Sinal Positivo escrita por Milk


Capítulo 6
Capítulo V


Notas iniciais do capítulo

- Oi...



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–Não vai dizer nada? –Perguntei já com coragem para encará-lo. Ela estava com aquela cara de bunda, sem demonstrar nada, perdido no mundinho obscuro e grotesco por uma coleção de minutos e eu já estava cansada de esperar uma reação.

–O que quer que eu diga? Eu só lamento por você...

–O quê? –Perguntei indignada.

–Quer que eu te dê os parabéns? Já se olhou no espelho? Você é uma criança e já tá grávida do Camarão. Só lamento. Não só por você, pelos dois... Apesar de que ele é maior de idade e vai saber se virar...

–Sasuke para! –O interrompi. –O que você tá falando?

–Sei lá! Você que mandou eu abrir a boca! Estou sendo sincero Sakura.

–Está sendo idiota!

–Ok! Então vou fazer diferente: –Respirou fundo. –Parabéns Danone! Estou muito feliz por você!

–Arg! –Perdi a paciência e saí do cinema batendo o pé, estressada com a atitude infantil dele.

–Aff Sakura, o que você quer?!

–Que você deixe de se fingir de desentendido! –Exclamei e ele continuou com a cara de bocó. –Suspirei. –Não queria dar a notícia de forma direta e explícita, mas já vi que com você vai ter que ser assim!

–Tá me chamando de idiota?! –Perguntou ofendido.

–Já havia te chamado antes e estou te chamando de novo: idiota!!!

–Feia!

–Você que é feio! E idiota!

–Aff! –Desistiu assim que notou o quanto estávamos sendo infantis.

–Eu era virgem. –Corei ao dizer num tom mais baixo para as pessoas não escutarem. Estávamos em frente ao cinema, na parte onde as pessoas compram pipoca e bebidas. -Eu era virgem quando você... –Repeti e ele me interrompeu.

–Mentira. –Dei os ombros ignorando sua descrença em mim.

–Nunca transei com o Naruto. Infelizmente você foi o primeiro e o único, então só posso estar grávida de você. –Disse sem rodeios. –Infelizmente. -Aí aquela cara de bunda dele mostrou reação, embora eu não saiba descrever. –Minha psicóloga disse que antes de qualquer coisa eu devia informar ao ‘pai’ e é isso que estou fazendo, só informando.

–Isso não é possível. –Agora ele demonstrou o nervosismo. Passava incessantemente ambas as mãos no rosto e no cabelo. –Duvido que você namora um cara de dezenove anos e não faça nada com ele!

–Não sei com que tipo de menina você anda, mas eu não sou dessas que se deixa influenciar.

–Que irônico vindo de você!

–Cala a boca! O que aconteceu na festa foi culpa da Ino que me drogou!

–Isso é a sua versão!

–Foda-se! Não interessa o que aconteceu!

–Então por que ainda estamos falando disso?

–Meu, deixa de ser criança e se toca! Eu tô grávida! Grávida! Eu não consegui ficar nesse estado sozinha!

–Quer que eu me case com você agora? Só pode...

–Quero que você aja como o homem que diz ser e me ajude a decidir o que fazer, seja abortar, doar, criar... Sei lá! Por mim, eu nem deixava você saber disso, mas acho um desaforo eu aguentar essa bomba sozinha sendo que você também é culpado!

–Culpado de que? De ter te convidado para a festa, só se for...

–De novo esse teatrinho... Você se faz de desentendido, mas eu te conheço Sasuke.

–Não sabe nem meu sobrenome!

–Mas sei que você não estava bêbado o suficiente para esquecer-se do que aconteceu nem para deixar de ter noção sobre o que estava fazendo...

–O que?!

–Agora vai dizer que é um ultraje? Eu vi o vídeo idiota! Eu vi que foi você que começou tudo, não eu. Outro detalhe: não vi nenhuma camisinha na sua ‘coisa’. E agora? O que tem para me dizer?

–Que você não passa de uma golpista.

–Golpista? Quê que você tem que me interessa?

–Você realmente não me conhece.

–Não. Esse Sasuke eu não conheço. –Disse fazendo com que um silêncio perdurasse algum tempo entre nós. –Achava que você era aquele cara legal, alto e mulherengo que gostava de fazer doideiras. Você vai muito além disso. Quisera eu ter me afastado de você antes de conhecer esse seu outro lado...

–Só lamento.

–‘Só lamento’, ‘só lamento’... Você é mesmo um garotinho Sasuke! Nem reagir diante disso você sabe. Mas tudo bem. Eu só queria deixá-lo a par disso. A partir de agora eu vou decidir o que vou fazer e se você ousar se intrometer, já sabe... –Ele riu. Fui em direção à saída o ouvindo ironizar.

–Uh! Essa noite eu não durmo! –Mostrei-lhe o dedo do meio sem nem mesmo olhar para trás. Peguei as escadas rolantes e sumi de sua visão.

~CAP¹~

Acabado um período de consultas individuais com a médica que não era médica e com Tsunade, fui encaixada num grupo de jovens com questões semelhantes as minhas. Ansiosa não descrevia um quinto do que eu sentia. Estava tão nervosa em me abrir com estranhos que passei todo o trajeto ensaiando possíveis perguntas e convenientes respostas. Precisava estar preparada, se fosse pega de surpresa poderia me desesperar, como acontecia às vezes nas consultas de Shizune, só que lá era só eu e ela, naquele dia eu teria uma grande plateia.

Como sempre, eu cheguei atrasada, já deixando evidente aos meus colegas de sandice meus problemas com pontualidade. Bati três vezes na porta e após ouvir um “entre”, entrei. “Licença”, disse e me sentei sem olhar para ninguém.

–Está um tanto atrasada, né Sakura? –Disse o homem de rosto jovem e cabelos de velho, brancos como o globo dos olhos de coruja da minha irmã feia. Tinha óculos de aros finos e um olhar que não me enganava: ele estava profundamente irritado com o meu atraso, mas fazia um esforço descomunal para não deixar transparecer. –Meu nome é Kabuto, sou psicólogo, psiquiatra e pedagogo e vou acompanhar você e as outras até cada uma receber alta. –Sorriu. –Olhei ao redor e vi meia dúzia de meninas, uma distinta da outra, com aspecto doentio e sofrido. Pensei “caramba, eu aparento estar assim para me encaixarem num grupo deste?”. Mais tarde entendi o que todas nós tínhamos de comum.

–E eu sou Reira, psicóloga e redatora. –Disse num tom demasiadamente doce que chegou me dar diabetes. Ela tinha algo no olhar que acalentava e enfeitiçava, como as sereias de Peter Pan que encantavam as pessoas e as afogavam no lago. Após compará-la com as sereias, nunca mais consegui olhar por muito tempo nos olhos esverdeados que ela possuía.

A partir daí as meninas se apresentaram, uma a uma, cada uma com seu timbre, suas cicatrizes e sua história. O que nos unia era a incompreensão alheia em relação as coisas que fazíamos.

A primeira menina não comia havia horas, mas não duas ou três horas, a última refeição dela havia sido no dia anterior mais ou menos naquele horário. Ela queria manter o corpo magro porque seu pai não gostava de mulheres gordas, e depois que sua mãe deu a luz à ela, não conseguiu perder os quilos a mais da gravidez foi trocada por uma moça mais nova e mais magra. A menina tem medo do pai larga-la caso engorde demais.

Uma outra, como eu, era bipolar e num dos surtos espancou a mãe. Foi expulsa de casa, se envolveu com drogas e tentou de tudo para controlar as oscilações, até que começou se automutilar como uma forma de punição pelas coisas que fazia, ao notar que isso aliviava a ansiedade incontida dentro de si. De todas, eu me identificava mais com ela, pois nossas histórias eram muito parecidas, embora fossemos diferentes.

–Agora fale um pouco sobre você Sakura. –Kabuto disse sorridente.

–Você já sabe sobre mim. –Respondi sem olhá-lo.

–Mas elas não sabem. –Rebateu ao mesmo tempo em que admitia que sabia de tudo.

–Sabem meu nome, isso é o bastante. –Disse tentando não soar ríspida e consegui êxito, as meninas deram um meio sorriso. Talvez me achassem muito idiota ou estivessem empolgadas por me verem desafiar o psicólogo.

–Bom. Não sei se te explicaram, mas esse é um grupo de confidências, para compartilharmos nossas...

–Eu sei! –Exclamei sem paciência e um silêncio se fez. –Desculpe. –Disse. –Não quero deixar uma impressão de impertinência, mas entendam que eu acho tudo isso um saco!

–Você não quer falar sobre você, tudo bem, eu respeito, mas alguma coisa você tem que nos dizer.

–Um exemplo. –Pedi.

–Como foi seu dia.

–Péssimo.

–E por que foi péssimo?

–Porque briguei com meu amigo.

–Por que brigou com ele?

–Porque ele... –Estanquei ao perceber o que eu estava prestes a dizer. Kabuto arqueou uma sobrancelha como se tentasse me impulsionar a terminar a frase. Respirei fundo e pensei no que dizer. –Porque ele me colocou numa encrenca.

–Pode nos dizer que encrenca foi essa? –Fiz que não com a cabeça. –Saiba que temos uma ética de que tudo que entra aqui não sai. Não há nada que você não possa dizer. Seus pais não saberão de nada...

–Legal.

–Não quer contar?

–Não.

–Ok. –Ele meio que desistiu de mim temporariamente e foi falar com as outras meninas mais dispostas a um diálogo do que eu. Depois de dez minutos a sessão chegou ao fim.

Cada encontro tinha uma hora, eu cheguei com quarenta minutos de atraso. Analisando isso eu entendia a raiva de Kabuto.

.o0o.

–Como foi seu dia.

–Péssimo.

–E por que foi péssimo?

–Porque briguei com meu amigo.

–Por que brigou com ele?

“Porque ele me engravidou.”

Como eu desejava ter respondido aquilo, daquele jeito.

Já completara cerca de uma semana que eu tive a conversa com Sasuke e ainda me sentia péssima. Eu ia para a escola normalmente. As consultas com Shizune eram apenas nas sextas, com Tsunade era mensalmente e com o grupo era nas quartas à tarde. Fora esse novo cronograma, minha vida permanecera a mesma, depois do da festa de halloween na casa de Sasuke, depois da volta de Naruto e até mesmo depois que descobri um fato dentro de mim. Parecia que tudo estava como antes. As únicas pessoas que sabiam era Shizune e Sasuke. Bem, pelo menos que eram as únicas pessoas que me conhecia e com quem eu convivia que sabiam realmente disso.

Depois que comecei a ter consultas com Shizune ela me pediu para escrever um diário, mas eu rebati que não queria, pois minha mãe ou minha irmã feia poderia acha-lo e lê-lo, então nós duas criamos um blog para eu poder postar tudo o que eu escreveria num diário. Lá, a foto do meu perfil é a Zooey Deschanel, meu nome é Danone Van der Momsen e eu tenho quase um cento de seguidores.

Isso deveria animar qualquer pessoa com um blog recém nascido, ter quase cem seguidores sem nem divulgar nem nada, mas no meu caso era um saco. Pelo menos noventa por cento deles eram psicólogos que viviam comentando meus posts.

Às vezes me sentia uma cobaia, uma experiência, sendo diariamente observada.

Enfim, as únicas pessoas que sabiam eram Shizune e Sasuke que agiam como se não houvesse nada de diferente, pelo menos esse último agia assim. E essa atitude por vezes fazia eu mesma pensar que não havia nada de errado, nada de diferente, pois na maior parte do tempo eu nem me lembrava de que estava grávida. A ideia de grávida na minha cabeça era uma mulher com barrigão, cheia de frescuras e desejos. Eu continuava magrela, frescura era algo que a vida toda eu tive e desejos, bem, às vezes eu tinha uma vontade louca de comer batata cozida no caldo de carne, mas logo passava quando eu sentia o cheiro da carne.

Para fingir que nada aconteceu, Sasuke me cumprimentava quando Naruto e os meninos estavam por perto, do contrário a gente se cruzava e era como se fôssemos estranhos. Não me importava com isso, me parte eu já havia feito e eu realmente não esperava uma atitude menos infantil do que essa vinda dele. Às vezes o via em algum canto do corredor paquerando as meninas da oitava sério ou até mesmo da minha sala. Todas elas sonhavam em perder a virgindade com ele, pelo que eu ouvia dizer. Por que eu não sei, eu via Sasuke como um moleque comum, esguio, com o cabelo bem cuidado de corte bagunçado.

Eu achava que ele mesmo que cortava com navalha.

Simplesmente não entendia o que todas viam nele. Preferia meu Naruto, lindo, loiro e inteligente. O que eu mais gostava no Naruto eram os olhos. E o sorriso. O cabelo também. A voz dele também era única, com uma rouquidão singular. Enquanto os meninos chamavam ele de Camarão, pelo seu bronzeado e porque diziam que ele tinha merda na cabeça (pra quem não sabe, o intestino do camarão fica na cabeça), eu o chamava de Rod Stewart, mas só às vezes.

Minha relação com o Naruto estava mais calma. Digo, sempre esteve, mas agora não parecia que éramos namorados, éramos mais amigos do que tudo. Isso quando nos víamos, mas eu não me importava, nem ele. Seus pais estavam sempre viajando para onde sua irmã estava internada e ele tentava ao máximo ajudar daqui, pois já recebera avisos dos professores que se tivesse mais faltas corria risco de repetir o ano. De novo. E esse ano ele tinha planos, tanto para ele quanto para nós.

–Nas férias vamos ir de carro visitar minha irmã! –Dizia sorrindo no intervalo enquanto comia seu sanduiche de bacon. –Já falei com os meus pais, só falta falar com os seus.

–Não sei se irão deixar. –Respondi secando a maçã nas bordas da minha blusa para comê-la.

–É só eu fazer aquela carinha de Gato de Botas que sua mãe adora! –Sorri. –Sabe... Estou pensando em fazer um supletivo no próximo ano para já ir adiantando um pouco as coisas. Penso em conseguir um emprego melhor e comprar uma casa, aí eu levo você para morar comigo! –Ri.

–Só depois dos dezoito.

–Tudo bem. Até eu juntar todo o dinheiro você já vai ser maior de idade.

–E você vai achar outra namorada, mais bonita, inteligente e madura do que eu...

–O que? –Riu. –Nem vou responder! –Dei os ombros. –Vou me casar com você Sakura. –Deu um selinho rápido e limpou a boca após terminar de comer. –Daqui quatro anos. –Acrescentou.

–Como sabe?

–Eu sinto. –Sorriu. –Quando a gente ama muito uma pessoa, é esse o destino delas: casarem-se. Eu amo muito você e se você me ama também, será esse nosso destino. –Eu quis chorar. Quis muito chorar ao imaginar-me casada com Naruto. Não pensava em casamento tão cedo, mas ao ouvi-lo dizer aquelas coisas com tanta veemência, eu tinha vontade de acelerar logo esses quatro anos e me casar com ele e ficar com ele, só nós dois, juntos.

Naquele momento, durante o intervalo da escola eu percebi realmente o quanto Naruto gostava de mim e o quanto esse sentimento era recíproco. O quanto eu o amava. Aquelas trocas de sonhos e declarações despertou em mim uma vontade de derramar-me em lágrimas, em beijá-lo e me aninhar em seus braços grandes demais para uma menina tão pequena quanto eu, só que eu me segurei, eu sorri, com os olhos marejados e o rosto seco, sorri e me segurei. Daí ele falou de filhos. Filhos.

–Eu quero uma filha enquanto estou jovem. Quero segurar a mão dela e mostrar tudo de bom da vida antes que isso desapareça, mas se não for possível, eu aceito um filho homem. –Me disse. Então não deu. Eu realmente não consegui me segurar e chorei como uma criança. Avancei nele e o beijei, sentindo o gosto de molho de churrasco em sua boca e ele provavelmente sentindo o gosto salgado de lágrimas na minha.

Percebi que eu não seria capaz de lidar com isso. Com nada disso. Não poderia ignorar minha situação. Eu estava grávida. Grávida do melhor amigo dele e isso eu não podia desconhecer, pois minha barriga ia começar crescer, meus seios, meus quadris... Uma hora tudo ia ficar evidente e não teria como esconder. Eu não queria mais esconder, muito menos revelar, queria voltar no tempo e jamais ter ido àquela maldita festa, jamais ter respondido um ‘bom dia’ da Ino, mas isso não era possível, não era! Só cabia à mim naquele momento resolver e era isso que eu iria fazer.

Foi por isso que dia 2 de Dezembro peguei o endereço do Sasuke com o Shikamaru e fui na sua casa, cerca de dez quarteirões a frente da escola, fui de patins, decidida, com um papel amassado na mão e uma conversa toda ensaiada na cabeça, assim como eu fazia nas consultas em grupo.

Bati três vezes na porta. “Quem é?”, a voz conhecida por mim perguntou através da porta.

–Abre! –Vociferei. Imediatamente ele abriu com uma expressão de ‘quem é você para falar assim comigo na minha casa?’. Joguei o papel no seu peito e disse. –Ou você assume a responsabilidade e me ajude a resolver o que fazer, ou essa porcaria vai ser espalhada por toda a escola quando minha barriga crescer e não der mais para esconder!

–Sasuke, quem é? –Perguntou uma bela mulher surgindo atrás dele.

–Não é n...

–Sou o recipiente onde ele ejaculou e quer descartar! –Disse olhando para a sua mãe, provavelmente, que no mesmo instante olhou para o rosto de Sasuke. –Podemos resolver isso de forma pacífica! –Falei antes de sair com meus patins a mil por hora.

Como eu agradecia pela coragem que os remédios me davam!


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Notas finais do capítulo

-... xau



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