The Orphan escrita por BiancaCh


Capítulo 3
"Silent Screams – Gritos Silenciosos"




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Capítulo 03: "Silent Screams – Gritos Silenciosos"

Música

Eu não aguentava mais a demora da Senhorita Brito. Uma mudança repentina no clima fez que seus – no momento, 20 minutos de atraso parecessem 2 horas de atraso. A maioria das nuvens que cobriam o Sol saíram de seu antigo lugar no céu, e agora o clima que estava ameno ficou muito quente e até meio insuportável. É difícil lidar com as mudanças que podem acontecer no clima brasileiro, não é mesmo? Algumas meninas que estavam na fila se abanavam, enquanto outras resmungavam. Não era isso que eu esperava do nosso passeio... Mas, ainda estava cedo demais para começar a reclamar. De repente, percebi uma pequena movimentação em nossa fila. Achei que poderia ser a Senhorita Brito que havia voltado, mas na realidade era só a Anna vindo falar comigo. Não sei se era proibido sair de seu lugar na fila, mas a única pessoa que deveria "estar de olho" em nós era o motorista, porém ele também parecia entediado.

– Sophie, eu vou no banheiro. Me espere durante 10 minutos, caso eu demore venha atrás de mim. Eu estarei naquele banheiro atrás daquele quiosque. – sussurou para mim, Anna. Apontando levemente para um pequeno quiosque próximo de um amontoado de grandes e altas palmeiras. Pensei que Anna tivesse ficado louca... Lembrava-me perfeitamente do que a Senhorita Brito havia nos dito no ônibus, antes que descobrirmos onde seria nosso passeio: "Qualquer menina que for a qualquer lugar quando chegarmos ao nosso destino, sem a minha autorização, será punida sendo levada ao orfanato e auxiliando na limpeza". Anna é santa demais, – se pudermos dizer assim, para levar qualquer tipo de punição da Senhorita Brito. Até as punições mais leves.

– Anna, você não pode sair daqui. Não se lembra do que a Senhorita Brito nos disse no ônibus? – perguntei, um pouco receosa com o que Anna faria. Ás vezes eu realmente tinha vontade de quebras as regras, porém ainda tinha esperança de ser adotada por alguma família que tivesse pena de mim. Viver sem liberdade é igual a ser um passáro com asas para voar, mas estar trancado dentro de uma gaiola. Quem sabe Anna precisava mesmo usar algum banheiro...

– Eu lembro, Sophie. – ela disse, com um leve tom de sarcasmo. – Não se preocupe, parece que a Senhorita Brito até esqueceu de nós e também não demorarei. Qualquer coisa, você me procura! – terminou, saindo rapidamente da fila. E logo desaparecendo entre as palmeiras que encobriam o local onde estava o quiosque. Me perguntava qual seria a reação da Senhorita Brito, caso soubesse que a Anna "desapareceu". Era óbvias as consequências, mas a Senhorita Brito não estava acostumada em receber notícias ruins sobre a Anna. Parecia que de todas nós a Anna era a garota que a Senhorita Brito tinha certeza que seria adotada logo. O que fazia com que Anna fosse invejada pelas outras internas. Só que Anna já fora entrevistada por vários casais que haviam se encantado com seu jeito recatado e calmo, mas nenhum deles pareceu se encantar tanto com ela ao ponto de adotá-la. Acho que isso sempre causou uma pequena frustração na Anna, porque ela não entendia.

[...]

Já haviam se passado 30 minutos e nem Anna e Senhorita Brito voltaram. Estava preocupada com ambas. Então, decidi que sairia sem que ninguém me notasse para procurar a Anna. Seu atraso de 20 minutos poderia significar que foi encontrada pelo Senhorita Brito, desmaiou no banheiro ou alguém a sequestrou. Afinal, nós éramos completamente vulneráveis sendo órfãs que quase nunca tínhamos a chance de sair para ver a luz do dia. Só saíamos quando iamos ao colégio... Sim, frequentávamos o colégio. Era algo como uma inclusão, porque aos olhos de todos nós éramos diferentes. Porém, nós tachar de diferentes nos fazia se sentir ainda mais diferentes do que já nos sentiamos por não ter mais uma família. Com passos ligeiros e encarando o motorista a cada 2 segundos, sai da fila atrás de Anna. Eu daria uma "linda" bronca nela, caso a encontrasse viva e consciente. Depois de passar pelas palmeiras, entrei na porta do banheiro feminino que era sinalizado por uma placa com letras rosas e grossas.

– Anna... Anna... – chamei-a com cautela, porém não obtive respostas. – Pelo amor de Deus, Anna. Me responda. – implorei, caminhando pelas cabines. – Daqui à pouco a Senhorita Brito chega e você ainda não voltou para a fila! – exclamei, já desesperada. Estava com medo de que minhas premonições de que algo havia acontecido com ela se tornaram verdadeiras. De repente, ouvi um som estrondoso atrás de mim. Virei-me para observar o que acontecera e percebi que a porta do banheiro havia sido fechada. Mas, quem a fecharia? Estranhei e comecei a tentar abrir a porta, rodando a maçaneta. Porém, não obtive sucesso. Comecei a gritar nervosa:

– ABRAM, POR FAVOR. ESTOU PRESA AQUI DENTRO! POR FAVOR, ME SOLTEM. ALGUÉM, ABRA ESTA PORTA! – dando socos e chutes na porta, numa tentativa falha de abri-la e fazer algum barulho para me ouvirem. Mas, parecia que eu estava em um local onde ninguém poderia me ouvir. Comecei a ficar com medo da possibilidade de ficar trancada ali por muito tempo e comecei a chorar. Eu sei que isso é bobo, mas eu só queria sair dali. Eu estava com medo... Depois de alguns 5 minutos, eu já havia chorado tanto que meus olhos já estavam super inchados e vermelhos. Eu parecia uma garota de 15 anos, oriental. Lembrei-me de uma música que mamãe cantava para mim: "Chova a chuva lá fora, pequenas gotinhas em seus olhos. Minha garotinha, não tenha medo de se molhar. Haja o que houver, eu sempre estarei lá." Mamãe, sentia tanta falta sua. Ela me deixou tão cedo... Queria ter tido a oportunidade de ver sua pele ficar com rugas, de meus futuros filhos de lhe chamarem de vovó.

Após muito tempo – não sei precisamente, eu estava meio sonolenta e com a garganta doendo de tanto gritar pedindo por ajuda. Parecia que não havia ninguém que pudesse me ouvir naquela praia! Sentei-me no chão no chão do banheiro, que era feito de ladrilho e encostei minha cabeça na parede, suspirando logo em seguida. Acreditava que depois de certo tempo, alguém viria e arrombaria a porta do banheiro. E logicamente, me "salvaria" de continuar presa ali.

[...]

De repente, ouvi um som como se a fosse houvesse sido aberta. Levantei do local onde tinha cochilado e fui verificar se alguém entrara no banheiro. Ouvi passos que pareciam de um salto alto... Finalmente, alguém havia entrado no banheiro e eu poderia sair, só que quando fui tentar abrir a porta consegui. Limpei minha garganta e segui mais a frente do banheiro, para falar com a tal pessoa que me "salvara".

– Ei, por favor. Será que você poderia me ajudar a abrir a porta? – perguntei, em frente da única cabine que estava fechada no momento e que eu deduzira que era onde a pessoa estava. – Estou presa aqui há muito tempo! Já estava cansada de gritar e bater naquela porta... – contei, para a pessoa. Eu estava tão aflita que era capaz até de conversar com um estranho. Ouvi um som esquisito dentro da cabine e depois um chiado. Ouvi um sussurado "Sim" e depois a porta foi aberta. Eu dei de cara com alguém que eu não sonhava em ver naquele momento...


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