Eu ofeguei suficiente alto para que o quarto ouvisse. Rony lançou um olhar sugestivo pra mim, curioso, mas com todos aqueles machucados ficou parecendo uma careta engraçada.

–Não pode estar falando sério! – Censurei-o.

–Na verdade eu estou. Mas isso não será tão cedo, Bella vai ficar atrás de mim por um bom tempo. – Ele sorriu, exibido.

–Você não pode ter tanta certeza. Como você disse, ela não é burra. – observei.

–Não, mas eu sou mais esperto que ela. Tipo Tom e Jerry.

–Tom e Jerry. – Repeti, atônita. Como ele podia levar isso na brincadeira?

–Então, quanto ao acampamento... Precisamos voltar logo ao hotel. Vamos nos encontrar com Zabini no final da tarde. – Ele lembrou.

–Espera, eu já posso sair daqui? – Perguntei, surpresa, e não pude deixar de sorrir novamente. Finalmente iria voltar para a minha... hã... Casa, pode-se dizer.

–Claro que pode. Ou você ainda não se sente bem? – Ele perguntou, com uma leve preocupação. Coisa rara.

–Eu estou ótima. – Declarei, me espreguiçando na cama. E então comecei a ficar ansiosa. – Vamos logo, cadê a enfermeira?

–São cinco da manhã, dê um tempo pra ela acordar, Hermione. – Explicou ele calmamente.

–Mas que absurdo, enfermeiras não podem dormir! E se acontece alguma coisa... – Meu lado responsável começou a falar por mim.

–Acontecer algo com quem? Só Há você e o Weasley aqui. – Ele me interrompeu.

Só então havia reparado uma coisa.

–Espera aí. São cinco da manhã?

–Sim. – Ele confirmou com a cabeça.

–Draco... Você passou a noite inteira aqui?

–Claro. Era o mínimo que eu podia fazer. E pelo menos você não é tão tagarela enquanto dorme. – Ele respondeu displicente.

Eu torci que estivesse escuro o suficiente para ele não me ver corando. Ele havia me visto dormindo. Acho que eu seria a única pessoa do mundo a sentir vergonha disso, mas isso me deixava nervosa, não sabia ao certo por que.

–Ah, sim, hã... Isso é... Gentil da sua parte. – respondi, me atrapalhando com as palavras.

Ele olhou pra mim, provavelmente vendo que eu devia estar vermelha que nem um pimentão, dando um sorrisinho malicioso, mas a enfermeira apareceu na porta, antes que ele pudesse dizer alguma coisa.

–Srta. Granger. – Ela sorriu e seus olhos, debaixo dos oclínhos redondos se encolheram com a ação. Tinha o cabelo preso num coque. Parecia uma vovó. – Já acordou querida? Como se sente?

–Ah, melhor, obrigada. Acho que já posso sair. – Não pude deixar de sorrir pra velhinha.

–Ah, ótimo, vou trazer as suas roupas. – Ela sorriu novamente, e então foi pra cama do Rony. – Tsc. Garotinho, você vai ficar aí por um bom tempo. – E então lhe deu uma colher de remédio. Draco deu uma risadinha com o estrago que tinha provocado.

A enfermeira logo trouxe meu vestido, e em um segundo, eu já me via saindo do St. Mungus com Draco ao meu lado. Aparatamos no hotel.

–Vejamos, eu te dou... Trinta segundos pra arrumar as suas coisas. – Draco falou, em frente à porta do meu quarto.

–Como é? – Olhei-o incrédula.

–Ok, quarenta. – Ele ergueu as mãos como se estivesse se rendendo.

–Nananinanão. Você senta aí. – Empurrei-o pra minha cama. – E me dá uma hora. Feito?

–Ok. – Ele revirou os olhos e deitou, esperando. Deixei-o dormir, afinal, se ele tinha ficado a noite inteira acordado ao meu lado no hospital...

Eu nunca pensei que isso fosse algo que Draco Malfoy faria. Ele sempre tivera a imagem de metidinho arrogante, e que as pessoas faziam as coisas pra ele, não o contrário. Que estranho, agora eu o via de um modo completamente diferente. E pensar nesse modo me fez corar novamente.

Deixando-me levar por esse pensamento, acabei conseguindo arrumar as minhas coisas e me trocar em menos de 45 minutos.

–Draco. – Chamei. Ele continuou roncando. – Draco?

Joguei minha bolsa em cima dele e ele deu um salto.

–Sinceramente mulher, você quer me matar?- Ele resmungou, atirando minha bolsa para o lado.

–Não. Só te acordar. – Respondi, num tom de pedido de desculpas misturados com risos do susto que ele levou. –Desculpe.

–É, claro, estou vendo muito bem que você está arrependida. – Ele falou num tom sarcástico. Eu dei de ombros. – Enfim está pronta?

–Sim. Que o inferno comece. – Respondi, cabisbaixa.

– Você não está nem um pouco empolgada? Imagine como Pansy vai ficar feliz em te ver. – Ele disse com um sorrisinho cínico.

– Eu te odeio Malfoy. – Murmurei.

–Sério mesmo? – Ele se aproximou de mim com um sorriso presunçoso, preparado pra ver minha reação que eu respondesse o óbvio.

–Não. – Bufei.

–Muito bem. – Ele afagou minha bochecha, apesar de isso ter me causado um leve arrepio, não liguei. – Vamos, Granger?

Ele estendeu o braço pra mim e eu o segurei, e então senti a sufocante sensação de aparatar, embora também ainda pudesse sentir o rápido carinho que Draco acabara de me fazer.

Alguma coisa estava definitivamente errada.