As luzes que passavam pelos mosaicos coloridos das janelas do salão principal de Camelot e formavam um belo caleidoscópio no ar e nas paredes, mas isso não refletia o humor de todos, muitos estavam apreensivos e outros apenas com uma enorme carranca, Geoffrey de Monmouth estava em seu lugar pronto para realizar o casamento, mas não parecia feliz com isso.

Morgana entrou observando cada um desses detalhes, queria ficar feliz, realmente queria, mas não tinha como, ninguém sorria, ninguém se importava, mesmo Merlin parecia descontente, o casamento foi realizado e um pequeno banquete foi dado em homenagem aos noivos.

Merlin estava mais interessado em conversar com os convidados do que em cuidar de sua esposa, por isso Morgana subiu para seu quarto, não havia nada o que fazer além.

Morgana virou de um lado ao outro da cama, o tempo já começava a se fechar e logo começaria a chover, mas Merlin continuava com os cavaleiros no salão principal, ela se levantou pensando em ir chama-lo, empurrou a porta, mas não se mexeu nem por um misero centímetro, procurou pela chave e a encontrou sobre uma cômoda, mas isso não funcionou também, ela utilizou um pouco de mágica para abrir a porta, mas outra se revelou.

Merlin havia travado a porta para que ela não pudesse sair, não havia escapatória, mesmo depois de muitas e muitas tentativas de centenas de feitiços diferentes, Morgana desistiu, voltou para cama e esperou que Merlin chegasse.

- Você me trancou – ela o acusou, enquanto ele desfazia os nós que prendiam o gibão.

- Sim – ele respondeu simplesmente, não havia o que discutir – Assim tenho certeza que não fará nenhum mal contra Camelot ou a realeza – ele continuou falando enquanto trocava de roupa – E não tente fugir, certo? – ele sussurrou contra o rosto de Morgana, enquanto o tinha entre suas mãos – Não quero vê-la desgastada.

Depois de algumas semanas, Camelot estava um alvoroço por esses dias, da janela do quarto, Morgana podia ver claramente o andar frenético de todas aquelas pessoas, para cima para baixo, comerciantes vendendo na feira, enquanto outros faziam showzinhos pirotécnicos em locais, estes estavam rodeados de aldeões, mas seu olhar não estava entre eles, não precisava aproveitar um show que ela poderia fazer ali no recanto de sua cela.

Era certo que o lugar era seu antigo quarto em Camelot, mas não era assim que se sentia, Merlin havia trancado-a ali, muitos sabiam sobre seu casamento, mas nenhum parecia se importar com o fato dela estar presa desde aquele dia, mas não era isso que a incomodava e sim o fato de ver um de seus sonhos se tornar realidade e ela odiava isso, pois lá estava a janela, a cama de dossel, a barriga, as roupas finas e tudo o mais, inclusive seu marido andando ao lado de sua serva Evelyn.

Uma lágrima solitária desenhou suas faces manchando o rosto que tanto se esforçava para manter imaculado com sua carranca de irmã malvada, nada parecia dar realmente certo, todos no castelo a ignoravam ou fugiam e seus servos entravam e saiam rapidamente, apenas o tempo de fazer o que era necessário e havia sua serva particular, aquela sumia o dia inteiro e apenas terceirizava seu trabalho, não era de se admirar, depois que havia ameaçado-a.

Sabia que Merlin estava subindo as escadas, podia sentir o feitiço se desvanecendo com a aproximação de seu mestre e então ela se virou para porta, precisava impedir que ele falasse antes, aquelas doces palavras que mantinham sua relação na base da formalidade.

– Ela era sua noiva ou simplesmente sua amante? – ela falou assim que ele passou pela porta – Por que uma mulher trocada não ficaria tão próxima de seu ex-noivo, é humilhante.

- Como você pode – falou ele simplesmente, o bruxo parecia abatido com algo, mas ela não conseguia identificar o que o incomodava.

- Obrigada Merlin, adoro sua consideração quando tento puxar conversa – o homem não pensara simplesmente se aproximara e a agarrara pelos braços, não havia nada naquele movimento, nem no rosto de seu marido, era como se todas as emoções houvessem estado misturadas em seu rosto – O que é isso? Esta me machucando?

- Como você pode Morgana é apenas uma criancinha, um bebê, a sua sobrinha Morgana – as palavras saiam da boca de Merlin com muita facilidade, mas ela não as reconhecia, não sabia por que toda aquela raiva.

- O que houve com Igraine? – perguntou ela com lágrimas nos olhos, apesar de toda a dor que se espalhava pelos seus braços, onde provavelmente ficariam roxos – O que houve?

- Não haja como se não soubesse.

- Eu não sei Merlin. Por favor me diga, talvez eu possa ajudar – Alguma coisa muito grave havia acontecido por que se não Merlin não haveria feito o fez, ele não haveria desferido aquele tapa em seu rosto, sabia que apenas um Merlin completamente desiludido faria isso, pois tantas vezes ela havia feito isso com ele e quando se viu livre ele não lhe tocou, mesmo que não houvesse feito por bem, pelo menos não havia feito por mal.

- Deixe de ser hipócrita Morgana – ele gritou – Era esse seu plano não? – ele tirou um pequeno embrulho de dentro de sua roupa, ela não reconhecia o embrulho, mas conhecia o feitiço – Afetar a pequena Igraine para “ajudar” Arthur e Gwen e então reconquistar a confiança deles? Você acha que eles são tão imbecis quanto eu Morgana? – ela não falava nada, a mão ainda estava sobre o rosto, mas não havia nada mais que ela fizesse – Eu estava tentando confiar em você, não ligo para como você conseguiu sair daqui, mas como você pode fazer isso? Você ia ser livre Morgana não era o que queria? A magia livre? Responda Morgana – a última parte a atingiu, Merlin estava gritando em frente ao seu rosto, enquanto agarrava seus braços novamente, ela já não podia conter o choro.

- Não Merlin – ela retribuiu com a voz em um fio – Eu nunca quis mal a ela, confia em mim, por favor, mas você não acreditaria, você nem ao menos tenta acreditar em mim.

- Senhor – um servo havia aberto a porta, atordoado pelos gritos – Está tudo bem? Precisa de ajuda?

- Não – ele respondeu soltando Morgana e se ajeitando – Eu já estou de saída, quero falar com o rei, se puder avisa-lo.

- Sim, senhor.