01: Saint Seiya - Guerra Galáctica escrita por Tarsis


Capítulo 6
06: Guerras Galácticas - Dia 02


Notas iniciais do capítulo

Neste capítulo, daremos seguimento às Guerras Galácticas! Malek Maximillian, o poderoso aspirante à Armadura de Ouro de Capricórnio, finalmente enfrentará seu oponente mais ferrenho, lutando pelo direito de ser o novo Cavaleiro de Ouro de Capricórnio!



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Ato 01 – Fim da manhã do segundo dia, Mansão do Mestre.

- Quero que você autorize Helena de Cabeleira de Berenice a lutar no lugar do Ikki, no torneio. Ela está disposta a fazer isso e precisa da sua autorização para ir em frente. – ele deu alguns passos na direção dela. – Não pense que estou aqui para me humilhar, Senhorita Kido, estou apenas lhe avisando. Se não autorizar Helena a lutar no lugar do meu irmão, a sua equipe vai perder mais um membro... Porque eu abandono este maldito torneio!

Esta declaração foi tudo que Hyoga conseguiu escutar ao chegar ao corredor que levava ao quarto de Saori, à procura de Shun. Não conseguiu acompanha-lo em meio a toda aquela multidão. Então teve que deduzir os possíveis locais aos quais ele poderia ter se dirigido após ter estado à presença daquele estranho homem vestindo uma Sapuris. Como não estava no hospital onde se encontra seu irmão, só poderia ter vindo ter com Saori, no intento de informa-la do que viu.

“Finalmente o encontrei! Ele está com Saori! Esta é a voz de Shun!”, pensou Hyoga batendo à porta do quarto e virando a maçaneta, abrindo a porta em seguida. Ao entrar, a cena que viu foi, no mínimo, inusitada: Shun com o dedo em riste, encarando Saori. Hyoga caminhou devagar e se pôs ao lado de Shun.

- Isso é tudo o que tem a dizer, Shun? – Perguntou Saori, cruzando os braços. – Se é, diga a Helena que venha falar comigo e vá se preparar, pois amanhã a luta contra os Generais Marinas não será fácil.

- Pois bem, Senhorita Saori, eu farei isso. – Shun girou sobre os calcanhares sem dizer mais nada e foi se retirando. Ao chegar à porta, sem virar, disse entre um sorriso irônico: - Cuidado, Hyoga, ela pode lhe morder! Mas não se preocupe, não irá lhe transmitir raiva! Pelo que me lembro, ela foi vacinada quando criança!

- Ora, seu... ! Saia já daqui! FORA! – Berrou Saori atirando os sapatos contra a porta que se fechava. Em seguida, sentou-se na poltrona e pôs-se a chorar.

- Pelo Lago Baikal, o que está acontecendo Saori? – Falou Hyoga, solícito, aninhando a cabeça da jovem no seu peito. – Por que o Shun está agindo dessa maneira tão rude com você? Não parece o Shun que conhecemos!

- Ele está me tratando dessa forma desde aquela nossa discussão no hospital onde Ikki está internado. – disse Saori, entre soluços. – Não me perdoa pelo o que aconteceu ao Ikki, Hyoga! Diz que é tudo culpa minha, que sou uma insensível! Talvez ele esteja certo...

- Não, Não diga isso! – Retrucou Hyoga, fazendo Saori encara-lo de frente. – Você é Athena, Deusa da Justiça, e a justiça nem sempre é fácil de aplicar e, por vezes, é um fardo pesado demais para carregar. Mas não se esqueça de que você não está sozinha.

- Já não sei mais se isso é verdade, meu amigo. – Saori se levantou e tornou a arrumar sua roupa sobre a cama. – Já não sei mais se estou mesmo sendo tudo o que esperam que eu seja, tudo o que esperam de Athena. Shun tem razão quando disse que sou humana.

- E esta é sua melhor qualidade, se me permite o comentário! – Falou Hyoga, enxugando as lágrimas que desciam pelo rosto de Saori. – Mas o motivo que me traz aqui é sério e não pode esperar, Saori.

- Do que se trata? – Perguntou Saori, visivelmente preocupada. – Fale logo, Hyoga!

- Bem, tem a ver com o Shun. – Disse Hyoga, baixando o olhar.

- Diga de uma vez! Está me deixando preocupada! Como se não bastassem todos os demais problemas! – Respondeu Saori, aflita.

- Antes de vir pra cá, vi Shun conversar com um estranho nos corredores do nosso alojamento. O mais estranho, Saori, é que o estranho vestia uma Sapuris! – Disse Hyoga.

- Uma... Sapuris? – Saori caiu sentada na cama, pálida como uma vela. – Já começou. Por Nike, o pesadelo está se tornando realidade. Eles já estão aqui.

- Eles? – Perguntou Hyoga, meio sem entender. – Saori, então são mais de um?

- Sim, são muitos, Hyoga! Muitos! – Saori apertava a barra do vestido entre as mãos. – Mas vamos enfrentar uma coisa de cada vez. Se já estão aqui, vieram junto com as outras comitivas, bem debaixo de nosso narizes, e não tentarão nada com tantos Deuses e Cavaleiros circulando por aí. Prepare-se você também, Hyoga, a luta de logo mais com os Guerreiros de Poseidon será terrível.

- Está bem, Saori. – Falou Hyoga, num sorriso que iluminou o semblante carregado da jovem.

Hyoga deu meia volta e seguiu em direção da porta. Ao sair, deparou-se com o velho Heliodoro, o senescal, aguardando pacientemente. Com uma reverência, cumprimentou Hyoga para, em seguida, bater à porta do quarto de Saori e anunciar que Helena de Cabeleira de Berenice estaria esperando para ter uma audiência no salão principal da Mansão do Mestre.

Chegando até o Salão Principal, Hyoga cruza com Helena, a qual andava de um lado para o outro, parecendo muito ansiosa. Não vestia sua armadura, limitando-se apenas às roupas de couro e fazenda usuais das Amazonas. Cordial, Hyoga foi até ela para dar-lhe um “Olá”.

- Olá, Helena! – Disse Hyoga, estendo-lhe a mão.

- Como vai, Cisne? – Respondeu Helena retribuindo o aperto de mão. – Ao que parece, seremos companheiros de batalha uma vez mais.

- Será uma honra para mim, Helena. – Falou Hyoga. – Se me dá licença, tenho que ir me preparar para a luta.

- Nos encontraremos mais tarde na arena, meu amigo! Veremos o resultado do treinamento que lhes dei. – Respondeu Helena, dando-lhe um abraço.

 E seguiu Hyoga em direção aos alojamentos.

Ato 02: Início da tarde do segundo dia, Arena 01.

            Calor. Aquela tarde estava quente e ensolarada. O céu estava límpido e o vento soprava para amainar um pouco o calor que castigava as arenas. As tribunas de honra foram transformadas em pequenos camarotes com a adição de toldos, a fim de proteger os espectadores ilustres do sol inclemente. O ar acima do piso de terra batida da arena tremeluzia devido ao calor que subia dali. Na tribuna de honra, ao lado da urna da Armadura de Capricórnio estava Aldebaran de Touro, o qual seria o Defensor da Armadura, ele mesmo usando sua própria Armadura de Touro.

            Aos poucos, as pessoas que haviam saído pra almoçar iam retornando. Traziam consigo toda sorte de bebidas geladas, providencialmente vendidas nas entradas das arenas. Malek estava aguardando sentado no banco reservado aos lutadores aspirantes, refrescando-se com uma garrafa de água mineral. Vestia calças folgadas e uma camiseta de algodão; nos pés uma sapatilha. Ao seu lado estava um jovem de pele morena e cabelos na altura dos ombros, feições latinas, no rosto uma barba rala. Também bebia água para aliviar o forte calor. Vestia uma calça de bocas largas as quais estavam ensacadas dentro das botas que ele calçava, seu peito estava nu, na testa usava uma faixa de linho. Ramon Velásquez é seu nome.

            “Espero que Enyo tenha tido sucesso em fazer Seiya beber do preparado de ervas. Quero-o de pé e gozando de boa saúde para que eu, já em minha condição de Cavaleiro de Ouro, possa lhe devolver sua armadura inútil. Ouvi dizer que este guerreiro ao meu lado foi discípulo de Shura, o antigo Cavaleiro de Capricórnio. Creio que a luta será mais interessante do que eu supunha”, pensou Malek, dando mais um gole na água.

            Finalmente, o Mestre de Cerimônias chamou os contendores para o centro da Arena, explicou-lhes a regra do combate e os mandou cada um para seu canto. Finalmente, deu a ordem para começarem:

- Lutem!

Malek assumiu sua postura usual de Savate, enquanto seu oponente permanecia impassível de pé a sua frente, apenas fitando-o. Malek já estava começando a ficar impaciente com aquilo. Aquele rapaz não esboçava qualquer movimento, apenas se limitando a ficar parado ali, sem se mexer. A multidão já iniciava um burburinho de descontentamento, ouvindo-se uma vaia aqui e um xingamento acolá de um ou outro espectador.

O calor já cobrava seu preço: o suor porejava implacável pela fronte de Malek e sua respiração já estava pesada. O rapaz parece não estar sendo afetado pelo calor tanto quanto Malek está, pois não demonstra sinais de cansaço. Finalmente ele se pôs de guarda, em uma postura um tanto peculiar: pernas um pouco fletidas, a mão esquerda mantida à altura da face, a palma voltada para frente, levemente deslocada para esquerda a fim de não bloquear sua visão. O braço direito era mantido dobrado em ângulo reto e junto ao flanco direito, punho cerrado, como se estivesse pronto pra desferir um golpe a qualquer momento. Seu flanco esquerdo estava constantemente voltado para Malek.

“Uma postura deveras incomum, devo reconhecer. Mas Mireille de Escorpião já havia me alertado para isso: que um dia iria me defrontar contra um lutador deste calibre. Não é um desvairado como aquele verme do Seiya! Está aguardando uma atitude de minha parte, é paciente e comedido. Não irá se mover até que eu me mova! Ah, esta será uma luta digna da grandeza da Armadura de Ouro de Capricórnio! Uma Luta digna de Ares, o Deus da Guerra! À Batalha!”, pensou Malek, realmente excitado com tudo aquilo.

Era possível sentir uma tensão crescente no ar. Ramon mantinha a respiração compassada, a fim de não se cansar mais que o necessário, dado o calor causticante que fazia, no intuito de não gastar em vão suas energias. Sabia que iria precisar de cada gota dela para esta luta. O suor já escorria pelo seu peito nu. Vez ou outra, uma leve brisa morna soprava do nordeste, aliviando um pouco aquele mormaço crescente.

“Huuum... Este hombre não é igual aos otros. Non irá atacar até que yo o ataque. Yo sinto una energia cósmica muy fuerte nele, não é um simples aprendiz. E sua postura é estranhamente familiar, já a vi antes. Non! No puedo tener medo! Señor Shura ensinou-me a dominar mi medos! Yo tengo Excalibur comigo! Nada puede resistir a su poder! Mi brazos son las armas mais mortíferas de todo el mundo! YO VOY VENCER!”, pensou Ramon, decidido.

Concentrando-se, Malek tentou alcançar a mente de seu oponente com a sua, a fim de saber o que se passava dentro dela. Para sua surpresa, não encontrou coisa alguma, um grande vazio! Nenhum pensamento! Uma sensação de pânico se apoderou de seu coração, pois esta é sua principal tática de luta: ler a mente do oponente para antecipar seu ataque. E aquele desconhecido acaba de pô-la por terra!

Para sua surpresa, Ramon se pôs a gargalhar efusivamente, como se zombasse dos esforços de Malek em ler sua mente.

- Que passa, niño? Non conseguiste ler mi mente? – Perguntou Ramon, com ar jocoso, falando em grego com sotaque carregado.

- Cala-te, pois, infeliz! Tu não irás escarnecer de minhas técnicas! – Respondeu Malek, queimando de ódio, dentes cerrados num esgar. – Sim, é bem verdade que não conseguir perscrutar tua mente vazia! Bem me admira que conheças minhas técnicas, mas isto não irá me demover os ânimos nem abalar minha confiança!

- Parece-me que sua confiança já está muy abalada, niño! – Falou Ramon, entre risos. – Donde estan aqueles brilhos que eu pude ver em tu ojos? Sumiram de repente!

- Ah, tu queres ver os brilhos em meus olhos? – Perguntou Malek, cruzando os braços contra o peito. – Então, mostrá-los-ei a ti!

Malek inicia a elevação de seu cosmo. Gradativamente, o ar ao seu redor crepita com pequenos relâmpagos que o circundam e se espalham pelo chão. Um pequeno torvelinho se formou ao seu redor, elevando-se no ar. A multidão vibra com toda a aquela demonstração fantástica de poder. De seus olhos, uma leve luminescência emanava e pequenos relâmpagos saltavam. Malek estava realmente possesso. De onde estava, Aldebaran a tudo observava, atento que estava aos dois contendores. O elmo da Armadura de Touro repousava em suas pernas.

“Shura, você ensinou bem a este rapaz. A mente de um verdadeiro espadachim deve estar livre e serena como um lago na montanha, e seu espírito deve estar na mais perfeita paz, uno com sua lâmina, aguardando o momento certo de sacá-la de sua bainha. Este é, sem dúvida, o espírito do Iaijutsu. Não admira que a tentativa de uso da técnica de Leitura de Mente tenha falhado: Um espadachim treinado e mestre de seu estilo nunca pensa no que vai fazer em seguida, apenas o faz, pois já sabe o que irá fazer! É como se sua lâmina tivesse vida própria em suas mãos! Ela não pensa, ela age! E assim é com os lutadores também, pois a confiança em si mesmo e em suas técnicas os faz reagir sem precisar pensar no que irão fazer, seus corpos já agem por conta própria! Shura, meu velho, este seu discípulo será um páreo duro para o jovem discípulo de Hipólita, sem dúvida alguma!.”, pensou Aldebaran, visivelmente empolgado.

Súbito, ambos os contendores desaparecem. Atônita, a multidão passa a procurá-los pela arena, sem obter êxito. O que se escutou a seguir foram baques secos e lampejos aqui e ali, seguidos do revolver da areia, como se pés invisíveis a estivessem pisando. Os comentários de surpresa se multiplicaram entre os espectadores, pasmos que estavam em não saber o que acontecia ali.

Tão repentinamente como começou, os lampejos e baques terminaram e ambos os lutadores reapareceram, em lados opostos da arena aos que se encontravam antes. A princípio ficaram parados onde estavam, mas logo caíram ambos de joelhos. “Eu o acertei, tenho certeza!”, pensou Malek, confiante, mas tal confiança logo desapareceu quando viu que seu oponente se levantava intacto.

- Mas que sortilégio é este? – Vociferou Malek, pondo-se de pé, resoluto. – Eu tenho certeza de que te acertei! Porventura não sentiste nada?

- Oh, si! – Respondeu Ramon, limpando o canto da boca que sangrava. – Usted me acertou uns dois ou três golpes, não tengas dúvida. Mas yo te golpee también!

Ramon estalou os dedos e, para a surpresa de Malek e de todos os presentes, uma série de cortes se abriu no peito e nos braços de Malek. O sangue jorrava e espirrava em bicas, encharcando o chão de terra ao seu redor. Malek prostrou-se de joelhos, atônito, o mundo girando caótico. Um calafrio tomou conta de seu corpo e tremores se apoderaram de seus membros. A hemorragia não cessava.

- Maldito... sejas... tu! – Falou Malek, a voz embargada, quase não saindo. – Como fizeste tal coisa... sem que eu pudesse perceber? Estás armado com alguma lâmina oculta, por certo!

- Não, ele não está, aspirante Malek! – Iniciou Aldebaran, um tom severo carregava sua voz. – É sabido que armas são expressamente proibidas aos Cavaleiros de Athena, o mesmo valendo para os aprendizes, com exceção do Cavaleiro de Libra. Seu oponente não utilizou nada mais que suas próprias mãos para feri-lo, isso eu lhe asseguro!

Como que para reiterar o que afirmou Aldebaran, Ramon passou a língua na borda externa de sua mão direita, a qual ainda trazia o sangue de Malek nela. Um brilho quase cruel podia ser visto em seus olhos. Malek tentava a todo custo pôr-se de pé, mas a cada tentativa, tornava a tombar de volta, como um bêbado. A consciência teimava em lhe escapar.

- Que passa, niño? – Perguntou Ramon, irônico. – No puedes mas? Saiba que a técnica que utilizei em ti irá fazer com que sangre até a morte. Tu vida irá fluir por estes cortes juntamente com teu sangue! Logo irá morrer de hemorragia e Armadura de Capricórnio será minha, como é meu direito! Caia vítima de La Muerte Rubra!

Alojamentos da Vila Olímpica, vinte minutos antes.

Hyoga corria em direção a seu alojamento, na esperança de encontrar Shiryu já pronto para seguir à arena nº 2. Mas o que encontrou foi uma surpresa para ele: Seiya, já recuperado e se aprontando para lutar. Shiryu entra no quarto logo em seguida, trazendo consigo a urna da Armadura de Dragão.

- Ah, olá, Hyoga! - Começou Shiryu, com um sorriso. – Vejo que também se espantou ao ver Seiya já recuperado!

- Olá, Hyoga! Bom dia! – Falou Seiya, indo dar um abraço em Hyoga. – A surpresa também aconteceu quando percebi hoje de manhã que nada mais doía e que todos os hematomas haviam desaparecido. Não sei o que aquela enfermeira me deu pra beber, mas se todo remédio amargo tiver este feito, eu tomaria sem reclamar! E ela é tão bonita...

- Pare de babar, Seiya, já está molhando o chão! – Disse Hyoga dando um leve tapa na cabeça de Seiya. – É bom saber que já está bem. Mas tem certeza que está em condições? Vai mesmo lutar assim, sem Armadura? Lembre-se que vamos enfrentar os novos Generais de Poseidon, meu amigo!

- Não tenha tanta certeza de que ficarei sem armadura, Hyoga! – Falou Seyia, apertando ainda mais as faixas que estava enrolando no punho esquerdo. – Malek prometeu a Athena que me devolveria a Armadura de Pégasus, mesmo ele não sendo bem sucedido na disputa da Armadura de Capricórnio. Se ele não honrar a promessa, EU TIRAREI A ARMADURA DELE DE UMA FORMA OU DE OUTRA! A luta pela Armadura de Capricórnio deve estar acontecendo antes da nossa. Se corrermos, conseguiremos chegar a tempo.

Como que coroando o que disse Seiya, alguns jovens aspirantes passaram no corredor comentando sobre a luta de logo mais entre o “cara que derrotou o Seiya de Pégasus” e um outro que dizem ser o discípulo de Shura de Capricórnio. Uma amargura tomou conta do espírito de Seiya, muito pior que o amargo do remédio que havia tomado. Lágrimas furtivas ameaçaram rolar de seus olhos, mas logo foram contidas.

- Não ligue, Seiya. Você é melhor que isso. – Falou Shiryu, pondo a mão no ombro do ex-Cavaleiro de Pégasus. – É na derrota que descobrimos nossa verdadeira força e do que somos realmente capazes.

- Lembre-se, Seiya, de que somos seus amigos. – Continuou Hyoga, afagando os cabelos revoltos do rapaz. – E estaremos com você pro que der e vier.

- Mas eu não sou mais o Cavaleiro de Pégasus, Hyoga! Malek é! – Falou Seiya, sacudindo Hyoga pelos ombros. – Eu perdi a luta e perdi muito mais que minha Armadura ou meu título: EU PERDI MEU ORGULHO! Será que pode entender isso?

- Entendo muito bem o que sente, Seiya! – Continuou Hyoga. – Mas sentir pena de si mesmo não vai ajudar em nada. Se entrar naquela arena com este espírito de luta, pode se considerar morto! É isso o que quer? Foi pra isso que lutou até hoje? RESPONDA-ME, VAMOS!

- Eu... não sei... – Respondeu Seiya, largando Hyoga. – Eu só quero... voltar a ser o que era: um Cavaleiro de Athena. Um Cavaleiro que...

- “Que nunca foi derrotado antes”, é o que iria dizer? – Completou Shiryu. – A derrota não é o fim do mundo, Seiya. Só serve pra nos dar mais força pra continuar tentando. Deixar a baixa auto-estima nos dominar é que é a verdadeira derrota! Olhe pra você, homem: não é nem mesmo o Seiya que lutou contra mim na última Guerra Galáctica! Naquele dia você tinha um brilho nos olhos que vi em poucos oponentes! A determinação e a garra que você demonstrava eram dignas de um verdadeiro Cavaleiro! Pra mim foi um orgulho ter lutado contra você! E lutamos sem Armaduras, se bem me lembro...

- Eu... – Começou Seiya, a cabeça baixa e os cabelos cobrindo-lhe os olhos. – Eu quero ver a luta de Malek.

Seiya saiu em disparada pela porta. Venceu os corredores do alojamento e ganhou as ruas da vila olímpica, seguindo em direção das arenas.

- Espere, Seiya! – Gritou Hyoga, debruçado na janela.

- Calma, meu amigo, acho que funcionou. – Falou Shiryu. – Creio que agora ele entendeu e vai voltar a ser o velho Seiya que conhecemos.

- Eu espero, Shiryu. – Respondeu Hyoga, voltando-se para o interior do aposento e cruzando os braços com uma expressão visivelmente consternada no rosto. – Senão poderemos perder nosso amigo para sempre se ele for lutar sem seu orgulho de guerreiro e com o espírito abalado do jeito que está!

Arena nº 1, tempo atual.

Após muito tentar, Malek finalmente conseguiu se por de pé. A técnica de Ramon era realmente terrível! O sangue escorria inestancável pelos cortes abertos em sua carne. Quando tentava focar sua visão em Ramon, ela lhe falhava exibindo várias imagens de seu oponente, ora em foco, ora desfocada. Num segundo, ele estava a alguns metros de distância, no outro estava bem a sua frente, punho armado pronto para socá-lo. No segundo seguinte, tudo era um turbilhão desconexo de socos e chutes em seqüência.

Malek estava sendo impiedosamente massacrado, nada podendo fazer para revidar, pois seus membros não lhe obedeciam. Algumas pessoas da platéia cobriam os olhos para não testemunhar aquela carnificina. Nem mesmo Mireille de Escorpião, a Amazona a qual lhe ensinou seu estilo de luta, o surrava desta maneira nos treinos mais puxados. Malek sentia suas costelas sendo esmigalhadas pelos punhos daquele espanhol, e os pedaços arranhavam seus pulmões a cada vez que seu abdômen era golpeado.

Súbito, tão rapidamente quanto começou, aquela tortura terminou. Malek sente que seus pés não estão tocando o chão no momento em que desaba como um cadáver. Logo vê que se encontra no extremo oposto da arena, caído próximo ao paredão. Foi surrado sem parar por mais de trinta metros! Ramon se encontra parado a sua frente, ofegante, arfando como quem teve o ar privado dos pulmões. Os punhos sangravam e estavam esfolados devido ao massacre que promoveram.

- Non es posible! – Exclamou Ramon. – Como puedes estar vivo depois desta seqüência? Yo soy capaz de derrubar toros com as mãos limpas! Muy bien, veremos se irá continuar vivo depois de receber meu Ken mais poderoso!

Ramon recuou alguns metros e voltou-se para Malek. Ergueu sua mão, dedos juntos em forma de lança, e a apontou para o céu. Uma energia azulada começou a percorrer seu braço e se acumular na ponta de seus dedos.

- Mestre Shura não me agraciou com sua técnica magistral, Excalibur. – Começou Ramon, nos olhos uma expressão quase insana. – Mas eu não o culpo. Segundo o que eu soube, ela está com un Caballero de valor, coisa que usted não é. Graças a eso, eu pude desenvolver mi própria técnica: Magna Flash! E é por ela que usted vaya a morrir ahora!

- MALEK! – Uma voz se fez ouvir na multidão. – Não ouse morrer sem cumprir sua promessa, seu miserável! CUMPRA A PROMESSA QUE FEZ A ATHENA!

- Essa voz... Devo estar delirando. – Murmurou Malek. – É a voz de Seiya. Mas, não é possível, ele está no hospital, se recuperando. Mas, ao mesmo tempo, posso sentir seu Cosmo.

Malek ergue seu olhar para a multidão e cruza com o olhar de Seiya. O ex-Cavaleiro de Pégasus cerra os punhos em frente ao rosto, como que em uma atitude de apoio e solidariedade. Malek tenta captar os pensamentos de Seiya e tudo o que capta é a palavra “força”. Como se aquilo fosse uma ordem, Malek arrebanha forças de seu íntimo e se põe de pé. Encarou Ramon nos olhos e começou a concentrar seu Cosmo.

- Eu... já escutei esta frase...  certa vez e a julgo ser propícia... para este momento: VAMOS SEPARAR OS HOMENS DAS CRIANÇAS POR AQUI!

- Vejo que usted quer morrer de pé, isso me agrada! – Começou Ramon – Não gosto de matar oponentes já tombados! Mande-me sua melhor técnica e veremos quem é el hombre e quem é el niño!

- É bom que tenhas em mente que foste tu que pediste por isso! Asseguro-te que nada, realmente nada, sobrará aqui após isso! Talvez, nem mesmo eu! – Assinalou Malek,

Malek cruzou os braços na frente do peito e elevou ainda mais seu cosmo. A areia embaixo de seus pés começou a ser soprada para longe por um torvelinho que se formou ao seu redor, elevando-se no ar. Ramon continuava em sua postura, com o braço direito apontado para cima e uma esfera de energia azulada se formando na ponta dos dedos. De repente, ambos invocaram suas técnicas em uníssono.

- MAGNA FLASH! – Gritou Ramon.

- MAXIMILLION – GRANDE IMPACTO! – Gritou Malek.

O braço de Ramon descreveu um arco a sua frente ao arremessar a esfera de energia a uma velocidade vertiginosa em direção de Malek. A esfera seguiu em seu curso de destruição, abrindo uma profunda vala no chão em seu rastro. Relâmpagos amarelados envolveram o corpo de Malek, o qual estendeu ambos os braços à frente, punhos cerrados, uma torrente de energia pura se concentrando neles, de magnitude tal que partículas luminosas podiam ser vistas convergindo para um ponto faiscante à frente dos punhos.

A esfera luminosa disparada por Ramon se aproximava inexorável. A platéia já julgava que Malek fosse ser engolfado por ela e tudo acabaria ali, simples e rápido. Mas o cosmo daquele rapaz continuava a crescer de maneira meteórica, fazendo-o brilhar como um pequeno sol. Então aconteceu.

No princípio era apenas um pequeno ponto luminoso, mas no instante seguinte aquele ponto tomou dimensões colossais, tornando-se um nexo de energia cósmica muito maior que os dois contendores, ficando quase mais alto que o paredão que separa a arena da platéia. Tudo o que escutou em seguida foi Malek bradando “morra” e disparando aquela massa de destruição em direção à esfera energética que Ramon arremessara e sendo jogado na direção exatamente oposta à do ataque, dada a força titânica a qual havia empregado nele.

O ataque de Ramon se chocou contra aquela massa avassaladora de energia e houve uma grande explosão de luz e cores. O ataque de Malek engolfou o de Ramon como o mar revolto engoliria um pequeno barco com suas ondas bravias, fazendo-o desaparecer nas águas. Ramon assistiu atônito toda aquela energia vir em sua direção, paralisado que estava de pânico e horror em ver sua mais apurada técnica ser sobrepujada daquela maneira esmagadora. Tudo o que fez foi sentir o calor da energia o banhar e pensar: “Yo voy a morrir! Mestre Shura, perdoname!”.

A areia no rastro da rajada de energia ferveu a ponto de fundir e se tornar uma placa de vidro fumegante. Seguiu-se uma fantástica explosão de luz e destruição, a qual abriu uma enorme cratera onde se encontrava Ramon, rachando o paredão da arena desde a base até o topo. Muitas pessoas que ali se encontravam foram arremessadas de seus assentos, abaladas que foram devido ao tremor que as estruturas da arena sofreram.

Ramon abriu os olhos, crente que estava morto, mas o que viu ao abri-los o deixou ainda mais estupefato: interposto entre a rajada de energia de Malek e Ramon estava Aldebaran de Touro, detendo aquela onda energia devastadora com as próprias mãos! Ele gritava dado o esforço hercúleo que estava fazendo para parar toda aquela onda de destruição, a qual tinha força suficiente para empurrá-lo para trás, fazendo seus pés abrirem profundos sulcos no chão. Finalmente, reunindo forças do seu íntimo, Aldebaran arremessou toda aquela energia para cima em direção ao céu, a qual seguiu em seu curso. Naquele dia quente, um jovem camponês na cidade de Rodórios, no sopé da Colina do Santuário, viu uma estrela brilhar no céu em pleno dia, mais brilhante que o próprio Sol, para logo depois desaparecer entre as nuvens.

Enfim, tudo terminou. Aldebaran arfava e Ramon ainda resmungava algo que parecia ser “Yo no morri!”, encolhido no canto em posição fetal. As poderosas mãos de Aldebaran estavam fumegantes, um pouco carbonizadas nas palmas. O Cavaleiro de Touro caminhava decidido em direção ao aspirante de cabelos brancos, que estava caído ao pé da parede da arena, esgotado que estava. Sem se levantar, Malek o encarou, entre uma tosse engasgada e algumas golfadas de sangue.

- Você é um inconseqüente! – Começou Aldebaran. – Não se importa com mais nada nem com ninguém! Nada, a não ser a vitória a qualquer custo!

- Evidente, Cavaleiro de Touro! – Respondeu Malek, respirando com dificuldade. – Estou aqui para vencer, para tomar a vitória das mandíbulas ávidas da derrota.

- Ah, muito poético da sua parte! – Aldebaran ergue Malek, segurando-o pelo que restou de sua camiseta e fazendo-o encará-lo. – Disparar um Ken daquela magnitude em um lugar como este é pôr as vidas destas pessoas aqui presentes em risco, seu grande idiota! Você mostra não ser digno da Armadura de Capricórnio, pois não se importa com as conseqüências de seus atos!

- Não é minha culpa, nobre Aldebaran, se os arquitetos responsáveis por esta arena não foram prudentes em fazê-la em um tamanho adequado para suportar os rigores impostos pelas lutas dos contendores, e oferecer a segurança necessária à platéia que as prestigia. – Respondeu Malek. – Apenas cumpri meu dever: o de vencer! Agora, que tu cumpras o teu sem demora: declara-me vencedor deste embate e honra-me com os louros da vitória!

A multidão já começa a ser influenciada pelo discurso de Malek e protestava contra Aldebaran. Logo os breves comentários se tornaram um coro de protestos e palavras de apoio ao caído “Guerreiro dos Cabelos Brancos”, como ele estava sendo chamado pela platéia. Em meio a tudo aquilo, Seiya se pegou torcendo a favor de seu algoz, levado que foi pela retórica e loquacidade dele. Aldebaran já se sentia pressionado por tudo aquilo, e já olhava ao redor. As pessoas já estavam de pé com os punhos cerrados e o polegar voltado pra cima, tal como se via nas arenas de gladiadores da antiga Roma, em sinal da aprovação. Todos repetiam em uníssono: “Cabelos Brancos! Cabelos Brancos!”.

- Seria prudente e de bom tom, Cavaleiro, escutar a voz do povo. – Falou Malek, em tom baixo, de forma que só Aldebaran pôde ouvir o que dizia. – Ou, de outra forma, tu, e até mesmo Athena, poderão passar por injustos perante eles, em não honrar os vencedores com aquilo que conquistaram tão arduamente. O que seria de vossas imagens perante aqueles a quem defendem com tanto ardor? O que será do prestígio que vós gozais em meio ao povo, que os idolatra tal qual deuses que são?

- Maldito seja, miserável! – Rosnou Aldebaran em um esgar de descontentamento. – Não me pressione!

- Pressionar? Eu? – Respondeu Malek, entre risos e alguns gemidos de dor. – Longe de mim tal ato infame, Aldebaran! Vede? Bastou que eu desse ao povo um pouco do que se espera de um verdadeiro Cavaleiro de Ouro e veja o resultado: eu já os conquistei! E eles mal me conhecem! Há um dito popular que reza que “a voz o povo é a voz de Deus”. E é mister não contrariar a voz de Deus, pois não?

- Pode ter conquistado a aprovação das massas, mas não a minha e, talvez, não a de Athena, que não está aqui para presenciar este circo traiçoeiro que você armou! – Respondeu Aldebaran, pondo Malek de pé. – Mas que seja! Irei declarar você o vencedor do combate. Afinal, se eu não detivesse seu ataque, a essa altura o pobre Ramon e algumas dezenas de pessoas da platéia e não sei quantas outras mais fora da arena, teriam sido desintegradas. Mas saiba que estarei de olho em você, sua cobra venenosa!

- Cobra? – Perguntou Malek – Não, cobra não é o título mais adequado para mim de agora por diante, visto que o mesmo já possui uma dona. Daqui pra frente, colega, peço-te que me chames de Malek de Capricórnio!

Aldebaran levou Malek até a tribuna onde estava a Armadura de Capricórnio e o fez prestar o juramento de Cavaleiro em honra de Athena, o qual um orgulhoso Malek o prestou com prazer. Perto dali, em um dos camarotes, Hipólita de Leão a tudo assistia, não cabendo em si de contentamento, satisfeita que estava com seu discípulo. Na arena, os maqueiros levavam Ramon para o centro médico, em estado quase catatônico e repetindo coisas sem sentido sobre ainda estar vivo. De posse da Armadura de Capricórnio, Malek levou até Seiya a urna da Armadura de Pégasus, trazendo-o em seguida para a tribuna. Lá fez um discurso.

- A honra é um dos atributos mais importante de um Cavaleiro de Athena. É ela que nos faz ser o que somos. E a honra nos diz que devemos manter nossas promessas. Seiya, e te prometi que, fosse qual fosse o resultado de minha empreitada hoje, eu te devolveria a Armadura de Pégasus, abdicando de meu direito de envergá-la. Aqui estou, diante de todos, a te retorná-la. Enverga-a agora com a mesma honra e brilhantismo que tiveste no passado e que, eu bem sei, tu terás ainda mais no futuro. A ti e a todos nós estão destinadas glórias sem limites, meu irmão Cavaleiro!

Uma ovação ensurdecedora se seguiu às palavras de Malek. Palavras que por pouco não trouxeram lágrimas aos olhos de Seiya. Se Malek o levou ao fundo poço ao derrotá-lo há alguns dias, agora reascendeu a chama de guerreiro em seu coração a qual já estava quase extinta, mais forte e brilhante que antes. Logo depois, Hyoga, Shun e Shiryu chegaram à arena, para ver toda aquela comemoração e ver Seiya receber a urna de Pégasus das mãos de Malek. Em seguida, Malek cai inconsciente vítima de seus ferimentos.

- Ele conseguiu. – Disse Hyoga.

Os demais não entenderam bem se Hyoga se referia ao fato de Seiya ser novamente um cavaleiro ou a Malek ter conquistado o Título de Cavaleiro de Ouro de Capricórnio. Mas na puderam ponderar muito a respeito, pois os alto-falantes já anunciavam o início do evento principal daquele dia: o confronto entre o Time de Athena contra o Time de Poseidon.

Continua no próximo episódio....


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