Será que adiantaria berrar para que ela parasse? Será que ela daria uma trégua? Sua cabeça estava cheia, suas lágrimas cessaram depois de tantas derramadas. Sua inimiga a olhava com diversão, com crueldade.

– Feia... – disse com a voz que ela tanto conhecia – Gorda... Solitária...

Ela recebia cada palavra como se fosse uma facada, como se estivesse sendo espancada. Ela não cansava? Porque sempre a torturava daquele jeito?

– Não tem amigos... – a inimiga deu uma risadinha – Não tem família... Burra...

Ela fechou os olhos e se livrou da imagem da inimiga a olhado cruelmente enquanto recitava seus defeitos. Por que ela fazia aquilo? Não estava satisfeita ao ser a única á presenciar os momentos de fraqueza? Ela abriu os olhos novamente.

– Oh – a inimiga disse com um falso espanto , arregalando os olhos castanhos comum – Ela se corta... Coitadinha... Acha que alguém vai ligar... – disse numa voz vazia, a inimiga sorrindo abertamente ao ver a garota apertar os próprios pulsos – Quando cair morta nem será notada... Invisível... Inútil...

– PARE! – berrou recomeçando a chorar. – PARE, POR FAVOR.

A inimiga riu cruelmente.

– Coitada...

– PARE, POR FAVOR. NÃO FAÇA MAIS ISSO.

– Oh, ela não merece a atenção da sua única companheira...

– CALE A BOCA. VOCÊ NÃO É NADA PRA MIM.

– Coitadinha, quer realmente ficar sozinha...

– EU NÃO SOU SOZINHA! EU NÃO SOU UMA COITADA! PARE! PARE! – berrou enlouquecidamente segurando os cabelos de forma bruta quase os arrancando.

– Ainda tenta mentir pra si mesma – os olhos divertidos da inimiga a enlouqueciam – Solitária... Amargurada... Inútil... Lixo humano...

– PARE – ela berrou com todas as forças que tinha ouvindo o som da risada da inimiga. Agarrou um pente que estava em cima da cabeceira, jogando-o com toda força que tinha no espelho a sua frente, enquanto a inimiga ria de sua fraqueza, fazendo com que sua inimiga se estraçalhasse em mínimos pedaços.

Ela chutou aqueles pedaços de vidro que voaram longe. Ela não queria chorar, droga.

Ela estava chorando por receber a verdade. Ela era uma solitária, era amargurada e sozinha. Ela sabia que a inimiga tinha razão e odiava-se por isso.

Ela só queria que a inimiga a deixasse em paz, que todos a deixassem em paz. Mas sabia que era impossível.

Ela era imperfeita, como a inimiga dissera. Seria alvo de piadas para sempre, saco de pancadas. A inimiga ditava a verdade que doía em seu coração, mas que clareava sua mente.

Ela pegou um pedaço de vidro no chão, olhando seus olhos no mesmo. Mas, não eram os seus olhos. Eram os olhos da inimiga; zombeteiros, cruéis. Ela estava rindo, ela fora fraca novamente.

Ela apertou aquele pedaço de vidro na mão, até cortar-lhe os dedos e tudo o que dava. O sangue começou a escorrer e a dor a atingira, fazendo-a gritar e soltar o vidro, caindo ao chão.

Não adiantava, ela não seria feliz. Nunca.

Ela podia berrar, sussurrar, se machucar, machucar os outros, sorrir, brincar, chorar... Nem o silêncio a respeitava mais. Nunca seria o suficiente.

Nunca.

Breathe No More - Não respiro mais.

I've been looking in a mirror for so long,/ Estive olhando no espelho por tanto tempo,

That I've come to believe my soul's on the other side./ Que tenho vindo a acreditar que minha alma estava do outro lado

All the little pieces falling, shattered./ Todos os pequenos pedaços caindo, quebrados.

Shards of me too sharp to put back together./ Pedaços de mim, afiados demais para serem colocados de volta

Too small to matter,/ Pequenos demais para terem importância.

But big enough to cut me into so many/ Mas grandes o suficiente para me cortar em tantos

Little pieces if I try to touch her./ Pequenos pedaços se eu tentar tocá-los.