita. Arregalo os olhos e me levanto, consciente de que minha família pensará que esse ser em desespero sou eu. Mas dessa vez, o ser em desespero é Katniss Everdeen, seguida por sua mãe. Aceno para Lily na entrada do compartimento e faço um sinal de positivo com o polegar. Ela fecha a expressão pra mim e volta pra dentro, certamente para avisar aos outros.

– O que é isso? – Cato pergunta ao meu lado, atrasado como sempre, tentando ver o que é. Katniss coloca a mão na mínima abertura e sua mãe implora para que os guardas abram as portas.

– Prim! – Katniss berra de novo. Como é que a garota ficou de fora? Por qual motivo ela não desceu com todos os outros do hospital?

– Ela voltou, não é? – Cato diz, franzindo as sobrancelhas. – A irmã dela?

– Não tá aqui – respondo, dando de ombros. – Deve ter.

– Nem o Caçador – olho em volta e localizo Hazelle, acho, a mãe dele com as crianças. Mas nada do Caçador, realmente.

– Eles voltaram mesmo. Igual você fez – afirmo antipaticamente. – Eles podem até morrer agora.

– Eles já entraram. E eu estou aqui há quase tanto tempo quanto você – Cato responde, estalando a língua como se eu estivesse falando sobre inutilidades aqui. Estou realmente cansada por esses dois dias, então simplesmente volto para o compartimento dele e me deito na cama. – Então. Não vai falar sobre esses socos que você levou? – ele diz casualmente, se deitando ao meu lado, encarando o... teto, acho.

– Que socos? – me dou conta do que ele quer dizer, então. As olheiras. Não sei o que ele estava esperando, sinceramente. – Ah. São olheiras.

– E por que você está com elas?

– Não é óbvio? Eu pintei elas com a maquiagem da equipe da Katniss, querido – falo sarcasticamente, revirando os olhos.

– É sério, Clove. Por que você não está conseguindo dormir?

Suspiro e torço os lábios, sacudindo a cabeça, frustrada.

– E você está?

– Clove... Às vezes.

– Tem sorte, então. Eu nem sei mais o que é dormir direito – conto desoladamente.

– A gente tinha que fazer isso mesmo.

– Isso o quê? Eu não acho que exista qualquer jeito de reverter os Jogos ou essa última viagem ao 12.

Isso é arranjar um compartimento pra gente.

– Ah. Legal, e... – de repente um barulho quase baixo de sirenes começa a soar. Coin fala depois, agradecendo todo mundo pela evacuação exemplar. Fala que não é treinamento, porque Peeta Mellark possivelmente fez na TV um aviso ao ataque de hoje à noite.

Então uma bomba cai. Um impacto sobrenaturalmente forte é seguido por uma explosão mortalmente assustadora que é sentida por qualquer um de nós até as pontas duplas de nossos cabelos. O bunker chegar a tremer um pouco. É nessa hora que eu me arrasto até Cato e agarro sua mão até meus nós doerem e o aperto tanto contra mim que daqui a pouco vai ficar desconfortável. Pra piorar, as luzes se apagam. Ah meu Deus. Vamos morrer. E eu nem casei com ele.

– Cato? – sussurro, mesmo sabendo que ele está bem aqui passando a mão no meu braço.

– Estou aqui.

– Ah. Isso é bom. Eu estou com medo.

– Eu sei. Tudo bem, Clove.

Finalmente qualquer barulho humano é ouvido. Gritos, bebês assustados, uma gargalhada quase engraçada. Essa foi a única coisa que me tirou um pouco do estado de horror. Chego a rir um pouco, mas com certeza não é uma risada saudável. A pessoa que a emitiu deve estar louca. Mas rimos mesmo assim. Cato e eu, quero dizer.

Então se ouve um zumbido de gerador e um brilhinho mínimo pega o lugar da iluminação tão forte de antes.

– Míssil de bunker, sabe. Por isso toda essa explosão – Cato sussurra, contra meu cabelo.

– Sei. Eu odeio os desse tipo – respondo, mesmo sem ter qualquer experiência com mísseis. Ele ri e sacode a cabeça. – Harry vai ficar com medo de sair de lá, não vai?

– Vai. Mas eu conheço o pessoal daquele garotinho. Eles são do 2, o irmão mais velho dele treinava comigo. Ele vai ficar por lá.

Não pergunto nada sobre o avô dele. Se não falou espontaneamente, é porque não quer falar.

– Ok então.

Cato e eu nos enrolamos com as cobertas dos pacotes deles e conversamos sobre os nossos pesadelos. É bem ridículo e decadente, mas eu não estou afim de ficar aqui calada esperando a próxima bomba. “Eu lembro que o Tresh tentou me afogar naquela fonte na casa do Snow.” “Uma vez a Glimmer puxou meu pé e eu não consegui correr das teleguiadas.” “Ah, um dia foi o Uranius que estava na arena com a gente e, meu Deus, nós éramos aliados e ele te matou no fim porque ‘eu era dele’, mas eu não queria sair de perto do seu corpo, então ele meteu fogo em você. Meio como a Katniss.” “Uma noite tinha um gaio tagarela na cerca do 2 e ele se transformou em você gritando cheia de furos da minha espada”.

Coin fala depois:

– Aparentemente, a informação de Peeta Mellark era correta e temos agora uma grande dívida de gratidão com ele. Os sensores indicam que o primeiro míssil não foi nuclear, mas bastante poderoso. Esperamos outros. Durante o ataque, os cidadãos devem permanecer nas áreas que lhes foram designadas a menos que sejam notificados para agir de outra maneira.

– Amanhã eu saio daqui. Hoje tá muito escuro pra isso – determino, me encolhendo ainda mais na parede e apertando a coberta contra meu corpo. Faz frio aqui.

– Pode ser.

Depois somos liberados em grupos para usarmos o banheiro. Quando voltamos, debatemos se preferimos deixar um de nós de guarda – como se fôssemos poder fazer alguma coisa contra mísseis da Capital – ou se vamos dormir os dois. Decidimos dormir. E eu estou com tanto medo dessas bombas, então estou mais agarrada a Cato do que deveria ser possível. A questão é que até nessas condições, com Cato, eu durmo.


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Notas finais do capítulo

Cês bem que podiam deixar uns comentariozinhos só pra não me deixar no vácuo, né, gente? Apesar de vocês serem meio vagos e sumidos, eu continuo amando esse site. Então, posto só o epílogo ou continuo a história? Respondam só isso, hã? Sinto muito de verdade, só me respondam se paro ou não. Tentem fazer isso, colocar só uma palavrinha, vão ver que nem dói. Pode até me xingar, adoro uma treta. Façam isso pelo bem das Clatos quase extintas desse site, que tal? Té mais.



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