Fique escrita por Vanessa Fontoura


Capítulo 7
Capítulo 7. Babi


Notas iniciais do capítulo

"Você deve ter ficado bravo comigo ontem, eu não respondi nenhuma das suas ligações".
"É, fiquei. Por que eu queria muito falar com você. E parecia, muito, que você estava me evitando".Falou.
"Eu estava".



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A empregada nos acordou, mais ou menos cinco horas da manhã, disse que os patrões não iam gostar de nos ver ali jogados no sofá e que tinha preparado o quarto de hospedes para o convidado. Fiquei um pouco envergonhada e agradeci a ela. Eric estava dormindo tão profundamente quanto quando ele desmaiou.

– Eric... Eric... Acorda. – chamei. Ele abriu os olhos castanhos lentamente e deu um sorrisinho fraco. – minha empregada nos pegou dormindo juntos, e agora?

Ele revirou os olhos. – não fizemos nada.

– nunca fazemos.

– bem, quando fizermos pelo menos não vão ficar tão chocados. – ele disse.

Corei. É, se fizéssemos. Ai meu Deus, eu não podia pensar nisso. Olhei para o lado envergonhada e me sentei no sofá.

– calma, eu não disse que faríamos. Mas se fizéssemos...

– não faremos.

– não faremos?

– se um dia fizermos então vamos ter feito, mas não faremos agora.

Ele riu. – os professores de português teriam orgulho de nós dois agora.

Dei uma risada. – os de Orientação Sexual também. – falei, ele me puxou para perto do seu rosto, ainda não havíamos nos beijado desde ontem pela manhã e eu também não queria beijá-lo mais, não sem conversar primeiro então quando ele aproximou minha cabeça da sua eu desviei o beijo, o que o fez sentar no sofá e me olhar preocupado.

– pensei que estava tudo bem eu te beijar. – disse ele erguendo uma sobrancelha.

– está. Bem, não. Quero dizer... Precisamos muito conversar.

– sua cara está péssima.

– eu sei. Só um minuto, péssima como? To feia? Devo estar.

Ele riu. – paranoica. Eu quis dizer que sua cara está péssima por que deve ser importante.

– e é. – admiti encolhendo os ombros.

– então fale. – encorajou.

Suspirei antes de continuar.

– você deve ter ficado bravo comigo ontem, eu não respondi nenhuma das suas ligações.

– é, fiquei. Por que eu queria muito falar com você. E parecia, muito, que você estava me evitando. – falou.

– eu estava.

Eric me olhou confuso e surpreso e talvez decepcionado. Percebi que eu tinha sua total atenção então continuei.

– meu pai não me deu uma notícia muito boa ontem. E o lance entre nós aconteceu tão rápido que – dei uma pausa dramática. – eu não sabia se ia durar.

– por mim, poderia durar um bom tempo.

Dei um meio sorriso e ele passou a mão pela minha covinha. Peguei sua mão e entrelacei nossos dedos no ar.

– as notícias não são boas, Eric.

– então não me fale.

– eu preciso falar.

Ele desviou o olhar. – o que pode ser tão ruim?

– meu pai me matriculou em uma escola nova. – eu disse.

– mas nós nem estudamos juntos.

– meu pai me matriculou... em um internato, no Rio Grande do Sul. – completei.

– que? Por quê?

– quer mesmo saber o porquê? Eu já te contei todos os meus dramas familiares e você se tornou um deles agora.

Ele ficou olhando para todos os lados, acho que tentando achar uma saída para tudo aquilo. Largou minha mão e se levantou andando de um lado para o outro na sala com as mãos na cabeça. Escorei as costas e fiquei o vendo tentar achar uma resposta.

Eric estava completamente confuso.

– bem, não é o fim do mundo, ainda temos o verão inteiro para ficar juntos.

Senti meu coração apertar. Então meus olhos começaram a doer e meu nariz e as lágrimas começaram a surgir.

Ele se ajoelhou e pegou minhas mãos. – diga que temos o verão, Babi.

Chorei mais ainda e ele me abraçou com ternura, mas com agressividade eu o afastei.

– meu pai e eu vamos amanhã para Porto Alegre. Foi por isso que eu não quis retornar nenhuma das suas ligações ou manter qualquer contato. Eu não queria te magoar por eu ter que simplesmente sair. – expliquei acidamente.

Aquilo estava sendo mais difícil do que eu pensei que seria. – nós iríamos hoje, mas ele têm que ir falar com seu pai.

– eu não acredito nisso. Por que você vai agora?

– tenho que ver o colégio e meu pai tem que ver qual das suítes ele vai querer para sua princesinha. – falei meio irritada. – provavelmente vai ser a da torre.

– é de freiras?

– não. É uma escola normal, com meninas e meninos e fica na serra. Então eu e minha mãe vamos fazer compras em Porto Alegre por que não sabemos como é o inverno de lá.

– entendo. E como fica a gente?

– eu queria ter evitado essa pergunta. – eu disse. Ele me olhou meio triste e pegou minha mão. – eu não sei como ficamos.

– eu...

– olha só, Eric, não quero magoar você e eu sei que um ano é tempo de mais, mas podemos nos falar por telefone ou cartas, por que não vamos ter acesso a internet lá. Ou então... acabar tudo aqui. – tentei falar calmamente, mas saiu um fala cheia de pontos e reticências. Meus olhos começaram a ficar lacrimosos de novo e os dele estavam vermelhos.

Eric me olhou como se eu tivesse o ferido. Engoli o choro e fiz minha melhor cara de esnobe e levantei do sofá. Com muita dor eu disse: – você precisa ir embora agora.

Ele abaixou o olhar mais surpreso do que triste. – pensei, por um segundo que você tivesse gostado de mim. – ele disse e então deu as costas para mim e saiu pela porta da frente, assim que seu pé cruzou a saída, o choro veio, sentei no sofá tentando me recompor, mas demorou 10 minutos até as lágrimas parassem um pouco e eu conseguisse pensar.


­~*~

– típico caso de pessoa certa e momento errado. – disse Gabriel.

– eu sei. – admiti. Olhando para Gabriel em seu quarto até que as coisas pareciam um pouco menos difíceis, procurei por ele de tarde quando eu não conseguia mais parar de chorar. Aproveitei o fato de que somos praticamente vizinhos desde que nascemos. Ele mora a algumas quadras de distância, duas para ser exata. Essas escapadas são totalmente convenientes pra mim.

– eu digo, se lembra de quando você tinha se apaixonado pelo Pedro?

– que Pedro?

– o João Pedro, aquele loiro parecido comigo.

– ah sim. O que tem?

– você achou que fosse o fim do universo quando ele não quis ficar com você.

– ah, você realmente precisava me lembrar disso? – falei me jogando na cama. Ele se deitou do meu lado.

– desculpe. Eu quis enfatizar a parte de que você achou que fosse o fim do mundo e não era. Até por que você acha que o fim do mundo está acontecendo agora. – explicou. Fazia sentido, mas o que eu estava sentindo era diferente do que o que eu sentia pelo João Pedro então eu não fiquei convencida de que logo, logo o mundo ia voltar do apocalipse.

– não acredito que seu pai vai te levar pra longe de mim.

Olhei para ele do meu lado. – vou sentir sua falta também. Vai saber quem é minha colega de quarto.

– ela pode ser maníaca. Ou psicopata. Não melhor... Ela pode ser lésbica e criar uma paixão incontrolável por você. – ele disse.

– cala a boca. Ah meu Deus, vou sentir saudade desses momentos. Você é meu melhor amigo. – ele passou o braço por baixo da minha cabeça.

– eu também vou, baixinha.

Levantei de sua cama e caminhei até a janela, tinha vista para o seu quintal com a piscina e tudo, sua mãe estava tomando um suco e me viu ali na janela, acenou com entusiasmo e eu acenei de volta.

– eu não sei exatamente o que eu estou sentindo pelo Eric. Não é amor, mas definitivamente não é um simples gostar. Eu queria que desse certo dessa vez.

Suspirei.

– eu tenho que ir, Gabe, mas eu quero te ver amanhã ainda, se não for problema. – continuei.

Ele balançou a cabeça em negativa. Eu sempre podia contar com ele, eu gostava disso. Gabriel veio até mim e me deu um abraço forte. – tudo vai ficar bem, eu vou ajudar. – disse ele e me deu um beijo na cabeça.



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