Wild Romance escrita por chi1bi


Capítulo 1
Maldita Escola


Notas iniciais do capítulo

Well, essa é a minha primeira fic.

Espero que gostem e ignorem os erros, então sejam boazinhos, okay? ~ ^o^



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Fui despertada por uma voz suave. Minha mãe repetia meu nome para que acordasse, em uma manhã quente. Eram só cinco da manhã, mas o calor já era do inferno. Tão cedo...

A brisa suave contra as cortinas brancas do meu quarto me deixava calma, como se eu estivesse exatamente onde deveria estar. Tranquilinha. Hoje era dia vinte e nove de agosto, meu primeiro dia de aula em uma nova escola, frequentada por pessoas idiotas que eu não conhecia, prontas para me torturar. Acordar com humor melhor é impossível, se você sente o sarcasmo pingando dessas palavras.

Eu iria ter meu próprio apartamento, onde moraria sozinha até terminar o ensino médio.

– Inferno – resmunguei.

Deslizei meus dedos sobre a cama, logo saindo dali. Meu cabelo estava grudado contra a minha nuca, por conta do suor. Fui ao banheiro, escovei os dentes e tomei um banho rapidamente. O cheiro de pão de queijo recém-assado exalava da cozinha.

Vesti alguma coisa branca que tirei do meu roupeiro bagunçado, e saí, meu estômago roncava.

– Senta aí, filha. Fiz café pra você. – minha mãe disse, com a voz carinhosa. Estranho. Muito estranho. Principalmente o fato de ela ter feito algo por mim, o que é anormal.

– Obrigada. – eu respondi, educadamente, desconfiada.

Não conversamos muito, pois eu me apego dificilmente às pessoas. Mesmo sendo minha mãe. Não me julgue, eu só gosto de ficar quieta, na minha. Mas isso não é realmente proposital, não tenho facilidade em me relacionar com os outros desde que completei treze anos. Provavelmente eu fui uma criança feliz, mas não me lembro disso.

Arrumei minhas malas e troquei de roupa, e em menos de dez minutos já estávamos dentro do carro.

A viagem foi curta – meia hora, no máximo –, e, no mínimo, silenciosa. Eu não concordava com a ideia de ir assim, de repente, porém não me recusei a nada.

Quando estávamos próximos da escola, lágrimas escorriam pelo rosto da minha mãe. Eu odiava vê-la assim, preocupada com sua única filha. Normalmente minha mãe era uma pessoa alegre e sorridente, e tinha um amor incrível por viver. Seus olhos amendoados agora estavam chorosos, me fazendo prometer que iria ligar todos os dias, que iria me alimentar direito e me comportar. Sobre esse último, não tenho muita certeza.

Larguei minhas malas de qualquer jeito na sala do apartamento – que ficava não muito longe da escola - e voltei para o carro. Fomos, em um clima terrível que me desafiava a pedir para voltar, até os portões da maldita escola. E que fachada cafona, hein. Chega até a ser meio gay.

– Pode me ligar quando quiser, querida. Eu te amo.

– Eu também – disse com a voz seca. Não gosto de tratar ela assim, mas é necessário. Ainda mais nesses momentos extremos de despedidas.

Ela me deu um último abraço e foi embora. Eu vi seu carro se afastando.

O cenário que eu via à minha frente era deprimente. A fachada da escola não parecia tão viril e perturbadora (e gay) vista pela foto em sépia do site da internet. Entrei e fui à secretaria, onde entreguei minha ficha de inscrição e uma atendente arrogante me deu todas as informações apressadamente.

– Meu nome é Shin Yun Hi, eu sou–

– Claro, claro. A aluna nova. Aqui está a sua chave, armário 109. Organize essas coisas – ela gesticulou com as mãos delicadas para a minha mochila desgastada –, depois volte aqui para tratarmos de assuntos importantes. – Ali – ela apontou para um corredor cheio de armários de um tom esquisito de roxo – é o corredor principal onde ficam os armários. Na volta lhe darei um mapa de todos os locais da escola. Ah, e aqui os horários das aulas. – sorriu falsamente. Não a culpava, suas olheiras denunciavam o cansaço e o tédio que deveria ser trabalhar em uma secretaria dessas, atendendo ao telefone a cada cinco minutos e sendo obrigada a decorar e dar várias informações simpaticamente.

Apenas assenti com a cabeça.

Saí da secretaria e fui até o tal corredor, procurando memorizar o número do meu armário. O corredor era um local realmente interessante, todos os armários eram diferentes. De certa forma iguais, porém customizados ao gosto dos alunos. Uns com adesivos colados na porta, ou pôsters de bandas, recortes de revistas, todos com uma personalidade única. Eu poderia ficar o dia inteiro olhandos, admirada com a criatividade desse pessoal.

Guardei minha mochila e minha grade de horários no meu respectivo armário, e depois fui até a atendente na secretaria, que terminou a explicação friamente.

– Aqui, aqui e aqui. – ela me entregou uma pilha de livros – São os que usará na maioria das aulas. O mapa da escola, caso se perca e precise de alguma orientação. E aqui as anotações do primeiro mês de aula que você perdeu. Agora vamos às regras. Damos completa liberdade aos alunos a usarem as roupas que quiserem, respeitando apenas duas regras simples: As roupas devem ser estritamente discretas, e na disciplina de educação física, durante os exercícios de natação, as garotas devem apenas usar maiô e nada de biquinis. A segunda é bem óbvia, mas procuramos frisar para que fique esclarecido. É extremamente proibido o uso de aparelhos celulares durante as aulas, o que se for pego haverá uma punição severa. Câmeras – ela apontou para o alto, onde um pequeno aparelho com uma lente nos observava – Que fique bem claro que sempre estamos vigiando vocês. Todo o tempo. Toque de recolher, a escola fecha às seis e meia. Acho que as principais regras já foram ditas aqui. Está dispensada, comece as aulas no período da tarde. Qualquer dúvida apenas procure por um dos representantes. E ah, Merui – ela chamou uma garota que passava pelo corredor –, venha aqui. Esta é a Shin... Shin... Shin Yun Hi – ela leu meu nome na ficha com dificuldade, errando parte da pronúncia – Você será a guia dela durante o tour pela escola.

– Perfeito. – ela juntou as mãos – Eu estava mesmo precisando de uma novata para ser minha nova escrava pessoal. – disse a garota rispidamente, me olhando com uma expressão sarcástica e me analisando. Ergui as sobrancelhas fazendo a cara mais antipática possível. Não estou afim de aturar aquelas coisas de "amiguinhos" da escola. Não vim aqui pra isso.

Continuei conversando com a atendente por mais alguns minutos, perguntando em qual sala seria a minha primeira aula, após o almoço. A diretora era realmente bem severa, direta e séria. Prefiro assim, sem fingimentos de boas-vindas. Apesar de seu gênio ela era naturalmente simpática, parecia gente boa.

– Que. Merda. É. Essa. – Eu disse logo após sair, incrédula.

Caminhei até a sala dos representantes, pois supostamente minha ficha de inscrição não estava completa. Faltava uma foto e outras coisas complicadas, e eu queria resolver isso logo. A diretora havia pedido para que eu falasse com Nathaniel, representante dos primeiros anos. Minha ficha deveria estar arquivada em algum lugar que ele soubesse ou algo assim. Mas a sala estava vazia.

– Que se dane. – murmurei – Não vou esperar esse infeliz. – eu saí, pronta para ir embora.

– HI-YA!!! – Alguém gritou, fazendo-me congelar com a forma carinhosa que só uma pessoa diria meu nome. Seria improvável que ele também estivesse aqui, claro que não. Recebi um abraço pelas costas.

Eu me virei, pronta para mandar quem quer que fosse o pervertido aproveitador para o inferno.

– K-KEN?! – Ken era um antigo amigo, o qual eu acabara de citar vagamente. Nos conheciamos desde o primário.

– E aí, Yun. – ele me cumprimentou, mais calmo e se afastando. – Descobri que você ia estudar nessa escola e tal, então eu quis vir também, pra ficar perto de você. – ele deu de ombros e olhou mais para longe, coçando a cabeça timidamente.

– Ah, sério? Gentileza sua. – Sorri para ele. Minha voz soou meio rouca e esganiçada, mas não me importei. Bom ter alguém conhecido aqui, ainda mais Ken. – Eu ia sentir sua falta, sabe. – dei ombros também, fingindo que não ligava – Eu preciso ir procurar uma pessoa agora então... – eu acenei.

– Ok... – ele disse, meio aborrecido, mas compreendendo – Nos vemos depois, então? Eu estou no mesmo prédio de você. Quarto 71.

Mas que diabos...?! Como ele sabia disso? Ah, é claro, mamãe deve ter aberto a boquinha.

Dei um sorriso amarelo.

Ele se afastou e eu fui indo procurar a tal garota, minha guia. Ridículo. Eu ainda seria obrigada a ter alguém para me apresentar o campus e toda a extenção dessa escola idiota. Se fosse sozinha ainda seria melhor, mas não. Mapa pra quê, né?

Antes que eu a encontrasse, uma garota loira e de aparência enjoada esbarrou em mim, acompanhada de outras duas garotas igualmente enjoadas. Elas não pareciam nada simpáticas, não com aquelas carrancas entopidas de maquiagem.

Perfeito, Yun. Palmas para você. Que legal, não é mesmo? Ficar andando olhando para o chão dá nisso. Agora que esbarrou nas patricinhas da escola, pode ficar se culpando.

– Então você é a novata, a asiática. – sorriu – Que bom, adoro novos brinquedinhos para atormentar. – Pronto, começou o discursinho. Qual é o lance dessa vez? Não roubar o namoradinho valentão da rainha da escola? – Entre você e o outro carinha, não posso dizer que tivemos sorte, não é? Que pena. – eu continuei quieta, olhando-a "inofensivamente". – Aw, que bonitinha, ficou ofendida. Fique bem longe do Nathaniel, sim? Faça apenas o que eu disser e tudo ficará bem. Vamos, meninas? – indicou para as duas garotas atrás dela – Acho que ela já entendeu quem manda, não é mesmo, queridinha? – ela deu um tapinha nas minhas bochechas e um sorrisinho falso, e saiu.

Nathaniel?!... O representante? Não pode ser, cara. Deve ser tão desprezível quanto ela.

Eu quero vomitar.

– Desculpe, queridinha. Ainda não entendi quem manda. – respondi em um sussurro – Vadiazinha chata, eu hein.

– Ih, a Ambre já começou a te estorquir – alguém riu.

Merui estava atrás de mim, com as sobrancelhas arqueadas e os olhos delineados de preto demonstrando sua diversão com o fato.



– Conhece? – indaguei, me referindo à Ambre.





– Quem não conhece – ela girou os olhos – Ela fica aí, tentando se aproveitar do irmão e de todo mundo. As outras duas se chamam Li e Charlotte. Um dia ainda espanco aquela whore. E o pior, o irmão dela é lindo, o representante da turma do primeiro ano, já conhece? O maior gostoso, sério.



– Hn..não? – Sorri cinicamente.

Não seria Nathaniel, seria?

– Vam'bora então, vou te apresentar ele. – ela me puxou pelo braço, e saímos correndo como se não houvesse amanhã pelo corredor.

Perto de algumas portas – que eu julguei serem as salas de aula – freiamos bruscamente, e ela me apresentou um rapaz loiro e alto, olhos cor de âmbar, bonito.

– E aí, gato. Já conhece a novata aqui? – ela gesticulou com as mãos na minha direção. – Minha nova escrava. Bonitinha, né? – eu senti meu rosto arder. Não de vergonha, raiva mesmo.

– Para de falar essas coisas. – ele deu um tapinha na cabeça dela – Sim, muito bonitinha. – ele me lançou um olhar meio... não sei, apenas simpático. Educado. E sorriu – Muito prazer, Nathaniel. – ele estendeu a mão.

Eu estava pronta para estender a mão e cumprimentá-lo de volta, porém me surpreendi um pouquinho.

– Sua irmã é horrível – falei, sem querer.

Ele levou a mão à cabeça, nitidamente frustrado. Droga, Yun. Pelo menos pense antes de falar. Já queimou o filminho com o representante.

Não que eu tenha me interessado por ele. Talvez, se ele bagunçasse mais o cabelo, retirasse a camisa social de dentro da calça jeans e desabotoasse um ou dois botões, talvez, eu pensasse no caso. Mas você é certinho demais, Nathan.

– Não ligue para as coisas que a minha irmã diz, afinal ela é infantil. – disse, sério.

– Desculpe. – falei, sem saber como continuar. – Meu nome é Shin Yun Hi. – Estendi a mão de volta, tentando parecer legal. Ele é simpático, e educado... porém sério. Nem um pouco parecido com ela.

Depois disso Merui me apresentou a escola. Afinal não era assim tão ruim, na companhia dela. Ela é engraçada, mas um pouco sarcástica demais, e pra falar a verdade, de alguma forma, eu gostei disso.

Caminhamos uns minutos pelo campus e resolvemos entrar no ginásio. Alguns garotos jogavam basquete na quadra.

– Vem aqui – ela deu um tapa indicativo em um lugar ao lado dela, nas arquibancadas vazias. – Vamos ver os garotos jogando. – e sorriu maliciosamente.

Ficamos um tempo ali em silêncio, vendo seres de coxas deliciosas jogarem, até que resolvi falar algo:

– Qual é o seu problema com a Ambre? – Perguntei arqueando as sobrancelhas. Sua expressão mudou e ela me encarou, profundamente, tentando dizer algo que eu não entendia. Pela primeira vez não parecendo confortável.

– Não é muito interessante, sabe. Esquece. – ela deu de ombros, fingindo não se importar.

Eu continuei olhando pra ela, fazendo a cara mais suplicante possível, pedindo uma resposta. Odeio segredos, de qualquer maneira. Isso me torna curiosa e irritante.

Oh, mas é claro, minha querida Shin Yun Hi. E você a conhece há o quê, quarenta e cinco minutos? Já fica aí querendo saber os segredinhos dos outros, eu hein. Que saco.


Alguns minutos se passaram, mas ela permanecia indiferente.



Estou ficando impaciente.


Ela olhou novamente para a quadra, parecendo ponderar em relação à me contar ou não. Obviamente não. A garota nem me conhece. De repente seus olhos retomaram o foco, então ela gritou:

– Aí! Derek! Boa jogada, garanhão! As garotas estão babando por você, seu gostoso!

– Cala a boca, Merui! Vai dizer que eu não tô te seduzindo também? – Derek se aproximou, rindo. Seu cabelo loiro e meio comprido demais estava pingando suor. Eu talvez achasse nojento, mas não. Sentou ao lado de Merui – E aí, quem é? – Disse, acenando com a cabeça na minha direção e sorrindo para mim.

– Alguma coisa Hi, minha namorada. – ela respondeu, séria, enquanto lascava as unhas pintadas de preto.

– Quê?! – eu gritei, pasma. Estou convivendo com lésbicas e não sabia – Shin Yun Hi, Merui. Não é tão difícil. – revirei os olhos.

– Estou brincando – ela riu – Esse aqui é o Derek, meu melhor amigo metido a gostosão. Oh, olhe que peito definido. Vai dizer que não sentiu tesão? – ironizou.

Derek gargalhou.

– Desfrute dos meus músculos, baby.

– Vai se ferrar – eu ri. Ok, já estou me enturmando. Não esperava fazer amigos assim do nada.

Merui olhou o celular e já era quase meio dia.

– Caraca, galera, já tá na hora do almoço. Vamos ver a tia da cantina – disse esfregando as mãos, provavelmente planejando um assalto ou algo do gênero. Notei que meu estômago roncava. Concordei, e saímos do ginásio.

[...]

Estava lotado e a fila estava enorme. Quase não tinha mesas vagas e a luz fluorescente estava quase me cegando.

– Ei, Derek. – Merui o cutucou – Peça para as gatinhas – ela fez aspas com as mãos – pra gente furar a fila – e piscou para mim. Pensei ser apenas mais uma das propostas sarcásticas dela, mas então ele aceitou e eu fiquei de boca aberta. Tudo bem, tenho que admitir que esses dois são completamente pirados.

Derek, com a voz mais sedutora possível, sussurrou no ouvido das meninas à nossa frente alguma obscenidade da qual eu prefiro não saber. Deu o número do telefone para elas, prometendo que poderiam sair a hora que quisessem. Com um sorriso torto em seus lábios, ele piscou o olho esquerdo na direção delas.

Ele é lindão, porra.

– Olha só, Shin– eu a interrompi

– Me chame só de Yun, Shin é meu sobrenome.

– Que seja. – ela revirou os olhos – Nunca, eu digo nunca – avisou Merui, me puxando para perto da fila para pagar o almoço –, coma o camarão e o sanduíche de presunto daqui. Evite custe o que custar. É horrível. O curry é rasoável e as pizzas são boas. O chilli é passável e, pra falar a verdade, se você quiser experimentar o bife de–

– Sou vegetariana.

– Vegetariana, é? – Merui franziu os lábios. – Seus pais são hippies ou é apenas uma insignificante tentativa de rebelião? – ela me olhou de uma forma esquisita.

– Não... eu só não–

– Gosta de carne? – ela completou.

– Exatamente. – dei de ombros.

Ela sorriu maliciosamente, mais uma vez.

Puta merda. Melhor tomar mais cuidados com as palavras, Yun.

– Mas isso vale para todo o tipo de carne? Você não gostaria de dar uma bela mordida nele? – Merui girou meus ombros noventa graus. Ela apontou para um garoto de cabelos vermelhos, sentado sozinho em uma mesa comendo um hamburguer.

– Cale a boca. – sussurrei puta da vida – Com certeza ele ouviu – eu senti o sangue do meu rosto esquentar.

– Claro que não – ela riu – Ele está tão concentrado naquele hamburguer que não pode nem perceber o que está ao redor dele.

– Vai pro inferno. – eu disse – Vamos sentar, Derek já está na porcaria da mesa e vai devorar toda a nossa comida se não formos de uma vez. – eu falei, querendo desesperadamente fugir do olhar do garoto de cabelos vermelhos, que agora nos encarava. Ela riu, percebendo que me deixou irritada feat. envergonhada.

Sentamos na mesa, que era perto da janela, e almoçamos calmamente. Exceto Merui, que comia feito um animal o seu hamburguer. Eu riria disso, se não estivesse com a boca cheia.

Terminamos e fomos saindo do refeitório. Mas enquanto eu ia andando devagar por entre as mesas tropecei e caí em cima da bandeja de alguém. Pois é, e você aí pensando que eu sou só mais uma dessas personagenzinhas desastradas, e que o galã da história virá com mais um daqueles sorrisinhos sedutores e deu; me apaixonei. Apenas um tapa na sua cara: isso não acontece. Mas eu apenas não prestei atenção. A comida caiu toda no chão, sujando minhas calças até os joelhos, e um olhar mortal me fuzilava enquanto dizia furiosamente:

– Olha por onde anda, novata. Se olhar para essa tua cara já não tivesse me tirado a fome, iria te obrigar a me pagar outro almoço. – Então levantou a tigela do chão e esfregou contra minha cabeça, rindo feito uma criança levada.

Ambre.

Estavam todos olhando pra mim, na minha direção, na direção do meu cabelo sujo. Encarando e rindo. O garoto de cabelo vermelho parecia irritado por um motivo qualquer, mas eu preferi ignorar. Eu não podia chorar aqui, na frente dessas pessoas cruéis, então saí correndo, passando pelas portas duplas do refeitório. O ar abafado do pátio não era nada reconfortante, sufocava. Eu realmente queria encontrar minha mãe lá, seu carro no estacionamento vazio, próxima do portão. Pronta para me levar para casa e me preparar chocolate quente. Mas não, eu estava presa aqui. E a primeira coisa a fazer não poderia ser chorar feito uma garotinha. Eu preciso ir ao banheiro mais próximo me limpar.

Corri pelos corredores, procurando o local onde ficavam os banheiros em meu mapa surrado e tentando ignorar os olhares alheios. Quando abri a porta clara do banheiro feminino, uma garota de cabelos tingidos de branco - quanto descolorante, amigo - e olhos pretos saiu e se espremeu para passar:

– Opa, licença, querida. – esbarrei nela. Sua voz era doce, porém o rosto se enrugou quando notou minha aparência – Ah, Deus, você está horrível. – ela levou dois dedos aos lábios – O que aconteceu?

– Espere mais cinco minutos – respondi, com a voz mais irritada do que pretendia – Aposto que fofoca se espalha como a peste por aqui.

– Você quer minha maquiagem emprestada? – ela tirou uma necessaire da mochila – Quando você olhar–

– Obrigada, mas não precisa. – eu a cortei e entrei no banheiro.

Me olhei no espelho encardido, e estava horrível mesmo. Meu cabelo estava um caos. Minha camiseta estava toda suja. Abri a torneira, lavando o rosto e retirando alguns resíduos de comida e, finalmente, desabei. Deixei as lágrimas salgadas escorrerem livremente pelo meu rosto. Eu não podia mais pensar em causar uma boa impressão, estava exausta. Tentei limpar meu jeans o máximo possível, não fucionou muito.

A porta se abriu e eu me encolhi, pronta para mais risinhos e olhares inquietantes. Uma menina com o cabelo roxo e aparência impecavelmente fofa entrou com as mãos nas costas, se aproximando.

– Achei você – ela disse, sua voz é tão bonitinha, kyah – Vem aqui, senta. – ela arrastou uma cadeira próxima às pias. – Vamos lá, vamos deixar você limpinha. – Ela tirou da mochila xampu e condicionador. Eu ri, aliviada.

– Hm, obrigada? – Eu estava estranhando.

– Imagina. Eu vi o que aconteceu hoje no refeitório. Não é legal, sabe. Mas a Ambre vive humilhando quem chega; eu fiquei meio triste em te ver coberta de comida. – ela deu de ombros – Peguei o xampu no armário dos funcionários. – ela sorriu timidamente, estendendo a mão para mim – Prazer. Sou Violette.

– Yun.

Abaixei a cabeça na pia, e a água congelante escorreu pelo meu cabelo escuro. Passei um pouco de xampu e Violette me ajudou a lavar.

– Ah, e você provavelmente vai precisar trocar de roupa...

– Eu não tenho roupa extra.

– Não esquenta, eu te empresto uma minha.

– Ah, bem, e não tem problema? – Me forcei a perguntar, mesmo que fosse capaz de fazer qualquer coisa para me livrar daquela camiseta suja que estava usando. Ela agitou as mãos como quem não liga.

– Não, capaz. – mudou de assunto – Você tem sorte de ter cabelo curto, se não estava perdida.

– Talvez... – hesitei – Por que você é a única tão normal comigo?

– Não sei. Quem sabe eu seja a única normal aqui, afinal nem todo mundo é piranha ou playboy – ela riu – Acho que saiu tudo – ela pegou uma toalha e secou meu cabelo – Pronto. Cheirosinha. Agora deixa eu pegar algo pra você vestir. – ela torceu os lábios.

Peguei um jeans limpo e uma camiseta azul no armário de Violette e ela me levou até o vestiário. Troquei de roupa ali mesmo, e como nós duas temos mais ou menos o mesmo tamanho, a roupa caiu bem em mim. Ambas somos magras e pequenas.

Ficamos conversando ali uns minutos. Violette parecia uma garota legal, porém super tímida. Do tipo que fica sozinha nas atividades em dupla e no intervalo. Mais ou menos como eu uns meses atrás, meio isolada e de poucos amigos. Porém o meu isolamento foi proposital, afinal de contas.

O sinal tocou e nós mal percebemos que tínhamos que ir para as salas. O primeiro tempo era história, e ela caiu na mesma classe que eu. Derek também, mas notei que Merui não estava com ele. Talvez tivesse outra aula.

– Cadê a Merui? – perguntei para Derek, que arqueou as sobrancelhas.

– Foi suspensa, mas só por hoje. Ela deu uma surra na Ambre depois que você saiu correndo... – ele viu minha expressão – Não liga não, ela é sempre assim – ele olhou para a janela e, por um momento, eu pensei vê-lo sorrindo.

Me sentei na última carteira da classe, e o cara de cabelo vermelho sentou ao meu lado.


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Notas finais do capítulo

Quem será esse garoto de cabelos selvagens e rebeldes, hein? hruirhurhriuhiru xD