Legalmente Ruiva escrita por Snapelicious


Capítulo 8
Sete




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–Ginny, se você for ficar com essa cara de bunda, é melhor não fazer.

–Bobagem. Você sabe que eu amo faxinar.

Hermione revirou os olhos e voltou a sacudir as almofadas. Olhei para o produto de limpeza em minhas mãos, sem saber o que fazer exatamente com ele.

Ok, eu odeio faxinar. Mas era o mínimo que eu poderia fazer. Não pago minha parte do alguel há meses, fica tudo por conta de Hermione. E ela ainda tem que aguentar minha bagunça. Mas não era como se isso fosse totalmente injusto. Às vezes eu pagava pela pizza. E ainda tinha que aguentar as músicas bregas dela.

–Temos mesmo que escutar Paul McCartney? - perguntei, tentando não parecer desanimada demais.

–É um clássico - respondeu ela, sem me olhar.

–Mas não é só porque é clássico que é legal - murmurei. Peguei um pano, molhei com o produto e comecei a passar nos móveis.

–Rony ligou - comentou ela - Perguntou como andava o novo trabalho.

–Ele é meu irmão. Por que ele não me liga?

–Pergunta pra ele.

–Não posso, já que ele nunca me liga.

–Liga você pra ele.

–Meu celular foi bloqueado.

–Liga do telefone do apartamento.

–Mas... Ok, eu não tenho um argumento contra isso - me dei por vencida.

–Nem sei porque você está se queixando disso - continuou Hermione - Sempre que vocês se falam, têm discussões bobas.

–Ei, isso não é verdade! - exclamei ofendida, me voltando para ela. Mione apenas ergueu uma sobrancelha - Bem, talvez seja um pouco verdade. Mas mesmo assim, eu tenho que agradecer a ele. Por ter me conseguido a entrevista na Successful Savings, e tal. Realmente salvou minha pele.

–Está gostando de trabalhar lá? - perguntou Hermione, organizando os livros em ordem alfabética.

–É bacana - falei, dando de ombros, me atirando no recém arrumado sofá, aproveitando que ela estava distraída - Meus colegas não são uns completos retardados como da última vez; são até engraçados. O Neville me ajuda pra caramba, e a Luna, a recepcionista do andar, é uma figura. E tem o Dean, da parte do layout ou algo assim, que me lança olhares longos demais. Ele é bonitinho, mas naah. Não faz meu tipo.

–E qual é seu tipo? Fracassados profissionalmente? - riu-se ela.

–Ha ha ha Hermione, como você é divertida - revirei os olhos, mas sabia que era a mais pura verdade. Por alguma razão, a imagem de Harry Potter surgiu em minha mente. - Mione? - ela respondeu com um "hm?" desatento - O que você sabe sobre Harry Potter?

–Bem, muitas coisas - respondeu Hermione, me olhando de canto - Ele é um dos meus melhores amigos.

–E por que diabos eu nunca tinha ouvido falar dele?

–Oras, nunca achei que fosse necessário - defendeu-se ela - Você nunca ia querer saber de um jornalista financeiro viciado em trabalho.

No fundo, sabia que era verdade. Por toda minha vida, só havia me relacionado com caras que não sabiam o que queriam da vida, como Hermione disse, fracassados profissionalmente. Não era minha culpa. Se o cara é bonito e apresentável, merece uma chance, não importa se é astro do rock ou atendente do McDonald's.

–Ele é mesmo um viciado em trabalho - murmurei concordando, pensativa.

Estava na Successful Savings há uma semana. Era domingo, dia mundial de limpar a casa com sua colega de apartamento mandona. Meu artigo saíra na edição do dia anterior, mas eu ainda não tive coragem de saber como andavam as vendas. Na verdade, estava torcendo para que o mês acabasse para que eu ganhasse meu salário. O que não era tão simples, já que tinha que produzir outro texto, para a outra edição, daqui a quinze dias.

É difícil essa vida de jornalista. Principalmente uma jornalista falida com bloqueio criativo.

–Ele nem sempre foi assim - disse Hermione, de repente, parecendo perdida em memórias - Quando estudamos juntos, junto com Rony, ele era muito mais animado. Estava sempre nos chamando pra sair, fazendo piadas, se dava bem com todo mundo. Ele até jogava pro time do colégio.

–Ele não parece ser do tipo que faz piadas - falei, franzindo o cenho - Dá pra ver que ele tem senso de humor, mas é como se ele... Se segurasse. O que aconteceu? - perguntei - Ele sofreu bullying, ou algo assim?

Hermione me olhou com uma expressão que era uma mistura de careta com sorriso.

–Por que toda história tem que começar com uma trajédia?

Ponto para ela.

–Ele só resolveu se focar mais nos estudos, acredito eu. - disse ela - Amadureceu.

Pensei sobre isso. Se amadurecer é perder toda a graça da vida, será que eu ainda agia como adolescente?

Ponto para a vida.

–Harry gosta de Paul McCartney - comentou Hermione, depois de um tempo em silêncio.

Sem perceber, comecei a prestar mais atenção na música.

"Depois de pagar a tal conta, você pode estar vivendo debaixo da ponte."– ouvi uma porta batendo e uma voz do hall de entrada, e logo em seguida Rony surgia em toda sua ruivice, com a cara enfiada na última edição da Successful Savings, lendo em voz alta - "Mas se você tiver uma caneta esferográfica com algum resquício de tinta e alguns guardanapos velhos, sinta-se como se tivesse ganhado na loteria. Escreva sua vida com ironia e finja que não aconteceu com você. Depois mande para uma editora, e fim de papo. Acabou-se. Ninguém fala mais nisso."– ele ergueu os olhos e me encarou - "Pelo o menos você ganha alguns trocados com os direitos autorais."

Engoli em seco quando percebi que ele lia meu artigo. Hermione ergueu as sobrancelhas para mim, e Rony me analisava seriamente.

–Você tá de brincadeira, né? - perguntou ele. Soltei um grunido, imediatamente me sentindo péssima comigo mesma. Me afundei ainda mais no sofá.

–Eu... - tentei, mas não consegui pensar em nada para falar.

–Quem é você e o que fez com minha irmã?

–Eu sei, eu sei! - exclamei - Ficou extremamente esquisito, mas foi o máximo que eu consegui fazer. Era muita pressão!

–Esquisito? - Rony franziu o cenho - Ginny, isso ficou incrível!

Olhei pra ele com uma estranha careta.

–Espera, o quê?

–Ficou realmente muito bom - continuou meu irmão, atirando a revista para Hermione poder ler - Não é muito aprofundado no estilo de economia que estamos acostumados a ver na revista, mas é tão simples e divertido. É exatamente o que a Successful Savings precisava. Você, maninha - ele se atirou ao meu lado no sofá - É um sucesso.

–A Garota da Capa Amarela - leu Hermione, com um sorrisinho - Isso é demais.

–O quê? - perguntei, estendendo a mão para a revista. Realmente, o artigo estava assinado como A Garota da Capa Amarela. Sorri. - Eu pedi para ser só Ginny. Deve ter sido ideia do Harry.

Por alguma razão, fiquei arrepiada.

–Ele me ligou agora pouco - continuou Rony - Os editores te adoraram. Talvez precisem organizar outro lote dessa edição. E isso não acontece desde... Bem, nunca me lembro de ter acontecido.

O que Rony e Hermione ficaram conversando depois disso, eu realmente não escutei. Minha cabeça dava voltas, praticamente explodindo de tantos pensamentos.

Eu consegui.

~/~/~/~/~

–Olha quem voltou - revirei os olhos ao escutar a voz de Luna, mas não consegui conter um sorriso - A Chapeuzinho Amarelo.

–Sabe, esse não é realmente o nome - respondi, saindo do elevador. Essa era a primeira seguinda-feira da minha vida que eu não estava pedindo pra morrer.

–É a mesma coisa - resmungou ela, me seguindo com passos rápidos, carregada de papéis.

Ao passar pelo corredor em direção à minha se-é-que-podemos-chamar-aquilo-de-sala, tive a impressão que todos me observavam. Recebi uma ou duas palmadinhas nas costas e Dean Thomas veio me parabenizar, entusiasticamente demais. Até Seamus Finnigan, sempre gritando ao telefone, sorriu e mostrou o polegar. Me perguntei se ele teve tempo para ler o artigo. Talvez na privada.

–Hey, Ginny-Ginny! - cumprimentou Neville, quando me aproximei - Como está se sentindo?

–Com sono - respondi, sentando na minha cadeira. Não era mentira. Tinha ficado boa parte da noite acordada, pensando no que faria a seguir. Agora que todos já me admiravam, tinha que ser melhor do que nunca. E não fazia ideia de como fazer isso.

–Discutível - riu Neville, e olhou para Luna, parada ao nosso lado - E você? Não devia estar buscando cafézinhos, ou algo assim?

Ela torceu o nariz.

–Muito engraçado. Sabe, existem boatos de que eu ganho melhor do que você - foi o suficiente para o sorriso de Neville sumir. A loira me entregou a pilha de papéis. - Cartas de fãs.

A encarei por alguns instantes, tentando entender o que ela queria dizer. Peguei os papéis, hesitante.

–Mas tem umas cinquenta páginas aqui - falei, desacreditada.

–É praticamente uma estrela do rock - disse Luna - ou da economia, que seja.

–Eu queria receber cartas de fãs, também - comentou Neville, pensativo.

–Você só faz a revisão - provocou ela - Nunca vai receber cartas de fãs.

Ele abriu a boca para responder, mas bem nessa hora Harry Potter passou pelo corredor ao nosso lado, digitando furiosamente no celular.

–Luna, pegue um café para mim, por favor? - pediu ele, ainda digitando. Neville riu silenciosamente da cara dela.

–Bom dia, chefe - falei, chamando a atenção do moreno. Ele ergueu os olhos, levemente confuso, até que me viu.

–Weasley - disse ele, sério. E então ergueu o polegar, como Finnigan tinha feito - Bom trabalho.

E seguiu o seu caminho.

–Harry Potter acabou de fazer um joinha pra você? - estranhou Luna.

Fiquei a manhã toda com o sorriso no rosto.


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