A deusa perdida escrita por Nina C Sartori


Capítulo 5
Acordada




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Estava sonhando, só podia. Esse foi o sonho mais esquisito de todos. Várias imagens passavam depressa, parecia que estavam transferindo um filme rapidamente para a minha cabeça. Vi guerras, semideuses, brigas, risadas, monstros... Parecia que tudo estava encaixando agora.

Abri os olhos com uma dor de cabeça terrível. Sentia-me estranha, parecia que estava desacordada por séculos. Sentei na cama e a primeira visão que tive foram das minhas roupas. O que era aquilo? Tratei de trocar para o meu belo vestido cinza, com o meu cinto dourado acompanhado das minhas espadas que quando juntas se transformam na minha arma mais poderosa. Passei a mão nos cabelos e estavam horríveis, tratei de transformá-los em uma trança impecável, só com o poder da minha mente. Olhei ao redor e vi que estava em um quarto conhecido, mas não era o meu. Vi uma caixa ao lado do meu corpo e vi um espelho em seu conteúdo, então comecei a lembrar de tudo.

Comecei a ferver de raiva por lembrar quem foi à pessoa responsável por minha perda de memória. Peguei a minha capa e a coloquei grudada ao meu vestido. Andei furiosa pelo palácio atrás da pessoa. Atravessei os campos gramados até uma saleta bem arejada e branca. Eu sei que ela está aí, afinal aquela saleta é somente para o seu uso próprio. Passei pela porta de entrada, encontrei a pessoa deitada no meio de várias almofadas com frutas ao seu redor e também ambrosia dos deuses junto com a sua comparsa, rindo. Quando perceberam a minha presença, Afrodite ficou séria, mas Hera sorria com ar de deboche.

— Então resolveu abrir a caixa e trazer a sua vida perfeita de volta, não é? Mas espero que não cause o mesmo problema que antes.

Com certeza isso foi uma ameaça.

— Você não tinha o direito de roubar a minha memória e com a ajuda desta inspiração da Barbie usou a caixa espelhada para aprisioná-la!

Afrodite se sentiu ofendida.

— Por amor faço tudo. Se me dão licença, essa briga não é minha.

E saiu ofendida.

Encarei Hera mandando uma onda raivosa para ela. Senti que o ar já estava mudando. Ela simplesmente sorriu, se divertindo com a minha ira.

— Quis pagar na mesma moeda, somente isto.

— Somente isto? Você me aprisionou no mundo mortal, me fazendo acreditar que era uma! Você sabe muito bem os riscos de me deixar na Terra.

Ela suspirou.

— Você é a chave para abrir alguma coisa. E daí? A única coisa que quero é evitar outro deus menor por aí que não será meu filho.

— O quê? Você fez tudo isso por ciúmes?

— Não. Fiz isso para assegurar a harmonia do meu casamento. Desde que Zeus decidiu coloca-la hospedada aqui até conseguirem diminuir o perigo, sim, aceitei no começo, mas não imaginava que seria uma ameaça para mim. Você se tornou minha amiga e só para que objetivo? Conquistar Zeus. Você me apunhalou pelas costas, então fiz o mesmo com você.

Não acreditava em tudo aquilo. Ciúmes. Ciúmes! O verdadeiro motivo para Hera ter feito isso comigo. Tentei respirar fundo.

— Você está duvidando da pessoa errada, Hera. Por que sempre você julga as mulheres e não o seu próprio marido? Afinal, ele que é o conquistador daqui que teve filhos ao redor do mundo com várias deusas e também com mortais.

Hera não gostou muito da última parte.

— Zeus pode ter os seus surtos quando brigamos, mas saiba que ele sempre volta para mim. Você será só mais uma que ele teve um casinho qualquer.

Não aguentava mais aquela conversa.

— Hera, eu não tive nada com o seu marido. Estou cansada de discutir, então irei me retirar. Só deixo um aviso, não mexa mais no que me pertence. Se fizer isso, irá se arrepender.

Deixei-a na saleta e saí de lá o mais rápido que pude, não aguentava mais a energia de ciúmes daquela louca. Segui em direção ao observatório divino, onde podia ver a Terra. Sentei em um banco de mármore e comecei a pensar. Pensar em tudo que ocorreu. Era estranho lembrar como fui iludida por uma coisa que colocaram na minha cabeça, uma ideia absurda. Vivendo com os mortais. Logo eu, a deusa das tempestades. Posso ser uma deusa menor e não ter um lar tão importante como o Monte Olimpo, mas tenho o meu próprio palácio, não admitia ficar aqui, ainda mais depois do que houve entre mim e Hera. Preciso achar um modo de sair daqui e voltar para onde sou respeitada e adorada.

Não sei a justificativa sensata para Hera ter feito isso. Ciúmes. Que patético. Desde que vim para cá, lembro muito bem que não ocorreu nada demais comigo e Zeus. Creio que ela deve ter cismado por várias vezes ter nos encontrado conversando. Admito que os lugares fossem não muito apropriados, mas só lá Zeus não era interrompido e assim poderíamos conversar em paz.

— Sabia que iria te encontrar aqui.

Virei e encontrei Apolo. Ah, Apolo. Levantei e fui a sua direção para abraça-lo.

— Apolo! Como é bom tê-lo por perto.

Ele riu.

— Fico feliz por ter sentido minha falta.

Encarei aqueles olhos claros e calorosos, o sorriso deslumbrante, os cabelos castanhos... Como sentia falta dele.

— Claro que senti. E fico feliz por você ter me procurado todo esse tempo que desapareci.

— Relaxa. Eu não iria ficar de braços cruzados como a maioria esperando você aparecer de repente. Tive que procura-la.

Suspirei.

— Pelo menos alguém se importa comigo aqui.

Fiquei de costas para Apolo e observei a Terra que estava escura. Somente a luz de Ártemis a iluminava.

— Deixe de besteira, eu não fui o único que quis saber onde você estava.

Dei risada.

— Pare de tentar elevar a minha autoestima.

— Mas estou falando sério.

Encarei-o.

— Então quem?

— O chefão daqui, que a propósito é o meu pai.

Dessa vez fiquei bem surpresa. Zeus. Preocupado comigo. Fala sério, como dizia Bella. Apolo percebeu o meu espanto e descrença.

— É sério. Ele sabia que eu estava investigando sobre o seu sumiço, então me perguntava a respeito. A única parte que ele não sabia era que eu já tinha a achado e estava te vigiando.

Assim mesmo era uma surpresa para mim, afinal Zeus não está tão amigável comigo.

— Tudo bem, acredito em você. Apolo, tem alguma notícia sobre o meu palácio? Estou preocupada.

Ele pareceu pensar um pouco.

— Tem muito tempo que não apareço lá, mas da última vez que estive o seu braço direito estava cuidando muito bem de tudo.

— Ótimo. Agora preciso arranjar um jeito de sair daqui.

— Sair? Ninguém pode sair do Monte Olimpo, ordens do chefão. A única que fugiu da regra foi Ártemis, mas você sabe como é o gênio da minha irmã.

— Tem que ter um jeito. Eu consegui vir para cá e voltar para a Terra, talvez eu consiga ir até o meu palácio pelo menos por algumas horas...

Apolo riu.

— Se conseguir me avise, assim poderei passear com o meu carro por aí.

— Acharei um jeito, verá.

— Ok, vou deixa-la bolando o seu plano de fuga. Você sabe, está de noite e o sol sempre se recolhe para descansar.

Estranhei.

— Pelo que sei o sol nunca descansa, ele sai de um lugar e aparece em outro.

— Tanto faz.

— Está aprontando o quê, Apolo?

— Nada de mais, tenho que falar com Hefesto. Te vejo por aí.

Ele saiu. Alguma coisa ele estava aprontando, ainda mais quando Hefesto estava no meio. Voltei a minha atenção para o céu. Estava escuro, mas eu conseguia ver o caminho que aparecia só para aqueles que querem achar o meu palácio. Suspirei. Que saudades eu sentia de estar lá. Preciso achar um jeito de chegar lá.

— Minha senhora?

Virei e vi que tinha um espírito dos ventos.

— Sim?

— O senhor do Monte Olimpo pede a sua presença no salão dos tronos para uma reunião privada.

— Estou a caminho.

O espírito desapareceu e me dirigi para o salão dos tronos. Quando passei pelas portas gigantes, cresci uns três metros de altura e encontrei Zeus de costas para mim, vestido com a sua roupa grega e com o raio mestre em suas mãos.

— O que deseja tratar, senhor?

Ele virou para mim e me olhou sério. Detestava aquele ar de superioridade que ele sempre emanava.

— Da última vez que falou comigo não agia com tanta formalidade. Como é bom relembrar, não acha?

Não respondi, simplesmente o encarei. Ele estalou os dedos e apareceu uma poltrona bem elegante. Com um gesto de sua mão me convidou para sentar. Sentei ao mesmo tempo em que ele sentou no seu próprio trono. O silêncio se propagava no salão enquanto ele me observava.

— Confesso que a prefiro vestida deste jeito.

— Afinal, o que quer conversar comigo?

Ele sorriu.

— Sempre impaciente.


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