Subitamente No Futuro escrita por Brunna Cassales


Capítulo 6
Entre Dois Mundos


Notas iniciais do capítulo

Finalmente, aqui está o capítulo completo. Boa leitura!



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Hermione abriu os olhos lentamente e se deparou com uma suave luz dourada de sol invernal entrando por uma fresta na janela. Piscou algumas vezes ante a repentina claridade e se virou na cama. Não havia ninguém ao seu lado. Ela se sentou de súbito, assustando Bichento, que cochilava enroscado a seus pés.

Ao seu redor, o dossel de veludo escarlate abria a visão para o dormitório iluminado pela luz da manhã. Com a sensação de que seu coração tinha diminuído para o tamanho de uma noz, Hermione afagou atrás das orelhas de seu gato de modo a transmitir no gesto um pedido de desculpas por tê-lo assustado. Bichento ronronou e, com seus profundos olhos amarelos, fitou por um instante os arregalados da dona como que percebendo algo estranho antes de se aninhar a ela.

Tremores percorriam todo o corpo de Hermione, que, abraçada a Bichento, respirava fundo e tentava regularizar as batidas de seu coração. As outras meninas, dormindo a sono solto, nem de longe notavam a reação da colega.

Hermione dirigiu o olhar à janela e vislumbrou a neve cair suavemente pelas torres até os jardins do castelo. Então soltou um suspiro angustiado e deixou que as lágrimas que vinha reprimindo caíssem por seu rosto.

Hogwarts. Ela nunca imaginou que houvesse um dia em que ela não fosse querer estar ali. Não. Ela ainda amava a escola, a qual seria eternamente seu segundo lar. Mas acordar de volta àquele lugar só podia significar uma coisa: o retorno ao passado. Uma época sem Rose e Hugo, seus filhos, que agora eram parte inerente de sua vida; uma época em que Ron, apesar de muito próximo, era apenas um amigo que estava muito longe de declarar suas verdadeiras intenções. Intenções que Hermione nem sabia se, naquele tempo, ele já tinha, pois quando adolescente o garoto sempre fora impermeável como uma colher de chá para esclarecer seus sentimentos.

Tomando fôlego e lembrando a si mesma o porquê de pertencer à Grifinória, Hermione deixou que Bichento saltasse graciosamente de seu colo e seguiu para o lavabo do dormitório feminino. Não houve dúvidas, o espelho confirmou que se postava diante dele uma menina no auge de seus quinze anos, com cabelos bastante volumosos como de costume, já sem o efeito da Poção Capilar Alisante, e indícios de que chorara muito na noite anterior pelas marcas de inchaço embaixo dos olhos.

Restava apenas uma coisa a fazer agora: confrontar Rony. Só de pensar nisso Hermione desviou o olhar do espelho, por reflexo. Ela lavou o rosto e o pescoço, pois estava suando frio. Era preciso se preparar. Decidiu que como ainda era cedo, ela daria um passeio pelos jardins da escola antes de procurar o amigo e encará-lo frente a frente, então se agasalhou bem.

A sala comunal da Grifinória estava incrivelmente vazia e silenciosa. Isso se devia ao fato, lembrou-se Hermione, de que aquele era o dia seguinte ao Natal, feriado na Grã-Bretanha, o que era uma boa desculpa para todos acordarem tarde.

Ela se sentiu imediatamente aliviada por não encontrar ninguém na sala. O único som que veio a ouvir era o crepitar da lareira. Mas ao passar pelo buraco do retrato, levou um grande susto ao trombar com alguém que usava o mesmo para entrar na sala. A Mulher Gorda soltou um gritinho e Rony, parecendo tão surpreso quanto Hermione, ajudou a amiga a não se desequilibrar.

– O que... – começou Rony

– Eu que pergunto! – cortou-o Hermione – O que você estava fazendo lá fora a essa hora da manhã?

– Apenas dando uma volta... Mas está muito frio, então vim buscar meu cachecol. – disse ele simplesmente, dando de ombros e colocando as mãos nos bolsos do casaco.

– Hum. ­– foi só o que Hermione conseguiu dizer.

– Quer subir comigo?

– O que? – indagou a garota, aturdida.

– Para buscar o cachecol... Hermione, você está bem? – perguntou Rony, erguendo as sobrancelhas.

– É claro que estou bem! Vamos logo, senão não dá tempo de dar uma volta antes do café da manhã!

– Ok...

Hermione seguiu o amigo pelas escadas que levavam ao dormitório masculino com uma dúvida intermitente pairando na cabeça. Rony estaria ciente, como ela, de que tinham acabado de voltar de uma viagem ao futuro? Ou estava se comportando daquele jeito porque resolvera propor um acordo subentendido de não mencionar a discussão que supostamente haviam tido na noite anterior? Pois ainda havia a possibilidade que, por mais que quisesse, ela não podia descartar... Será que toda aquela experiência fora particularmente dela, um sonho maravilhoso do qual despertara muito antes de estar pronta para abrir mão?

No dormitório masculino, os outros garotos ainda dormiam profundamente. Foi estranho para Hermione se deparar com seu velho amigo Harry submerso no sono de seus quatorze anos. Naquela época, em pleno Torneio Tribruxo, o garoto tinha preocupações suficientes para a vida inteira, era como se tivesse que carregar o peso do mundo; "O Menino Que Sobreviveu" nem de longe sabia sobre o futuro maravilhoso ao lado de Ginny que o destino lhe reservava.

Rony pegou seu cachecol, e ele e Hermione seguiram do Salão Comunal da Grifinória para os jardins. Desceram as escadas de mármore sem dizer uma palavra, embora a tensão no ar deixasse implícita a sensação de que tinham muito a falar ao outro. Hermione tentava inutilmente parecer impassível, quando sua expressão tornava óbvia sua inquietude; Rony parecia cada vez mais intrigado, e sua tentativa de transparecer naturalidade fracassava, pois a ruga entre suas sobrancelhas não podia ser denúncia maior.

Uma forte lufada de ar os atingiu ao emergirem nos jardins do castelo. O dia se espreguiçava a surgir: o céu era uma tinta aguada entre azul ciano e lilás. Eles pararam sob a copa frondosa de uma árvore próxima ao lago. Por um momento que parecia se estender infinitamente, continuaram sem dizer nada, e Hermione quase entrou em pânico por não ser capaz de formar uma palavra para quebrar aquele silêncio. Então ela sentiu um pingo gelado atingir seu nariz e, antes que tivesse tempo para encontrar sua proveniência, Rony recolheu com o dedo o pequeno floco de neve, um sorriso torto se desenhando em seus lábios. Hermione teve de travar a mandíbula para reprimir o impulso de beijá-lo.

O vento sacudia a árvore, fazendo com que flocos da neve remanescente de seus ramos flutuassem como por magia.

Eles sorriram um pouco, mas logo desviaram o olhar, talvez se dando conta da intensidade que transmitiam nele.

– Não acha estranho... – Hermione disse finalmente, movendo os olhos para a paisagem ao redor – Todos estão dormindo... Talvez sonhando... Neste exato momento, apenas nós estamos acordados para... – engoliu em seco – a realidade.

– Não acho estranho todos ainda estarem dormindo em pleno feriado, se é isso que quer dizer – brincou Rony, erguendo as sobrancelhas.

Hermione revirou os olhos e jogou os braços para o alto.

– Deixa pra lá, você não entenderia.

Rony deu um passo para frente, a encarando, e disse apenas:

– Tente.

Um frio percorreu a espinha de Hermione. Não uma sensação ruim, mas um arrepio de expectativa. Rony estava muito próximo, não só dela, como também da dúvida que pairava em sua mente.

– Bem, o estranho, Rony, é estar em uma situação que só depende de nós, sem qualquer influência de quem não está acordado para decidir.

Se aproximando ainda mais e com um sorriso zombeteiro, ele deixou escapar uma evasiva:

– Eu aproveitaria minha influência se fosse a única a não estar no sonho de outros.

– O que você quis dizer com isso? – indagou a garota, dando um passo para trás, na defensiva.

Ele tampouco parecia entender o que tinha acabado de dizer.

– Eu... – gaguejou – Eu não sei.

E realmente não sabia. Uma nuvem passageira como a que escondia o sol do completo esplendor da aurora importunava sua mente com pensamentos confusos. Ele estava de mãos atadas, não sabia o que fazer.

O breve instante de desconforto fez Hermione tomar uma decisão. Se tudo estava embaralhado agora, isso não significava que ficaria assim para sempre. Ela deixaria as coisas fluírem naturalmente. Tudo aconteceria a seu tempo, na hora certa.

– Ainda estou com sono – suspirou – Acho melhor voltarmos – disse, convicta, seguindo sua intuição – Ainda dá tempo de dormirmos mais um pouco.

Ainda dá tempo de sonhar o futuro, pensou.

Rony apenas assentiu. Seguiu a amiga de volta à Sala Comunal, fitando o leve movimento do cabelo da menina que seguiria aonde quer que fosse por toda a eternidade. Mesmo que essa convicção somente espreitasse do que havia de mais profundo em seu íntimo, sem deixá-lo compreender o que aquilo significava.

A maneira como se despediram, quase com formalidade, com uma determinação que sugeria o porvir de uma missão, e não somente o retorno a seus dormitórios, teria estranhado quem visse de fora. No entanto, não havia ninguém ali, apenas Rony e Hermione, e uma tentativa incansável de recuperar muito mais do que simplesmente um sono interrompido.

Hermione nem se importou em se destrocar, só tirou os sapatos e tratou de se aninhar na cama, apertando o ventre com os braços e deixando flashes indistintos passarem por dentro de suas pálpebras fechadas. De repente, dois rostos angelicais entraram em foco: dois sorrisos de dente de leite, olhos azuis brilhando, bochechas repletas de sardinhas e cabeças cobertas de cachos ruivos.

Seus filhos.

Então, ela submergiu na escuridão de seu inconsciente, com a sensação reconfortante de que a próxima luz que aparecesse a levaria direto para casa.

***

Tudo que bastou para acordar Ron foi o arfar nervoso com o qual Hermione despertou subitamente, o que era estranho já que ele não era dado a ter um sono superficial.

Sentada na cama e ainda arfando, ela lhe lançou um olhar desesperado, mas percebendo que aquele era Rony mais velho, seu marido, o abraçou com força, tomada pelo alívio de estar novamente no futuro.

Tinha voltado para casa.

– Ei – Rony começou a dizer de mansinho, fazendo-a sentir o ar suave de sua respiração em seu pescoço – O que foi?

Um pouco mais calma, Hermione desfez o abraço e o encarou. Ele segurou seu queixo com uma mão e acariciou seu rosto com a outra, fazendo o coração dela disparar.

– Ron... Eu tive um sonho... – ela engoliu a saliva – Na verdade, não sei se foi realmente um sonho. Eu simplesmente acordei em Hogwarts, no dia seguinte ao Natal, consciente de estar de volta ao passado!

De repente, foi a vez de Rony arfar. Ele tinha a estranha sensação de também ter sonhado algo assim.

– Você falou comigo nesse sonho? Por acaso estava nevando e nós ficamos embaixo daquela árvore perto do lago?

– Sim! – Hermione respondeu, boquiaberta – Meu Deus, isso é muito estranho... Não pode ser apenas um sonho lúcido compartilhado, foi tão real quanto estar aqui! Só pode significar que voltamos à nossa adolescência, do ponto de partida de quando viemos parar aqui!

– Isso é pura loucura, Hermione! E se tivessemos continuado lá?

Hermione respirou fundo. E finalmente se deu conta de algo que lhe parecia óbvio agora, e não adiantava lutar contra isso. Ela segurou o rosto do marido perto do seu com as duas mãos e disse:

– Rony... Meu amor, agora tudo parece tão evidente. Um dia – ela deixou que uma lágrima escapasse – Um dia teremos que voltar. Não temos escolha. Se não voltarmos, se não deixarmos a nossa vida fluir até este ponto, haverá um buraco entre nosso passado e nosso futuro. Como não percebi antes? Isso é apenas uma amostra do futuro que poderemos ter, se nossas escolhas convergirem para isso. Se não voltarmos, será como se nunca continuassemos a viver a história das nossas vidas! Nunca cresceremos, ajudaremos Harry a vencer Voldemort e nem mesmo... Ficaremos juntos, nos casaremos e teremos Rose e Hugo!

Aquela constatação foi como um tapa na cara de Rony. Realmente parecia óbvio agora. Uma hora ou outra, teriam de voltar, ou aquele futuro incrível jamais aconteceria. Era como o clássico sonho “bom demais para ser verdade.” Como dissera Hermione, o que estavam vivendo era apenas uma amostra.

– Isso até pode acontecer... Mas não agora. – Ele trincou os dentes para segurar as lágrimas que ameaçavam cair – Nossos filhos estão dormindo em seus quartos e em algumas horas vão acordar para vivermos juntos mais um dia. Hermione, o sonho ainda não acabou.

Encantada com a convicção de Rony em aproveitar o momento que estavam vivendo, Hermione o beijou com a intensidade de uma mulher que não pode esperar para viver seu grande amor. Rony segurou sua cabeça com uma mão e enlaçou sua cintura com a outra. Entranhando os dedos nos cabelos dela, ele tornava o beijo cada vez mais profundo, até que se fez necessário o casal respirar.

Um olhou para o outro sem dizer nada. E aquele olhar, sem uma palavra ou aceno de cabeça sequer, bastou para chegarem ao novo acordo subentendido de que era hora de dar mais um passo impulsionado pelo amor que sentiam um pelo outro.

O engraçado era que seus corpos, eles sabiam, já haviam se amado naquela mesma cama. Já haviam até mesmo gerado outras duas vidas. Mas, naquele momento, nenhum dos dois era minimamente experiente, já que por dentro eram apenas adolescentes que tinham a oportunidade de estar vivendo como os adultos que viriam a se tornar.

Uma mescla de curiosidade, interesse e desejo desesperado os preenchia. E quando Rony continuou a beijar a mulher, apertando-a em seus braços, eles souberam que aquilo realmente não poderia se restringir a beijos apaixonados.

Ele abaixou uma das alças de sua camisola e começou a descer os beijos pelo pescoço até o ombro dela, fazendo-a sentir um arrepio por todo caminho de beijos que ele traçava com os lábios.

Foi descendo pelo braço dela até a mão, que pegou delicadamente e beijou inspirando fundo. Aquele gesto de delicadeza foi o suficiente para Hermione se sentir confortável em ir além, embora fosse inevitável sentir uma onda de nervosismo a cada novo toque.

Enquanto continuavam a se beijar, ela começou a levantar a camisa de Rony e percorrer as mãos por baixo dela, fazendo sua pele também se arrepiar conforme ficava exposta, vibrando em expectativa. Já havia visto ele sem camisa, mas agora não havia constrangimento, e ela se sentia livre para pôr em prática toda a vontade reprimida de não parar de tocá-lo.

Vontade de ir até o fim era o que não lhes faltava, mas eles queriam desfrutar de cada novo detalhe, sem se preocupar até aonde chegariam.

Cada vez mais decididos, Hermione lentamente se levantou na cama para contorná-lo com as pernas, sentando-se de frente para Rony em seu colo. Ele mal podia acreditar no que estava acontecendo... Não que nunca tivesse imaginado aquela cena. Na verdade, ele já havia imaginado-a de todas as formas possíveis. Mas vivê-la tinha um gosto infinitamente melhor. E cada parte de pele exposta de Hermione era a realização de mais um desejo. Ele hesitou em tirar a camisola dela de uma vez. Olhou-a com a testa franzida, num pedido silencioso, e ela assentiu com avidez.

E quando ele tirou, ficou tão maravilhado, que não pôde se conter. Ela era tão linda que sua expressão se tornou ferozmente apaixonada, um vinco entre as sobrancelhas e a boca aberta de desejo. A cascata volumosa de cabelos caindo pelos ombros dela tornava-a mais sensual do que nunca. Rony deslizou as mãos por sua pele nua e macia da mesma forma que Hermione fizera com ele, com carícias cada vez mais ousadas.

Ela, por sua vez, apertando seus ombros fortes com intensidade suficiente para deixar marcas em sua pele, começou a descrever seus próprios beijos pelo rosto dele, orelhas, pescoço, peito e toda a pele que conseguia alcançar, o que aumentava cada vez mais a excitação de Rony.

Ele agarrou sua cintura com ambas as mãos e ficou próximo o suficiente para encostar pele contra pele, o que a fez arfar de prazer pela proximidade e enlaçá-lo para mais um beijo com sofreguidão.

Então eles se separaram por apenas um instante, mas no olhar dos dois muitos sentimentos transpareciam, entrando em ebulição. Desejo ardente e receio se confundiam. Através dos olhos um do outro, eles perceberam que ainda não era hora, pois aqueles olhos transpareciam a curiosidade de dois adolescentes que ainda não estavam prontos para consumarem seu amor. Nos olhos um do outro, eles viam a inocência do despreparo, o medo de irem adiante e se atrapalharem a ponto de não satisfazer um ao outro. Era impressionante como a convivência de Rony e Hermione como um casal os fizera transmitir o que sentiam ao outro com uma simples troca de olhares.

Ele retornou as mãos - que tanto ansiavam por descobrir mais e mais o corpo curvilíneo da mulher - às bochechas dela, acariciando-as com ternura.

– Eu vou esperar até estarmos prontos. E se só estivermos prontos depois de voltarmos no tempo e tivermos que passar por todos os anos até formarmos um casal de novo, vai valer à pena.

Não era isso que seu corpo parecia gritar, mas se tinha uma coisa que Ron vinha aprendendo como homem de família era que o mais importante é dar ouvidos à voz do coração.

Parte de Hermione chegava a querer pedir para não esperarem mais, pois estava extasiada com o prazer que sentia, a reação que seus corpos causavam ao encostarem-se em tantos lugares diferentes, mesmo com as camadas de tecido das partes de baixo de suas roupas ainda os separando da totalidade. Mas ela estava emocionada com o que Ron havia declarado e impressionada por vê-lo atingir tamanha maturidade e compreensão. Ela o queria com cada pedacinho do seu ser, mas também sabia que o melhor era esperar a hora certa, e não ceder ao desespero da paixão que a incendiava.

Com um sorriso suave que Rony achou extremamente sedutor, ela concordou com um aceno de cabeça e disse, um tanto marota:

– Você me deixa orgulhosa, Sr. Ronald Weasley, mas não é porque não estamos prontos para ir até o fim que não vou continuar me aproveitando do meu marido.

– Ok, eu também preciso me aproveitar da minha esposa. Não é todo dia que se está na cama com a garota por quem a gente sempre quis invadir o dormitório para espiar enquanto dormia... – ele deixou-se confessar

– Oh! Então você queria invadir o dormitório das meninas para me ver dormindo? Eu vou te fazer querer dividir o dormitório comigo por muito tempo! – ela ameaçou dedilhando um caminho sinuoso pelo abdômen do marido.

– Acredite, meu amor, eu nunca vou deixar de querer isso!

Foi o que bastou para Hermione se jogar em cima dele e continuar beijando-o na boca com fervor, aproveitando toda a extensão de pele que se tocava. Depois do longo beijo, deitados atravessados no meio da cama, ela encostou a testa na dele, ambos sorrindo e abraçados.

– Pronto para mais um dia como pai de família?

Abrindo um sorriso ainda maior, ele respondeu:

– Sempre, Hermione.

***

Rony e Hermione se vestiram e foram preparar o café da manhã. Hermione ficou surpresa quando Rony se ofereceu para prepará-lo, mas era nítido que aquela era a iniciativa de um homem de família que queria aproveitar sua felicidade para fazer algo produtivo.

A cozinha ficou uma bagunça porque enquanto Hermione observava placidamente o marido – se segurando para não palpitar o tempo todo -, ele resolveu provocá-la sujando seu nariz com o doce que estava fazendo para as crianças depois de fazê-la prová-lo na sua mão, e isso foi o que bastou para uma guerra de comida matinal.

Rose e Hugo chegaram correndo para participar da brincadeira. Rony pegou Hugo e o levantou num rodopio, enquanto Hermione abraçava a filha com força, também a levantando do chão. Ela havia passado no quarto de cada um para verificá-los dormindo antes de ir para a cozinha, como se precisasse comprovar que eles eram reais depois do sonho que tivera.

Era um alívio tão grande ter sua menina em seus braços e seu menino logo ali, brincando no colo do pai. Ainda segurando Rose, ela foi até Rony e encheu o rostinho de Hugo de beijos, que com suas risadas gostosas de ouvir só tornou a manhã mais alegre.

Naquele dia, parecia haver ainda mais magia no ar. Era um final de semana radiante, por isso Rony e Hermione decidiram fazer a mesa da cozinha levitar até o jardim para aproveitarem o café da manhã sob o céu azul e a luz do sol. As crianças pareciam sentir a sintonia perfeita em que os pais estavam, o que só tornava tudo mais agradável. Hermione se pegou novamente impressionada com a naturalidade com que levava a vida de mãe e mulher de família. Aquilo já não era novo para ela. Ela já não imaginava sua vida de outra forma, e seu maior medo era que aquela vida terminasse da mesma forma repentina com que começara...

O dia transcorreu tão bem e repleto de diversão em família que todos já estavam sonolentos pouco depois do entardecer. Tinham assistido ao pôr-do-sol juntos, deitados na grama do jardim. Rony capotou logo depois de colocar o filho para dormir. Rose também já estava indo para cama quando ouviu um telefone tocar. A garotinha sabia muito bem reconhecer o barulho de um, já que além de bruxa também era neta de trouxas. Hermione se sobressaltou. Estava terminando de verificar se a cozinha estava mesmo limpa – todos tinham ajudado a arrumá-la do modo trouxa à tarde, com água e sabão, pois era importante ensinar às crianças desde cedo que nem tudo precisava ser resolvido com um simples aceno de varinha.

A mulher estranhou o toque, não havia telefone fixo na casa. Mas a menina simplesmente correu até a mesinha de cabeceira da mãe, abriu a gaveta, pegou o aparelho portátil que estava tocando e o entregou à mãe.

– Aqui, mamãe, seu celular!

– Meu... – Hermione teve um momento de torpor. Nunca tinha visto um modelo moderno como aquele. Pelo que se lembrava, os da década de 90 eram enormes, tinham antena e um monte de botões! Sabia que a tecnologia evoluía rápido, mas estava tão acostumada a ser bruxa que não tinha parado para notá-la...

Ela tocou na tela e atendeu. Era sua mãe. Hermione sentiu uma onda de carinho a preencher e sorriu ao falar no celular. A Sra. Granger convidou a filha para ir com o genro e os netos tomar chá com ela e o Sr. Granger em sua casa no domingo, dizendo que depois podiam ir a um parque de diversões que tinha inaugurado ali perto.

Hermione confirmou com veemência e mandou lembranças ao pai. Depois de desligar, involuntariamente apertou o celular contra o peito. Estava acostumada a sentir saudades dos pais, pois passava quase o ano inteiro em Hogwarts. Mas era estranho ser uma adulta e morar numa casa diferente da dos pais. Mais estranho ainda era ser uma adulta que havia crescido de repente e não tinha como contar isso aos pais.

Ela foi contar a novidade para a filha, que esperava com as mãozinhas na cintura e a cabeça inclinada. Rose era um charme. Deu vivas e bateu palminhas, animada ao saber que veria os avós maternos no dia seguinte.

Hermione colocou Rose para dormir e ficou sentada na cama a contemplando enquanto pegava no sono. Muita coisa passava por sua cabeça após um dia de muita energia gasta com alegria, porém o que permeava seus pensamentos era a conclusão de que sob todos os aspectos vivia entre dois mundos. Entre o passado e o presente, o sonho realístico e a realidade, a estudante e a profissional, o mundo trouxa e o mundo bruxo, a garota que havia sido e a mulher que ainda não havia deixado de ser garota... O lar que tinha com os pais quando mais nova e o que construíra com o amigo por quem sempre teve uma queda. Era incrível como a vida podia se equilibrar entre duas épocas e realidades diferentes. E era impossível não ter medo de que esse equilíbrio se desfizesse e tudo desmoronasse... Não. Hermione balançou a cabeça querendo se livrar do devaneio e apagou a luz do abajur. O escuro não importava, pois ela sabia que, como no sonho, uma luz sempre a levaria para aquela casa.


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Notas finais do capítulo

Este foi o capítulo completo há tempos prometido. Sei que não deviam aguentar mais só a prévia... Mas aí está o esclarecimento da misteriosa circunstância em que nossa heroína se encontrava! A demora para atualizar se deveu a muitos problemas pessoais, inclusive de saúde, longos períodos sem o computador funcionando e meses e meses de bloqueio. Mas sempre soube que voltaria a escrever esta fic. Ainda temos um longo percurso a percorrer... Que fique claro:
Eu nunca desisti.
Eu ainda estou aqui.
A história vai continuar até o desfecho.

Nem sei como pedir desculpas por tanto tempo ausente, mas peço de coração! E não tenho palavras para agradecer a todos que tiveram paciência e não me abandonaram. Mesmo aos que já desistiram, mas passaram algum tempo lendo SnF. Sou realmente grata a cada um de vocês.
O próximo capítulo se chama: "Quando Tudo Desmorona". (Não adianta jogarem coisas na tela contra mim, aiaiai!)
hahaha Até lá!

Um grande beijo,

Brunna