Me sentei nas arquibancadas do campo de Quadribol de qualquer jeito. Depois de sair das masmorras eu fui até lá por instinto, era o meu lugar especial em Hogwarts. Minha cabeça latejava e a grama verde lá em baixo me lembrava os olhos dela, mas a dor no meu peito não me deixava esquecer tudo que ela me disse. Eu não entendia o porquê de tudo aquilo. Se ela tivesse me dado um minuto eu teria explicado o que tinha acontecido, mas afinal de contas porque ele devia explicações a ela? E porque ela tinha ficado tão brava?

Suspirei e as lágrimas que eu contive desceram rapidamente. Senti uma enorme sensação de déjà vu e me lembrei do nosso primeiro baile, no quarto ano, aonde ela tinha dado seu primeiro beijo em outro garoto, me fazendo ter um ataque histérico de ciúmes. Foi naquela noite que eu notei que estava apaixonado. E foi naquela mesma noite que eu me declarei para ela pela primeira vez, e foi na mesma noite que eu recebi o meu primeiro fora. E que fora. Sorri levemente com a recordação de que aquela noite acabou do mesmo jeito que hoje, com ele sentado nas arquibancadas chorando por ela. Sorri mais ainda com a recordação de que todos foras que ele levou tinham acabado ali, ou na Sala Precisa com alguma outra garota. Sequei as lágrimas e prometi que isso não iria mais acontecer, era o meu limite.

Resolvi atender o que ela sempre quis, e jurei por Merlin que ia tentar esquece-la. Só tentar mesmo, porque eu não conseguia botar muita fé de que isso fosse acontecer algum dia, mesmo estando tão magoado. Tentar era melhor do que nada, e mesmo que eu não consiga, não me importar com o ódio dela já seria uma vitória bem-vinda.

Olhei para o céu e já era fim de tarde. Levantei num pulo e desci das arquibancadas correndo, detenção era a última coisa que eu precisava. Só entrei no castelo depois de ter certeza que não parecia abatido, mas como todos estavam apressados para o jantar acho que nem notaram que eu sumi, muito menos que eu estava indo para o lado oposto do Salão. Andei distraído até o retrato de uma fruteira e fiz cocegas na pêra. Entrei na cozinha e fiquei conversando com os elfos, não estava pronto para todas as perguntas que ia receber no Salão. Me empanturrei de comida até que todos os elfos se recolheram para dormir, e eu notei que estava mais tarde do que eu pretendia voltar. Sai da cozinha de forma sorrateira e fui até o Salão Comunal, hesitei por um momento mas decidi entrar antes que fosse pego.

Eu dei um leve suspiro e disse a senha, eu só queria minha cama, sem perguntas ou explicações, só a minha cama. Eu entrei com os olhos fechados, eu torcia para ela não estar lá, eu não sei se conseguiria encara-la agora. Os garotos vieram na minha direção e me deram cascudo, até o Pedro tinha aparecido e estava lá. Eles me perguntaram se eu estava bem, e apenas forcei um sorriso e disse que sim. As meninas vieram brigar comigo, fui até ameaçado de morte pela Lene. Depois de todas as broncas dadas ela se levantou e parou na minha frente querendo dizer algo, eu não tinha forças para encara-la nos olhos por isso somente a contornei e me joguei no sofá mais próximo. Ela me olhou com uma careta e logo depois começou a falar.

— Você é louco, James? São tempos perigosos, quer matar todos do coração... – Ela começou a falar brava e quando eu ouvi meu nome ser pronunciado toda a tristeza virou raiva. Agora eu tinha voltado a ser James? Ela estava achando que poderia ser mandona e agir como se nada tivesse acontecido?

—James é só para os amigos, para você é Potter.  Eu não pedi a sua preocupação, então vai enfiar ela aonde você bem entender. – Eu disse o mais friamente que consegui e já me preparava para ir na direção do dormitório masculino quando ela me segurou. Me recusei a olhar para ela.

— O que foi isso? – Seu tom de voz me fez fraquejar por um segundo, mas eu tinha que ser forte, foi ela quem começou essa palhaçada.

— Porque, Evans, eu cansei de ser idiota, cansei de levar patada, cansei de levar não e cansei de levar tapa na cara. Só estou atendendo a um pedido seu. Você sempre pediu para mim te esquecer, e é isso que eu vou fazer, esquecer o que eu sinto por você. Então me solta que eu quero ir dormir. – Ela me soltou rapidamente e eu fraquejei de novo, mesmo depois de tudo eu ainda não queria ser rude com ela. Senti todos me olhando e decidi ir antes que as coisas piorassem. Subi e entrei no meu quarto, me joguei na minha cama e fiquei olhando o teto, até os outros entrarem.

— Uma palavra. QUE? – Sirius quase se jogou em cima de mim, mas eu me limitei a um sorriso de canto.

— Pode ser amanhã ? - Foi a única coisa que eu disse enquanto me levantava para pegar um pijama e uma toalha.

— Mas... - Dessa vez quem ia falar era o Remo, mas o moreno deu uma “leve” cotovelada nele e Pedro só me olhou penosamente.

— Amanhã. – Sirius concordou e eu entrei no banheiro.

Era disso que eu precisava, um banho quente e minha cama. A água quente relaxou meus músculos, mas o cansaço era mental. Essa situação já estava ficando ridícula. Quando terminei o banho e sai do banheiro, os garotos já estavam deitados, mas o Almofadinhas estava sentado na cama dele, que é do lado da minha.

— A briga das comadres foi tão ruim assim? – Sua voz saiu baixa e arrastada para não chamar a atenção dos outros e eu me remexi desconfortável.

— Você não tem ideia, parceiro. Dessa vez eu acho que desisti mesmo. – Dei uma risada fraca e afundei no travesseiro. Ele me olhou descrente, mas não discutiu.

— Só não chora, maricas. Se não serei obrigado a espalhar isso por aí – Ele deitou sorrindo e eu retribui, finalmente ficando sozinho com meus pensamentos.