A deusa perdida escrita por Nina C Sartori
Não acreditei no que via e Zeus também estava surpreso. Hera estava parada bem a nossa frente, sorrindo e esperando o convite para se sentar. Zeus tossiu e voltou à expressão normal.
— Sente-se. – E apontou para a cadeira a sua esquerda.
Hera dirigiu-se para aquela cadeira e sentou-se. Serviram ela e começamos nossa refeição. Naquela sala começou um silêncio constrangedor, mas Zeus quebrou-o.
— Há que devo a honra de minha esposa nos acompanhar na refeição? Pelo o que eu saiba, você preferiu a companhia de Afrodite do que a minha nos últimos dias.
Ela sorriu.
— Senti saudades dos velhos tempos que sentava ao seu lado, querido. – Ela tocou na mão de Zeus.
Zeus olhou para mim e depois para Hera, sorriu e voltou a comer. Fiquei observando toda cena, afinal o que ela queria na realidade? Estava me ignorando totalmente, mas fiquei feliz com isto, ficarei em paz por um tempo.
— E então, conte-me como foi o seu dia. – Hera disse animadamente olhando para o marido.
— O de sempre. Problemas e mais problemas.
— Espero que não seja muito difícil de resolver.
Ele a encarou um pouco desconfiado.
— Não é. Logo estará resolvido. – Ele olhou para mim e piscou. Dei um sorriso de canto e, pela primeira vez que começou a refeição, Hera olhou para mim. Só que me fuzilando.
— Esta é uma boa notícia. Detesto quando fica preocupado e passa a noite acordado, isso me faz perder o sono. – Hera disse toda a frase me olhando e quando terminou de falar, virou para Zeus.
Pelo que vi Zeus não sabia o que fazer. Ele alternava o olhar entre mim e Hera, estava alerta se algo de ruim acontecesse. Dependendo de mim, não iria acontecer nada. Continuei calada, comendo e observando.
— Mas não terá nada para se preocupar.
Hera sorriu para Zeus. Tive um pouco de paz, pois obtive silêncio. Eu estava terminando de comer quando a indesejada naquela mesa falou novamente.
— Ouvi dizer que está repensando sobre o Olimpo estar com as portas fechadas. É verdade?
Zeus estreitou os olhos.
— Sim.
— Se permitir a minha opinião, mas creio que é melhor deixarmos como está. O Olimpo está totalmente seguro e em paz assim, não temos tantos problemas externos nos incomodando o tempo inteiro.
Quase abri a minha boca, mas me contive, senti que era aquilo que ela tanto queria, uma discussão. Não irei dar o braço a torcer.
— Aceito a sua opinião, mas ainda estou medindo as consequências dos fatos e em breve terei uma resposta definitiva. – Zeus respondeu secamente.
— Tenho certeza que será uma decisão sensata.
Depois disso não teve mais conversa. Terminei a minha refeição e me retirei do local deixando Hera e Zeus sozinhos. Resolvi caminhar um pouco, detestei aquela opinião. Sempre querendo me provocar e acabar com a minha felicidade. Ela sabe que eu mais desejo é que o Monte Olimpo volte ao que era antes e que Zeus me conceda passe livre para visitar o meu palácio. Como eu queria poder tocar nela para pelo menos dar-lhe um bom tapa naquele rosto sínico. Respirei fundo. Devia me acalmar e me preocupar com coisas melhores, por exemplo, o sumiço repentino de Apolo. Não o vi o dia inteiro. Onde será que ele foi parar? Queria agradecer as flores que ele me deu. Tirei as flores do cabelo e as cheirei novamente. Um leve sorriso apareceu em meu rosto, aquele perfume me agradava e também a intenção de Apolo em me dar essas flores. Senti a energia de um certo deus se aproximando atrás de mim. Não virei.
— Não imaginava que Hera iria participar do almoço.
Virei para encara-lo. Não me importava mais com aquilo.
— Tudo bem. Percebi que você ficara bem surpreso com a presença dela. Sei que era para me provocar.
Zeus estava olhando para o que eu segurava, depois olhou para mim e sorriu.
— Confesso que ela está um pouco repetitiva ultimamente.
Dei de ombros.
— Desconfiança. Ela conhece o marido que tem, mas sempre pega pesado com a parte sem culpa da história.
Ele estreitou os olhos.
— Está dizendo que sou infiel?
O encarei e sorri largamente.
— Sim.
Ele chegou mais perto e tentou parecer sério, mas um sorriso brincava em seus lábios.
— Não deveria insultar o senhor do Monte Olimpo.
— Só estou dizendo a pura verdade.
Ele deu mais dois passos.
— Peça desculpa.
Dei risada.
— E se eu não pedir, o que irá fazer comigo?
Ele chegou mais perto, segurou o meu braço e disse.
— Veja.
A grama sumiu dos meus pés e vi um piso branco. Olhei a minha volta, estávamos no terraço. Olhei para Zeus que ainda segurava o meu braço.
— Só isso? Pensei que iria me obrigar a fazer algo ou duelar comigo.
Ele riu.
— Duelar? Não quero chamar atenção. Escolhi este local por ser o meu favorito e também por não ter ninguém bisbilhotando.
— Então irá me obrigar a fazer alguma coisa.
— Não exatamente.
Ele me puxou mais para perto de si e começou a dançar comigo. Era uma dança lenta para a música imaginária dele. Ele colocou as minhas mãos em sua nuca e segurou a minha cintura. Fiquei pensando o que ele queria com aquilo. Depois de um tempo assim, ele depositou um beijo em meu ombro, logo em seguida ouvi sua voz sussurrar em meu ouvido.
— Lembrou?
Estava perplexa. Senti os seus cabelos em meus dedos e fiquei mais surpresa ainda. Zeus que tinha dançado comigo. Não estava acreditando naquilo. Afastei-me dele para encara-lo.
— Você que dançou comigo na festa.
Ele sorriu.
— Ainda lembra.
— Como iria esquecer algo do gênero? Impossível! Mas não poderia estar acontecendo isso, sabe muito bem.
— Infelizmente sei, mas não posso evitar o que sinto.
Separei-me dele e comecei a andar, sentindo-me nervosa.
— O que sente? Não deveria sentir nada!
— Não posso fazer nada a respeito disto. - Ele respondeu demonstrando exaustão.
Joguei meus braços para o ar de frustração e o encarei.
— Claro que pode! E deve fazê-lo. Não pode continuar com isso.
— O que quer que eu faça? Arranque o meu coração e o jogue fora?
Ele respondeu nervoso. Eu ri sem emoção.
— Não seja tolo. Sabe que estou com Apolo e ainda faz de tudo para me ter. Trate de saciar seus desejos com sua esposa.
— Esta situação é totalmente diferente.
— Diferente? Será a mesma história de sempre. Se eu aceitar uma coisa dessas serei mais uma que passou em sua vida, uma diversão. Não quero isso.
Ele colocou a mão na testa e fechou os olhos.
— Você não está entendendo nada.
— Se não estou entendendo, então explique.
Ele olhou para mim e chegou bem perto.
— Esta situação é diferente porque tenho sentido sentimentos diferentes. Novos, na realidade e estão relacionados a você, Alexis.
Parecia que um balde de água fria estava sendo derramado em todo o meu corpo. Meu coração acelerava e meu corpo todo estava com uma sensação fria. Fiquei arrepiada.
— Não pode ser.
— Mas é a verdade. – Ele olhou para minhas mãos e tirou as flores delas e as colocou em minha orelha direita. – E estas flores estavam mais bonitas aqui.
Arregalei os olhos.
— Foi você que as colocou em minha cama?
Ele sorriu.
— Sim. Ficou surpresa?
— Claro! Achei que Apolo tinha deixado às flores.
O sorriso dele sumiu.
— Mas fui eu. Satisfeita em saber disso? – Zeus disse friamente.
Fechei os olhos e respirei fundo.
— Sabe que isso não pode acontecer.
— Sei, mas não quero desistir de tentar.
O olhei e percebi que estava um pouco triste.
— Não deveria.
— Sou teimoso e não irei desistir. Quero, pelo menos, levar algo em minha memória.
O olhei desconfiada; já estava imaginando o que poderia vir depois.
— Zeus, não faça isso.
— Tarde demais.
Então ele segurou meus ombros e me beijou.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Não me matem! As coisas estão esquentando e ficando confusas para Alexis. Afinal, ela irá escolher quem?
Beijocas.