Duas semanas já se passaram desde aquele dia. A dor transbordava em meu peito, o sentimento de se sentir inútil me dominava, tudo ao meu redor era apenas parte da minha vida patética e insignificante. Eu estou sozinha, e sempre estarei. Esse era o meu destino, não é?

“Senti meu corpo tremer levemente, abri meus olhos. Meu corpo estava ensanguentado, os cacos de vidro estavam profundamente em meu corpo, cada parte dele latejava. Toquei em um dos cacos que estava em meu braço. Gritei de dor, só um toque e parecia que ia rasgar meu corpo de dentro pra fora. Respirei fundo, segurei-o com força fazendo caretas, as lágrimas já desciam pelo meu rosto. Puxei com toda a força que tinha. Dei um grito que ecoou por toda a floresta, os pássaros que estavam nas árvores, ao ouvirem meu grito; assustados saíram voando. O sangue agora escorria pelo meu braço, pingando até chegar às folhas secas que estavam no chão. Minha cabeça começou a latejar, comecei a ver tudo embaçado. Minhas pálpebras começaram a pesar cada vez mais, até eu ver apenas a escuridão...”

Abri meus olhos dando um pequeno suspiro, passei o dedo lentamente por cima em meu braço, ainda sentia aquela cicatriz. Eu havia ficado naquela floresta quatro dias, eu sobrevivi quatro dias naquela floresta. Fugindo da minha culpa, fugindo daquilo que me afligia. Por minha culpa meus pais haviam morrido. A dor estava cada vez mais forte dentro de mim, me sufoca. Talvez seja por isso que eu não seja capaz de invocar mais espíritos, mas eu tenho medo. Medo que me julguem errado, medo que não me aceitem mais. Não quero ficar sozinha como eu estava naquela floresta, não quero mais ser aquela menina frágil que não parava de chorar. Eu estou apenas cansada de não poder fazer nada para meus amigos, não quero que eles morram por minha culpa.

― Nee Luce, o que foi?

Enxuguei minhas lágrimas e virei para Natsu. Ele estava na cama me fitando intensamente. Sorri e fiz sinal que não era nada demais.

― Me diga, o que houve?

Ele agora havia levantado, caminhando lentamente até mim.

Por que ele tinha de estar aqui justamente quando estou vulnerável?

― Não é nada Natsu, relaxa.

― Por que você está assim?

Deixe-me em paz Natsu, sou um monstro. Você não vê isso?

― Não é nada! Vá embora!

Gritei e pude ver seus olhos arregalarem. Sua expressão era de surpresa, mas logo surgiu um sorriso lindo em seu rosto. Ele se aproximou e me abraçou fortemente.

― Sabe Luce, não precisa esconder assim seus sentimentos. Sei que você está mal por que esta tentando há duas semanas evoluir desde aquele dia e que não consegue mais. Mas eu estou aqui sua estranha, não se esqueça disso.

Senti as lágrimas quentes já correrem pelo meu rosto, elas molhavam o colete de Natsu. Merda, por que eu tinha que chorar? Por quê?

― Luce, por que tem essa menina no seu quarto?

Afastei-me de Natsu sem entender sua pergunta repentina, segui seu olhar e vi Mavis sorrindo acenando.

― Yo Natsu-san! – ela disse alegremente.

― Yo?!

Dei um tapa em minha cabeça e olhei feio pra Mavis, seus olhos marejavam.

― Ela é Mavis Vermellion, a primeira mestra da Fairy Tail.

Natsu arregalou seus olhos, correu até Mavis e ficou a fitando. O rosto dela estava corado, estava muito fofinha.

― Ela? Esta nanica?

Mavis deu um tapa na cabeça de Natsu e logo após cruzou seus braços com as bochechas infladas. Duas crianças.

― Antes que comecem a discutir, por que você esta aqui Mavis-sama?

― Está na hora de você contar para Natsu a verdade.

O vi parar e me olhar. Fechei meus olhos dando um suspiro triste, me joguei no sofá.

― A verdade sobre o que?

Pude sentir a tristeza em suas palavras. Parabéns Lucy, agora ele sabe que você mentiu. Trinquei meus dentes.

― Eu não menti para você, apenas escondi alguns fatos.

― Mentiu.

― Mavis, você veio me ajudar ou piorar a situação?

Olhei feio pra ela, ela deu de ombros e começou a balançar suas pernas.

― É verdade que meus pais morreram em um acidente depois que descobriram onde eu estava depois de sumir e tudo mais. Senti-me tão culpada que fugi de lá, deixei eles sozinhos lá. Por não saber o que fazer ou se aquilo era verdade mesmo. Eu estava naquela floresta já há três dias, iria fazer o quarto se não tivesse me encontrado. Eu sabia que era uma maga, mas não queria aceitar isso. Mas depois que eu vi a Fairy Tail me senti mais completa, queria fazer parte desta família. Fiquei muito feliz quando meu tio me deu as chaves de minha mãe, me senti muito orgulhosa por ser uma maga. Eu só não quero que você me rejeite ou sei lá.

Dei um suspiro e fitei-o, ele estava com um lindo sorriso novamente.

― Ainda bem que te encontrei sua estranha e na questão de ser uma maga, nem ligo. O que importa é que você é minha nakama, não é?

Era isso mesmo que eu havia escutado? Natsu não estava bravo comigo?

― É sério isso, Natsu?

Ele assentiu sorridente. Mavis agora pulava em cima de meu sófa. Dei um suspiro de alívio. Uma coisa negra saia de dentro de mim e Mavis a puxava.

― Mas o que?

― Tirei suas trevas.

― Mas o que? – perguntei novamente.

Ela deu um suspiro, fechou o pequeno pote e logo depois ele desapareceu.

― Você precisava desabafar para alguém Lucy, tirar esse sofrimento. Mostrar o quanto estava com saudades de seus pais.

Eu nem havia notado, mas eu chorava desde que eu havia começado a contar a verdade. Natsu se aproximou e limpou uma lágrima que escorria solitária. Ele acariciou meu rosto.

― Sua estranha.

Dei uma risada baixa e sorri para Mavis que piscava.

― Agora tente invocar mais alguns espíritos, Luce.

Assenti pegando minhas chaves. Peguei sete delas. Suspirei fundo e as joguei no ar. Abri meus olhos e as lágrimas caiam.

― Yo Lucy-san! Nice body!

― Tch, estava muito bem com Scorpios. Arranje logo um namorado.

― O que você quer dizer? – perguntei exaltada.

― Hime-sama!

― Oh Lucy, vamos calvagar até ao por do sol.

Fitei Leo e sorri sapeca.

― Temos um presente, gomen nasai.

― O que é?

E logo após um brilho gigantesco surgiu na sala. Um homem alto, forte e com cabelos negros estava fazendo reverência, corei ao ver este ato.

― Sou Jason, o espírito gladiador das chaves de esmeralda. Ao seu dispor Lucy-sama.

― Francamente, não precisa ser tão formal. Somos amigos, não somos?

Sorri e Natsu também sorria para todos.

No mundo celestial...

― Por que ele tem que ser o primeiro? – um menino disse. Seu cabelo verde espetado era visto a quilômetros de distância, seu corpo era pequeno e havia dois enormes canhões em suas costas.

― Por que sim, Kiy. – o rei disse.

Hyu deu um sorriso maldoso e saiu caminhando entre as pedras flutuantes.

― Isso me cheira a confusão – disse uma mulher. Ela trajava roupas pretas que mostravam sua barriga, além do cabelo rosa que passava de sua bunda, duas katanas estavam em suas costas.

― Jason e Hyu que se entendam, Nyuh – Kiy disse.

― Esse é o problema – ela resmungou para si própria.

― Entendo. Então Jason poderá atrapalhar nossos planos.

― Exatamente Jellal, fique de olho nele por mim. O próximo sou eu. E aí a diversão irá começar.