Faltava semana e meia para o meu casamento e para hoje marcara um compromisso com meu papai para encontrar o anel da minha vovó que estava algures pelo parque da cidade.

Tudo acontecera há muito tempo quando tinha apenas cinco anos. Papai me levara ao parque e eu acabara por escavar um buraco perto de uma rocha grande lá existente enquanto o meu pai quase corria para a limusine para fugir da imprensa. Eu enterrara o anel da minha avó para ser a minha coisa velha do casamento. E hoje pretendia a encontrar.

O cheiro das plantas do parque invadiu os meus pulmões e a minha mão acariciou o meu ventre  ainda muito pouco saliente embora já tenha cinco meses.

O celular do papai tocou e ele se apressou a responder:

- Sim T-Dog? -perguntou.

- T-Dog? - lhe perguntei confusa.

- Sim. É o Thomas - explicou e continuou a falar com Thomas - Sim claro que posso ir agora jogar Paintball consigo! - respondeu e após se despedirem desligou - Não vais precisar de mim certo? - perguntou.

- Não - respondi esforçando um sorriso - Vai lá ter com o Thomas.

- T-Dog - emendou e se foi embora.

Evitei as lágrimas e comecei a procurar mas, mesmo tendo passado quase duas horas, não tinha conseguido encontrar o anel. O meu coração batia descompassadamente e decidi ligar para Thomas.

- Estou? - disse a voz do outro lado.

- Thomas, eu estava aqui no meio de um problema - murmurei e ouvia do outro lado o barulho das armas de paintball.

- Me diga: é importante? É que eu estou aqui num espécie de problema - disse e gritou para alguém de lá - Morre Patrick!

- Não. Não é nada. São só coisas minhas.

- Então ok. Tchau te amo - murmurou e desligou.

Disquei o número de Matt e ele logo atendeu:

- Alô?

- Matt estou no parque da cidade e meio que estou com um problema. Na verdade é uma longa história.

- Me diga: é importante? É que eu vou ter agora uma entrevista de emprego de Verão importante.

- Não. Não é nada. São só coisas minhas - repondi mal contendo as lágrimas - Adeus - disse e desliguei.

Voltei a cavar pelo parque e as minhas mãos já me começavam a doer quando vi Matt.

- Você veio! - exclamei me levantando.

- Claro que vim. Você disse "Não é nada. São só coisas minhas" o que Eleanorês significa é importante. Toda a gente sabe isso.

- Pelos vistos não é toda a gente. Telefonei a Thomas e ele me despachou - disse me sentando numa rocha e deixando algumas lágrimas rolar pela minha face.

- Isso não é justo. Se tivesse dito a Thomas que era importante ele estaria aqui num bater de coração - defendeu.

- Mas você não sabe. E no entanto está aqui sem saber para quê - murmurei choramingando.

- Estou a ver que tem algo haver com cavar - murmurou e após lhe explicar procurámos juntos.

Por fim encontrei a caixa e suspirei de alívio.

- Mas afinal o que é que esse anel tem de tão especial? - perguntou.

- Ok vou te contar uma coisa que nunca contaria se já não tivesse encontrado o anel. Esse anel é a minha coisa velha. Quando não o encontrei foi como se todas as minhas dúvidas em relação a Thomas se tivessem multiplicado. Mas agora eu o encontrei e vai ficar tudo bem! - exclamei me rindo escandalosamente. Abri a caixa e comentei estupefacta - Ele não está aqui... - voltei  a procurar  no buraco mas ele não estava lá.

- Espera - tentou ajudar.

- O Universo não quer que eu e Thomas estejamos juntos! - gritei.

- Tenha calma. Vocês são feitos um para o outro - consolou mas, como se tudo estivesse contra mim, começou a chover torrencialmente.

- Estás a ver, Matt? O Universo está praticamente a gritar comigo!

- Tal como a ciência nos ensinou: a chuva é água líquida condensada do vapor atmosférico, que cai em gotas.

- É um sinal e você sabe. Você é que costuma acreditar nisso, Matt! - guinchei.

- E olha no que isso me levou: não tenho namorada, nem planos para o futuro. Talvez não necessitamos de dar sentido a tudo. Talvez não precisamos que o Universo nos diga o que queremos.Talvez nós já o sabemos, lá no fundo. Agora venha - disse me ajudando levantar - Tenho de levar você a casa antes que apanhe uma resfriação.