Amassei o bilhete em minhas mãos com força, querendo que fosse a cara de Bellatriz.

–Certo. Eu...- Me enrolei com as palavras. O que eu deveria falar? Palavras de consolo soariam falsas. E além do que, eu estava com tanta raiva que não conseguiria pronunciar uma frase longa sem gritar ou começar a chorar. - Eu preciso ir.

Me voltei em direção à porta, encontrando os olhares dos presentes. Estreitei os olhos pra eles, desafiando-os a dizer alguma coisa. Aquela indiscrição da parte deles estava me deixando mais irritada ainda.

– Saiam da frente.

Eles abriram o caminho imediatamente, me olhando assustados enquanto eu pisava nas tábuas frias de madeira, me lembrando que eu ainda estava descalça.

Lancei um olhar para Neville. Ele e Luna, ao seu lado, eram os únicos que não me olhavam.

Oh, certo. Hermione, seus amigos estão com medo e com raiva de você. O bebê da sua melhor amiga foi sequestrado por uma lunática que te persegue, e agora ela te odeia. E isso está acontecendo no natal. Bacana.

Enquanto eu descia as escadas, o nome de Draco me veio à mente.

Oh, não. Ele seria a primeira pessoa que Gina acusaria de ter deixado Bellatriz entrar.

Droga, droga, droga. Por favor, Gina, continue chorando no quarto por alguns minutos, pelo menos até eu ter tempo de organizar as coisas em minha cabeça.

Estava no último degrau da escada, então ouvi um barulho à minha frente. A porta que dava pra rua tinha acabado de se fechar, mas eu tive tempo de ver uma cabeleira ruiva saindo.

Será que...?

Disparei a correr em direção à janela.

Era ele.

Louis.

Abri a porta com violência, fazendo-a bater na parede, e corri para o jardim, mas ele já não estava mais lá.

–LOUIS!- Chamei, inutilmente. Ele tinha aparatado. Mas o que ele estava fazendo lá?

Hum... Várias possibilidades se formaram em minha cabeça, até que eu vi o bilhete caído na neve. Céus, porque as pessoas não param de deixar bilhetes pra mim?!

Agarrei ele, com intenção de amassá-lo, mas vi algumas letras do que continha, e minha curiosidade o fez abrí-lo para conseguir ler o resto.

"Desculpa, Hermione."

Então tinha sido ele. Seja lá quem for essa criança, ela esteve atrás de mim, desde o hotel. Ele entrou na casa e colocou uma brecha nos feitiços da casa, possibilitando Bellatriz de entrar. Mas como, e porquê?

–Louis. Quem é você? -Sussurrei, esperando que talvez alguma resposta aparecesse.

Meus pés estavam congelando, descalços na neve. Voltei pra dentro da casa.

* * *

–Draco? - Empurrei a porta de madeira que levava ao porão.

–Sim? o que aconteceu? - Ele estava sentado no sofá, a televisão ligada. Parecia pouco se importar com o que acontecia com os Potter. Ah, é. ele pouco se importava mesmo.

–Temos que ir embora. - Falei, esfregando minhas mãos, talvez pelo nervosismo, ou pelo frio.

–Como é? - Ele finalmente ergueu os olhos da tevê.

–Agora.

Comecei a pegar rapidamente minhas coisas e enfiar dentro da mala que estava jogada em um canto. Fiz as mesmas coisas com as roupas dele, mas ele me interrompeu.

–Ei, ei, me deixe uma camisa, ou espera que eu saia na neve seminu? - Ele agarrou minha varinha. Minhas mãos tremiam, e eu abracei a mim mesma, tentando não desabar, lembrando do que eu iria fazer agora. - Hermione?

Eu o olhei nos olhos. Sua expressão confusa, tomou-se de compreensão.

–Bellatriz. - Adivinhou.

–E-ela pegou James. Levou ele embora. Draco, temos que ir embora, e fazer alguma coisa, isso é tudo culpa nossa...

A minha raiva momentânea tinha ido embora. Agora vinha o medo, de ter que enfrentá-la novamente. Eu ainda tinha pesadelos com a casa dos gritos.

Ele ficou sério por alguns instantes, e depois falou:

–Não podemos fazer nada.

–O QUÊ?- O encarei, chocada. - Como assim não podemos fazer nada? Draco, isso é tudo culpa nossa! você não percebe que ela vai nos caçar pelo resto de nossas vidas? Isso vai afetar todos que estiverem perto de nós. Nós temos que fazer alguma coisa!

Eu comecei a soluçar. Droga, droga. Agora eu devia estar demonstrando coragem, e não medo. Ele nunca deixaria eu ir, se soubesse que eu ainda reagia assim à ela.

–E-eu juro.... - Tentei manter a voz firme. - Eu vou, mesmo se vocês não for, Draco.

–Você não sabe nem onde ela está!

–Eu não me importo! Essa criança está com ela por nossa causa, não vou ficar sentada, esperando que ela morra!

–Ela só a está usando como isca. É exatamente o que ela quer, nos atrair direto pra ela. - Ele respondeu, calmo. Como ele conseguia se manter assim, diante de uma situação como aquela?

–Você só está se preocupando com si mesmo. Vai deixar alguém inocente morrer, por sua causa. Isso é desumano. - Respondi, com nojo.

Eu nunca pensei que ele fosse capaz de fazer uma coisas dessas. Mas, por mais que eu negasse, tinha uma parte de mim que dizia a mesma coisa que ele. Eu procurava não escutá-la.

– Quer saber? Se você quer ir pra um hotel e mofar, não dando a mínima pras coisas, então faça isso. Mas eu não vou junto. - falei, recomeçando a arrumar minhas malas.

Ele não respondeu. Assistiu tudo, assistiu eu ir embora, e não fez nada.

Será que era ali que tudo acabava?

–À propósito: é melhor você ir embora, antes que Gina lembre que você está aqui e mande você embora a pedradas.

Fechei o zíper da mala, e me dirigi à porta.

–Adeus, Draco.

Então saí.