Castiel

Visão de Castiel

Mais 3 meses voaram diante dos meus olhos desde do incidente do meu pior pesadelo. Becca? Ela me ajudou a me recuperar naquela noite e logo depois fez as malas. 

"-... Você vai ficar bem? 

-Sim. -Respondi dando mais um gole no copo d'água com açúcar. Ainda suava um pouco e a lembrança do corpo estendido no caixão peturbava minha mente. Foi então que percebi as malas perto dela. -Aonde está indo?

-Pra casa. -Ela sorriu e se sentou na beirada da cama. -Sabe primo, desde que seu tio...

-Seu pai. -Interrompi. 

-É, ele. -Ela ficou vermelha. -Desde que ele deixou minha mãe, vejo os homens de maneira desprezível, como se todos eles fossem iguais, entendem? Se todos fossem me abandonar um dia e causar todo o sofrimento que "aquele" home trouxe à...

-À tia Lena. -Completei quando a voz dela começou a sumir, mas ela logo se recuperou. 

-Isso. Então, como não sou lésbica, gosto de ficar brincando com o coração dos meninos. Vê-los na minha mão. -Ela olhou pra mim. -Com você, primo, tem sido diferente. Contei pra mamãe e ela disse até algo como sintomas de paixão! -Ela fez uma cara de horror. -Helloô! Eu não me apaixono. Eu saio com os meninos até eles me presentearem com um bom sapato. -Lá estava a verdadeira Rebecca de volta. -Então é isso primo, foi bom, não foi? Eu me diverti! -Ela riu, se levantou e foi na direção na porta. Parou com a mão na maçaneta e se voltou pra mim. 

-O que? -Perguntei. -Está esperando um sapato? -Nós rimos, mesmo eu estando com uma puta ressaca e com a cabeça explodindo, não consegui deixar de rir. Realmente tinha me aproximado bastante dela nesses últimos meses. Como primo... Primo colorido. O laço familiar "primo" é complexo demais. 

-Não, não é isso. -Ela respondeu com um sorriso triste nos lábios. -Sabe, mesmo que eu realmente tivesse disposta a tentar ter um "relacionamento sério com Castiel Night"... -Ela abriu aspas no ar com os dedos. -...seria impossível. -Ela se aproximou e olhou nos meus olhos. -Todas as noites que passamos juntos, não tirando nenhuma, enquanto dormia você falava um nome. Kamile. -Ela encarou o chão. -Não sei quem é a sortuda, mas você a ama muito. E eu sei que esse seu sonho deve ter sido com ela.

-Pesadelo. -Corrigi baixinho. 

-Que seja. -Ela voltou a sorrir, me deu um abraço e foi finalmente embora. Sua últimas palavras foram: -Não se esqueça de ir atrás da sortuda dona do seu coração. -Seguida de uma piscada." 

Como se eu pudesse. Como se fosse tão fácil assim. Como se ela me quisesse de volta. Como se ela precisassem de mim. 

Peguei minha guitarra.

"Uma estrada solitária, cruzei outra linha fria de estado
Milhas longe daqueles que amo por razões difíceis de encontrar,
Enquanto me recordo de todas as palavras que você me falou.
Isso não ajuda, mas desejaria estar lá,
De volta ao lugar onde eu amo estar, oh yeah
Querido Deus, a única coisa que peço a você é
Para abraça-la quando eu não estiver por perto,
Quando eu estiver muito distante.
Todos nós precisamos dessa pessoa que pode ser verdadeira com você
Mas eu a deixei quando eu a encontrei
E agora eu desejo ter ficado
Pois eu estou solitário e cansado
Estou sentido sua falta de novo, oh não
Mais uma vez..."
Avenged Sevenfold - Dear God

[http://letras.mus.br/avenged-sevenfold/1092024/#original]

 Suspirei. Músicas... Aquelas frases ritmadas que têm o dom de dizer exatamente o que você está sentindo. 

"Toc, Toc" 

-Entra. -Murmurei. 

-Com licença, filho. 

Gelei ao ouvir aquela voz. Há quanto tempo eu não ouvia aquele tom? Anos. Uma década ou mais talvez. Mas lá estava lá, senhor Night. 

-Como vai o meu garotão? Como está grande! A última foto que mandei Jeremy tirar uma foto de você ele me entregou a de um garoto com cabelos rubros... Aquele incompetente! Tenho que me lembrar de demiti-lo. Mas vamos lá, me dê um abraço! Faz um tempo que a gente não se vê, não é? -Alto, cabelos castanhos alaranjados, olhos cinzentos. Eu simplesmente odiava meu "pai", pelo simples fato dele não poder ser considerando meu pai. Contaria nos dedos quantas vezes me lembro de tê-lo encontrado. Conversado uma 3 vezes, por cinco minutos.

Tudo bem, talvez eu esteja um pouco dramático. Mas é fato que aquele não era a figura paterna ideal. Leny era. Mas eu não tinha mais ele. 

-Sai daqui. -Respondi simplesmente. 

Ele fez aquela cara sínica de decepção. Viajei para um mundo mais legal enquanto ele fazia seu discurso "bla, bla, bla". Era o que eu gostaria de dizer, porém meu pensamento era o pesadelo. Kamile. 

Ver meu pai ali me fez pensar em Anne, Debrah... Como ela estaria se virando com elas? Na escola, com o palito do professor Faraize e os outros. Nala e seus filhotes... Lysandre provavelmente não estaria com ela nesses momentos. Ele era um problemático. Ela sentiria minha falta? Teria se dado conta que eu fui embora?

Eu podia mais uma vez ceder ao meu orgulho e morrer solitário, com um "e se..." pelo resto da vida, mas... Finalmente eu decidi e me dei conta de que tinha sido o pior idiota do mundo. Até eu ouvir da boca da "sortuda" que ela não me ama, eu não irei desistir dela. O fato é que eu sou o sortudo, só por tê-la conhecido. 

Kamile

"A minha mente não me obedecia, eu permanecia deitada ali, na minha cama fria, olhando para a lâmpada fluorescente e pensando em tantas coisas que me atormentavam de modo que não seria possível explicar. Meu corpo estava ali, intacto, imóvel, mas a minha mente vagava por um universo distante a procura de explicações para o que eu estava sentindo. Nenhuma resposta foi obtida. Aquela luz me deixara vesga, minha mente conturbada gritava, de modo que qualquer outro ruído eu não escutaria. Desliguei a luz, porém, a cama não tinha como ficar quente, afinal, as noites de inverno congelavam-me por dentro e por fora. Fechei os olhos, e ainda assim não peguei no sono, meu pensamento estava em você, em nós dois, ou melhor, no fim do que um dia chamamos de “nós". As lembranças preenchiam meu corpo. Por dentro abria-se um grande telão onde repetiam-se cenas de uma amor inesquecível. As pálpebras tremiam executando uma sinfonia de sons. Podia-se ouvir a chuva na vidraça, o vento chacoalhando as cortinas, a caixa de musica se alentando em busca do fim. O corpo pesava e os sonhos se despertavam."

A menina escreveu o último verso e fechou o bloco de notas. Há tempos não o abria, afinal o usava apenas para escrever composições e a inspiração havia sumido. Ajeitou-se e encarou o luar até mergulhar no mundo sombrio e incontrolável de sonhos. Dormiu com um bom pressentimento, um sorriso mudo no rosto.