A Disléxica Anormal escrita por Toujours


Capítulo 1
Capítulo 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/300303/chapter/1

Depois da morte de meu pai, tudo ficou horrível. È como se eu não tivesse mais um lugar para me apoiar e me sentir segura. Eu não sentia mais a alegria de antes ao acordar. Não era mais minha vida. Tive que me mudar, para uma cidade menor, uma casa menor, uma escola menor. Pra melhorar eu ainda estava atrasada pro meu primeiro dia de aula. Me sentei bem lá no fundo, onde ninguém ia me notar. De lá eu vi tudo. Aquela escola só tinha vadias e jogadores de futebol, como sempre. Os nerds eram poucos, mas nem lá eu me encaixaria pois minhas notas abaixaram bastante –um dos motivos pra minha mãe querer me trazer para uma “vida nova”-. Só sobraram uns excluídos. Prefiro ficar sozinha.

            Eu estava completamente distraída  voando na aula, quando percebi que o professor havia se estressado.

            - senhor Rafael- ele falou alguns sobrenomes que eu não entendi- o senhor acha que minha aula é para gracinhas? Pois o senhor vai ajudar a aluna nova- levantei a cabeça- a recuperar a matéria do bimestre depois das aulas SEM GRACINHAS OU RISADINHAS!- Ele berrou.-  E se essa garota tirar nota baixa, eu zero a sua também!

            Eu fiquei me perguntando o que um jogador de futebol filhinho de papai ia me ensinar. Fui até a biblioteca esperá-lo. Ele sentou,  jogou os livros e olhou pra mim.

            - O que você precisa?- ele perguntou, mascando chicletes como uma vaca comendo capim, bom, isso é até uma ofensa para as vacas porque até elas comem mais educadamente.

            - O que vocês aprenderam no bimestre?- Perguntei com voz baixa pra que ele parasse de mascar aquela coisa e me escutasse.

            Ele me passou os conteúdos e eu só entendi metade, mas disse pra ele que entendi tudinho. Pedi pra ele me emprestar os trabalhos e as atividades feitas pra eu tentar entender em casa.

- Você é de Nova Iorque né?- ele perguntou

- Sim, por quê?- O que será que ele queria com isso?

- Eu já fui pra lá.- Ele disse, descontraído.

Na hora do recreio eu me sentei na arquibancada e fiquei obseravando os meninos jogando -ou se matando, não sei bem a diferença- e eu percebi que já havia visto aquele tal de Rafael antes. Não sei como. Será que ele já havia estudado na minha escola e fora transferido para cá pelo mau comportamento?

- Oi.. Alice né?- Alguém interrompeu meus pensamentos. Me virei pra ver quem era. Sim, eram aqueles excluídos que eu vi, eu sabia que eles iam me procurar porque eu sou uma deles.

- Sim.- Respondi.

- Meu nome é Jason, essas são Angelina e Beatrice- Elas acenaram- Podemos sentar aqui?

- Podem sim.- Respondi.

- Seja bem vinda a cidade pequena- Beatrice disse, sorrindo. Ela tinha cabelos negros e sedosos, eles esvoaçavam em seus ombros. Ela era bem magra, e tinha tudo pra ser uma patricinha também. Mas ela era diferente, parecia ser gente boa.

- É bom te conhecer, Alice- disse a menina ao lado, Angelina. De cabelos loiros lisos, compridos e com luzes, bem magra até. Não tanto quanto eu, que sou seca. Ela era bonita. Ao lado dela chegou um menino, que ela apresentou como Lucas, que não era um excluído. Loiro como ela sorria como um Deus Grego.

Eles se sentaram perto de mim e quase todos os dias vinham falar comigo. Eu acabei ficando no grupo deles mesmo, eles eram legais. Angelina, Beatrice e Jason viraram meus melhores amigos desde então.

Um dia eu cheguei em casa e fui tomar banho. Liguei o chuveiro e deixei a agua cair tranquilamente na banheira enquanto eu entrava. Tirei uma coisa que eu havia trazido do meu quarto, minha lâmina. Me  deitei na banheira e lembrei de  tudo que me acontecia naquela antiga escola. As pessoas inventavam apelidos –mais um motivo pra minha mãe me tirar de lá-, me excluíam e eu nunca tive um namorado ou amigos. Tudo isso porque as pessoas não me achavam normal, pra eles eu era um ET doente. Eu nunca fui feliz, a não ser com o meu pai. Que agora estava morto.

Passei aquela lâmina várias vezes em meu pulso, sentindo o sangue escorrer pela banheira, ao mesmo tempo levando as mágoas com a dor. Eu fechei meus olhos, que deles começaram a cair lágrimas.

(Um mês depois)

Convidei Beatrice pra ir lá em casa, já que fazia um bom tempo que nós éramos amigas. Nós vivíamos praticamente grudadas, conhecíamos a família uma da outra e ela parecia me entender, pelo menos um pouco. Nunca contei sobre a outra escola, porém ela foi descobrindo pelos retratos queimados de pessoas que ficavam comigo quando era época de provas.

Ela estava deitada na minha cama enorme de casal, onde íamos assistir um filme. Peguei minha cadeira e subi nela para alcançar uma coberta no meu armário. Minha blusa de manga comprida escorregou um pouco, aparecendo meu antebraço. Beatrice veio até mim depressa.

- Deixa eu ver seu braço.- Ela disse, num tom sério e eu logo me toquei de ela havia visto os cortes.

- Não.- Respondi.

- Alice, deixa  eu ver isso agora.- Ela estava ficando brava.

Estendi o pulso pra ela, agora coberto pela manga comprida. Ela arregaçou a manga e se espantou com os cortes profundos.

- Alice!- Ela gritou- O que é isso?- Beatrice percebeu que meus olhos estavam cheios de lágrimas, então ela diminuiu o tom de voz. Me abraçou com força e eu comecei a chorar. Nos sentamos na cama e ela começou com as perguntas.

- Por que você fez isso?

- Não quero falar

- Alice, eu preciso saber.

- Na minha escola- eu abaixei a cabeça- eles costumavam me xingar- fiz uma pausa- me humilhar e me deixar de lado. Eu era feliz apenas com o meu pai, que agora não está  mais aqui! Eu não tinha mais motivo pra viver!

- Como você ousa dizer isso? E eu? Sua mãe? Até seu cachorro sentiria sua falta!

- Você não entende, Bia..- eu disse, abaixando a cabeça.

- Não entendo o quê, Alice?

- O que é ter...- agora eu estava chorando muito já- dislexia! Você não sabe e não entende o que é ter dislexia! Trocar as palavras desde pequena e sofrer gracinhas e risadinhas dos outros por isso! Você não sabe o que é acordar todos os dias com medo dos professores pedirem pra você ler em voz alta! Foi o principal motivo pra minha mãe me mudar de escola!

- Eu entendo você, ta?- Ela disse, erguendo meus ombros me fazendo olhar pra ela.-  Conta tudo pra mim, ta bom? Tudo que você precisar.

Eu fiz que sim com a cabeça. Depois disso ela foi conseguindo mudar de assunto e eu fui me distraindo, de vez em quando até sorria. Quando eu estava bem melhor, nós vimos o filme.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Acho que ficou meio grande



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Disléxica Anormal" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.