Black Roses escrita por Cumbercookie


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Narrado por... Sei lá, um pônei?



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Para Lyze, os últimos quatro anos de sua vida seriam resumidos em poucos picos de alegria e várias depressões de decepções, uma atrás da outra. Seus dias eram longe de casa, sabe-se lá onde estaria. No entanto, mesmo que ele estivesse longe, a pequena casa continuava viva. Afinal, duas crianças dividindo o mesmo teto... Bom, digamos que às vezes a situação complica.

Mesmo com a diferença de quatro anos, dir-se-ia que os dois irmãos se davam bem, na medida do possível. Elliot, o mais velho e com 8 anos, como toda criança, gosta de ser líder – e por ser asmodiano, esse prazer de liderança é dez vezes maior que o dos humanos normais. Dio, por outro lado, estava mais entretido em imitar seu felino favorito do que perder seu tempo com coisas fúteis. De fato, o pequeno amava gatos domésticos. Uma vez trouxera um gato moribundo para casa, mas sua tia obrigou que ele o largasse onde achou. Não é preciso dizer como ambos – Dio e o gato; é claro – ficaram arrasados.

Nesse dia fatídico, Dio resolveu que brincaria de esconde-esconde com seu irmão. Elliot não tinha paciência para aturar as brincadeiras que ele considerava infantis demais e pensou em algo para animar a brincadeira. Iria dar um prêmio para Dio que ele jamais esqueceria. Alguém imaginaria que seria um ótimo prêmio, mas durante anos, Dio considerou que era uma maldição. E para Elliot, o prêmio deveria por um fim aos tormentos que seu irmão mais novo causava.

- Tudo bem, podemos brincar de esconde-esconde. Mas com uma condição.

- Qual? Qual? Qualquer coisa! Quero me esconder logo. Você nunca vai me achar!

- Quem disse que você irá se esconder? Eu me escondo dessa vez. E se você me achar eu te dou um prêmio.

Os olhos de Dio brilharam. Ele adorava prêmios, mesmo que fossem pedaços de lixo – para ele eram todos tesouros. Elliot sorriu. “Sou um gênio,” pensou. Lembrou-se da sala e de um baú que pertencia a seu pai. Inúmeras vezes ele dissera que eram proibidos de fuçar nos conteúdos da caixa, mas Elliot já sabia o que o baú continha. “Medalhas” de inimigos que o pai derrotara em suas gloriosas batalhas.

Enquanto o pequeno Dio contava até vinte – o que fizera questão, pois acabara de aprender como se contava até a segunda dezena – Elliot correu para a sala. Ele não tinha interesse em se esconder. Queria que o irmão ganhasse o prêmio. Dio terminou a contagem e gritou que estava pronto para procurar pelo irmão. Correu pelo quintal e percebeu que Elliot nunca passara por ali. Então correu diretamente para o quarto. Como não o achou lá, tinha certeza que estaria na sala. Era seu lugar preferido, não era? E foi lá que o achou, sentado no sofá, com pernas cruzadas e encarando o teto. Elliot bocejou e olhou para o lado, percebendo o irmão.

- Oh, você me achou.  – Elliot pulou do sofá e caminhou até seu irmão.

- Mas você nã-

- Muito esperto! Merece mesmo o prêmio.

Dio tentou protestar, mas Elliot puxou o baú de seu local acima da lareira. Estava satisfeito consigo mesmo por ser alto o suficiente para puxá-lo de lá, mesmo que tivesses que ser pela base da caixa. Abriu o baú sem dificuldade – decorara a senha desde a primeira vez que seu pai abrira a caixa. E puxou o que parecia ser uma garra. Não sabia direito o que era, mas sabia que era perigoso o suficiente para matar o mais poderoso dos guerreiros.

- Você gosta de brincar de ser um gato, não é? Isso aqui vai te ajudar.

- Papai disse que nã-

- Tudo bem. Se você não quer ser um gato com garras afiadíssimas não tem problema.

- Eu quero!

- Então só colocar. Você vai ver que até sua tia vai morrer de medo.

Dio gostaria de assustar a tia. Ele não gostava dela e adoraria retribuir certas coisas. Sem pensar duas vezes pegou a garra e deu uma boa olhada nela. Ela era realmente afiada. Respirou fundo e colocou em sua mão esquerda. Elliot começou a gargalhar e Dio não entendeu o motivo. Quando tentou perguntar, sentiu sua cabeça formigar e sua visão começou a duplicar-se.

- Você realmente é uma piada! Sabe, eu achei que seria mais difícil, mas você caiu direitinho... Adeus irmãozinho. Que tenham piedade de seu sangue impuro.

Dio abriu a boca para falar algo, mas nenhum som saiu. Sua visão escureceu e sentiu que não tinha mais controle sobre seu corpo. Caiu no chão e apagou. Elliot riu até perceber que teria que inventar uma boa história para explicar a situação. “Não será um problema. Ele é tão idiota que vão acreditar em qualquer besteira que eu inventar,” pensou. Sim. Seu plano havia sucedido.

--

Dio não sabia o que acontecera ou quanto tempo havia se passado, mas acordou com a voz do pai.  Sua cabeça doía e sentia seu braço queimar. Tentou levantar, mas não conseguiu. Então escutou, já que era o que podia fazer em seu estado.

- E você não fez nada? – Dio sentiu uma enorme angústia no tom de voz de seu pai.

- Eu-

- Estou decepcionado Elliot. Achei que você tinha me dito que tinha responsabilidade o suficiente para cuidar de seu irmão.

- Eu tentei! Por mais que eu avisasse, ele continuou teimando e... Eu juro! – Dio ouviu o que parecia ser um choro. E então sua mente estalou. “Elliot!”

Dio juntou todas as forças que tinha e tentou sustentar o corpo. Conseguiu levantar e sentar na cama, mas sua cabeça parecia que iria explodir. Nisso abriu os olhos. A luz o cegou e teve que piscar várias vezes para conseguir enxergar seu quarto. Ouviu o pai parar no meio de uma frase e caminhar até ele. Dio tentou falar, mas o pai o impediu.

- Guarde suas energias. Você não precisa falar agora. Seu corpo está se recuperando de um choque. Não gaste o que tem em palavras, apenas descanse.

Quando Dio tentou falar outra vez, ouviu que sua tia chamara Lyze. Viu o pai suspirar e sair pela porta. Elliot esperou que saísse de vista e entrou no quarto.

- Você pode ter sobrevivido, mas não tem provas contra mim. Você está ferrado. Nem tente falar algo, colocar a culpa nos outros é uma coisa feia, sabia? Ninguém vai acreditar em você. Pobre anjinho... Teve as asas cortadas. Uma pomba que acaba de ser presa numa gaiola. E seu braço... Ele vai te matar mais cedo ou mais tarde. Uma morte lenta e dolorosa lhe aguarda.

Elliot sorriu e saiu do quarto. Dio piscou algumas vezes e olhou em seu braço. A garra de antes parecia ter... Se fundido, de alguma maneira, com seu braço que agora estava com um tom azulado. Passou uma das pontas da garra pelo outro braço. O corte não havia sido profundo, mas se aplicado num local frágil – como por exemplo uma artéria – poderia matar um indivíduo. E o sangue escorreu para a cama. Suspirou. Mais uma bronca aguardava-o.

--

Lyze fora novamente até Oz, que é claro, reclamou da surpresa. Por mais que Lyze falasse, Oz fingia escutar e concordar enquanto lia um livro sobre armas demoníacas. Então Oz ouviu algo e paralisou-se.

- O que foi... O que foi que você disse mesmo?

- Você não estava prestando atenção? Estou falando daquela garra que roubei de um dos monstros que habitavam o cânion na época em que meu pai morreu.

- Sim, e o que tem?

- Não sei o que aconteceu, mas Dio colocou a garra.

Oz suspirou e fechou os olhos.

- Sinto muito.

- Não há porquê. Dio sobreviveu.

Oz então sentiu o velho coração estremecer. Como?

- Como assim? Aquela garra mataria o mais puro sangue existente em Elyos! E ele além de receber misturas de sangues puros e impuros...

- Não me pergunte. Ele sobreviveu. Desmaiou durante horas, teve febre, mas sobreviveu. Também fiquei surpreso. Vi quando um de meus companheiros fora destruído pelo poder de outra das garras.

- Talvez... É possível que exista uma explicação.

Oz retirou um velho livro de uma pilha perto da estante – que iria reorganizar assim que terminasse a pesquisa – e folheou.

- Talvez a garra tenha aceitado o garoto. Dizem que armas com tendência a terem consciência podem selecionar certos seres para as manipularem, dependendo de seu potencial. Aquelas garras fazem exatamente isso. Mesmo um sangue puríssimo, guerreiro, poderia não ter o requerimento para manipulá-la. Não é possível descobrir quais são as exigências da arma, então...

- Então?

- Aquelas garras escolhem seu manipulador por potencial por motivos. Um, querem alguém ao alcance para que desencadeiem o máximo potencial delas. Dois, usam o seu manipulador para seu objetivo máximo, seja ele qual for. Três, elas precisam de energia o suficiente para seu potencial máximo, para o manipulador e para mais um requerimento: essas armas, por serem primitivas, precisam ser alimentadas. No caso, o alimento é o poder de certo indivíduo.

- Resumindo, o manipulador deve ter imenso potencial ou será consumido imediatamente pela arma.

- Exatamente. Mas quando aceitas, essas armas irão sugar toda a energia que puderem. Isso pode não ser boa coisa. É um sacrifício que o manipulador deve fazer.

- Sacrifício?

- Essas armas trazem uma morte lenta e dolorosa. Pode durar anos, mas elas irão sugar a energia de se manipulador, deixando-o incapaz de concluir tarefas vitais para seu corpo. Aos poucos seus órgãos irão morrer e então seu coração irá parar de bater. Mas, como eu disse isso pode levar anos, séculos. Há relatos das criaturas que usavam essas garras que viveram mais que o tempo de existência dos humanos. Eu não me preocuparia com a saúde do garoto, mas sim com seu treinamento.

- Eu não posso. Prometi que treinaria apenas Elliot, já que ele é o verdadeiro herdeiro tanto do trono, caso volte a existir, quanto da liderança do clã. Talvez eu possa inscrever Dio na Elite de Ifrit, quando ele tiver a idade.

- Se é isso que realmente quer. Não acho que seja uma boa ideia deixar para Elliot os títulos. Já te disse, mas você parece não escutar.

- Não sou do tipo que quebra promessas, Oz. Você me conhece. Não sei por que insiste tanto nisso.

Oz suspirou e voltou a ler seus livros. Não sabe por quanto tempo Lyze ficou por lá, pois quando voltou a prestar atenção no ambiente ao seu redor, Lyze já havia saído. “Um futuro negro estende-se a sua frente, Lyze. Espero que saiba o que está fazendo.”


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