POV Allison

– Elas não sabem de nada;

– Mesmo assim não é seguro tê-las aqui com o que está por vir.

– Lia, não temos escolha! Elas são as únicas que podem nos salvar.

– Sabe o que Alastair fará a elas se não estiverem prontas?!

– Elas estão!

– Mal conseguem passar meia hora no mesmo lugar, por favor, Alisson! É uma teoria absurda e ridícula!

– Não podemos interferir nisso Lia, elas vão descobrir a verdade e cuidarão de tudo da maneira como deve ser, não podemos fazer nada quanto a isso, não temos poder sobre isso.

Os olhos castanhos de Lia me fitaram com fúria antes de virar as costas e deixar a sala.

POV Sharon

Dois meses. Como o tempo estava voando, e cada aula que passava parecia que nossos limites chegavam ao máximo que suportaríamos. Certamente estávamos sendo treinados para uma guerra, uma guerra que todo mundo fazia questão de tentar esconder. As coisas não tinham sido muito fáceis nas últimas semanas, Jessica e eu estávamos nos entendendo cada vez menos e eu sabia que aquilo não ajudaria em nada, por mais que eu tentasse evitar ela parecia despertar o pior em mim, desci o primeiro lance de escadas devagar, não tinha pressa tampouco vontade de ver aula aquele dia. Foi quando cheguei ao salão principal que tive a visão do estandarte principal, ao centro em destaque o símbolo que eu tão bem conhecia era um círculo e dentro uma estrela de cinco pontas abertas, bem ao centro uma espada e uma inscrição escrita em Fancês antigo: ”Em teu coração a força da espada transporá a magia de tuas mãos para o bem ou para o mal.”

Ajoelhei-me colocando a mochila no chão e tirei um caderno e um lápis, e comecei a desenhar o símbolo com o máximo de detalhes, ele fizera parte de toda a minha infância, tinha memórias vagas de quando era bebê e era o mesmo símbolo que havia no livro deixado pela minha avó, mas porque ele estava naquele estandarte preso naquele castelo? Não fazia sentido.

– Sharon?

A voz de Matt me assustou , ergui o olhar para ele e vi que estava acompanhado por Lauren, fechei o caderno rapidamente guardando minhas coisas.

– Tudo bem? –Lauren perguntou mais curiosa que realmente preocupada.

– Sim... Estou bem.

– Vamos, estamos indo pra aula também...

– Na verdade eu não vou pra aula hoje, tenho que fazer uma pesquisa.

– Mas eu não me lembro de nenhuma atividade extra que temos de fazer. – Ela falou confusa.

– É uma pesquisa pessoal, se alguém perguntar digam que estou indisposta hoje.

Saí de perto deles antes que prolongassem a conversa ainda olhando para trás um minuto vi eles se entreolharem e depois fitarem o estandarte com atenção. Dentro de mim eu esperava que não tivessem visto o meu desenho e mais: que não desconfiassem de nada, embora eu soubesse que eram esperanças um tanto inúteis. Quase correndo caminhei pelos corredores em direção à biblioteca, esperava achar algo daquele castelo que se ligasse à minha família, mas o que haveria no século XVI que explicasse o símbolo da minha família, aquele não era um desenho comum, era uma marca, pra mim, uma maldição.

– Bom dia... – Falei me direcionando à mulher no balcão, era magra, usava óculos com armação vermelha, tinha um rosto seco e sem atrativos e usava cabelos em coque. – Onde ficam os registros históricos do castelo?

– Para que você quer ter acesso a isso? – Ela perguntou com voz irritante e desafinada.

– Pesquisa de... História da arte.

– Hum... – Ela me olhou desconfiada. – Terceira estante à esquerda na última prateleira.

Atravessei o balcão tentando disfarçar a minha pressa e ansiedade até sair da visão da bibliotecária, a biblioteca do instituto era muito bem equipada havia computadores, as estantes eram de ferro, tinha todos os gêneros imagináveis de livros de todos os séculos. Passeei os meus olhos pela estante velha ainda de madeira no final da biblioteca,em busca de um livro grosso, grande e velho, não demorou muito para que eu o avistasse na última prateleira de cima, enquanto eu subia as escadas observava a camada de poeira que havia ali, parecia que ninguém via aquelas estantes há anos, isso na melhor das hipóteses. Peguei o livro com certa dificuldade espirrando várias vezes por conta da poeira, e caminhei até uma das mesas, ele era mais pesado do que eu gostaria, mas eu esperava encontrar algo nele que me ajudasse a entender melhor o que estava havendo comigo.

Página 27

A avó da rainha tinha um diário pessoal escrito em pergaminhos nos quais ela revelava segredos valiosos da linhagem real de Victória, coisas ocultas durante os séculos dos quais nem mesmo a rainha tinha conhecimento. Diz-se no diário que Theodora D’ávilla, regente da Inglaterra tinha como conselheira uma feiticeira muito poderosa que era amante de Alastair, um dos mais cobiçados nobres da Europa. Sedento de poder Alastair traiu a coroa e a feiticeira que o amaldiçoou com a pior das magias negras, condenação para todas as suas gerações.

Ainda não se sabe ao certo se Alastair proveu algum descendente, mas a magia foi certa na corte real, seguida pelo símbolo de luz e justiça formado pela estrela, a espada e o círculo que significam respectivamente luz, força e união...

Olhei para frente por um segundo tentando absorver o que havia acabado de ler, aquilo tudo poderia ter sido apenas uma história tola inventada por algum escritor medieval para as gerações futuras, eu precisava saber a legalidade daquilo então decidi buscar na internet alguma menção ao tal diário secreto de Theodora, se ele realmente existisse eu já tinha uma pista leve do que estava acontecendo.

POV Calleb

Sharon não havia aparecido na aula e devia ser por isso que Jessica estava de tão bom humor. Havíamos tido aulas de Literatura, Francês e Interpretação textual no primeiro tempo, a aula prática de treinamento habilidoso seria à tarde, eu estava morrendo de sono, mas sabia que meu tempo de dormir seria nulo, Jessica, Lauren e Andrew haviam me intimado a ir ao refeitório para almoçar. Dei um bocejo preguiçoso e os acompanhei até o refeitório eles conversavam sobre trivialidades que não me interessavam para prestar atenção.

– Estranho a Sharon faltar aula...

– Matt e eu a encontramos na frente de um estandarte do salão principal escrevendo alguma coisa, disse que tinha uma pesquisa pessoal para fazer.

– Isso não interessa. – Jess falou sorridente. – Perceberam como a aula foi melhor sem ela?

– Por que você detesta tanto a Sharon?- Perguntei.

– Para falar a verdade eu não sei- Ela respondeu um tanto confusa.

– Como não sabe?- Falei indignado.

– É algo dentro de mim que diz que tem algo de errado dentro dela. E sempre que eu estou perto dela, parece que gritam para eu brigar e acabar com ela- Ela disse de cabeça baixa - É involuntário Calleb, eu não tenho controle. É como se me dominassem e me obrigassem a fazer isso com ela – completou bem baixo.

– Não faz sentido odiar alguém assim de graça, tem algo por trás disso.

Chegamos ao refeitório e nos posicionamos na fila, para nossa sorte ainda não estava muito grande o que nos possibilitou ficar menos tempo esperando, cardápio de hoje salada, purê de batatas, arroz, gelatina, creme de avelãs e hambúrguer. Ainda na fila enquanto me servia Jess colocou um copo de plástico fechado com tampa na minha bandeja:

– Café. – Ela falou sorrindo. – Pra vê se você mantêm os olhos abertos.

Simplesmente sorri e a acompanhei até a mesa nove. Tomamos nossos lugares e Lauren chegou em seguida com Andrew:

– Bom, eu ainda quero saber mais sobre os poderes da Sharon, só não sei onde procurar ainda.

– Que tal em um livro de magia negra?

– Jess, pode parar com a implicância só um pouco? Você até parece a típica irmã mais nova!

– Credo! Morde essa língua Lauren! – Ela falou fazendo uma careta.

Sharon apareceu no refeitório alguns minutos depois, imediatamente Jess a fuzilou com os olhos e ela retribuiu da mesma forma, por mais que tentasse não fazer, Sharon contribuía para haver briga entre elas como se isso lhe causasse algum incômodo prazer. Ela se direcionou até a mesa sete, quase nos fundos do refeitório sentando-se sozinha. Logo, Marriete juntou-se a ela.

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[Marriete POV de entrelinha]

Eu a avistei e dei um sorriso frio caminhando até ela, estava sentada na mesa sete, no lugar dos auto-exilados queria alcançá-la antes do namoradinho aparecer e acabar com a minha chance, Sharon parecia profundamente incomodada com alguma coisa, e eu já conseguia sentir o clima pesado entre ela e a moreninha esquentada na mesa nove. Sentei na cadeira à sua frente e a olhei:

– Algum problema bruxinha?

– O que você quer? – Ela respondeu secamente.

– Só conversar.

– Então fala logo e some.

– Calma, não precisa me matar ou coisa parecida, ninguém aqui quer que você perca o auto controle que preza tanto para manter.

– Do que está falando?

– Que está buscando respostas no lugar errado! Quer mesmo saber o que está acontecendo com você? Ligue para mamãe e pergunte sobre a Black Magic que você “ganhou de presente”.

– Escuta bem garota, você não sabe nada sobre mim e não ouse falar no nome da minha mãe, agora desapareça da minha frente antes que eu lance você na China ou te transforme em uma lagarta!

Eu sorri me levantando da mesa e ainda antes de sair falei sarcasticamente:

– Lembre-se que eu avisei. E mais uma coisa Sharon: Do ódio que te nutrem um laço forte se faz;

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Jessica levantou da mesa sem dizer uma palavra e começou a caminhar na direção de Sharon, Lauren, Andrew e eu nos entreolhamos presumindo que não viria nada bom dali e fomos atrás dela.

– Ué, porque a aluna exemplar faltou aula hoje? Os neurônios loiros não estão funcionando?

– Não é uma boa hora pra você esgotar minha paciência Jessica, ela está em menos 3%.

– Só queria avisar que você perdeu três trabalhos e consequentemente há três professores atrás de você, não é um bom jeito de chamar atenção.

– E desde quando você está tão solícita a ponto de me avisar sobre trabalhos perdidos?

– Nada, só queria saber se você estava talvez fazendo bruxaria para alguém. Por falar nisso, você atende o público?

– Vai embora daqui.

– Jessica já chega. – Falei impaciente segurando o braço dela.

Sharon levantou da mesa lançando-lhe um olhar feroz, Jess sorriu olhando-a igualmente e eu vi que a guerra estava feita.

– Quer brincar Sharon? Vamos brincar!

Com um movimento simples, Jessica fez uma onda de vento empurrar Sharon pelo ar fazendo-a atravessar uma das janelas do refeitório caindo no campo traseiro da escola.

– Droga! – Andrew exclamou.

Corremos atrás dela e só então a minha visão fez sentido, eram elas que estavam brigando, como um filme as imagens voltaram à minha mente, a garota loira e a morena eram Sharon e Jessica. Sharon corria o mais velozmente possível, mas seus olhos não expressavam medo, eram desafiadores, e um sorriso malicioso, quase cruel, arqueava-se em seus lábios. Os cabelos longos presos em um rabo de cavalo e os olhos marcados de um preto profundo. Ela virou-se desviando da intensa onda de ar que ia violentamente contra ela, apenas parada olhando como se um campo de força a rodeasse. Em um gesto simples com a mão ela impulsionou um campo contra Jess. Os cabelos castanhos em cachos que pareciam cascatas esvoaçadas pelo vento caindo pelo seu corpo, os olhos verdes que fitavam Sharon com fúria, ela voou para trás ao ser atingida pelo ataque da adversária, mas pairou no ar como se voasse.

– Invídia!

Sharon gritou e uma luz forte formou-se em suas mãos atingindo Jess que pairava no ar e arremessando-a contra uma árvore. Erguendo-se rapidamente ela ergueu Sharon no ar sufocando-a sem nem encostar nela, era como se ela conseguisse controlar o ar nos pulmões de Sharon. Os olhos furiosos tinham um momentâneo brilho de vitória. A loira abriu os braços batendo as mãos em frente ao corpo em seguida, uma onda forte repeliu as duas arremessando-as longe em lados opostos.

– A gente tem que parar essas malucas! – Andrew falou.

– Eu sei o que fazer... – Lauren disse. – Calleb tira a Jess daqui que eu cuido da Sharon.

Corri até Jess enquanto Lauren olhava para Sharon, mas seja lá o que ela estivesse tentando fazer parecia não ter funcionado, a loira levantou-se ainda mais furiosa e dessa vez parecia irradiar força do seu corpo, os cabelos voavam e seus olhos estavam em chamas, segurei Jessica que parecia querer continuar com a batalha e antes que ela pudesse protestar atravessei o muro do colégio trazendo-a comigo.

Empate.