A Chave-estrela escrita por TaediBear


Capítulo 11
No qual Haru respira debaixo d'água


Notas iniciais do capítulo

YOYOYOYOYO! Mais um capítulo de CE!
Espero que gostem. Vou fazer uma coletânea de limonadas de CE algum dia, porque MUITOS CASAIS!
Boa leitura!



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Haru e Io não respiravam debaixo d’água, e era exatamente isso que eles pensavam quando Keefe e Phelan mergulharam no lago. Eles não sabiam o que fazer e ficaram perdidos enquanto olhavam a superfície ligeiramente turbulenta do lago. Então, o rosto azulado de Keefe surgiu, e ele abriu um sorriso constrangido.

– Esquecemos que são seres da superfície – confessou. – Mas não se preocupem, Phelan foi buscar algo que possa ajudar vocês.

Keefe mergulhou novamente e, minutos depois, o outro aquarianu surgiu no lago, com algumas ervas na mão. Haru as desconhecia – o que estava tornando-se cada vez mais frequente, já que nunca havia saído da Vila Amarela -, mas Io já lera sobre elas. Seus pequenos olhos estreitaram-se, e ele saltou para a beira do lago.

– Respirad’ouro? – indagou.

A erva não era verde, como a maioria das outras plantas. Era de um estranho tom de amarelo, que lhe dava o nome que Io havia falado. Phelan balançou a cabeça positivamente e entregou as plantas ao garoto.

– Você tem que comê-las, Haru. Elas vão permitir que vocês respirem debaixo d’água – explicou.

O menino pegou uma das plantas; a outra Io mordiscou e, logo em seguida, engoliu-a por inteiro. Haru sentiu, primeiramente, o gosto na ponta da erva. Parecia uma criança a quem era oferecida uma comida estrangeira, da qual tinha receio de não gostar. Contudo, a planta era estranhamente picante, ligeiramente ardente, levemente adocicada. Uma mistura de sabores inundou sua boca, e o menino comeu-a. Era impossivelmente deliciosa. Perguntou-se, por um momento, por que ela não era consumida pelos animais terrestres e teve sua resposta logo em seguida.

– Respirad’ouro só nasce no fundo desse lago – Phelan disse, como se pudesse ler sua mente -, por isso os aquarianus vão saber que estão com alguém. Não toquem no nome de Keefe, por favor.

Haru assentiu, e Io voltou para seu capuz. O garoto retirou os sapatos, as meias e pôs seus pés na água. Estava terrivelmente gelada. Phelan segurou sua mão e o puxou para o lago, molhando suas roupas e cabelos irreversivelmente.

– Não se preocupe, as roupas e o cabelo secam no momento em que você pisa fora d’água – disse.

Era uma sensação estranha conseguir nadar e respirar ao mesmo tempo. Haru nunca antes sentira seus pulmões encherem-se de ar, quando tudo ao seu redor era água, inclusive o que adentrava suas narinas. Sorriu. Certamente tivera sorte em ser o herói da Terra de Lá. Se não o fosse, nunca teria a chance de conhecer cada uma daqueles lugares, daquelas sensações, daquelas pessoas. Respirou fundo, sentindo uma mutação de água em ar dentro de seu corpo. Era simplesmente fascinante.

O Reino do Lago localizava-se no fundo das águas, sobre a terra barrosa, sobre a qual estavam construídas casas, escolas, padarias, entre outros estabelecimentos comerciais, que, estranhamente, não afundavam. Parecia haver um tipo de magia que os mantivesse sólidos sobre uma terra pegajosa e lamacenta. O que mais chamou a atenção de Haru, porém, foi o castelo, o enorme castelo feito de cristais azulados que brilhavam sob o reflexo do sol na água, a moradia de reis, nobres e serventes. Sua boca entreabriu-se diante da beleza do Castelo Subaquático.

A mão de Phelan segurou a sua mais uma vez, e o aquarianu puxou-o para a cidade em frente ao castelo. As ruas estavam repletas de seres aquáticos de pele azul-clara. Peixes azul-claros, aquarianus azul-claros, corais azul-claros. Tudo parecia ser apenas azul-claro. Haru puxou o tecido que cobria um dos braços de Phelan.

– Onde estão os aquarianus azul-escuros? – perguntou.

A expressão que tomou o rosto de Phelan era uma mistura de tristeza e raiva. Seus olhos seguiram para uma parte atrás deles, mais afastada da cidade do castelo. Era um amontoado de casas pequenas, que não possuíam a suntuosidade das moradias da cidade. Entre elas, Haru podia ver os aquarianus azul-escuros caminhando. Voltou-se para Phelan.

– Depois da morte do príncipe, o rei expulsou todos eles para as Terras Distantes – explicou. – Keefe mora lá, e eles são proibidos de adentrar a cidade do castelo, assim como nós não podemos ir para lá. Os aquarianus estão completamente afastados.

Io nadou – na verdade, impulsionou seu corpo para cima - com dificuldade e pousou no topo da cabeça de Haru. O lumpy olhou os arredores e voltou-se para Phelan.

– De fato, esse lugar está muito diferente da última em que vim aqui – comentou. – Eu me lembro de que Keefe morava nas proximidades do castelo.

Phelan concordou.

– A família de Keefe é relativamente rica. Mas, ainda assim, não puderam continuar na cidade.

– Por que os aquarianus azul-escuros não formam um reino apenas deles? – Haru indagou. Lera sobre isso uma vez, nas aulas de história da Terra de Lá. Chamava-se independência.

– É muito complicado, Haru – Phelan respondeu. – Os soldados do rei são fortes demais para cidadãos aquarianus. Além disso, se eles o fizerem, haverá uma guerra, e Keefe terá que servir ao exército. O que eu menos quero é que ele se machuque. Não sei se eu mesmo resistiria se ele morresse.

O menino viu a tristeza que consumiu o olhar do aquarianu e colocou a mão em seu braço, em um pedido mudo para que não chorasse, em uma afirmação de que tudo ficaria bem. Phelan pareceu acreditar. Abriu um sorriso de lado e endireitou a postura, a fim de guiar Haru e Io à prisão do Reino do Lago.

A construção era diferente de todas as outras, feitas de cristais azul-claros; pedras davam-lhe forma, pedras grandes, ligeiramente grosseiras. Os aquarianus não queriam dar àquele lugar a impressão de bonito que estava estampada em todo o reino. Haru engoliu em seco. Aquele lugar causava-lhe calafrios.

– Por que viemos aqui, Phelan? – indagou.

– Você disse que nos ajudaria, certo? – o aquarianu segurou a mão do garoto, levando-o até o enorme portão de entrada. – Pensei em trazê-lo ao único que possui um depoimento concreto daquele dia.

– Você quer dizer o... As-assassino? – Haru gaguejou. Algo dentro dele sentia medo de se encontrar com uma pessoa que matara outra, o que fez sua voz falhar.

– Antes ele era o pajem do príncipe – Phelan mirou o garoto. – Haru, você tem o dom de ver nos olhos, nos gestos e nas palavras da pessoa se deve confiar nela ou não. Eu quero que fale com Killian.

Haru pensou por um momento. Phelan tinha razão. O menino, de alguma forma, sempre soube em quem confiar: Dandelion, Shuu, Liam, Elvellon. Sempre soube quem seria aquele que o ajudaria. Mas não julgava aquilo como um dom, apenas como sorte. Haru considerava-se sortudo e não conseguia acreditar no fato deque tinha um dom.

O carcereiro abriu o grande portão para os dois e apenas os deixou passar após uma revista longa. Aquele era o lugar ao qual iam pessoas condenadas por assassinatos e crimes hediondos. Os prisioneiros não podiam receber qualquer visita. Contudo, Phelan sabia como fazer o carcereiro deixá-los passar com apenas uma revista. Envolvia dinheiro e piscares de olhos.

A cela em que Killian estava aprisionado ficava no final de um corredor comprido, iluminado apenas pelas janelas das outras celas. Era escuro, sujo e malcheiroso; a careta no rosto de Haru revelava todas essas características.

No fundo do lugar, sentado em um banco de madeira apodrecida, estava um aquarianu. O cabelo esverdeado alcançava-lhe a metade do pescoço, e as pontas curvavam-se para dentro. Uma franja curta cobria sua testa, e um olhar dourado e abatido consumia seu rosto. O carcereiro encostou-se em uma das paredes do corredor e puxou a porta de grades, para que Haru adentrasse.

O menino deu passos hesitantes em direção ao aquarianu e engoliu em seco. Phelan entrou logo atrás dele. Killian levantou seus olhos dourados aos visitantes, mas nenhum cumprimento esboçou-se em seu rosto. Podia-se perceber o quanto ele fora destruído naquele lugar.

– Olá – começou o humano. – Meu nome é Haru, e esse é Phelan, não sei se vocês se conhecem. De qualquer forma – Haru aproximou-se mais e sentou-se ao lado de Killian, no banco -, você não é culpado, não é?

Os orbes do aquarianu voltaram-se ao menino. Nunca ninguém tivera coragem de sentar-se próximo ao assassino do príncipe. Nunca ninguém mais tentou aproximar-se do assassino do príncipe. Nunca ninguém tentara descobrir se ele era ou não o assassino do príncipe. Killian balançou a cabeça de um lado para outro.

– Eu nunca mataria Rowan – sussurrou.

O punho do aquarianu fechou-se, e ele tremia ligeiramente. Seus olhos dourados voltavam-se a todo momento ao guarda em frente à cela. Phelan entendeu o que ele queria e atravessou a porta, depois de Io ter se lançado para o topo de sua cabeça. Uma piscada de olho; um pouco de dinheiro. Ele e o carcereiro foram embora pelo corredor.

– Keefe esteve aqui – disse Killian, um pouco mais alto. – Ele saiu há pouco tempo.

– Pensei que os aquarianus de pele escura não podiam vir à cidade.

– A prisão fica fora dos limites da cidade – os olhos de Killian pareciam suplicar por algo. – Ele disse que você nos ajudaria. Disse que você acreditaria em mim.

Aqueles orbes não mentiam. Nem aquelas palavras, nem aquele rosto, nem aqueles gestos. Killian não mentia. Ele não matara o príncipe. Nunca cogitara matá-lo. De alguma forma, Haru conseguia perceber isso, como se estivesse escrito no rosto do aquarianu.

– O que aconteceu naquele dia, Killian?

O aquarianu fungou. Havia lágrimas em seus olhos dourados.

– Eu fui levar o café da manhã a Rowan – disse -, e ele o bebeu com o mesmo sorriso de sempre. Ele gostava de tomar café na cama, de manhã cedo. Dizia que era porque eu que havia feito o café, já que as cozinheiras só acordavam mais tarde. Mas, então... Então, quando eu fui vesti-lo, ele ficou tonto e...

Lembrar-se daquela manhã causava enjoos em Killian. Aquela fora a pior manhã de sua vida. A manhã em que o príncipe morreu, em que foi acusado de assassinato, em que o reino foi dividido.

– Alguém envenenou o príncipe – Haru murmurou, enquanto o aquarianu limpava as lágrimas de seus olhos. – Killian, você amava o príncipe?

Lá estava ela: a sensação de que duas coisas unidas ficavam perfeitas juntas, como Liam e Elvellon, Phelan e Keefe. As palavras de Killian eram tão amorosas, a dor que ele sentia por Rowan ter morrido era tão palpável. Ele voltou seus olhos chorosos para o menino.

– Mais que tudo no mundo – disse. – Ele dizia que, um dia, tornar-me-ia sua princesa – então, riu. Não de alegria, porém. Era uma risada dolorosa, sofrida. – Então, ele morreu.

Haru precisava fazer alguma coisa. Precisava descobrir quem havia feito aquilo. Quem havia causado a ruína de todo um reino. E o porquê de ter feito isso.

– Você sabe quem envenenou o café do príncipe, Killian?

O aquarianu engoliu a dor e as lágrimas antes de voltar-se para Haru. A sua expressão era ilegível; o menino não conseguia descobrir se ele o sabia ou não. O coração batendo cada vez mais forte de excitação e curiosidade.

– Eu me encontrei com duas pessoas na cozinha aquela manhã: príncipe Quinn, irmão mais velho de Rowan, e Trevor, um assistente da cozinha – confessou. – Não vejo motivos para qualquer um deles fazer aquilo.

Haru parou. Aquilo não bastava. Conversar com Killian dera-lhe uma noção do que acontecera no castelo, mas não continha sua curiosidade. Havia muito mais para descobrir; e ele tinha que agir.

Despediu-se de Killian após algum tempo, as informações rodando em sua cabeça, e deixou o prédio da prisão. Phelan e Io estavam do lado de fora, esperando por ele. Quando se aproximou, o aquarianu indagou:

– E, então, o que vai fazer, Haru?

O menino parou. Seus olhos azuis e brilhantes voltaram-se para o castelo feito de cristais, e sorriu.

– Vou invadir o castelo, Phelan – voltou-se para o aquarianu -, e você vem comigo.



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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam?
Espero que tenham gostado.
Ah, CE está participando do Concurso de Fics do Dia Nacional do Yaoi: https://www.facebook.com/DiaNacionalDoYaoi/app_208195102528120, se quiserem votar, HAHAHHAAHAHA Tem algumas fics muito boas lá, de qualquer forma!
Até a próxima!
Takoyaki.