Charlotte Le Fay - Herdeira De Voldemort escrita por DudaGonçalves


Capítulo 11
O Galã da Lufa-Lufa


Notas iniciais do capítulo

Olá meus queridos!
Demorei para postar porque tinha viajado para um lugar onde não tinha internet. Mas consegui escrever quatro capítulos lá no papel.
Terminei de passar para meu computador anteontem e resolvi juntar dois capítulos para fazer este capítulo de desculpas bem grande.
Bem, não vou mais atrapalhá-lhos.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/303249/chapter/11

Por não ter dificuldade com nenhuma matéria e não gostar de passar muito tempo na companhia de outros acabei escolhendo a biblioteca como meu refugio, ia tanto à biblioteca que a bibliotecária já estava cansada de mim.

Nada que pudesse me tirar daquela inércia aconteceu por semanas, uma rotina tão monótona quanto às aulas do Professor Binns começou a fazer parte da minha vida, ou minha rotina monótona começou a se tornar meu conceito de vida... não sei dizer, mas foi isso que aconteceu

Não tinha importância o que eu faria, seria, queria. Mas para minha surpresa eu voltei a ser quem eu era antes, bem, antes de ter total consciência da chatice que era Hogwarts quando me lembrei da promessa que havia feito para os gêmeos sobre seu teste de quadribol.

A aula do Professor Binns tinha terminado e eu andava com os meus colegas em direção ao Salão Comunal das Sonserina quando virei minha cabeça para o lado, rindo de uma piada qualquer, e vi pela janela do corredor o campo de quadribol com algumas pessoas na arquibancada.

No mesmo segundo me lembrei da conversa que tive com os gêmeos tempos atrás, antes da minha primeira aula de herbologia. Uma parte de mim se acordou e começou a me dizer o que fazer, ela disse para eu jogar minha rotina no lixo e ir ver o teste daqueles dois ruivos que mal conhecia, mas que mesmo assim me queriam lá... uma sonserina, um ano mais nova que eles e que também mal conheciam.

Não sabia de onde tirei aquele fato, mas aquilo criou um pequeno sorriso em mim e aquele sorriso me fez dar uma desculpa qualquer para os meus amigos e sair correndo em direção ao campo fora do castelo. Mas antes sussurrei para Marie o que estava acontecendo e a chamei para ir (para conhecer meus amigos), ela recusou porque tinha pergaminhos de dever de transfiguração que ainda não tinha feito então apenas disse onde estavam os meus já feitos se ela quisesse um ajuda e corri o mais rápido que pude até o campo do lado de fora.

Cheguei ofegante, o que chamou atenção de muitos que assistiam o teste para o time nas arquibancadas, todos, para meu pesar, grifinórios.

Sentei-me no lugar mais alto e mais longe de todos ali. No campo já havia o capitão do time, um garoto ruivo com um largo sorriso estampado no rosto, com uma fila de pessoas vestidas com vestes de quadribol das cores da Grifinória; Vermelho e dourado. Todos segurando as vassouras.

No meio da fila estavam Fred e Jorge segurando além das vassouras os bastões dos batedores... Perguntei-me se aquele seria o time da Grifinória já escolhido ou se eu tinha chegado cedo o suficiente para ver uma parte do teste. Mas havia pessoas demais ali para ser um time, por isso fiquei com a segunda opção.

Os gêmeos sorriam de orelha a orelha, mas ainda conseguia ver o nervosismo que existia atrás daqueles sorrisos.

Um deles olhou para as arquibancadas e me viu. Ele acenou para mim com uma mão e deu uma cotovelada no seu gêmeo com o outro braço, o outro Weasley olhou para onde eu estava e acenou mais euforicamente... Eles estavam mesmo felizes. Acenei de volta e cruzei meus dedos para eles, que sorriram mais ainda para mim.

Não prestei muita atenção no que acontecia na quadra de quadribol quando o Capitão começou a fazer o teste, mas voltei a prestar atenção no teste quando chegara à vez dos Weasley.

Tinha que admitir que eles eram muito bons batedores, trabalhavam juntos para rebater todas as bolas que lhe eram jogadas e eram bons de mira quando tinham que acertar algum jogador, que o trabalho era não ser acertado pelas bolas jogadas por eles.

Em minha opinião eles tinham conseguido as vagas. Mas quando os dois pousaram eu senti o nervosismo deles maior do que nunca.

Só percebi que o teste havia acabado quando duas cabeleiras ruivas entraram no meu campo de visão, os gêmeos Weasley estavam subindo na arquibancada, vindo exatamente para onde eu estava enquanto conversavam algo entre si, um deles, que chutei ser Fred deu um empurrão amigável no seu irmão e o outro riu. A minha “eu interior” franziu o cenho com aquilo, ainda mais quando eles me olharam culpados.

Eles se separaram quando Fred entrou na fila abaixo da minha, enquanto Jorge se sentava no meu lado direito Fred pulou a fileira de madeira e se sentou do meu lado esquerdo.

–Charlie! Como vai? – Jorge perguntou virado para mim, ele estendeu seu braço.

–O que achou do nosso teste? – Fred perguntou quase junto com Jorge, estendendo seu braço também quando viu o braço estendido de Jorge.

–Olá para vocês dois – entendi meu braço esquerdo para Fred e o direito para Jorge, mas eles trocaram minhas mãos um com o outro, assim Jorge ficou com o esquerdo e Fred com o direito e sacudiram meus braços. – Tudo bem... – comentei sem entender o que havia acabado de acontecer. – Eu. – falei tentando soltar minhas mãos, mas eles as seguraram com mais força. – Achei... vocês... ótimos – a cada palavra tentava soltar meus braços, em vão.

–Mesmo? – Jorge perguntou me olhando com suspeita, puxando meu braço com mais força.

–Claro, a vaga já é de vocês – falei entre risos.

O contato da pele deles com a minha não me dava nervoso ou qualquer outro sentimento ruim como quando eu tocava a maioria das pessoas.

Desde pequena quando alguém me encostava eu não gostava, mas com os dois era diferente. Eu gostava da sensação que o toque da pele deles me dava.

–Você vai tentar uma vaga no próximo ano? – Fred perguntou.

–Por enquanto acho não, quero avaliar como jogam quadribol em Hogwarts – olhei-o nos olhos. – Meu quadribol é mais francês do que britânico.

“Bem, também fiz uma aposta com minha amiga Alison que se a sonserina ganhasse esse ano eu tentaria no próximo ano. É que ela me apresentou o capitão do nosso time, Walker, e ele não me convenceu que conseguia nos fazer ganhar”

Eles olharam um para o outro, numa conversa apenas de expressões, tentei não prestar atenção. Mas ficava cada vez com mais vontade de rir, as pinicadas começavam a ficar mais fortes e coçar... eles estavam muito tempo me encostando para o bem de qualquer um.

Tentei puxar meus braços, mas eles pararam de conversar na hora e me seguraram com mais força.

–O que você vai fazer nas férias de Natal? – Fred perguntou como se nada tivesse acontecido.

–Voltar para casa que não será... – eles me olharam surpresos e depois pareceram entender o motivo.

–Os dementadores a assombrarão em sua “Azkasan”? – Fred perguntou soltando minha mão e mostrando as suas e movendo seus dedos, igual os mágicos trouxas quando fazem um truque.

–“Azkasan”? – perguntei rindo, com uma mão livre tapei minha boca de tanto que estava rindo, e meus olhos começaram a lacrimejar.

Azkaban é uma prisão de segurança máxima para onde são enviados os criminosos do mundo bruxo. O motivo de ela ser de segurança máxima, além de ser uma fortaleza localizada numa ilha no meio das águas congelantes do Mar do Norte, são seus carcereiros, os dementadores: criaturas que se alimentam da felicidade humana, provocando depressão e desespero nas pessoas que os cercam. Exatamente como meus primos fazem comigo, mas aquele era uma forma drástica de vê-los... acho.

Eu jamais vi um dementador na minha vida, e espero com todas as minhas forças jamais ver, pois, até hoje, ninguém conseguiu matar um dementador só afastá-los e, só nos ensinam uma maneira, um feitiço difícil e muito complicado chamado Feitiço do Patrono. Eu li uma vez como se faz, se me lembro bem é necessária uma lembrança feliz ou algo do tipo, e esse é o meu maior problema... eu não tenho uma lembrança feliz, não suficientemente, para afastá-los.

–Finalmente tenho a chance de passar meu Natal longe deles, meus dementadores – olhei para o céu amarelado de fim de dia.

Quando era véspera de Natal, eu acordava cedo ia para o jardim e brincava com a neve até ficar de noite, uma vez fiz um iglu que me cabia, acho que tinha sete anos – respirei fundo, aquelas lembranças me deixavam com vontade de chorar. – Quando entrava tinha um prato esperando por mim; a parte mais seca do peru com ervilhas e a batata mais miúda que tinha.

–No dia de Natal, eles ficavam trocando presentes com convidados e eu ficava no meu quarto, sozinha – e quando chegava o ano novo era praticamente o mesmo, mas me incluía desejando feliz aniversário para meu pai e isso me fazia menos sozinha.

Eles me olhavam, me parecia que tentavam fazer alguma piada, mas perceberam que eu não queria que eles fizessem uma, porque se eu sorrisse as lágrimas rolariam para fora dos meus olhos.

–Vocês já viram um dementador? – tentei voltar ao assunto.

Os dois me olharam com espanto, era estranho ter dos meus dois lados a mesma face com a mesma expressão.

–Não! – disseram em uníssono.

–Papai teve uma vez que ir para Azkaban. Ele não ficou de cara com um dementador, mas comentou que o lugar era o pior lugar que alguém poderia ir, os dementadores sugam não só a felicidade das pessoas mas também do lugar.

–Você já viu um dementador? – Jorge me perguntou.

–Não! – falei da mesma maneira que eles. – E não queria ver. Jamais.

–Por quê? Meu pai diz que para um dementador não vir atrás de você é só ficar em um lugar quente e iluminado...

–... dizem que isso repele eles – Fred concluiu. – Felicidade, calor, harmonia... coisas boas.

–Deve ser por isso que Comensais da Morte e Voldemort, pessoas que usam Magia das Trevas, não conseguem afugentá-los – quando terminei minha frase percebi a cara de espanto, realmente de espanto dos dois para mim, eles até se afastaram um pouco.

E foi aí que percebi que havia dito Voldemort. Como jamais conversava sobre ele com maioria das pessoas havia me esquecido que eles tinham medo de seu nome até hoje.

–Nossa! – coloquei minha mão sobre minha boca, fingindo estar surpresa comigo mesma. – Desculpa. Esqueci... vocês também tem medo desse nome, não é?!

–Uau! – Fred exclamou. – Nós e todo o mundo bruxo. Não é um nome bom de falar, nem é bonito... como Fred – ele me lançou um sorriso charmoso.

Meu olhar de surpresa pela reação dos gêmeos mudou logo para uma risada... Fred não tinha jeito.

–Pena que você não puxou seu nome – brinquei ainda rindo.

O sorriso de Fred desapareceu e um olhar de orgulho ferido tomou seu lugar, ainda mais quando Jorge começou a rir.

–Ei, você é igual a mim, bonitão – Fred falou com a voz de orgulho ferido para Jorge, que parou de rir na hora e ele também me olhou com orgulho ferido. O que me fez rir ainda mais.

–Ah, que isso! – olhei de um para o outro. – Vocês só podem estar brincando... – esperei que eles dissessem que sim, mas continuaram fingindo que eu não estava ali, entre eles.

Passamos uns bons minutos em silêncio, eles sem olhar para mim e nem um para o outro, e eu tentando entender o que estava acontecendo, depois de tanto tempo resolvi tomar uma atitude.

– Olha. Você é lindo – falei dando um beijo na bochecha de Fred. – E você também – e dei um beijo na bochecha do Jorge. Eles viraram para mim com um sorriso cúmplice, e foi aí que percebi o planinho deles. – E muito idiotas – finalizei com um olhar ríspido para os dois.

E aquela foi a minha vez de fingir estar com meu orgulho ferido e, como sempre, fui uma boa atriz.

Eles começaram a tentar me fazer rir, mas fiquei em total silêncio, sem mover um músculo... mas admito que foi difícil não rir, ainda mais quando Fred começou a passar a ponta do dedo dele suavemente na ponta do meu nariz, e mais ainda quando eles começaram a fazer voz de tia chata brincando com bebê pequeno.

Mas ainda sim fui forte e dei uma risadinha, mas logo voltei ao meu estado “duro como couro de dragão”. Até que eles pararam de mexer comigo e começaram a conversar entre si, literalmente, em baixo do meu nariz. Depois cada um voltou a sua posição normal e, do nada, eles beijaram ao mesmo tempo minhas bochechas.

Depois daquilo não tive como fingir ainda estar brava com eles.

–Você que nos ensinou a melhor maneira de acabar com um gelo – Fred falou com uma voz meiga, que me fez rir ainda mais, assim como Jorge.

–É, me avisem se isso realmente funcionar – eles riram. – Não, é sério. É ótimo tê-los como minha companhia, mas temos que entrar para o castelo porque, se as madames não perceberam, já está de noite.

E realmente estava, mas eu também não havia percebido, até um vento gélido passar pelos meus joelhos e minhas canelas descobertas.

–Pois bem – Jorge falou com toda formalidade. Se levantou como um lorde e estendeu seu braço para mim, que me levantei e o aceitei, mas então Fred se levantou e também estendeu seu braço para mim, que também aceitei-o com meu braço livre e os dois me conduziram de volta ao castelo.

Depois daquele dia me senti realmente mais próxima dos gêmeos, cumprimentava-os com normalidade e parava para conversar com eles. Até apresentei minhas amigas para eles, mesmo a maioria delas apenas ignorou-os. Com a maioria quero dizer, Ali e Jenn, mas Marie foi tão sociável com eles quanto é com qualquer um, e mais uma vez questionei-me sobre o que Marie tinha de sonserina em si para o Chapéu Seletor tê-la colocado lá e não nas outras casas. Até os gêmeos ficaram surpresos com a naturalidade que ela conversou com eles. E assim nós quatro começamos a conversar sempre que podíamos.

Outro dia que me recordo bem aconteceu na mesma semana que o dia das Bruxas. De manhã, as garotas e eu, tivemos que sair correndo para conseguir chegar a tempo a primeira aula, por culpa minha que acordei tarde. À tarde tínhamos uma aula vaga, todas nós ficamos sentadas em baixo de uma árvore ao lado do Lago Negro, conversando e fazendo os deveres de casa que McGonagall e Binns passaram para nós.

Binns era o único professor fantasma que tínhamos não se sabe a idade dele, mas dizem que quando morreu já era muito velho. Os gêmeos me contaram que certa vez adormeceu em frente à lareira e quando acordou deixou seu corpo para trás, indo dar aulas normalmente, sem perceber que morrera. Mas isso ocorrera décadas atrás então essa história se tornou uma lenda.

–Gente – chamei as garotas que estavam muito centradas em seus pergaminhos. -, eu terminei! – elas me olharam surpresas, mas quando eu estendi os meus pergaminhos de feitiços e transfiguração para elas o olhar de surpresa foi trocado por três sorrisos de agradecimento.

–Que bom! Eu não estava entendo nada do dever de transfiguração – Jenn falou pegando meus rolos de pergaminhos mais gordos.

–E eu preciso do de história – Marie falou já pegando o outro.

Ali nunca precisava de ajuda, por mais difícil que seja de se acreditar ela era muito boa em todas as matérias, acho que a maioria dos pontos que nossa turma ganhava vinha das respostas corretas dela, foi aí que descobri que não devemos mesmo julgar um livro pela capa.

–Bem, que bom que vocês estão felizes – olhei para elas com um sorriso bem Dumbledore. – Vou dar uma caminhada... Minhas pernas estão dormentes – me levantei e fui andando em direção ao Lago Negro, meu segundo refúgio e o predileto. Eu sempre amei água, pode parecer estranho, mas eu me sentia muito bem com pinturas que incluem água, o barulho de chuva, poder nadar em um lago e a sensação sublime que sentia quando ficava submersa (talvez se tivesse que realizar o feitiço do Patrono me lembraria da sensação de estar submersa).

Mas estava frio demais para tocar na água e já que eu via todos os dias o interior daquele lago eu sabia que talvez não fosse seguro entrar ou até mesmo tocar naquelas águas negras, porém não poderia me privar o prazer de ver a beleza que era a luz do sol refletida pela superfície.

Sentei-me num banco próximo e abri um livro trouxa que havia trago comigo. O sol me tocava e as águas tocavam sua melodia enquanto lia páginas e páginas de uma jovem judia que sofria com as perseguições de Hitler, talvez existisse um livro bruxo com praticamente o mesmo enredo, mas ao invés de uma jovem judia seria uma jovem sangue-ruim e Hitler seria Voldemort. Realmente era um pensamento ruim de se ter e depois daquilo não acho que conseguiria ler mais aquele livro.

Suspirei enquanto fechava o livro, olhei o horizonte e me questionei se queria meu pai de volta... Tudo que havia dito ao Snape era verdade, sabia que quem retornara era Lorde Voldemort desejando vingança de um garoto inocente que ele tentara matar, mas sendo quem eu era meu lado não seria o negro, com meu pai e a melhor amiga da minha mãe e as pessoas que me viram nascer?

Quando me perguntava isso sempre deixava de lado porque parecia ser muito cedo para tomar uma decisão e acho que seja mesmo, mas ainda assim não vejo como não me indagar sobre o que cada caminho me espera, sobre o que a vida me espera.

Eu tinha muita certeza que Voldemort voltaria, tinha total certeza disso, mas não podia ter a menor certeza se meu pai, Tom Riddle, voltaria.

Fiquei me questionando tanto sobre o assunto que quando fui ver já estava entardecendo e eu estava morrendo de frio. Fui embora o mais rápido que pude, mas não consegui tirar os pensamentos sobre o que o futuro me aguardava da minha mente e se Voldemort me trataria como na época antes Potter (A.P em caso que use o termo novamente). Resolvi que era melhor pegar um livro para me distrair na biblioteca.

Fui andando absorta em meus pensamentos para dar de cara com a porta da biblioteca fechada, bufei de raiva. Tinha que ser hoje o dia que a bibliotecária fechava mais cedo? Sabia que o único livro que ainda não tinha lido todo era o da garota judia, mas ele só me recordaria mais do meu pai e do meu futuro.

Dei meia volta agora absorta na minha raiva e nos meus pensamentos de vários futuros; do lado de Dumbledore, perdendo, morrendo depois de ser torturada por Voldemort; do lado de Voldemort, perdendo, vivendo meus dias em Azkaban; do lado de ninguém, refugiada e sozinha em um chalé esquecido por Merlin e não podendo voltar...

As probabilidades foram expulsas do meu pensamento quando bati de frente com algo duro, caí no chão em um baque e senti meus livros caindo em cima de mim, do meu lado ou o som foi o estalo que meu cérebro deve ter dado quando bati a cabeça com tudo no chão duro... Ouvi outro baque também, a pessoa que bati não caiu. Como sempre mesmo tendo uma queda “dolorida” dessas não senti dor alguma.

–Nossa! Me desculpe – olhei para o rosto que me estendia a mão, porém estava tonta demais para conseguir enxergá-lo. Mas aceitei sua mão estendida, não sei quem era, mas era forte porque me levantou sem esforço.

Ainda estava tonta quando percebi que o garoto estava pegando meus livros que caíram. E quando ele me entregou minha bolsa com todos os livros dentro eu consegui focalizar no rosto do garoto, logo já percebi que não o conhecia.

–Ah, obrigada... – falei meio tonta, pegando minha bolsa. Admito para vocês que o garoto era muito bonito, tinha um rosto pálido, cabelo liso castanho e pequenos olhos acinzentados e era da Lufa-Lufa... bem, pelo menos era simpático. Se tivesse eu no lugar dele teria apenas resmungado para a pessoa e teria ido embora, ainda mais se também me machuquei!

–Você está bem? – ele me perguntou quando cambaleei um pouco. Era estranho minha tontura ainda não ter passado. Meus olhos pareciam ver quatro coisas e meus ouvidos zumbiam.

–Sim – falei tentando parecer o mais normal possível. – Obrigada. – comecei a andar sem ver para onde, mas para longe do garoto.

–Ei, espera! – ouvi a voz do garoto e depois seus pés correndo até onde eu estava cada vez mais rápido, e a cada acelerada que eu dava para ele não me alcançar meu coração batia mais rápido e minha tonteira aumentava.

Ele me alcançou pouco depois. Eu olhei para ele e senti minha tonteira piorar, meus joelhos enfraqueceram e meu cérebro desligou por alguns segundos.

–Você não está bem – ele falou me segurando pelos ombros, foi quando consegui me estabilizar. – Qual o seu nome?

–Charlotte Le Fay – falei rapidamente, meu cérebro lutava para não desligar novamente, e minhas pernas pareciam a gelatina que comi no café da manhã.

–Charlotte! – ele me balançou levemente pelos ombros e consegui focalizá-lo melhor. – Você precisa ir para a enfermaria.

–Não! - meu cérebro acordou quando ele pronunciou a última palavra. – Eu juro que foi só uma tonteira... Acho que não ter comido bem no café da manhã piorou meu equilíbrio.

Olhei para ele, que estava perigosamente muito perto de mim, ainda me segurando pelos ombros. Estava tão tonta que nem aquele contato eu senti. Quando ele percebeu este detalhe me soltou quase que imediatamente, abaixei a cabeça por ter ficado sem graça (e me senti uma boba pela reação), mas quando a levantei vi que o garoto também tinha a sua abaixada e somada com as mãos nos bolsos de suas vestes e as bochechas coradas percebi que ele também não era de ter muito contado físico com as outras pessoas, ou era porque ele era da Lufa-lufa?

Não sabia o que dizer para o garoto, na verdade, ninguém nunca me ensinou sobre o que fazer quando duas pessoas que conversavam ficam sem graça... Eu deveria puxar assunto? Terminar a conversa e sair correndo? Esconder-me?

–Obrigada por ter pegado minha bolsa – tomei coragem e falei algo, o garoto levantou a cabeça com um sorriso aliviado, provavelmente estava pensando o mesmo que eu. – Mas, eu acho que devo ir, preciso comer algo – dei-lhe um sorriso tão tímido que me senti tola a ponto de brigar comigo mesma quando já estava de costas para o garoto... Que na hora percebi que não sabia o nome.

Mas me achei tola suficiente por um ano inteiro, não queria aumentar isso com uma virada de rosto e uma pergunta idiota: “Qual seu nome mesmo?”. Por isso apenas andei um pouco mais rápido. E pela segunda vez fui interceptada por ele que parou na minha frente.

–Charlotte, eu achei melhor te avisar que ainda não é o horário para o jantar – ele me disse com um olhar sabichão e me mostrou seu pulso onde o relógio mostrava além das horas que ele também tinha razão e, pela segunda vez, abaixei minha cabeça sem graça.

–Bem, então não tenho que correr, não é?! – dei meu melhor sorriso amarelo para ele, que retribuiu o sorriso.

–Ah, eu me esqueci de me apresentar – suas sobrancelhas levantaram até metade de sua testa. – Sou Cedrico, Cedrigo Diggory.

Hm, não era um sobrenome famoso. Mas que mal faz?, meu pensamento me desorientou... por que pensei isso?

–Charlotte Le Fay – no mesmo momento que falei meu nome percebi que já havia dito isso antes. – Eu já tinha te falado isso. Acho que a tontura ainda não passou totalmente.

O sorriso dele sumiu assim que falei minha desculpa e mudou para um olhar preocupado.

–Você está se sentindo mal novamente?

–Não! – exclamei exasperada, ninguém jamais se importou tanto com a minha saúde como aquele garoto que tinha acabado de conhecer. – Eu só preciso comer alguma coisa.

–Ah, então eu te ajudo a ir para a cozinha – ele olhou novamente para o seu relógio.

Ele começou a andar e senti que era falta de educação não acompanhá-lo, mas não queria que ele fosse comigo.

–Não quero atrapalhar, você deveria estar indo para algum lugar. Posso encontrar a cozinha sozinha – prefiro encontrar a cozinha sozinha.

–Que nada! Você não está se sentindo bem, imagina se você cai da escada ou algo do tipo? É um prazer não permitir que isso ocorra – ele me deu um sorriso sincero.

Suspirei e decidi que se ele queria ser filantrópico com a pobre garota do primeiro ano que estava tonta que seja, mas na verdade eu não estava com fome, sabia que senti a tontura porque bati a cabeça e juro que vi um clarão verde quando olhei nos olhos do garoto, realmente eu não estava bem.

–Está em que ano Cedrico? – tentei puxar assunto com ele para deixar meus pensamentos longe.

–Segundo, na Lufa-Lufa – ele diminuiu os passos e olhou para mim. - E você?

–Primeiro, Sonserina – ele me olhou surpreso, muito surpreso, e olhou para as minhas vestes. Mas o casaco escondia o verde da Sonserina na minha gola e meu cabelo escondia o seu brasão.

Tirei meu cabelo da frente do brasão e Cedrico olhou-o por um bom tempo, incrédulo com minha casa?

–Nossa... jamais diria que você é da Sonserina – ele piscou dizendo.

–Isso é bom ou ruim? – perguntei com um sorriso, mas ele apenas deu uma gargalhada e não me respondeu. Acho que a resposta dele não seria das melhores porque o garoto acelerou seus passos através dos corredores e das escadas que mal podia alcançá-lo.

Chegamos logo na cozinha e enquanto comia e conversava automaticamente com Cedrico, que tomava um copo de suco de abóbora, ouvia vozes de outras pessoas dentro da minha cabeça, e fiquei pensando se aquilo não seria um sinal que eu estava enlouquecendo ou se a batida foi tão forte assim.

Depois de comer eu agradeci aos elfos que estavam ao nosso redor, adorando nos servir. Cedrico me acompanhou até fora da cozinha e planejava subir as escadas, mas eu ia para meu Salão.

–Bem, é aqui que me despeço. Obrigada pela ajuda, realmente não precisava – disse para ele que estava de costas para mim pronto para continuar seu caminho.

–Oi? Nós não iremos subir...? – ele pareceu entender. – Claro! Você é da Sonserina, me esqueci de novo – ele riu e eu também, mesmo odiando isso.

–Até depois, Charlotte.

–Até!

Naquela noite tive meu primeiro sonho-visão, mas estava muito cedo para me lembrar dele na manhã seguinte. Aposto que foi a forma agressiva como bati a cabeça que iniciou o processo mais cedo. Normalmente as Le Fay só começam a ter previsões durante o sono quando têm doze ou treze... como minha mãe me explicou pouco depois. Acho que está cedo demais para começar a falar sobre o assunto.

Só voltei a ver Cedrico Diggory no primeiro jogo de quadribol do ano, um amistoso da Grifinória contra a Lufa-Lufa.

–Nós não vamos num jogo de dois times que nos odeiam! – Jenn bateu o pé enquanto Marie e eu apostávamos uma contra a outra o placar que seria o jogo.

Estávamos no corredor mais movimentado de Hogwarts, o que levava para o Salão Principal e as escadas para os andares superiores e as masmorras.

–Ah, vamos lá! – falei para Jenn com um sorriso.

O ar esportivo e alegre que Hogwarts tinha naquele dia deixava qualquer um mais alegre, menos os sonserinos. Que não torciam por nenhum dos outros times que não fosse sua própria casa, mas Marie e eu adorávamos quadribol e Ali adorava uma multidão... de garotos.

–Jenn! –Ali gritou fazendo com que a discussão entre Jenn, Marie e eu parasse. – Tá vendo aquele garoto ali? – ela apontou por três segundos para um garoto muito alto e sorridente, que usava o uniforme da Sonserina, mas pude ver que além do emblema da nossa casa ele também usava outro emblema, que não conseguia ver de longe, só percebi que era verde.

–Sim, e daí? – ela perguntou já se virando para mim, pronta para continuar com a discussão.

–Ele é o capitão do nosso time – ela falou toda presunçosa. – Está no sétimo ano, seu nome é Nicholas Walker.

–E daí? – ela perguntou novamente, e vi que Ali começou a ficar nervosa.

–Bem, vamos ver se ele está torcendo por algum dos dois times e vai lá para a quadra ver o jogo.

–Você vai lá? – perguntei olhando para o grupo que estava com ele, quatro outros garotos sonserinos tão altos e fortes quanto ele.

–Sim e você vai comigo! – eu olhei para ela. – Não adianta tentar me persuadir, vamos logo – sabia que quando era com minha amiga Ali não valia a pena discutir.

E assim nós duas fomos em direção a eles, Alison desfilando como uma sonserina comum e eu me arrastando atrás dela.

–Oi, Nick! – ela falou tão normalmente com os garotos que eu fiquei chocada. Os cinco garotos se viraram para ela, mas o garoto moreno e careca olhou para ela e deu-lhe um sorriso cheio de dentes brancos.

–Ali, como vai? – ele abaixou um pouco dando um abraço nela, que ficou nas pontas dos pés para retribuir.

–Bem – ela sorriu. – Ah, essa é minha amiga, Charlie – ela me apresentou, me empurrando um pouco para ficar mais próxima deles.

–Oi! – falei com vontade de me enfiar em um buraco bem fundo e jamais sair dele. Era a maior idiotice do mundo vir falar com eles, aposto que estavam todos olhando e rindo de nós... pelo menos eu era mais alta que a Ali e assim batia no peito dele enquanto Alison se encontrava com o umbigo deles.

–Prazer Charlie – Nicholas também se abaixou para mim, mas não para me abraçar e sim para pegar minha mão e dar-lhe um beijo. – Meu nome é Nicholas. – ele sorriu, eu sorri em resposta, mas com as sobrancelhas ainda arqueadas pelo beijo na minha mão.

–Bem, Nick – Ali falou tirando o olhar de Nick de cima de mim. – Só vim te atrapalhar porque fiquei curiosa com uma coisa... para que time o capitão da Sonserina vai torcer no jogo de hoje? – o sorriso sumiu no rosto do garoto. – Não me diga que você não vai ver o jogo.

–Não vou, tenho coisas melhores para fazer! – ele falou ríspido, considerei que ele falou assim com minha amiga e não me agüentei.

–E vai perder a chance de ver quais são as diferenças desde time para o do ano passado? Se você souber como eles jogam já terá vantagem quando a Sonserina jogar contra qualquer um deles – falei sem conter minha língua. - Não quer terminar seu sétimo ano dando novamente a sua Casa, como capitão do time dela, a Taça de Quadribol? Ou prefere ser lembrado como o capitão que no seu ultimo ano fez a sonserina perder depois de anos de vitória? – olhei para ele de cima a baixo de forma acusatória.

Senti minhas bochechas esquentarem quando terminei, ainda mais com o olhar que os cinco garotos e Ali davam para mim.

–Bem, nunca pensei por esse lado... – ele começou.

–A Grifinória tem Carlinhos Weasley como apanhador e é claro que ele é um desafio e tanto, mas com os N.I.E.M's ele está nervoso. A Lufa-Lufa não consegue a Taça há séculos... a Corvinal é a mais durona, provavelmente vai ficar entre nós e ela. Mas é de hoje que estamos falando, Lufa-Lufa ou Grifinória?

–O que foi aquilo? – Ali me perguntou quando já não estávamos perto dos garotos. – Nunca vi o Nicholas ficar sem resposta ou surpreso com alguém... e você conseguiu fazer os dois numa mesma conversa. Você conseguiu meu respeito, Charlie. E o de todos aqueles garotos também... ainda mais se a Sonserina ganhar a Taça esse ano.

–Se a Sonserina ganhar este ano, eu entro para o time no próximo! – prometi, sabia que ela não iria com aquele cara presunçoso como capitão...- E agora, pelo menos, sabemos que eles também acham que a Grifinória vai ganhar – respondi com falsa modéstia.

E assim Jenn viu-se convencida a vir conosco ver o jogo. Estávamos andando calmamente pelo caminho que levava ao campo quando ouvimos muito barulho atrás de nós, viramos para dar de cara com o time de quadribol da Grifinória. Admirei os adversários do time da minha casa, mas deixei de prestar atenção neles quando vi meus ruivos prediletos. Eles pararam do nosso lado.

–Vamos vocês aí! – uma garota morena que estava na frente deles gritou.

–Podem ir, nós já alcançamos vocês – Jorge gritou. - Angelina entrou junto com a gente no time... - Jorge explicou sobre a garota que olhava para as garotas e eu com uma cara nada agradável. Talvez ela odeie sonserinos? É, acho que é isso mesmo.

–Além de ter que ver um jogo de quadribol da Grifinória eu vou ter que ficar perto de grifinórios?! – Jenn sussurrou para Marie, que a ignorou. Dei um risinho com isso.

–Boa sorte, meninos! – falei dando um abraço coletivo nos dois. – Quero ver vocês jogando muito em?!

–Pode deixar – Fred falou apertando o abraço.

–Não fiquem nervosos, porque da ultima vez, no treino, eu achei que ao invés de cabelo laranja vocês estavam era com a cabeça pegando fogo – ele riram da minha piadinha nem um pouco ofendidos, e felizmente não eram para ficar mesmo.

–Também tenho que desejar sorte – Marie falou abraçando um e depois o outro. – Só não ganhem da Sonserina nos jogos contra ela, viu?!

Era bom ver que meus amigos se davam bem, torci que se as meninas atrás de Marie e eu não gostassem deles elas decidiriam só ignorar.

Eles iam responder, mas ouvimos a voz de alguém os chamando, a voz ficava mais alta, e um ruivo também vestido com uniforme de quadribol se aproximou de nós.

–Ah, olá! – ele nos cumprimentou, surpreso em ver quatro garotas da Sonserina com os garotos.

–Carlinhos, essas são Charlie e Marie... – Fred apontou para nós duas, respectivamente, e até olhou para as duas garotas enfadonhas atrás de nós, mas ele só fez uma careta bem visível e parou por aí.

Depois de Marie e eu darmos uma boa risada.

–Oi! – falamos em uníssono.

–Carlinhos é o capitão da Grifinória...

–E nosso irmão mais velho – Fred concluiu.

–O manda chuva.

–Só até esse ano – Carlinhos lembrou-os. – E perderemos como ano passado se não comparecemos ao jogo – ele falou apontando para o caminho que levava ao campo.

–Ah, fiquem! Estamos torcendo para isso – Ali se pronunciou pela primeira vez.

Rimos junto com ela.

–Tentem não quebrar o pescoço... – comecei meu breve discurso.

–Ou a coluna – Marie continuou minha frase como se soubesse o que eu ia dizer.

–Ou a vassoura de algum jogador da Lufa-Lufa – sorri para eles.

–Não faríamos isso! – Fred falou chocado. – ainda...

–Estamos aguardando o jogo com a Sonserina – Jorge completou sorrindo maliciosamente.

E assim eles foram correndo pelo caminho, ainda mais quando viram nossas caras desafiadoras.

–Trabalho comprido! – sorri para Carlinhos enquanto batia uma mão na outra. – Bom jogo para vocês e, como capitão e irmão daqueles dois, tente fazê-los se comportarem

–Trabalho difícil esse – ele sorriu. – Se nem minha mãe consegue... imagina eu? – ele falou aquilo, se virou e correu pelo mesmo caminho que os gêmeos.

Nós, como não tínhamos que chegar lá cedo, caminhos lentamente na direção das arquibancadas, via algumas bandeiras das duas Casas.

–O irmão deles é bonitinho, não? – Ali perguntou quando encontramos um lugar na fileira mais alta das arquibancadas.

Alison e seus instintos femininos aflorados sempre que havia um garoto alto e com um rosto bonito por perto...

–Só porque ele é capitão e monitor? – Jenn perguntou não acreditando que Ali tenha mesmo gostado do Carlinhos.

–Espera aí! – chamei as duas quando vi uma falha que criava uma segunda interpretação da fala da Jenn. – Jenn, você acha os gêmeos mais bonitos que o irmão deles?

–Não! – nós olhamos para ela. – Quer dizer, sim! Quero dizer... – ela olhou para nós confusa. – Eu preferia comer um ovo de dragão cru a ficar perto de qualquer um deles por mais de três segundos.

Ficamos em silêncio depois da declaração dela, foi bem ofensivo.

–Qual time vocês estão torcendo? – Marie perguntou.

–Grifinória! – Ali e eu falamos em uníssono. – Carlinhos é o melhor apanhador em séculos daqui, com certeza ele pega o pomo de ouro – Ali terminou, acho que ela realmente virou fã do Weasley capitão.

–Eu concordo! – gritei enquanto entrava o time da Lufa-Lufa, que saia de um dos vestiários, vestidos de amarelo, e logo depois saíram o da Grifinória, de vermelho.

–Pelo menos é fácil reconhecer os gêmeos – Marie gritou para mim. Além dos gritos da torcida nas arquibancadas o vento também soprava com força atrapalhando nossa conversa.

Era realmente fácil ver as duas cabeças laranja deles, mas podíamos confundir Carlinhos como um deles se não notar os bastões.

–Para quem estão torcendo? – perguntou alguém atrás de nós.

Atrás de nós estavam os sonserinos do nosso ano.

–Ali e eu achamos que a Grifinória vai ganhar, mas a Marie acha que será a Lufa-Lufa e a Jenn ainda está tentando entender qual a função de cada bola e cada jogador – sorri para eles que riram da última parte.

–Ei! Não sou tão ruim assim, já entendi que o apanhador usa os bastões – ela piscou e rimos ainda mais.

–Eu aposto que a Lufa-Lufa vai ganhar - um deles disse.

–Ah, é? – olhei para ele como numa disputa -, aposta quanto?

Os garotos olharam um para o outro e começaram a tirar tudo que tinham nos bolsos.

–Apostamos... três galeões, cinco sicles e treze nuques – Philip falou, colocando a montanha de moedas em cima do banco. Mas Marie deu a eles as suas moedas também. – Tá, agora são... cinco galeões, dois sicles e vinte nuques.

–Bem, nós apostamos – Ali tirou todas as moedas que tinha nos bolsos, assim como eu. – oito galeões, quinze sicles e cinco nuques na Grifinória. – ela sorriu com a cara de surpresa deles.

Logo pude ouvir o apito da Madame Hooch, nossa professora de vôo e também juíza nos jogos de quadribol.

Quinze vassouras se ergueram no ar. Começara o jogo.

–Apostado! – Ali e Philip apertaram as mãos.

Um aluno comentava a partida de algum lugar, mas nem reparava em suas palavras. Estava olhando para um jogador da Lufa-Lufa, que me parecia um tanto familiar. Mas minha linha de pensamento dos alunos que conhecia da Lufa-Lufa fora cortada pelas palmas de alguém.

–Ponto da Grifinória – Marie me disse quando viu minha cara de interrogação. E vi o sorriso que Ali dava para os garotos.

–Bem, vamos ficar mais abaixo, aqui tá muito frio – um dos garotos comentou em um grito.

–Nós vamos com você – Alison falou.

–Vamos ficar aqui! – Marie protestou para eles que já desciam as escadas. – Ficamos com as moedas – ela gritou quando Ali foi pegar as moedas no banco.

Mas eu não prestava atenção em nada disso, ainda olhava para o apanhador da Lufa-Lufa que estava muito próximo da nossa arquibancada.

Ouvi Marie ranger os dentes ao meu lado e fiquei surpresa em não estar sentindo o menor frio, nem mesmo quando o vento entrava pela apertura da gola da minha blusa.

–Marie, quem é o apanhador da Lufa-Lufa? – perguntei com uma mão no ouvido esquerdo, tentando ouvir melhor Marie que estava do meu lado direito.

–C. Diggory – ela falou olhando para o escrito na roupa do jogador da Lufa-Lufa.

Minhas entranhas se apertaram quando me lembrei do garoto.

–Por quê? – ela me olhou acusadora. – Conhece o galã, não? – me perguntou com um sorriso brincalhão.

–Conheço, nada demais.

–Não me diga que ele não é charmoso – ela falou – Lufanos são charmosos pra caramba, todo fofos e bem educados! E as lufanas são as apaixonadinhas... urgh!

–Talvez sim, talvez não – dei-me por indiferente. – eu só sei que não vejo nele algo que possa ser interessante. Nem mesmo se ele fosse um jogador de quabribol famoso

–Ah... eu sonho com um jogador de um time famoso de quadribol – ela suspirou. – Um que ainda não joga profissionalmente. Se não ele seria muito velho para mim – ela bateu os dentes de novo.

–Frio? – perguntei já afirmando. Ela confirmou com a cabeça. Peguei minha varinha que estava no bolso da frente das minhas vestes e fiz um feitiço convocatório – Accio – pensei no moletom da Sonserina que estava em cima da minha mala.

Passou-se quase um minuto quando uma bola preta e verde caiu em cima da cabeça de Marie.

–Um casaco a expresso-cometa para você! – sorri para Marie enquanto ela tentava ajeitar seu cabelo que fora todo despenteado.

Ficamos em silencio enquanto Marie colocava o moletom por cima do seu casaco mais fino.

– Marie, qual time você torce?

–Puddlemere United, o mesmo time que meu avô – ela sorriu. – E Dumbledore! - rimos. - E você?

–Montrose Magpies – sorri.

–Pegas! – falamos em uníssono. – É um bom time – olhei para ela séria. – Tá! É o melhor time.

Marie e eu começamos a conversar sobre quadribol e esquecemos completamente do jogo que acontecia a nossa frente.

Depois começamos a conversar sobre bandas trouxas que gostávamos de ouvir.

–Sério que você gosta de The Cure? – perguntei para ela com um sorriso.

–O quê? Eu amo... – ela prolongou o “o” por um longo tempo. – E também sou viciada em Pink Floyd!

–Também! – começamos a rir e acabamos sentando já que o jogo não fazia mais importância. As moedas estavam bem guardadas no bolso gigante do meu moletom.

Falávamos tão rápido sobre tantos assuntos e riamos tanto que quando ouvimos o apito do final do jogo minha barriga doía.

–Grifinória ganhara por cento e setenta pontos a quarenta e cinco! – gritou o locutor.

Batuquei na cadeira enquanto Marie me olhava carrancuda.

–Ah! Seja uma boa perdedora! – sorri para ela. – Quem sabe na próxima aposta você não consiga esse dinheiro de volta? Agora vamos, tenho que dividir esse dinheiro com a Ali.

Descemos rindo de alguma piada que eu havia feito quando dou de cara com alguém, tropecei nos meus próprios pés e quase caí de cara no chão, mas Marie fora rápida o suficiente para me agarrar.

–Nossa! – Marie falou quando me recompus. – Você é tão leve! – ri sem graça, eu não gostava quando ela falava sobre meu peso ou o quanto eu comia. Me virei para pedir desculpa para a pessoa que bati.

–Temos parar de nos encontrarmos assim – Cedrico Diggory sorriu para mim. Ele estava corado e seu cabelo estava todo despenteado, mas não esperava menos depois de correr atrás do pomo.

–Cedrico! – falei surpresa.

–Olá – ele falou passando a mão pelos seus cabelos. – O que achou do jogo? – ele não parecia estar muito feliz.

–Ah! Você foi bem – ele me olhou com uma expressão séria. -, sério! Só que o Weasley foi mais rápido e conseguiu pegar o pomo, mas ele também já joga nesse campo com as mesmas pessoas há tempos – tentei consolá-lo. – Foi um bom jogo.

–Você podia ter tentado mais, uma primeira boa impressão sempre é algo positivo! – Marie falou como uma típica sonserina, e aí percebi o porquê do Chapéu colocá-la na casa das cobras. Ela era má com aqueles que não gostava de primeira.

–Cedrico essa é a Marie – ele deu o melhor sorriso que conseguia, o que não ajudou a ganhar Marie. – Não liga para ela, é que ela apostou contra mim e bem...

–Você apostou na Grifinória?! – ele estava com seu orgulho ferido, pude sentir no fundo da sua voz.

–Na Corvinal que não foi – Marie respondeu por mim cruzando os braços na frente do peito.

–É que meus amigos da Grifinória estavam por perto... – tentei contornar a situação, mas com a Marie dando uma risadinha atrás de mim não era fácil. – Marie, você não tinha que ir falar com seu irmão? – perguntei para ela e já a empurrei para o lado do castelo. – Pode ir, a gente se encontra no Salão Comunal!

–Tchau Cedrico, foi um prazer! – ela gritou a última parte e começou a rir muito e muito alto, a vi sair em disparada para junto do grupo em que Jenn e Ali estavam.

Vi o grupo desaparecendo em uma curva que dava para o caminho principal que dava para o castelo.

–Desculpa pela Marie – sorri para ele. – Ela perdeu dois galeões para mim -... ou menos...

–Nossa! Vocês da Sonserina gostam mesmo de uma aposta alta – ele riu.

–Pelo menos vou poder comprar um presente de Natal muito bom para ela, quem sabe isso melhore seu humor...

Vi um grupo de lufanas olhar para o Cedrico com carinhas apaixonadas, elas deviam estar sonhando em reconfortá-lo por te perdido. E, bem, era isso que eu estava fazendo.

–Olha – falei olhando para longe delas onde vi um grupo de grifinórios muito grande, provavelmente o time da Casa deles estava ali que viam na direção do caminho que dava para o castelo. -, você foi ótimo, Cedrico. Tenho certeza que ganhará no próximo jogo - coloquei minha mão no ombro dele. Que me deu um sorriso tão fofo que senti minhas bochechas esquentarem.

–Obrigado – ele falou se aproximando de mim, me vi recuando por instinto. Mas os braços de Cedrico foram mais rápidos e, num piscar de olhos, ele estava me abraçando.

Por mais que ele tenha suado, o cabelo de Cedrico ainda estava cheiroso, na verdade ele parecia transpirar um cheiro bom. Os braços fortes dele me amassavam, mas a sensação não era de toda ruim. Automaticamente virei minhas narinas para o pescoço dele e pude sentir o cheiro me embriagar ainda mais, queria que ele se afastasse, mas ao mesmo tempo não queria. E o abraço pareceu ter durado muito tempo quando meus olhos azuis encontraram os olhos cinzas dele.

Nos soltamos rapidamente, nós dois sorrimos constrangidos. Eu sentia meu coração pulsando mais forte, tão forte que suas batidas tremiam meus tímpanos, mas era por algo que vi nos olhos de Cedrico quando o soltei, não por tê-lo abraçado.

Na realidade ter estado tão perto dele lançou para meu cérebro um aviso que ainda não tinha entendido.

–Bem – quando falei aquela palavra senti minhas bochechas ficarem ainda mais vermelhas e senti como se tivesse engolido uma pedra que se agarrou na minha garganta. -, tenho que ir. Preciso dividir o dinheiro da aposta com uma amiga – sorri muito constrangida para ele.

Saí antes de esperar uma resposta, minhas bochechas estavam pegando fogo assim como minha cabeça, as engrenagens dela tentavam ao máximo voltar ao normal, mas a carga de adrenalina que o abraço de Cedrico liberou não deixava minha mente se normalizar, nem minha mente ou meu coração, que batia descontrolado.

Respirei fundo e contei até dez, mas nada disso adiantou. Olhava para frente sem realmente ver o caminho que seguia, quando o nível de adrenalina abaixou me vi em frente a porta do banheiro da Murta-que-Geme.

Senti-me três vezes melhor quando joguei água gelada no meu rosto, me escorei na pia enquanto olhava para minhas bochechas mais vermelhas que uma maçã na época da colheita.

Sentei-me na tampa de um vaso de uma das cabines, respirei fundo enquanto massageava minha têmporas. Tentava entender o motivo da minha reação ao abraço de Cedrico, eu já havia abraçado e não me senti daquele jeito. Talvez não fosse por causa disso.

Fechei os olhos e dentro das minhas pálpebras imagens sem nexo começaram a rodar como um filme muito acelerado. “Eu te amo” “Mas você não devia”. “Nunca senti tanta dor na minha vida”, percebi que era minha voz que sussurrava, estava de joelhos. “Mate o outro” uma voz aguda como uma facada disse e um clarão verde passou pelas minhas memórias.

Abri os olhos, o que estava acontecendo comigo?

Comecei a sentir calor dentro daquele banheiro e puxei minhas mangas até meus cotovelos e pedi por um momento de clareza.

Tudo parecia ter mudado quando abri meus olhos. Até meus pensamentos estavam diferentes. Tentei pensar no havia acontecido hoje, mas, para minha surpresa, não conseguia ouvir minha mente, só minha barriga que implorava por comida. Olhei as horas no relógio do meu pulso direito e vi que era, exatamente, a hora do jantar.

Tinha que entender o que estava acontecendo comigo, mas porque sentia que, lá no fundo, já sabia o que estava rolando e agora era só esperar? Continuei andando para o Grande Salão.

Sentei-me entre Marie e Ali. Que me olharam surpresas, enquanto comiam coxas de galinha.

–Parece que foi bom, em? – Marie tinha um sorriso de duplo sentido em seu rosto.

– Oi? – perguntei meio aérea, estava pensando em como agiria na próxima vez que visse o lufano, se me lembrava bem a primeira vez que o vi também tive uma reação estranha... ouvi vozes no meu cérebro e vi um clarão verde quando olhei em seus olhos.

–Você e o galã da Lufa-Lufa. Parece que foi boa a conversa de vocês – ela sorriu.

–Ah, isso... Foi normal, só foi diferente quando ele me abraçou – balancei os ombros, e eu realmente não ligava para o Cedrico ainda mais com tudo que estava acontecendo. – Bem, ele queria abraçar alguém e eu estava na frente dele – levantei os braços para o alto. – Era eu o que tinha pra hoje! - elas riram assim como eu. – O negócio é quando toco em alguém sinto uma coisa estranha, e senti mais forte com ele...

Ficamos em silêncio enquanto devorávamos coxas de galinha e espigas de milho.

–E o que aconteceu depois disso para te deixar tão alegrinha? – Ali me perguntou. – Encontrou um livro e descobriu que era primeira edição de uma saga rara?

–Na verdade não – ri. – Deve ser sono.

–Bem, vamos só comer a sobremesa – Marie disse quando os pratos do jantar desapareceram, e junto deles foi à coxa de galinha que estava na minha mão.

–Não me diga que você não gostou de ser abraçada pelo Diggory – Ali começou.

–De novo com esse assunto?! – falei chateada. – Eu não gosto de toques vindos de alguém que eu mal conheço. Isso é muito pessoal, é como falar do sonho da minha vida, qual carreira eu quero seguir ou do meu tipo de sorvete predileto, entende? É pessoal – olhei para minhas mãos postas sobre meu colo. – E eu senti o coração dele batendo...

–Só porque é íntimo você se sentiu estranha? – Marie me perguntou.

–Quando eu escuto os batimentos da pessoa eu imagino o coração dela parando de bater, imagino a luz esvaindo-se de seus olhos, tem vezes que imagino a morte completa da pessoa... desde que era pequena quando alguém me tocava eu sinto coisas desse tipo – isso era verdade. Talvez o que tivesse visto, o clarão verde, seja parte da morte do Cedrico.

Desde pequena vejo coisas que a maioria não vê, recebo partes de memórias desfocadas que não me pertencem, vejo situações futuras que acontecem mesmo.

–Você viu a do Diggory? – Ali se aproximou de mim.

–Quando fechei os olhos – olhei no fundo dos olhos verdes da Alison. – Mas foi só por um segundo – fechei meus olhos e o clarão voltou e aquela voz aguda, fria e seca “Mate o outro” ela disse.

–E aí? Como foi? – ela me perguntou com brilho nos olhos.

–Não me lembro – menti, fechei meus olhos novamente e pude ouvir agora um baque depois do clarão e... alguém gritava? – Mas tinha um cheiro que era muito bom... parecia ser o perfume dele, achei que fosse, mas agora acho que não era.

–Por quê? – Marie me perguntou. - O que isso poderia significar?

–Talvez seja o cheiro do lugar onde ele morre? – Ali deduziu.

–Mas Charlie, por que o cheiro não poderia ser o perfume dele? – Marie voltou ao assunto enquanto provava o pudim que havia se materializado na nossa frente, junto com outras guloseimas.

–Era uma mistura de cheiros, cheiros peculiares... impossíveis de colocar dentro de um frasco – fechei os olhos e tentei me lembrar de tudo, fiz força e lá estava o clarão verde, os gritos, o cheiro...

–Mas não dentro dos Feijõezinhos de Todos os Sabores – rimos com a declaração de Jenn, que não parecia gostar do assunto.

Tentei mais uma vez me lembrar. Gritos de pura dor que continuavam, a voz fria dizendo “mate o outro”, um clarão verde, o baque de algo batendo no chão, e uma boca aberta de surpresa... e o cheiro que havia achado tão bom, uma mistura de chuva, grama, suor, o campo, perfume e... bem, morte.

Naquela noite sonhei comigo jogando quadribol pela Sonserina; o banheiro da Murta-que-Geme, mas precisamente a pia do banheiro; e comigo olhando impassível para o corpo de Cedrico Diggory com um garoto de cabelos despenteados e óculos de grau amarrado numa lápide.

Não me lembrei desses sonhos no outro dia, mesmo sendo os primeiros "sonhos" importantes que tive.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gente, só falta o capítulo de Natal e o último capítulo que é o de final de ano da Charlie para acabar o primeiro ano dela.
Vamos lá mandar seus comentários! Me digam o que não gostaram ou o que gostaram do capítulo que eu posso tentar colocar isso mais vezes, me deem suas sugestões sobre algum fato que poderia acontecer, me avisem se não algo não faz sentido ou se vocês não entenderam uma frase ou um contexto... as vezes eu me empolgo e nem percebo que o capítulo ou os fatos ficaram incoerentes.
Eu queria muito chegar nos 100 reviews até o final do 1º ano da Charlie, mas para isso preciso da ajuda de vocês, meus caros leitores e leitoras!
Não deixem de mandar reviews e, quem sabe, recomendações, em?!
Beijinhos!! *-*