Um sorriso passou por seus lábios, ela havia se esquecido de como Merlin era espirituoso.

- Então o que nos espera dessa vez? Um Fomorroh, um wilddeoren talvez? – Morgana agarrou sua mandíbula, lhe cravando as unhas – Ou talvez algo mais corporal.

- Eu serei direta, Merlin e espero o mesmo de você.

- Farei o meu melhor.

- Quem é Emrys? – as mãos da bruxa levaram seu rosto mais para cima, forçando-o contra seu pescoço – Não me venha com essa de que não o conhece, alguma ligação vocês tem – um filete fino de suor escorreu de sua testa – Caso contrário não estaria suando de nervosismo.

- Está quente aqui, posso suar por causa disso não – respondeu, ela sorriu e deu a volta no corpo do bruxo que tentou acompanhar seu movimento, sem sucesso.

- Pensei que o “seu melhor” fosse um pouco mais forte, já que mentiu para toda Camelot todos estes anos, ou talvez haja outros motivos para ficar nervoso – Morgana roçou o indicador pela sua espinha e sentiu Merlin se arrepiar sob seu toque, podia não estar em toda sua glória, mas ainda possuía certo poder sobre os homens. – Apesar de não entender por que se intimidade tanto comigo.

- Talvez por que não goste de pessoas atrás de mim, ainda mais pessoas que possuam armas afiadas e possivelmente mortais.

- Eu entenderia se tivesse trazido minha adaga, mas não acreditei que você pudesse se soltar e me atacar – Merlin estava calado, contraindo os músculos onde Morgana tocava.

- Sabe que não acredito em você – ela voltou para frente dele.

- Até me ofereceria para ser revistada, mas eu também não confio em você – os olhos travaram uma batalha silenciosa, mas os olhos azuis de Merlin teimavam em voltar para as mãos pálidas que o fizeram se contorcer. – Agora me responda. Quem é Emrys?

- Me responda, por que estou aqui? Imagino que não seja para lhe fazer companhia.

- Qual o problema com o fato de querer companhia Merlin? – os olhos pareceram tristes e vazios, Merlin teve vontade de abraça-la, mas logo sua expressão mudou para olhar sarcástico e um riso alto e irônico saiu de seus lábios ressequidos – Você realmente acredita que de todos no mundo eu escolheria logo o servo – uma palavra saiu murmurada, apenas um suspiro que a feiticeira não conteve – Um amigo traidor.

- Acredito, - Morgana o olhou com raiva, ele realmente gostaria de desafia-la na posição em que estava? – Se não você não se referiria a mim como “Amigo Traidor”

Morgana não acreditava no que estava acontecendo, podia sentir como se as mãos de Merlin estivessem novamente em volta de si, o chão havia sumido e o ar faltado, Merlin havia pego algo que escapara sem querer, não sabia quem mais odiava no momento, se Merlin ou a si mesma por se entregar tão facilmente.

- Talvez você esteja certo.

- Sempre soube que admirava minha humilde companhia My Lady.

- Sua companhia foi a única coisa que realmente não me fez falta, o motivo de você estar aqui é outro, mas já notei que terei de usar métodos mais... – ela o olhou de cima a baixo dando voltas nele – radicais.

Morgana saiu com as saias agitando atrás dela, sem farfalhas ou qualquer outro tipo de barulho, a porta se fechou com um clique atrás dela, selando Merlin e seus pensamentos.

O que Morgana poderia querer, te todas as coisas que passavam pela cabeça de Merlin, nenhuma parecia se adaptar a Morgana, ele analisou cada movimento dela e cada toque, mas nada.

Cada toque, esses ainda queimavam sua pele e o bruxo não tinha certeza o que ele sentia em relação a isso, se o ódio profundo pelo fato de Morgana ter-lhe tocado e ele reagido ou se seus sentimentos eram o mais próximos do positivo.

Morgana não havia lhe falado com a voz doce e meiga, mas algo no tom dela o deixava confuso desde sempre.

                                ~~x~~

Morgana virava as páginas de seu livro desgastado com os dedos trêmulos, não sabia ao certo por que daquela reação, mas surgira depois de sair da cela, suas pernas bambolearam de tal forma que teve de se apoiar para não cair, seus dedos tremiam, mas estavam quentes e seu coração batia agressivamente contra si, talvez como um protesto para que parasse de ser besta e de agir como uma menina mimada, mesmo porque nunca o fora.

Mandrágoras, dizia o título no topo da folha, radical com certeza, mas não havia mais nada a tentar, enquanto havia um baú explodindo com as plantas gritonas em algum lugar do quarto.

O melhor mesmo seria um Fomorroh, mas alguns motivos a impediam: primeiro, Merlin já havia se livrado de um; segundo, Fomorroh não dão em árvores e são raros e caros e terceiro, precisava se livrar de algumas mandrágoras.

A poção não era essencialmente difícil, mas sim demorada, depois de estar pronta a mistura, Morgana precisaria deixar descansar por um tempo x e mais tarde emergir seus frutos.

O feitiço consistia basicamente em dissimular os efeitos afrodisíacos da planta, não deveria alterar a lucidez dele, mas sim sua capacidade de escolha, seu efeito seria parecido com o de um Fomorroh, o ser desejaria fazer o possível para agradar quem fez a poção e não pararia até ter certeza de que o trabalho estivesse feito.

O melhor era que a mandrágora, diferente do Fomorroh, uma vez consumida não podia mais ter seu efeito anulado, até ter uma contra poção preparada pelas mãos de quem o fez ou a recompensação pelo trabalho do que se assemelhava a um zumbi. E ainda por cima, cada momento seria uma tortura para o servo, pois cada passo seu seria controlado pela planta e por mais que tentasse, jamais conseguiria resistir.

Mas talvez ter Merlin ao seu lado não fosse tão ruim, ninguém conhecia Camelot melhor que ele e sob o efeito do feitiço, ele jamais se voltaria contra ela, um pequeno arquejo veio do fim da sala, Aithusa estava encolhida com a cabeça abaixo das asas, isso a fez notar o quão ingrata estava sendo, pensando em Camelot e sua conquista enquanto deveria pensar em sua pequena dragão.

- Vai ficar tudo bem, eu prometo, tudo vai ficar bem – Morgana acariciou o topo de sua enorme cabeça, mesmo que o animal não respondesse.