Merlin puxou uma longa golfada de ar, por alguns meses havia se permitido pensar que tudo aquilo havia sido deixado para trás, que Morgana havia decidido esquecer aquilo da mesma forma que ele e que nada daquilo interferiria na relação deles, voltariam a ser apenas Merlin, a luz e o amor, e sua antagonista, Morgana, a escuridão e o ódio, mas agora não parecia isso, ela parecia apenas uma menina perdida, sabia que não ela não era tão inocente, sabia que se ela não tivesse visto vantagem não teria lhe procurado, mas isso não o fez sentir melhor, Merlin agora sentia nojo de si, nojo por se deixar enganar, nojo por ter se deixado enganar por ela.

Quando ela saiu da sala para se deitar, ele ficara a sós com a mãe, a senhora não o olhava nos olhos e parecia indiferente.

- Mãe – a voz não saiu muito mais forte que um sopro, mas ela o ouviu – Por que não me falou nada, em seis meses?

- Não cabe a mim julgar a ela, menos ainda os erros que vocês dois cometem – ela respondeu – Vocês dois são adultos para fazer a guerra, para fazer um filho, você foi adulto o suficiente para levar um rei ao poder.

- Eu sei. – ele respondeu, sabia que era grande para ganhar sermões, mas sua mãe não se importava e ele gostava disso.

- Eu só quero que você veja Merlin.

- Ver o que? – ele sabia que algo estava errado, o que sua mãe queria que ele visse, a mentirosa descarada que era Morgana ou a oportunista que tentara usa-lo, que tentara estragar sua vida e agora vinha tentar usa-lo novamente -  O que a senhora não está vendo é que ela está nos enganando.

- Será, meu amor – a mãe lhe respondeu – Eu a vejo por estas ruas a cinco meses, ela brinca com as crianças e cuida dos mais idosos.

- Eu não acredito – ele falou – Você ignora tudo o que ela fez? Todas as vezes que ela entrou em guerra contra Camelot.

- Três. Três vezes Merlin – ele a olhou espantado – Três vezes ela entrou em guerra aberta contra Camelot.

- E você ainda acha que ela é boa? – ele perguntou.

- É verdade que ela fez escolhas erradas, mas também foi ela quem ajudou a libertar nossa Ealdor, foi ela quem salvou você tantas vezes e era dela que você falava enquanto dormia – ele deu um riso tímido, se lembrava vagamente dessa Morgana, por alguma razão ele sempre lembrava da Morgana negra, que atacava Camelot e tentava destronar o legitimo rei, mas sempre esquecia a Morgana bondosa por quem fora apaixonado – Lembra-se, eu acho que sim.- ela falou com um sorriso aberto nos lábios enrugando ainda mais a face já crivada de rugas – Não pode simplesmente se alegrar por ser pai? – a mulher abriu os braços para que o filho a abraçasse, isso era outra coisa para a qual Merlin jamais ficaria velho – Parabéns meu Amor.

Não demorou muito antes que um mensageiro de Camelot chegasse, não deveria ter chegado a muito tempo, pois parecia ter acabado de desmontar e estava afobado.

- Aham... – pigarreou o mensageiro – Desculpe atrapalhar Lord Merlin, Lady Hunith.

- Não há problema Jeffrey, estamos apenas comemorando uma coisa – ela olhou para Merlin com o enorme sorriso que só ela tinha – Vou ficar um pouco com ela, nos vemos depois está bem. – o rapaz apenas assentiu.

- O que traz para mim Jeff. – perguntou ele, enquanto o rapaz ainda olhava a mãe sair com curiosidade.

- Gwen lhe enviou uma mensagem – ele respondeu – O que vocês estavam comemorando?

- Nada demais – ele respondeu entregando uma moeda e rapidamente ele escreveu rascunhou uma carta em um papel e entregou ao rapaz – Leve isso ao Arthur diga que sei de tudo o que está acontecendo, mas que preciso urgentemente falar com ele.

- Tudo certo senhor Merlin e parabéns pelo que quer que estejam comemorando.

- Muito obrigado – respondeu o homem, ele sentou-se em sua cadeira e pegou o papel com o bilhete de Gwen.

“Sei que acabou de chegar, mas você precisa voltar urgentemente, precisa ver essa coisinha, é tão pequena, mas é tão bonitinha, ainda não abriu os olhos, mas parece com o pai, tem os cabelinhos tão loirinhos e fininhos e é uma menina, tão pequena que nem fui capaz de deixar Arthur pegar, ele é tão ogro e ela tão frágil e ele a apelidou de gosminha, ele disse que é porque ela é molinha, mas seu nome é Ygraine, você precisa vê-la.”

Mesmo se o mensageiro não tivesse dito sabia que a carta era de autoria de Gwen, não pela letra, mas pela enorme carga emotiva, afinal ela havia a chamado de linda e pequena varias vezes sem contar quantas vezes ela havia usado diminutivos se referindo ao bebê.

O mensageiro não se demorou em chegar em Camelot, esperava que pudesse receber algum tempo para descansar e mais ainda, alguma coisa para comer ou um bom odre de vinho.

Quando chegou aos aposentos de seus soberanos no inicio da manhã, o rei ainda não havia se aprontado, estava apenas deitado ao lado da esposa com a bebezinha entre eles, sabia que uma serva devia ter trazido-a pela manhã, apesar do costume da realeza ter o costume de adotar uma ama de leite para amamentar seus bebes, a rainha não aceitou, ainda tinha uma alma de plebe e resolveu que ela própria iria alimentar sua filha enquanto achasse necessário.

- My Lord – entoou o mensageiro da porta, sem olhar diretamente para a família real – Lord Merlin lhe enviou uma mensagem.

- Lord Merlin? – perguntou Arthur com seu tom de escárnio, já famoso entre alguns criados do castelo, muitos sabiam que ele usava isso com seus criados favoritos, pois para os outros mal dava bola, era sua forma de dizer “fico feliz que esteja aqui” – E o que “Lord” Merlin, pode ter de tão importante para atrapalhar a manhã com minha família? – o servo não disse nada apenas manteve os olhos no chão enquanto o rei o fitava, depois de um tempo em silencio o rei ergueu a mão para pegar a almofada atrás de si, mas o servo fora um tanto mais rápido, fechando a porta bem em tempo de a almofada fofa colidir contra a madeira de carvalho sólida.

O rei deixou a cabeça cair contra as almofadas antes de falar – Eu estava com tanta saudade de fazer isso.

O neném abriu um sorriso e Gwen fez o mesmo – Veja, ainda nem abriu os olhos e já ri das travessuras do pai – sussurrou Gwen para o marido ao seu lado, os dois ficaram por poucos segundos olhando a pequena bolha de pele e gordura nos braços de Gwen antes dela falar – É melhor ver o que Merlin quer, deve ser importante para lhe mandar um recado urgente.

- Mais dois minutos – pediu o rei com cara de menininho que quer fugir de suas tarefas.

- Nem mais um segundo, - respondeu a esposa – Ponha-se em seu caminho Vossa Graça – Gwen, agora já havia conseguido coloca-lo para fora do quarto e fechado a porta.

Ela tomou a bebezinha entre os braços – O que será que seu padrinho quer, em meu amor? – perguntou ela para a menina, mesmo que a neném não soubesse falar.