– o que esse garoto estava fazendo escalando sua janela?

– eu não sei, pai.

– como não sabe? Era sua janela.

Olhei para ele, mas fiquei em silêncio. Meu pai tem um longo histórico de não acreditar nas minhas palavras, como se eu já tivesse mentido muito, mas não. Ele apenas não confia em mim por que sou jovem.

Eric estava no sofá, desmaiado havia uns 20 minutos. Ele não acordou quando Nando e meu pai o trouxeram até ali. Parecia morto, mas meu pai não quis chamar a ambulância por que isso atrairia a fúria do seu chefe. Está mais pra dono.

– pai, chame a ambulância, ele pode ter quebrado algo. – disse Nando.

– não. Ele que subiu ele que pague as consequências, quer saber vou tomar um banho, quando esse garoto acordar mande-o embora.

– sim, senhor! – disse Nando imitando o exercito. Meu pai simplesmente saiu da sala e subiu as escadas para o seu quarto.

Minha mãe estava na cozinha preparando uma sopa para quando o Eric acordasse, ela disse que não ia deixar ele ir embora doente, isso só pioraria a situação do meu pai. Embora eu estivesse muito irritada que ele tenha feito o que fez, eu estava feliz por ele ter vindo me ver. Mesmo tendo ignorado todas as suas ligações.

– é melhor a gente levar ele pro quarto de hóspedes, você não acha? – perguntou meu irmão.

– melhor não, vamos deixar ele aqui. Caso ele tenha se machucado não podemos mexer muito, só pega la no meu quarto alguns travesseiros e um cobertor, por favor?

Nando concordou e foi.

Me ajoelhei na beirada do sofá e fiquei olhando para ele, estava com um machucado no rosto e dormindo profundamente. Eric era tão bonito. Tinha olhos incríveis de um castanho tão vivo e tão gentil. Estavam fechados naquele  momento, mas eu me lembro deles.

Nando chegou com o que eu pedi e depois foi dormir, minha mãe também apareceu com a sopa e disse que eu desse para ele assim que acordasse. Coloquei alguns travesseiros atrás da cabeça de Eric e o cobri com um cobertor, depois me sentei no outro sofá e esperei durante uma longa hora até que ele finalmente abriu os olhos.

– caramba, o que foi que eu bebi ontem? – se perguntou. Ele se sentou no sofá e ficou olhando o ambiente e quando me viu levou um tremendo susto. – Jesus! Que susto.

– nossa, sou tão feia assim?

Ele fechou os olhos e passou a mão na nuca. – minha cabeça ta doendo. – olhou para mim. – mas é bom te ver.

Eric deitou a cabeça outra vez e eu me aproximei com o prato de sopa e lhe ofereci, mas ele recusou, estava fria a comida de qualquer maneira. Quando larguei a sopa sobre a mesa de centro ele pegou minha mão.

– por que você ta fugindo de mim?

– você acabou de cair do segundo andar, dorme um pouco e amanhã a gente conversa. – falei.

– deita aqui no sofá comigo. – disse ele.

Meu coração acelerou. Tirei os sapatos e deitei ao seu lado no sofá, peito a peito. Ele passou um braço por baixo da minha cabeça e me abraçou com o outro, depois de beijar minha testa, dormiu. Fiquei acordada por alguns minutos sentindo o seu perfume e ouvindo sua respiração e então eu adormeci também.

Senti alguém beijar meus cabelos e então lentamente abri os olhos, eu ainda estava na mesma posição de quando havia ido dormir e embora Eric estivesse com dores no braço, ele também estava do mesmo jeito.

– preciso tirar meu braço, mas eu não queria te acordar bruscamente.

Sorri. Levantei a cabeça e ele retirou o braço. Ficou me olhando alguns segundos e depois abriu um sorriso.

– preciso falar com você. – eu disse meio triste.

– shiu. Só dorme agora, gostei de ver você dormindo. – falou com a voz aveludada. Lentamente fui ficando com sono até fui adormecendo. – poderia te ver dormir todos os dias da minha vida. – o ouvi dizer. Mas eu não captei bem sua fala e dormi.