Uma semana se passou os assédios de Merlin se tornaram inevitáveis e, vez ou outra, Morgana se rendia aos seus beijos, nada que quebrasse o feitiço apenas o suficiente para manter o feiticeiro na linha.

Agora se debruçava sobre o parapeito da janela para espiar o trabalho dele, Aithusa já parecia mais saudável apesar de ainda não falar, o dragão já possuía um voo mais rente e seguro e seu fogo estava mais forte como de um dragão de sua idade, mas Morgana tinha medo que o dragão jamais aprendesse a falar.

Aithusa mirou seus brilhantes olhos azuis em Morgana e a saudou com uma grande baforada de fogo, que se estendeu como um estandarte no céu amarelado do crepúsculo e levantou voo se exibindo com toda a graça que só um jovem e saudável dragão conseguiria apresentar, as escamas brilhavam com a luz do sol de fim de tarde, refletindo a luz como pequenos espelhos, fazendo uma enorme sombra contra o gelo bem lá em baixo.

Seus olhos admiravam o dragão fazer suas voltas e piruetas sob o sol pálido do fim do dia, com um sorriso que não lhe cabia no rosto radiante e verdadeiro como não dava há muito tempo, talvez não tanto desde que Merlin chegara, era sempre ele que tinha um efeito inebriante sobre ela, um efeito tão forte que a fazia se entregar de forma total e sem pensar duas vezes, cada vez que o via sorrir, era como se estivesse de volta em Camelot, em tempos mais fáceis, tempos que ele tornara mais fáceis.

 Estava tão admirada com sua Aithusa que quase não pegou os olhos azuis de certo dragonlord em si, mas a intensidade de seu olhar a fez virar o rosto em sua direção, não havia um sorriso estonteante.

Ultimamente seu olhar lhe causava arrepios que ela não sabia identificar, poderiam ser de medo que a qualquer momento ele acabasse quebrando o feitiço ou de excitação, mas uma nítida confusão, um grande misto de ideias e sentimentos, Morgana sabia que aquela era a parte que resistia ao feitiço tentando se livrar, Morgana soltou o seu velho e costumeiro sorriso de escarnio para ele, seria divertido poder ler sua mente, realmente aquilo estaria sendo uma enorme tortura para o feiticeiro.

                                                                         ~~X~~

Merlin ainda tentava entender o que acontecia consigo, seus olhos acompanhavam cada pequeno movimento de Morgana, cada pequeno detalhe dela, talvez fosse só sua mente, agora alucinada, lhe pregando peças mas por vezes poderá ouvi-la falar de amor e agora a via sorrir.

E era perfeito, o jeito como o sol do fim da tarde refletia a felicidade em seus olhos, sua ilusão ao não, Morgana estava amando, algo que ele nunca fosse pensar ver, ele deixou que sua consciência escorregasse por suas lembranças, seus primeiros dias em Camelot, seu primeiro ano, a velha Morgana, uma vez ela o havia mostrado que um sentimento semelhante.

Ele tinha estado preocupado com o menininho druida pelo desde que o encontrara e só havia uma pessoa capaz de ajudar, ele correu para as câmaras da ala real, sua primeira reação não foi de muito agrado, ela e sua serva tinham uma animada conversa regada a vinho quando as interrompeu, mas assim que Morgana pousou os olhos no pequeno ele sabia que ela não o deixaria na mão.

Morgana o acolheu como uma mãe, mais preocupada que o próprio salvador, aquele era seu instinto maternal falando mais forte, e era isso que brilhava em seus olhos, Aithusa despertava nela o mesmo que Mordred, a diferença, que era muito boa, é que Aithusa era um dragão e Merlin poderia usa-la.

Esse pequeno pensamento fez sua mente disparar, porque alguém faria algo de mal para Morgana? Tão linda e doce, falou sua mente possuída e por mais que tentasse sabia que era inútil lutar contra, mesmo tentar, quando sua mente mostrava seu lado apaixonado nada a fazia se calar.

Seus olhos continuaram fixos na bruxa, apesar do belo espetáculo do dragão, então Merlin notou os olhos verdes esmeralda caírem sobre ele, e seu belo sorriso se tornou puro escarnio, ela gostava de vê-lo daquele jeito, gostava de tira-lo do sério.

Naquela noite Morgana jantou em silencio com Aithusa aos seus pés e um turbilhão de pensamentos em sua cabeça, lembranças do próprio dia, uma imagem se fixou em sua mente, a suspeita nos olhos de Merlin e mais que isso, a acusação.

Só agora notava o quanto arriscou de seu plano, um sorriso irônico para Merlin, sabendo de sua resistência anormal, porque por mais que ele a envolvesse era como se uma parte dele não estivesse totalmente presente, aquilo poderia fazê-lo se livrar, mas então teria a prova de quem ele era, ou não, com mandrágoras o resultado sempre era variável.

 Morgana se ergueu e pegou parte da comida.

As escadas que levavam para as masmorras eram mais frias que o próprio lugar, talvez aquele fosse o lugar mais frio que ela já houvesse estado, mas levavam a celas quentes e, pensava ela, aconchegantes.

Ao chegar ao destino, a porta se destrancou com um sonoro clique, denunciando a sua chegada, correu os olhos pela cela, mas nada do jovem bruxo.

- Merlin – chamou uma – Trouxe algo para você – nesse momento ela esperava que ele se levantasse e viesse até ela, mas nada – Merlin – mais uma vez havia sido deixada no vácuo.

Morgana rodou sobre os calcanhares e tocou o trinco, mas algo a fez parar um som qualquer no canto da sala. Ela se afastou um pouco da porta e parou para prestar mais atenção, um guincho como o de um animal assustado veio do fundo do lugar.

Morgana ainda tinha o toco da vela que trouxera consigo acessa, mas a luz não ajudava em um todo, então acendeu as demais e pode notar algo enrolado no fundo do local, tremendo. Seus pés foram rápidos em leva-la até ele.

Merlin estava enrolado como um garotinho assustado, Morgana o tomou nos braços e forçou a olhar para ela, mas seus olhos estavam desfocados como se ele buscasse algo no fundo da mente ou estivesse preso lá.