9 de dezembro

Banheiro da casa de Luke Reynold, Seattle

Adivinhe só? OS amigos da Megan, são, na verdade, poucos e não são zé-ninguens.

São três: Luke Reynolds e Jason e Emily Montgomery.

Luke Reynolds tem dezesseis anos, nenhum irmão e mora com seu pai, que é viúvo. Odeia gente careta e louras oxigenadas que geralmente comandam escolas de ensino médio. Seus passatempos incluem assistir filmes de ação e ler livros de mistério policial. Ah, e é o líder do grupinho.

Jason Montgomery tem 15 anos e meio, três irmãs mais novas e mora com elas e a mãe (o pai foi embora há dois anos). Gosta de fliperama e de motos. Odeia quando sua irmãs pegam as coisas deles sem pedir ou rasgam suas revistas de motos. Quem faz essas coisas geralmente é Emily.

Emily Montgomery diferente dos outros, tem treze anos e mais coragem que todos eles juntos. Ela pintou todo o cabelo de azul quando tinha doze anos e desde então tem pintado de uma cor berrante diferente por mês. Dezembro é o mês do verde. Emily gosta de rock em geral, filmes e livros de fantasia e claramente de irritar as pessoas. Deus, como essa garota fala!

Nós nos encontramos no café dos pais da Megan e ficamos lá, conversando. Depois, saímos para a casa de Luke porque o assunto videogame surgiu e fomos lá para jogar (finalmente achei garotas que não acham Resident Evil 4 “nojento”). E foi aí que tudo deu errado.

Quando entramos, tinha esse cara vestido de policial, que devia ser o pai do Luke, falando ao telefone. Na mesa da sala, fotos de uma garota loura de olhos azuis supermaquiada e que nunca jamais usaria roupas da Gap.

“Estamos procurando arduamente por ela” dizia o Sr Reynolds “Sim, sim, já vimos em albergues, moteis, até becos escuros e nojentos. Não a achamos em lugar algum”.

Infelizmentem, saímos da sala nesse momento e não pude ouvir mais nada.

Ah meu Deus, aquele cara estava falando com o meu pai! O pai do meu possível amigo é um policial envolvido na missão “Traga-Alynne-de-Volta-Para-Chicago”!

Você não pode imaginar o pânico que eu senti naquele momento. Assim que chegamos ao quarto de Luke, Emily disse:

“O que é que o seu pai tem?”

Luke deu de ombros.

“É esse caso de uma garota que fugiu e o pai está dando uma fortuna para achá-la. Os policiais da área juram que a viram aqui em Seattle” ele disse enquanto ligava o videogame.

“Que garota louca” comentou Jason “Por que será que ela fugiria? A comida da escola dela é muito ruim?”

Eu dei uma risadinha sem graça e logo depois perguntei onde era o banheiro. E então me tranquei aqui.

Quer dizer que eu estive assim perto de ser pega? Bom, eu estava bem ferrada, porque além de fugir da polícia, houve aquele momento de pânico e raiva em que eu quebrei um posto de gasolina e um ponto de onibus (é incrível o que você pode fazer com botas de salto alto). Pessoas podem ser presas por isso? Acho que sim.

Eu tenho que ir embora daqui. Continuar fugindo. Se eles suspeitam que eu estou aqui e eu estou convivendo com o filho de uma policial, eu tenho que ir embora imediatamente. Acho que posso comprar uma passagem só de ida para a Irlanda ou algo do tipo. E eu podia arranjar um emprego, sei lá, ajudando os duendes a fazer seus potes de ouro.

Ok, volta. Eu já estou pirando. Pra início de conversa, porque eu fugi?

Fugir do internato em Maryland? Provavelmente não, já que eu deixei Chicago de qualquer maneira. Aliás, isso foi meio idiota. Me gabar de Natasha, que tentou fugir quando tinha doze anos, mas era covarde demais? Talvez. Irritar meu pai? É, acho que foi isso.

Meu pai nunca me deu atenção desde que mamãe desapareceu. Nem quando eu ganhei a feira de ciências (ei, não é porque eu sei tudo da Chanel que eu sou burra), nem quando meu conto apareceu no jornal, nem nada. Natasha nem se importa – ela tem a faculdade, colegas de quarto gays e outras coisas para se preocupar. Kevin está na dita fase “acordar, comer, jogar videogame, dormir, acordar, comer, jogar videogame, dormir, acordar, comer, jogar videogame, dormir” então nem tem coisas para fazer papai orgulhoso. Eu sei que pareço uma garotinha carente e retardada, mas meu pai não me dá a menor atenção, então eu fujo e bum!, ele oferece uma fortuna para quem me levar de volta pra casa? Acho que o plano funcionou.

Eu tenho que ir embora de Seattle. Não para a Irlanda. Acho que Canadá basta. Eu não posso arriscar ficar aqui quando eles suspeitam que é aqui que eu estou. Eu já fiz coisas bem ruins para eles me levarem para a cadeia. Como aquela vez que eu bati em um policial. Mas foi só uma vez.

É isso. Eu tenho que fugir. E vai ser hoje à noite.

Megan está batendo na porta perguntando se eu estou bem. Respiro fundo

“É claro que estou” digo “Vou sair daqui e nós vamos matar alguns zumbis”.