A Chave-estrela escrita por TaediBear


Capítulo 8
No qual Haru mostra sua força


Notas iniciais do capítulo

YOYOYOYO! Mais um capítulo de A Chave-estrela.
O Haru tem que ser um herói, ne.
Ah, e obrigada, Moyashi, por escolher o nome do elfo fofo.
Espero que gostem!
Boa leitura.



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O homem voltou apenas no dia seguinte. Mais uma vez, ele passou pela porta, como se barreira não estivesse lá, quando o garoto sabia que ela estava. Haru passara a noite inteira criando hipóteses sobre o motivo de a barreira não impedi-lo de adentrar a casa. A mais plausível era que ela aceitava a entrada apenas de quem a construiu e de crianças – já que ele e Liam haviam entrado sem problemas. Isso faria de Ellyon um praticante de magia, e a maneira como sua espada saíra voando e as correntes prenderam-se ao seu corpo reforçavam ainda mais suas suspeitas.

Assim que o homem percebeu o estado lamentável em que Haru se encontrava, lançou-lhe um sorriso vitorioso. Estava preso por correntes nos pés e nos pulsos, um machucado em suas costas e um olhar vazio. O garoto era, naquele momento, completamente de Ellyon, assim como todas aquelas crianças élficas, que, além de ser mais fortes que humanos, possuíam a magia. Suas minas de rubi faturariam dinheiro suficiente para ele se tornar um nobre da Terra de Lá. Ficaria rico sem nem se esforçar!

Ele contou quantas crianças havia dentro da casa. Suas mãos sujas alcançaram o corpo de Liam e o de Io e puseram-no sobre o ombro robusto. Haru viu o homem levar todas as crianças para fora da casa. Cada uma delas como se estivesse desmaiada, em um eterno transe. Quando ele voltou para pegá-lo, soltou-lhe as correntes dos pés.

– O senhor é um feiticeiro? – indagou.

Ellyon riu.

– Não seja tolo, garoto. Feiticeiros já foram extintos há muito tempo. Sou apenas um humano com origem élfica. Minha mãe morava nesse reino antes de meu pai levava-la para outro lugar – ele comentou.

– O senhor sabe magias fortes? – perguntou mais uma vez.

– Na verdade, não. Apenas mover objetos ao meu redor. Estava se perguntando por que sua espada saíra voando?

– E essa pedra em seu bolso é o quê?

– Chega de perguntas, moleque. Temos que seguir estrada. Finalmente tenho dez crianças élficas.

Suas mãos gordas foram em direção a Haru, mas, com um movimento rápido, o garoto as segurou, as correntes apertando-as. Ellyon tentou puxá-las, mas não conseguia soltar-se do ferro. Ele lançou um olhar furioso para o menino.

– Acha que com só isso vai me prender aqui e salvar seus amiguinhos? Não seha tolo, moleque impertinente!

Haru sentiu a magia do homem envolver-lhe os pulsos e as correntes voarem para longe, soltando tanto as mãos de Ellyon quanto os pulsos do menino. Exatamente como havia planejado. Os lábios de Haru curvaram-se em um sorriso. Ele não era fraco. Ele tinha sua própria maneira de demonstrar força: seus planos eram perfeitos e incrivelmente sortudos. Afinal, não fora ele que violara todas as regras da Vila Amarela?

O homem tentou agarrar-lhe mais uma vez, para levá-lo ao lugar onde os outros estavam. Os pés soltos de Haru chutaram a lateral das pernas de Ellyon, em um momento de distração, e ele ouviu o estrondo do homem caindo no chão. Ele rugiu furioso, enquanto tentava levantar-se do chão. Haru saltou e enfiou a mão no bolso do homem; a pedra, então, estava em sua mão. Ela era, de fato, hipnotizante, mas não para quem a segurava. Assim que Ellyon lançou-lhe os minúsculos olhos verdes, o menino pôs a pedra à sua frente, e seu feitiço fez o homem parar todos os movimentos. Então, um sorriso malicioso nasceu nos lábios dos homens, e Haru percebeu que seus olhos não brilhavam todas as cores do mundo.

– Moleque tolo! – ele exclamou. – Essa pedra só funciona em crianças!

O menino puxou-a de volta e mirou-a com mais cuidado. Seu coração bateu mais forte, suas mãos tremeram e seus olhos brilharam. Aquela era a segunda parte da chave-estrela, tinha certeza!

O homem pôs-se de pé, triunfante, mas franziu as sobrancelhas quando percebeu o olhar de vitória que Haru exibia. Aquele moleque realmente pensava que havia vencido, quando a única coisa que poderia usar com ele era uma pedra inútil?

As mãos robustas de Ellyon tentaram alcançá-lo mais uma vez. Apenas uma tentativa. Um brilho forte consumiu a casa, no momento em que Haru jogou a pedra contra o piso de madeira. O homem gritou, enquanto cobria os olhos, e o menino virou seu rosto. Tinha que aprender a desviar do brilho da chave-estrela, ou ficaria cego.

Quando toda a luz cessou, a ponta de uma estrela vazada, feita de ouro puro, caiu em suas mãos. Haru abriu o maior sorriso que conseguiu, sob o olhar confuso de Ellyon. O que havia acontecido?

– O que diabos você fez com a minha pedra, garoto? – ele exclamou. – Você sabe quanto ela me custou? Eu passei anos tentando conseguir crianças élficas para trabalhar na minha mina de rubis, e quando, finalmente, aquela velha me vendeu essa pedra, você a destrói?

A cada palavra pronunciada, o homem aproximava-se mais do menino, seus minúsculos olhos verdes furiosos a mirar Haru, aquele que destruiu todos os seus planos de ascender socialmente, de, enfim, poder dizer que era uma pessoa, e não uma mistura de raças. Ele não queria ser conhecido como o fruto de uma relação proibida entre raças diferentes, sem ser aceito por humanos nem por elfos. Odiava tudo o que faziam contra ele por causa de seus pais, odiava que as pessoas vissem nele algo terrível, um tabu, porque era fruto de uma mistura.

Em um movimento rápido, Haru colocou a ponta da estrela em sua mochila e desviou do robusto Ellyon. O menino correu desesperadamente em direção à passagem da casa, para, logo, descobrir que estava preso pela barreira. O homem sorriu cinicamente. O garoto ainda não tinha como fugir e ainda estava sob o controle de Ellyon.

– Desista, garoto. Não importa que plano arme, você está sozinho – o que não era, em sua totalidade, verdadeiro.

Haru tinha amigos; amigos que o ajudavam não importando o que acontecesse. Antes, de fato, ele era um garoto solitário, mas, naquele momento, não mais o era. Percebeu isso assim que Liam cruzou a entrada com Io em sua cabeça. Então, a barreira realmente só deixava entrar na cabana crianças e seu mestre.

O elfo lançou um sorriso ao menino, que o retribuiu prontamente. Io saltitou de volta para Haru, aninhando-se entre seus cabelos de ouro. Liam pôs-se ao lado do humano.

– O que está acontecendo, Haru? – indagou.

– Aquele homem queria escravizar vocês nas minas de rubi dele – o garoto respondeu. – Liam, será que existe alguma maneira de você conseguir minha espada de volta? Ele a jogou pela entrada ontem à noite.

– Calem-se, vocês! – berrou Ellyon, uma veia saltando em seu pescoço grosso. – Acham que realmente vão conseguir me deter só por que o amarelinho destruiu minha pedra? Eu ainda tenho toda a minha magia!

Liam sorriu, uma expressão orgulhosa.

– Assim como eu tenho a minha.

A espada de empunhadura verde de Haru voou pela entrada e caiu entre os dedos do menino. Ele olhou para Liam, que respondeu:

– Simples magia de deslocamento.

Haru já havia treinado com espadas antes, ainda que fosse com uma de madeira. Suas mãos estavam habituadas a segurar a arma de maneira correta, e sabia alguns golpes simples, mas eficazes. Só tinha que se acostumar com o peso da espada nova. O homem praguejou.

O menino foi em sua direção rapidamente, a espada direcionada a Ellyon. Liam surpreendeu-se com a velocidade com que Haru deferia golpes ao homem e com que este se esquivava da espada do menino, como se estivesse acostumado a isso. O elfo ficou ligeiramente nervoso quando viu o sorriso. Ele tinha algo planejado, algo que, possivelmente, machucaria Haru.

Em um movimento discreto, Ellyon mexeu sua mão, assim que o menino empurrou a espada em sua direção. Liam percebeu e, em um pensamento deveras rápido, mexeu sua mão da mesma forma. Não era mais uma questão sobre a espada de Haru; foi uma batalha entre as magias élficas de Liam e Ellyon.

Contudo, o homem era metade elfo. Liam era totalmente elfo.

A magia de deslocamento do garoto fez Ellyon voar pela entrada da casa, ainda que fosse pesado demais para continuar no ar por muito tempo. Liam desfez a barreira que envolvia a cabana, e as duas crianças deixaram-na. Do lado de fora, havia uma carroça, que antes estava repleta de elfos, mas, nesse momento, encontrava-se vazia. O homem levantou-se e xingou baixo, enquanto cambaleava em direção ao cavalo. Haru tentou alcançá-lo, a espada mais uma vez em sua direção. Todavia, Ellyon pulou sobre o corcel e afastou-se de onde os garotos estavam. Ele sabia que não poderia vencer aquela luta. Mas isso não o impedia de lançar o último ataque.

– Em vez de se preocupar comigo – exclamou, já longe -, por que não se preocupa com seu amigo, nos fundos?

Ele mexeu sua mão em direção à cabana e, então, galopou para dentro da floresta. Haru virou seu corpo para a casa, e seu coração falhou uma batida.

O galpão dos fundos estava pegando fogo.

Liam arregalou os olhos verdes quando viu o que estava acontecendo. Os elfos não deveriam conhecer magias de ataque. Apenas os guerreiros as conheciam. Eram um dos maiores segredos do Reino da Floresta! Como uma pessoa de fora poderia conhecê-las?

Haru disparou em direção à cabana, sem conseguir acreditar no que estava acontecendo. Na entrada, também não havia porta alguma e a barreira fora desfeita. Os olhos azuis do menino exploraram o interior e, logo, encontraram o ladrão ajoelhado no chão, os pulsos presos por correntes.

– Shuu!

O garoto tentou adentrar o galpão, mas foi interrompido pelo ladrão:

– Pare! – exclamou. – É muito perigoso! Vá embora!

Haru ignorou os pedidos do garoto e entrou no galpão, correndo em sua direção. O fogo consumia a madeira rapidamente, exalando uma fumaça espessa que os impedia de respirar. Os dois tossiam forte e continuamente. Os olhos ardiam. Haru ajoelhou-se próximo ao ladrão e tentou puxar as correntes inutilmente. Ele adentrara sem um plano.

Do lado de fora, Liam observava os dois. Io saltara da cabeça de Haru a tempo de continuar na floresta. Ele pulou para a cabeça do elfo.

– Faça alguma coisa, garoto! – exclamou.

Liam concordou e tentou pensar em uma magia que pudesse ajudar os dois. Primeiro, ele precisava soltar Shuu. Utilizando a magia de deslocamento, ele conseguiu retirar as correntes e lançá-las para longe dos dois. Então, criou uma pequena barreira de proteção onde eles estavam. Haru voltou seus olhos ao elfo e agradeceu com um aceno de cabeça. Sua mão alcançou o pulso ligeiramente machucado do ladrão. Tentou puxá-lo, mas Shuu resistiu.

– Tem outra pessoa aqui.

A fumaça impedia-os de ver os arredores. Felizmente, porém, a barreira não deixava o fogo machucá-los. Assim, eles andaram livremente pelo galpão. Liam, contudo, não conseguiria segurar uma barreira de movimento por muito tempo. Ele gritou para os garotos:

– Rápido! O que estão fazendo?

Haru puxou mais uma vez Shuu pelo pulso em direção à porta e saiu com ele. O ladrão lançou um olhar furioso para o menino, mas este lhe sorriu apenas.

– Posso ser o herói pelo menos uma vez?

Ele pediu a Liam que encontrasse uma pessoa. O elfo tentou concentrar-se no interior do galpão e respondeu que havia uma presença muito fraca nos fundos, acorrentada. Depois de soltar as correntes, Liam pôs novamente uma barreira sobre Haru, e o menino adentrou novamente a cabana.

A presença era de um elfo desacordado. Seus cabelos ligeiramente cacheados, de um tom claríssimo de castanho, estavam espalhados pelo seu belo rosto, encobrindo-o. Haru conseguiu alcançá-lo antes que uma tábua em chamas caísse sobre ele. O menino correu com o garoto o mais rápido que pôde. A barreira de Liam não duraria muito e o galpão estava desabando.

Haru conseguiu passar pela porta no último momento e desabou no chão com o elfo sobre si. Liam correu em sua direção e envolveu a criatura com seus braços finos. Então, surpreendeu-se com a identidade dela.

– Elvellon!

Shuu ajudou Haru a se levantar, e os olhares dos dois se voltaram para o menino com o elfo em mãos.

– Esse é Elvellon – Liam disse. – Foi o primeiro elfo a desaparecer. Ele já estava com 17 anos, então a vila não associou o desaparecimento dele com os das crianças.

– Quando ele desapareceu?

Liam parou por um momento, uma expressão triste em seu rosto. Io pulou de volta para o capuz de Haru e sussurrou em seu ouvido.

– Garoto, acho que esse Liam sente algo por esse elfo.

– Liam – Haru aproximou-se dele -, quando você começou a pensar em explorar a Terra de Lá?

O elfo puxou o corpo de Elvellon ainda mais contra o seu e beijou-lhe a testa. Havia lágrimas em seus olhos, o que fez o coração do humano doer.

– Quando ele desapareceu – respondeu. – Eu... Eu gostava muito dele e queria encontrá-lo a todo custo. Mas, então, pouco tempo depois, as crianças começaram a desaparecer, e eu não pude mais sair.

Liam abaixou-se sobre o corpo de Elvellon e pôs-se a chorar dolorosamente. Finalmente, encontrara aquele de quem gostava, e ele estava desacordado.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam?
Espero que tenham gostado!
Até a próxima!
Takoyaki ~ Vou jogar o Liam e o Elvellon numa moita depois.