A deusa perdida escrita por Nina C Sartori
Dei uma risada irônica.
— Se for o mesmo castigo que Dionísio recebeu, com certeza eu estaria feliz.
Ele cerrou os olhos e senti o ozônio ficar mais denso.
— Não estou aqui para aguentar suas brincadeiras. Você burlou as regras! Não deveria interferir na vida dos semideuses.
Coloquei os braços em cima do descanso do meu trono e o fitei totalmente séria.
— Se esse semideus for o meu filho, com certeza farei. Ainda mais que ele iria se prejudicar por causa de um erro meu; não iria me perdoar se acontecesse algo com ele.
— Medisse suas ações antes de executá-las. Não adianta tentar se explicar, será punida.
— Me explicar? Não estou me explicando, estou mostrando os fatos! Não importa o que faça, já fiz o que o meu coração pedia.
Zeus começou a rir.
— Seu coração? Desde quando está agindo como os mortais? Ah, claro! Desde que viveu com eles. Não preciso dar o mesmo aviso que dei, não é?
Apertei as mãos no trono.
— Sei exatamente onde é o meu lugar.
— Mas o que parece é que ainda não está agindo como tal.
Trinquei os dentes.
— Diga logo quais serão as consequências dos meus atos.
— Estou trancando o seu palácio. Só saíra com a minha permissão.
Levantei do meu trono.
— O quê?
— Você me ouviu, Alexis. Se preza tanto a liberdade, deveria ter pensado melhor antes de agir. Ficará aqui até segunda ordem.
— Você não se atreveria...
— Não? Já fiz.
Ele se virou e começou a sair do salão. Não iria permitir isso. Há muito tempo estava guardando a minha raiva, não aguentava mais contê-la. Fechei todas as saídas. O salão ficou escuro. A única luz que tinha ali vinha de mim e do meu bastão. Era muita energia contida. Agarrei meu bastão e fitei Zeus com raiva. Ele se virou e ficou me analisando.
— Se fizer isso sua situação irá piorar. – Ele avisou
— Duvido que piore, afinal você não sairá daqui até segunda ordem.
Agora os olhos de Zeus estavam em chamas. O raio-mestre apareceu em sua mão.
— Não quero te machucar, Alexis.
— Pensasse nisso antes de me trancar aqui.
Rodei o bastão passando por cima da minha cabeça e depois o pegando com a mão direita e lançando-o em direção a Zeus com uma rajada violenta de vento. Ele fora atingido pelo meu bastão o prendendo na parede. Um redemoinho se formou ao redor dele. Fui andando calmamente, enquanto ele me fuzilava com os olhos.
— Está satisfeita em me atacar?
— Ainda não.
Quando cheguei perto, Zeus lançou o raio-mestre no redemoinho, assim ficou elétrico. Jogava raios para todos os cantos. Fiz uma barreira para não me atingir. Tirei o bastão que o estava segurando, controlei os raios e o redemoinho. Apontei para Zeus sem lançar nada. Ele me olhava incrédulo e com muita raiva.
— Não faça isso.
— Claro que não. Primeiro, como ficou sabendo da existência do meu filho?
Ele riu.
— Chantagem? Típico.
— Responda! – Gritei
— Não!
Fora a gota d’água. Lancei o redemoinho com os raios nele. O salão ficou revestido de energia e começou a piscar, às vezes ficava escuro outras vezes ficava iluminado. De repente senti algo forte me atingir e caí no chão. Não conseguia me mexer.
— Solte-me! – Gritei
— Fique calma.
— Não! Você quer acabar com a minha liberdade! Não deixarei que o faça! – Gritei, mas desta vez estava desesperada. Não o conseguia ver, onde ele estava?
— Se ficar calma poderá resolver isso. – Ele falava com o tom de voz controlado.
Não sei o que deu em mim, as emoções se misturaram e comecei a chorar. Não conseguia me controlar, vários soluços escandalosos saíam da minha garganta enquanto lágrimas e mais lágrimas desciam como chuva. Senti que chovia lá fora. De repente o salão ficou calmo e claro. Eu ainda não conseguia me mexer, mas eu não queria, só quero ficar nesta mesma posição e esquecer tudo. Passou um bom tempo até eu ver Zeus sentando ao meu lado.
— Pode fazer o que quiser. Não importa mais. – Declarei sem emoção.
— Sua punição será a mesma.
Suspirei.
— Tudo bem.
Um silêncio se propagou naquele salão. Depois de por os meus sentimentos para fora, me sentia vazia. Estava cansada.
— Respondendo a sua pergunta, sei da existência dele desde quando ele nasceu.
O olhei surpresa. Zeus estava encarando o nada com uma expressão séria no rosto.
— Não é novidade que estou te vigiando há muito tempo. Estava ciente do seu caso com o mortal.
Estou muito mais surpresa agora.
— Também sei que tem um cuidado grande com essa “família” que criou no mundo dos mortais, mas isso não pode continuar. Você terá que voltar a antiga conduta.
Nunca abandonarei a minha família, espere sentado se acha que os abandonarei. Ele continuou a falar.
— Se voltar a ser uma deusa assídua poderá ter sua liberdade de volta, se não voltar continuará presa aqui.
Continuei calada. Isso não quer dizer que aceitei tudo o que ele disse, só não queria mais discutir. Ele suspirou.
— Não gosto de tomar essa atitude com você, mas não posso ignorar os últimos acontecimentos. Alexis, não podemos nos expor deste jeito. Só desejo que volte a ser discreta e que diminua as visitas para os mortais. – Ele me encarou – Se seguir as regras desta vez, estará livre para fazer o que quiser. Estarei vigiando.
Ele se levantou e foi em direção a porta. Quando a porta fora fechada, senti que podia me mexer, mas eu não queria sair daquela posição. Fechei os olhos e me estirei. E tudo voltou ao antigo regime, só que desta vez estou presa no meu próprio palácio.
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O que Alexis irá fazer?