Descemos a escada, minutos depois. Será que ele ainda estava lá? não ouvi a voz dele. Deve ter ficado até amedrontado com a minha atitude.

Legal.

–Ah, finalmente vocês desceram. - Gina surgiu, no pé da escada.

–Hum, ficamos em dúvida se ele já tinha ido embora.

–É, ele foi. E levou o Harry com ele. - Ela colocou as mãos na cintura e olhou em volta, preocupada.

–Como é? - Perguntei.

–Eles são amigos. Rony está decepcionado, então meu marido foi consolá-lo. Isso não é ótimo? - Falou, sarcástica.

Eu recuei alguns degraus na escada.

–Você está irritada?

Ela me olhou, e então colocou os dedos nas têmporas.

–Não, desculpe. É que... Argh, ele não devia ter aparecido aqui!

Desci novamente os degraus.

–Onde eles foram?- Draco perguntou.

–Ah, foram no caldeirão furado. - Gina olhou enquanto Draco descia as escadas. - Ah não. Você vai ficar aqui, rapaz! Nem pense em ir lá.

–Não vou ir lá, não sou louco. - Draco a olhou como se não acreditasse que ela tivesse dito aquilo. - Além do que, eu odiaria a idéia de acabar com a tristeza do Ronald. Não seria divertido.

–Então onde você vai? - Desta vez eu perguntei.

–Bom, imagino que com toda essa confusão, você não tenha feito nada para o almoço. - Ele olhou pra Gina, que deu de ombros. - Certo, vou buscar alguma coisa. Volto já.

Bem, já era hora do almoço. Aquela discussão tinha feito o tempo passar muito mais rápído. Talvez porque eu tenha me divertido.

– Até logo. - Falei. Ele me olhou, inquisitivo de novo. Bufei, e lhe dei um beijo. - Céus, que carência.

–Não é carência, é porque eu gosto disso. Bastante. - Ele piscou pra mim, e então andou até a porta. Após chegar ao jardim, aparatou, desaparecendo da minha vista.

Gina caminhou até o sofá e se deitou, cansada.

–Ah, isso acaba com o meu psicológico.

–A briga?

–Não. Rony. Toda vez que ele vem aqui acaba desse jeito depressivo. Acaba com a energia boa da casa.

–Depressivo? - Me sentei na poltrona ao seu lado. A lareira estava acesa, lembrando que logo começaria a nevar com a chegada do natal.

–É. Como eu já disse, ele veio aqui depois que você o deixou. Ficou chorando por dias, tipo "ela não me ama" e blá blá blá. Foi um saco. Ele é um saco.

–Isso é amor de irmãos. - Murmurei.

–O importante é: Vou ter que comprar um presente de natal super legal pra ele voltar a falar conosco. - Ela continuou, como se eu não tivesse interrompido.

– Tipo?

–Não sei. Algo da George's. - Gina falou. Sua voz falhou ao mencionar o nome da loja.

Não se chamava mais Gemialidades Weasley.

–Certo. - Falei, sentindo que não deveria dizer mais nada.

Ficamos um momento em um silêncio triste. Me lembrava de Fred, me importunando no quarto ano, falando que conseguiria passar pela barreira de idade que Dumbledore havia posto em volta do cálice. Nunca me esqueceria dele.

Acho que ninguém nunca se esqueceria dele.

George havia continuado com a loja, pois ele sabia que Fred não iria querer que acabasse. No entanto, fazia tempo que nós não o víamos.

– Então, o que vai comprar pra ele? - Gina quebrou o silêncio.

–Ele? - perguntei surpresa, achando que ela se referia à Rony.

–Malfoy. O que vai comprar pra ele?

Ops.

–Eu não tinha pensado nisso.

–Tem que pensar. Sabe, ele é seu namorado, ou sei lá o que. Ele obviamente vai dar algo pra você. - Gina respondeu. E então, sorriu:- Quero só ver sua cara de pau quando disser que não tem nada pra ele.

–Eu vou comprar algo! Só não pensei no quê ainda...

–Bom, hoje eu vou fazer as compras. Quer vir comigo?

–Claro.

–Sem ele.

–Hum, certo. - Dei de ombros.

–Ok. - Respondeu. A campainha tocou, Draco havia voltado.

Gina se levantou e abriu a porta.

–PIZZA! - Um Draco sorridente entrou na casa, me fazendo sorrir também.

* * *

Em Hogsmeade já havia começado a nevar. Andávamos pelas ruas brancas que refletiam a luz fraca do sol, vestidas com nossos casacos mais grossos.

–Onde vamos primeiro? - Perguntei.

–Vamos comprar o presente pra Rony primeiro. Enquanto isso, você pode pensar no que dar pro Malfoy.

–Certo.

A loja de George estava menos chamativa do que eu me lembrava, mas ainda assim chamava atenção no meio da neve branca. As vitrines estavam cheias de crianças, fazendo birra para os pais quando queriam alguma coisa e não ganhavam.

Entramos na loja apinhada de pessoas.

–Acho que vou dar à ele uma vassoura nova. - Gina falou.

Eu a olhei confusa.

–Aqui não há vassouras.

–Eu sei. Não falei que tinha que ser algo super legal? Vou dar uma vassoura e mais algo daqui. Um bônus.

–A vassoura não é incrível o suficiente?

–É, mas ele anda meio metido esses dias. Vai saber. - Respondeu. - Além do que, preciso falar com George sobre a festa.

–Festa? - Perguntei, sem entender.

–É, festa. Festa de natal, oras!

–Gina...

Ela me olhou, curiosa sobre o porquê eu estava preocupada. Então arregalou os olhos.

–Oh! vocês estarão lá! - Ela colocou as mãos na boca.- Ah não, desculpe, eu esqueci desse detalhe... Vou dar um jeito, eu prometo.

É, tinha que dar. Não daria certo a família Weasley completa e mais os meus amigos de Hogwarts, contra um só Malfoy naquela casa. Não daria nada certo.

–Não há problema. Ficaremos no porão. - Resolvi.

–As pessoas irão perguntar de você. Afinal, você é minha melhor amiga, porquê eu não te convidaria não é? - Ela falou, pensativa.

–Hum.. eu dou uma rápida aparição, ok?

Ela se tranquilizou um pouco.

–Ok. Vai dar tudo certo. Eu vou falar com George, você espera aqui?

–Sim.

Ela se encaminhou rapidamente até os fundos da loja.

Essa festa não estava nos meus planos. Definitivamente não.

Mas, céus, como eu sentia falta dos meus amigos.