–como foi?-eu comecei,me sentindo um pouco inconveniente por perguntar-Quero
dizer...como foi que sua irmã...-não consegui terminar a frase.

Vick sorriu,tristonha.Estavamos indo para a aula de
Aritmética e os corredores já se encontravam cheios.O sinal bateria logo.

–Ela tinha câncer celebral.-Ela disse,monotamente,fitando
fixamente o chão-Ela não resistiu.A doença estava se agravando e...-ela
parou,balançando a cabeça furtivamente.

Me senti péssima por ter perguntado.

–Eu sinto muito...-foi só o que pude dizer no momento.

Ela sorriu em resposta,ainda triste.

–Ela se chamava Clare.

Fitei seu rosto por um longo tempo.Estava
impassível.Ficamos caladas por um longo tempo antes de entrar-mos na sala.

Passei por três aulas tranquilamente durante a manhã sem
me esbarrar com Lucas sequer uma vez.Eu deveria estar achando isso ótimo,mais
estava,no fundo,com medo dele sumir.Que droga...eu estava me acostumando com
aquela coisa irritante.E eu e Vic estávamos ficando,consequentemente,mais
próximas.

Eu estava passando pelo corredor,indo em direção ao
refeitório.Não pude deixar de notar que lá fora,no ginásio,estava meio
agitado.Fitei pela janela do corredor,sem querer me misturar.

É claro.Ele só
podia estar ali,junto com os populares imbecis.Argh.

Observei Lucas lançar a bola de uma maneira curiosa.Ele
era bom jogador.E tinha uma aparência atlética.Fiquei surpresa ao perceber
isso,já que para mim ele sempre pareceu ser uma figura de aparência
delicada,como se preferisse livros á esporte.Seu rosto era suave demais,porém,seu
corpo,também perfeito demais.

Ele era quase tão ilusivo quanto o rio que eu havia visto
naquele sonho.Como se não pudesse ser real.

Senti o impulso de não querer ter vindo para essa
cidade.As coisas estavam ficando estranhas para mim,e eu tinha pesadelos todas
as noites agora.

–Você viu?-Vick surgiu atrás de mim-Ele é
lindo,charmoso,sexy e atleta!-ela disse,o fitando maliciosamente.

Arquejei.

–E irritante,e convencido,e...-eu continuei,inumerando
defeitos que só eu via.

–...e alguém aqui está fingindo muito bem que não gosta
dele...-Ela riu,me olhando insinuamente.

Há-Há.

–Não viaja.-Eu disse,andando
mais rápido.

Pensei ter ouvido Vick murmurar “Que péssima mentirosa!”
e rir em seguida.Seguimos para nossa mesa de sempre.Marcus já estava lá.

–Oi-ele comprimentou,o sorriso largo.Eu me senti
constrangida quando ele me encarou.

–Pensei que estivesse jogando também...você é um dos
melhores lá-Vick falou,se sentado distraidamente.

Marcus ficou carrancudo.

–Não mais,Eu acho.-ele disse,frustado-Seu amiguinho ali está se saindo bem demais.

Não gostei da forma como ele via as coisas.

–Ele não é meu amigo.-Eu disse,irritada.

Ele pareceu satisfeito com minha resposta.Pude notar que
o canto dos seus lábios estavam reprimidos em um sorriso.Suspirei.Eu não queria
incentiva-lo a pensar que eu estava me preocupando com o que ele estava
pensando.

–Foi mal Kate...mais é que no primeiro dia vi vocês tão
próximos,e,bem...-Ele começou,se desculpando.

–Vamos mudar de assunto?-eu pedi,dando de ombros.

Vick estava concentrada em seu x-burguer.Aquilo foi
engraçado de ver...ela estava com a boca cheia quando entrou na conversa.

–Que tal ir-mos no cinema amanhã depois da oficina?-Ela
deu a idéia.Fiz uma careta de desânimo.Marcus agiu totalmente de forma
contrária.-Ouvi dizer que tem um ótimo filme de terror em cartaz.

Fiz uma careta.

–Ótima idéia Vick!-Marcus estava me fitando,animado
demais.

–Filme de Terror?-eu piorei minha careta.

Vick fez uma carinha triste.

–Podemos ver outro se você quiser...só vamos!Vai ser
divertido!-Ela suplicou.

Marcus me fitou,os olhos brilhando.Ai.

Fitei Vick.Como eu poderia ousar recusar algo a
ela,depois de tudo?

–Avá...tudo bem então.-Falei,sem conseguir forçar uma
animação.

Eles comemoraram e começaram a falar sobre filmes de
zumbis e ETs.Fiquei ali,só pensando no que Vick havia insinuado aquele dia,quando
fitou Marcus daquela forma em nossa pequena discursão.Eu não havia percebido
até agora da maneira certa...mais Marcus parecia mesmo gostar muito de mim.Um
gostar que era muito mais que ser amigo.Ele me olhava diferente.

Por exemplo,agora.Ele estava conversando com Vick.Mais de
tempos em tempos,me fitava e sorria,como se fosse para garantir que eu
continuava ali.

Vi Lucas se aproximando por trás de Vick e Marcus.

Ah não.

Ele arrastou uma cadeira ao meu lado e fez uma breve
aceno para meus amigos.Sentou-se de frente para mim e ficou me fitando por um
longo tempo antes de começar a falar.

Marcus estava vermelho.Isso não ia prestar.

–Eu estava te procurando...você não ia me mostrar o
colégio?-ele disse,sorridente.

Eu bufei.

–Você agora tem tantos amigos...vá lá e peça a um deles
que te mostre.-eu disse,sem conseguir desviar os olhos dele.

Ele estava um pouco diferente.A expressão
cansada.Olheiras profundas em volta dos olhos.

Mais isso só o deixava surpreendentemente mais lindo.

Vic estava nos observando pelo canto do olho.Marcus não
parecia nada satisfeito com a presença de Lucas ali.Mais não nos interrompeu.

–Você é uma pessoa má,Katherine.-ele sussurrou.Por um
momento pensei que ele estava se referindo ao fato de eu não querer ir a lugar
nenhum com ele-Fazer Marcus ter esperanças em relação a você não é
legal.-Ele aproximou mais de mim ao
dizer isso.

Senti seu hálito soprar em meu ouvido.Ainda bem que eu
estava sentada.

E ainda bem que Marcus não poderia ter ouvido.Ele se
virou para nós.

–Se você quer tanto conhecer as pendências do
colégio...eu te mostro.Se for isso o necessário para você deixar Kate em
paz.-Ele gruniu,baixinho,olhando Lucas de forma agresiva.

–Epa.-Vick sussurrou,os olhos arregalados.

Lucas deu uma risada totalmente irônica.

–Não é preciso Marcus...eu prometi a ele sabe-eu menti,me
levantando e puxando Lucas da cadeira.Pisei no pé dele com a maior força que eu
pude por debaixo da mesa,mais ele permaneceu sorrindo sarcasticamente para
Marcus,como se eu não tivesse feito nada.Me perguntei se eu realmente tinha
pisado no pé dele.-Vejo vocês no final da aula.

Fiz uma careta para Lucas,irritada.Marcus se demostrava
mais irritado ainda do que eu.E ele devia estar me achando uma mentirosa agora.

A palavra “amiguinhos”pousou em minha mente na voz de
Marcus.Gemi de raiva.

–Satisfeito?-cuspi,andando rapidamente pelos corredores
com Lucas.

Ele riu.

–Totalmente!-ele pousou o braço de leve em meu
ombro-Alías,o seu pé é tão pequeno que seu pizão mais me pareceu cocégas.

Ele gargalhou.

Eu olhei feio para ele.

Ele parecia tão cansado apesar de tão irritante.Não pude
me conter ao fita-lo diretamente.

–Parece cansado.-Eu disse,não querendo demonstrar
preocupação com ele.

Ele ficou totalmente carrancudo.Os sinais de humor todos
desaparecendo.

–Impressão sua.Estou ótimo.-ele falou isso tão
naturalmente que chegou a soar falso.

Fingi dar de ombros.

–Está gostando?-Perguntei.

–Apesar de tudo,sim.-ele me fitou maliciosamente-Apesar
de você ser meio irritadiça,você tem uma beleza incrível.

Fiz uma careta.Senti minhas bochechas esquentarem.

–Para com isso!Você sabe muito bem que estou falando do
colégio!-eu me irritei- Você é tão chato!

Seu humor voltou contudo.Ele era inacreditável!

–Ah.Estou gostando do colégio também.-Senti ele me
fitando.

Suspirei,reprimindo um sorrisso involuntário.

Ficamos em silêncio por um bom tempo,andando pelos
corredores.

Ele não parava de me olhar.Tampei um lado do meu rosto
com os cabelos.

–Biblioteca.-Apontei.

Ele rui.

–Que foi?-perguntei.

–Vai ser assim...tão formal?-ele perguntou,o tom de voz
fingindo estar ofendido-Qual é?

Fiz uma careta e continuei a andar.

–Você é muito chato.Não gosto de você.-Eu falei,sem
fita-lo.

Me preocupei com o
longo tempo em que ele continuou calado.Será que eu o tinha magoado?

–Você não gosta mesmo
de mim.-ele afirmou,me encarando-Tem medo de mim?

Eu ri,nervosa.Ele acertou na mosca!Ele era estranho.

–Claro que não.-menti.

Ele riu amargamente.

–Você mente muito mal.-ele suspirou lentamente-Então
porque está aqui,agora?-Ele parou na minha frente,me olhando tristemente.

Eu demorei a responder.

–Marcus ia acabar brigando com você.-Eu confessei.Ele não
pareceu surpreso.

Eu fitei o chão sem saber o que adicionar.

–Está mentindo.-Ele afirmou novamente.

Senti involutariámente um frio na barriga.Não levantei a
cabeça.

Ele levantou meu queixo delicadamente.

–Você veio comigo porque queria estar perto de mim.Mesmo tendo medo de mim.-Ele disse com convicção.

Aquilo me assustou.Enxerguei nas palavras dele a verdade
que eu escondia de mim.

Fiquei ali,presa em seu olhar.Olhos escuros e
surpreendentemente ardentes.

Minha mente girava.

–Estou mentindo?-Ele perguntou.

Eu não podia responder.Deixei Lucas ali-com muito esforço
ao me afastar dele-e fugi.

Eu
fugi.Fugi de toda a verdade que havia nas palavras dele.Como
podia me envolver assim tão rápido?

Andei rapidamente pelos corredores do colégio,sem ver.