Black Roses escrita por Cumbercookie
Notas iniciais do capítulo
Narrado por... Sei lá, um pônei?
Para Lyze, os últimos quatro anos de sua vida seriam resumidos em poucos picos de alegria e várias depressões de decepções, uma atrás da outra. Seus dias eram longe de casa, sabe-se lá onde estaria. No entanto, mesmo que ele estivesse longe, a pequena casa continuava viva. Afinal, duas crianças dividindo o mesmo teto... Bom, digamos que às vezes a situação complica.
Mesmo com a diferença de quatro anos, dir-se-ia que os dois irmãos se davam bem, na medida do possível. Elliot, o mais velho e com 8 anos, como toda criança, gosta de ser líder – e por ser asmodiano, esse prazer de liderança é dez vezes maior que o dos humanos normais. Dio, por outro lado, estava mais entretido em imitar seu felino favorito do que perder seu tempo com coisas fúteis. De fato, o pequeno amava gatos domésticos. Uma vez trouxera um gato moribundo para casa, mas sua tia obrigou que ele o largasse onde achou. Não é preciso dizer como ambos – Dio e o gato; é claro – ficaram arrasados.
Nesse dia fatídico, Dio resolveu que brincaria de esconde-esconde com seu irmão. Elliot não tinha paciência para aturar as brincadeiras que ele considerava infantis demais e pensou em algo para animar a brincadeira. Iria dar um prêmio para Dio que ele jamais esqueceria. Alguém imaginaria que seria um ótimo prêmio, mas durante anos, Dio considerou que era uma maldição. E para Elliot, o prêmio deveria por um fim aos tormentos que seu irmão mais novo causava.
- Tudo bem, podemos brincar de esconde-esconde. Mas com uma condição.
- Qual? Qual? Qualquer coisa! Quero me esconder logo. Você nunca vai me achar!
- Quem disse que você irá se esconder? Eu me escondo dessa vez. E se você me achar eu te dou um prêmio.
Os olhos de Dio brilharam. Ele adorava prêmios, mesmo que fossem pedaços de lixo – para ele eram todos tesouros. Elliot sorriu. “Sou um gênio,” pensou. Lembrou-se da sala e de um baú que pertencia a seu pai. Inúmeras vezes ele dissera que eram proibidos de fuçar nos conteúdos da caixa, mas Elliot já sabia o que o baú continha. “Medalhas” de inimigos que o pai derrotara em suas gloriosas batalhas.
Enquanto o pequeno Dio contava até vinte – o que fizera questão, pois acabara de aprender como se contava até a segunda dezena – Elliot correu para a sala. Ele não tinha interesse em se esconder. Queria que o irmão ganhasse o prêmio. Dio terminou a contagem e gritou que estava pronto para procurar pelo irmão. Correu pelo quintal e percebeu que Elliot nunca passara por ali. Então correu diretamente para o quarto. Como não o achou lá, tinha certeza que estaria na sala. Era seu lugar preferido, não era? E foi lá que o achou, sentado no sofá, com pernas cruzadas e encarando o teto. Elliot bocejou e olhou para o lado, percebendo o irmão.
- Oh, você me achou. – Elliot pulou do sofá e caminhou até seu irmão.
- Mas você nã-
- Muito esperto! Merece mesmo o prêmio.
Dio tentou protestar, mas Elliot puxou o baú de seu local acima da lareira. Estava satisfeito consigo mesmo por ser alto o suficiente para puxá-lo de lá, mesmo que tivesses que ser pela base da caixa. Abriu o baú sem dificuldade – decorara a senha desde a primeira vez que seu pai abrira a caixa. E puxou o que parecia ser uma garra. Não sabia direito o que era, mas sabia que era perigoso o suficiente para matar o mais poderoso dos guerreiros.
- Você gosta de brincar de ser um gato, não é? Isso aqui vai te ajudar.
- Papai disse que nã-
- Tudo bem. Se você não quer ser um gato com garras afiadíssimas não tem problema.
- Eu quero!
- Então só colocar. Você vai ver que até sua tia vai morrer de medo.
Dio gostaria de assustar a tia. Ele não gostava dela e adoraria retribuir certas coisas. Sem pensar duas vezes pegou a garra e deu uma boa olhada nela. Ela era realmente afiada. Respirou fundo e colocou em sua mão esquerda. Elliot começou a gargalhar e Dio não entendeu o motivo. Quando tentou perguntar, sentiu sua cabeça formigar e sua visão começou a duplicar-se.
- Você realmente é uma piada! Sabe, eu achei que seria mais difícil, mas você caiu direitinho... Adeus irmãozinho. Que tenham piedade de seu sangue impuro.
Dio abriu a boca para falar algo, mas nenhum som saiu. Sua visão escureceu e sentiu que não tinha mais controle sobre seu corpo. Caiu no chão e apagou. Elliot riu até perceber que teria que inventar uma boa história para explicar a situação. “Não será um problema. Ele é tão idiota que vão acreditar em qualquer besteira que eu inventar,” pensou. Sim. Seu plano havia sucedido.
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Dio não sabia o que acontecera ou quanto tempo havia se passado, mas acordou com a voz do pai. Sua cabeça doía e sentia seu braço queimar. Tentou levantar, mas não conseguiu. Então escutou, já que era o que podia fazer em seu estado.
- E você não fez nada? – Dio sentiu uma enorme angústia no tom de voz de seu pai.
- Eu-
- Estou decepcionado Elliot. Achei que você tinha me dito que tinha responsabilidade o suficiente para cuidar de seu irmão.
- Eu tentei! Por mais que eu avisasse, ele continuou teimando e... Eu juro! – Dio ouviu o que parecia ser um choro. E então sua mente estalou. “Elliot!”
Dio juntou todas as forças que tinha e tentou sustentar o corpo. Conseguiu levantar e sentar na cama, mas sua cabeça parecia que iria explodir. Nisso abriu os olhos. A luz o cegou e teve que piscar várias vezes para conseguir enxergar seu quarto. Ouviu o pai parar no meio de uma frase e caminhar até ele. Dio tentou falar, mas o pai o impediu.
- Guarde suas energias. Você não precisa falar agora. Seu corpo está se recuperando de um choque. Não gaste o que tem em palavras, apenas descanse.
Quando Dio tentou falar outra vez, ouviu que sua tia chamara Lyze. Viu o pai suspirar e sair pela porta. Elliot esperou que saísse de vista e entrou no quarto.
- Você pode ter sobrevivido, mas não tem provas contra mim. Você está ferrado. Nem tente falar algo, colocar a culpa nos outros é uma coisa feia, sabia? Ninguém vai acreditar em você. Pobre anjinho... Teve as asas cortadas. Uma pomba que acaba de ser presa numa gaiola. E seu braço... Ele vai te matar mais cedo ou mais tarde. Uma morte lenta e dolorosa lhe aguarda.
Elliot sorriu e saiu do quarto. Dio piscou algumas vezes e olhou em seu braço. A garra de antes parecia ter... Se fundido, de alguma maneira, com seu braço que agora estava com um tom azulado. Passou uma das pontas da garra pelo outro braço. O corte não havia sido profundo, mas se aplicado num local frágil – como por exemplo uma artéria – poderia matar um indivíduo. E o sangue escorreu para a cama. Suspirou. Mais uma bronca aguardava-o.
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Lyze fora novamente até Oz, que é claro, reclamou da surpresa. Por mais que Lyze falasse, Oz fingia escutar e concordar enquanto lia um livro sobre armas demoníacas. Então Oz ouviu algo e paralisou-se.
- O que foi... O que foi que você disse mesmo?
- Você não estava prestando atenção? Estou falando daquela garra que roubei de um dos monstros que habitavam o cânion na época em que meu pai morreu.
- Sim, e o que tem?
- Não sei o que aconteceu, mas Dio colocou a garra.
Oz suspirou e fechou os olhos.
- Sinto muito.
- Não há porquê. Dio sobreviveu.
Oz então sentiu o velho coração estremecer. Como?
- Como assim? Aquela garra mataria o mais puro sangue existente em Elyos! E ele além de receber misturas de sangues puros e impuros...
- Não me pergunte. Ele sobreviveu. Desmaiou durante horas, teve febre, mas sobreviveu. Também fiquei surpreso. Vi quando um de meus companheiros fora destruído pelo poder de outra das garras.
- Talvez... É possível que exista uma explicação.
Oz retirou um velho livro de uma pilha perto da estante – que iria reorganizar assim que terminasse a pesquisa – e folheou.
- Talvez a garra tenha aceitado o garoto. Dizem que armas com tendência a terem consciência podem selecionar certos seres para as manipularem, dependendo de seu potencial. Aquelas garras fazem exatamente isso. Mesmo um sangue puríssimo, guerreiro, poderia não ter o requerimento para manipulá-la. Não é possível descobrir quais são as exigências da arma, então...
- Então?
- Aquelas garras escolhem seu manipulador por potencial por motivos. Um, querem alguém ao alcance para que desencadeiem o máximo potencial delas. Dois, usam o seu manipulador para seu objetivo máximo, seja ele qual for. Três, elas precisam de energia o suficiente para seu potencial máximo, para o manipulador e para mais um requerimento: essas armas, por serem primitivas, precisam ser alimentadas. No caso, o alimento é o poder de certo indivíduo.
- Resumindo, o manipulador deve ter imenso potencial ou será consumido imediatamente pela arma.
- Exatamente. Mas quando aceitas, essas armas irão sugar toda a energia que puderem. Isso pode não ser boa coisa. É um sacrifício que o manipulador deve fazer.
- Sacrifício?
- Essas armas trazem uma morte lenta e dolorosa. Pode durar anos, mas elas irão sugar a energia de se manipulador, deixando-o incapaz de concluir tarefas vitais para seu corpo. Aos poucos seus órgãos irão morrer e então seu coração irá parar de bater. Mas, como eu disse isso pode levar anos, séculos. Há relatos das criaturas que usavam essas garras que viveram mais que o tempo de existência dos humanos. Eu não me preocuparia com a saúde do garoto, mas sim com seu treinamento.
- Eu não posso. Prometi que treinaria apenas Elliot, já que ele é o verdadeiro herdeiro tanto do trono, caso volte a existir, quanto da liderança do clã. Talvez eu possa inscrever Dio na Elite de Ifrit, quando ele tiver a idade.
- Se é isso que realmente quer. Não acho que seja uma boa ideia deixar para Elliot os títulos. Já te disse, mas você parece não escutar.
- Não sou do tipo que quebra promessas, Oz. Você me conhece. Não sei por que insiste tanto nisso.
Oz suspirou e voltou a ler seus livros. Não sabe por quanto tempo Lyze ficou por lá, pois quando voltou a prestar atenção no ambiente ao seu redor, Lyze já havia saído. “Um futuro negro estende-se a sua frente, Lyze. Espero que saiba o que está fazendo.”
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