A deusa perdida escrita por Nina C Sartori


Capítulo 38
Conserto




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Zeus sentou onde apontei e ficou me olhando sério. Ele estava em uma ponta da mesa, mais perto da porta e eu na ponta oposta. Nos olhamos em silêncio por algum um tempo até a coragem aparecer e eu falar.

— Sei que ultimamente não temos nos dado bem e gostaria de mudar esta situação. Confesso que você tem me ajudado bastante e eu ando me estressando demais com situações que poderia ter relevado. Enfim, quero me desculpar por minhas atitudes.

Zeus estava surpreso com a minha declaração. Ele se recompôs, colocou a mão esquerda em cima da mesa e começou a tamborilar os dedos nela.

— Entendo. Algo mais?

— Peço desculpas também por ter reagido daquele modo em nosso último encontro.

Ele ficou me analisando e depois sorriu levemente.

— Algo mais?

Balancei negativamente a cabeça.

— Certo. Está tudo bem. Aceito suas desculpas, Alexis.

— Ótimo! Assim poderemos trabalhar bem melhor de agora em diante para conseguir vencer a guerra.

Ele continuou me olhando, mas agora estava com uma expressão travessa no rosto.

— Confesso que estou decepcionado com você.

Franzi o cenho estranhando aquela expressão facial e ainda a declaração.

— Por quê?

— Achei que esta conversa seria mais longa; que sua declaração fosse mais elaborada. Só que preferiu ir direto ao ponto.

— Esperava que eu acabasse fazendo uma declaração de arrependimento e ainda de paixão?

Ele abriu um sorriso largo.

— Talvez.

— Sonhe. – Revirei os olhos.

Ele riu.

— Tenho algumas dúvidas.

Puxei a cadeira que estava em minha frente e sentei.

— Quais?

Ele chegou mais perto da mesa, apoiou os braços em cima dela com as mãos entrelaçadas e me encarou seriamente.

— Quais suas reais intenções com meu filho?

Pisquei os olhos. Não acreditava que ele estava me perguntando aquilo. Comecei a rir.

— Intenções amigáveis. Não estamos mais juntos.

Ele levantou uma sobrancelha demonstrando que estava surpreso com a minha declaração. Cheguei mais perto da mesa e dei meu melhor sorriso de canto.

— Pode ficar tranquilo que estou oficialmente solteira. Devo acrescentar também que seu filho sabe do que você fez comigo e está ciente sobre seus sentimentos, senhor Zeus.

Ele deu risada.

— Menos um para explicar.

— O que mais quer saber?

— Não entendi o porquê de ter me escolhido para ficar ao seu lado durante a batalha.

Dei de ombros.

— Simples. Raios e tempestades combinam. Esta é a decisão mais sensata que tomei na reunião.

Ele sorriu. Eu sabia que estava gostando de tudo o que falei até agora, dava para notar.

— Mais alguma dúvida?

— Não, mas quero falar algo mais.

— Diga.

Ele ficou um pouco tenso, mas continuou me olhando. Agora demonstrava seriedade.

— Apesar de tudo o que houve e o que você disse, meus sentimentos continuam os mesmos, Alexis. Quero evitar problemas com você e detesto quando discutimos.

Um frio desceu pelo meu corpo com a última declaração dele. Fiquei sem reação para aquilo, não sabia o que dizer. Continuei calada encarando-o perplexa.

— Eu não quero confusão entre você e Hera, mas confesso que se ficarmos muito tempo juntos em um cômodo, não sei se conseguirei me controlar por muito tempo.

Continuei olhando para Zeus, sem falar nada, apenas ouvindo. Depois de alguns minutos, percebi que estávamos em um cômodo. Sozinhos. E que a declaração dele foi um alerta para o que pode acontecer nos próximos instantes.

— Se quiser continuar conversando comigo, terá que se controlar. Prefere que eu chame alguma de minhas assistentes para nos fazer companhia ou ir embora?

— Nem um e nem o outro.

— Então controle-se!

— Estou fazendo o meu melhor. – Ele sorriu.

— Ótimo.

Ficamos em silêncio, nos olhando. Eu não sabia o que mais conversar com Zeus e o que ele ainda estava fazendo ali, era estranho ficarmos nesta situação. Percebi que ele está tentando não fazer nada, creio que o tapa que ele levou de mim deve ter servido como aviso de algum modo.

— Alexis, posso sentar mais perto de você?

Semicerrei os olhos para Zeus, desconfiada.

— Se não tentar nada, pode.

Ele se levantou, andou até a cadeira que estava a minha esquerda, a puxou e sentou com o corpo virado para mim. Ele ficou me olhando da cabeça aos pés, estava com uma expressão pensativa.

— Quero que me responda algo, que seja sincera.

— Certo.

— Você sente alguma coisa por mim?

Fitei Zeus minuciosamente. Aqueles olhos cinzas demonstravam esperanças, mas o corpo dele tentava não demonstrar nada.

— Sinto bastante repulsa pelo seu ar de superioridade o tempo todo. Também sinto raiva quando é mandão; detesto quando é mandão. Odeio quando chega em meu palácio e acha que aqui é o Monte Olimpo para fazer tudo o que quer. Isso tudo é bem irritante.

Enquanto eu falava, Zeus ficava cada vez mais sério e seus olhos demonstravam tristeza e raiva.

— Apesar disso tudo, sei que você tem seu lado bom. E que também sinto algo de bom por você, Zeus. Só não sei direito o que é. – Ri sem emoção.

Agora Zeus estava com os olhos bem abertos demonstrando incredulidade; parecia que estava paralisado, tentando entender ainda o que eu quis dizer. Depois de algum tempo, ele olhou para baixo um pouco sem graça, consertou sua postura e apertou as mãos em punhos. Ri daquela cena. Ele me olhou.

— Está se divertindo com minha reação, não é?

— Com toda a certeza.

— Se soubesse o que se passa em minha cabeça, não estaria rindo.

Congelei. Aquele frio passou em todo o meu corpo novamente.

— Melhor eu não descobrir.

Levantei da cadeira e fui para uma janela que tinha atrás de mim, precisava de ar. Aquela conversa estava me sufocando. Ouvi passos chegarem perto de mim e me virei. Me deparei com Zeus parado muito perto de mim. Observei aqueles olhos cinzas que mostravam para mim o quanto Zeus estava me desejando. Engoli em seco. Não sei o que estava acontecendo comigo, só sei que não conseguia me mexer.

— Alexis, se eu fizer alguma coisa com você, irá ficar irritada comigo?

— Não faço ideia.

Continuamos perto demais e observando um ao outro demais. De repente Zeus me puxou. Eu estava com meu rosto colado no peitoral enquanto ele me abraçava fortemente. Envolvi meus braços em sua cintura e fechei os olhos. Ficamos alguns minutos naquele abraço apertado, apenas absorvendo aquele mar de sensações que nos inundavam no momento. Depois Zeus se afastou de mim, olhou em meus olhos e puxou as minhas mãos até seus lábios e as beijou.

— Agradeço pela sinceridade, Alexis. Tenho que voltar para o Monte Olimpo.

Assenti. Ele fez uma reverência e seguiu para a porta de saída da sala de reuniões. Fiquei por muito tempo na mesma posição, encarando a porta de saída e procurando entender tudo aquilo que estava dentro de mim, me levando a loucura.


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