P.O.V Carla:

 Não acredito que a Alice me convenceu a vir sozinha a esta clínica, pior: acredito sim. Ela tem um enorme poder de persuasão. Não que eu não quisesse visitar o Diego, mas eu só não queria vir sozinha. Mas tudo bem, agora que eu aceitei vir a este lugar, eu tenho que encarar os fatos: Nada está igual, e mais do que nunca o Diego precisa de mim, e eu preciso dele. Dei um longo suspiro que me relaxou (aprendi na aula de yoga), girei a maçaneta e me deparei com uma suíte enorme, mas nenhum sinal do Diego. A recepcionista disse que eu o encontraria aqui. Será que estou no quarto errado ?

Entrei devagar e fechei a porta.

Carla: Tem alguém aqui ?

Me aproximei mais e pude ouvir um barulho de água caindo, deduzi que ele estava no banho. Parei em frente a porta do banheiro e bati três vezes de leve.

Diego: Carla, é você ?

Carla: Sim, eu vou te esperar no sofá.

Diego: Ok, já estou terminando.

E assim eu fiz. Apenas 5 minutos depois, eu ouço ele se aproximando. Quando ergo a cabeça, me deparo com uma cena invejável para todas as fãs. Ele estava só-de-to-a-lha !

Ver a água escorrendo sobre aquele corbo sedutor e cheio de músculos me deixou de boca aberta, isso até perceber que se isso continuasse eu iria babar. Balancei a cabeça e tentei olhar apenas nos olhos dele. Ele parecia estar falando alguma coisa sobre estar feliz em me ver, ou algo assim. Mas digamos  que eu... me distraí.

(...)

Depois de mais alguns minutos, ele se vestiu e veio ao meu encontro para conversarmos.

Diego: Desculpe a demora, eu não queria te fazer esperar.

Carla: Tudo bem, estou acostumada a ficar pronta primeiro. Ou melhor, estava.

Diego: Sobre isso Carlinha, acho que agora tudo o que nos resta é não olhar pra trás, não é ? De que adianta ficar com raiva deles e descontar em nós mesmos ?

Carla: Sei onde você quer chegar, e eu não sinto raiva deles, digo sinto sim, mas não é por isso que eu...

Diego: Eu sei, e é aí que eu queria chegar, você sente raiva de si mesma por não ter percebido antes, e se acha ingênua, certo ?

Carla: Como você sa... – por um segundo eu esqueci que nós dois estamos passando pela mesma coisa. –

Você realmente se sente assim também ?

Diego: *Suspiro* Sim, mas eu me sentia assim quando... – ele fez uma longa pausa até retomar a palavra  -

Talvez a Alice ou a Roberta tenha te contado de uma ‘’amiga’’  que se cortava. Essa ‘’amiga’’ sou eu.

Carla: Você se cortava ? E... parou ? Está se cortando agora novamente ?

Diego: Você se lembra de quando o meu pai implicava muito comigo, e que nada que eu fazia pra ele estava bom, ou era o suficiente ?

Carla: Lembro, e você usava a bebida pra esquecer isso.

Diego: Mas eu não usava só a bebida. Eu me sentia culpado, e de tanto ele falar que a culpa dele não sentir orgulho de mim era minha, eu acreditei. E se a culpa era minha, quem deveria sofrer era apenas eu. Foi aí que eu me cortei pela primeira vez, E descobri que a dor da lâmina  não era nada comparado a dor das ásperas palavras do meu pai. E que eu sentia um alívio passageiro tanto na bebida, como nos cortes. E então eu me viciei nos dois.

Carla: E como você fez pra parar ? E, se isso te aliviava, o que te fez parar ? A Roberta ?

Diego: Você acha foi apenas a Roberta. Mas não foi apenas isso, se não eu teria voltado a me cortar agora, não acha ?

Carla: Então o que foi que te fez parar ?

Diego: A banda. Finalmente eu vi que tinha amigos de verdade, que me mostraram que eu não precisava dos cortes e da bebida pra me sentir bem, mesmo que por poucos segundos. Inclusive uma certa amiga com problema de bulimia me ajudou a enchergar que se ela conseguiu superar uma doença, eu poderia superar tudo. Você é muito forte Carlinha, só o fato de ter se levantado da cama hoje para vir aqui com esse sorriso falso no rosto, o melhor sorriso falso que eu já vi, pois mesmo sendo falso ilumina todos a sua volta. Isso te torna a pessoa mais forte que eu conheço.

Carla: E se eu não quiser parar de me cortar, e se eu me sentir bem assim ? – disse já com lágrimas nos olhos -

Diego: Eu entendi seu pedido de socorro. E vou te ajudar, quando você diz que não quer parar, você está gritando, implorando por alguém que veja o seu sofrimento e te ajude a superar. Eu te amo Carlinha, pode conta comigo pra o que der e vier.

- Eu entendi o que ele quis dizer, quando você diz que não quer parar, você está gritando, implorando por alguém que veja o seu sofrimento e te ajude a superar. Isso é  que ele sente também, quando ele diz que não quer parar e que está bem assim, ele está pedindo ajuda. -

Carla: Eu entendi o que você quis dizer. Eu também te amo Di, pode contar comigo. A gente vai superar isso junto, está bem ?

Pude ver as lágrimas escorrendo do rosto dele, ele se aproximou de mim e enxugou minhas lágrimas, e nos abraçamos. O abraço mais recomfortante do mundo, senti que tenho um amigo.

Diego: Vamos superar isso juntos Carlinha.

Faço dos teus braços meu lugar mais seguro, procurei paz em outro abraço e não achei, eu juro.

*Toc, toc*

Diego: É a porta. Você chamou alguém ?

Carla: Não.

Diego: Vou ver quem é.

P.O.V Diego:

Fui atender a porta, e assim que abri, Alice me deu um abraço apertado.

Diego: Alice ! – dei um beijo na bochecha dela –

Alice: A Carla está aí ?

Carla: Estou sim. – disse esfregando os olhos, tentando disfarças a cara de choro –

Alice: Notícias boas e ruins gente. Olha só a revista que saiu:

Peguei a revista vi que em destaque estava uma foto da banda dizendo:

Integrantes Problemáticos: Diego Maldonado em clínina de reabilitação para alcoolicos, e Carla Ferrer se auto-mutilando.

Carla: Como eles descobriram ? Nem a Becky e meu pai sabiam disso. – mais lágrimas escorriam pelo rosto dela –

Diego: Minha nossa. Nossos fãs são uma galera muito nova, nem quero saber como eles estão reagindo. E os pais nunca mais irão deixar eles irem aos shows. Ao menos uma informação está errada, eles já sabiam do meu passado com a bebida.

Alice: Mas tem uma notícia boa. Mesmo com essas notícias, os fãs estão nos apoiando. O que significa que eles são mais fiéis do que nós pensávamos. Tem até uma tag nos tt’s mundiais: #SemprecomvocêspraoquederevierCarlaFeDiegoM

Carla: Os fãs nos apoiam, que ótimo. Pena que não vai ser a mesma coisa com o meu pai. Ele sempre disse que pessoas que se cortam são malucas e devem ser internadas em um manicômio.

Alice: Pensamento mais errado impossível.

Diego: É triste saber que ainda tem muita gente além de seu pai com esse pensamento preconceituoso.

*Toc, toc*

Carla: Quem será ainda ?

Diego: Deixa que eu abro a porta.

Abri a porta e vi a última pessoa que eu queria ver.