Sweet Cherry escrita por Kamiille


Capítulo 12
Capítulo 12 - Tragédia (Parte 2 - Final)


Notas iniciais do capítulo

Final... Ou não.



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Castiel

Visão de Castiel

Eu queria uma adaga. Uma adaga enfiada no próprio peito. Aquilo doeria menos. Muito menos. Aquilo me mataria fisicamente. Não... Não... Não daquele jeito. Despedaçar o coração. O que citavam em poemas dos quais eu não entendia... Era isso? Desculpa poetas, mas nem vocês conseguem descrever sobre a dor de um coração em pedaços.

Aquilo era pior que pisar em uma peça de lego descalço, pior que ver meu pai ou minha mãe me ignorando, pior que bater o dedinho em uma mesa, pior... Muito pior.

Gritei. Como um rugido. Tentando colocar todos os pedaços do que já era um coração frio e pequeno o suficiente. Tentando cuspir os cacos pela garganta. Para que eles parassem de doer lá dentro. Parassem de fazer tudo sangrar.

Só então os dois se largaram. Nos olhos cor de âmbar, vi espelhado meu próprio eu. E a expressão de dor da menina que me encarava, parecia estar sentindo o que eu estava. Menina... Menina que foi minha amiga. Menina que foi minha melhor amiga. Menina a quem eu entreguei o meu amor. De fato, era ela que tinha despertado meu amor. Ela que tinha preservado o amor de criança de seis anos até agora. Ela era a única com quem eu nunca havia despertado aquele dois terços de ódio tradicionais. Mas depois de tudo isso, ela simplesmente havia pegado o meu amor, a nossa história e esmagado. Como se esmaga latinhas de alumino com o pé. Como se aquilo tudo não valesse. Como se fosse um nada. Algo sem importância.

Então aquela sensação tão familiar tomou conta de mim. Aquela sensação fazia parte de mim. A sensação da dor se transformando em raiva. Eu tinha o hábito de odiar tudo o que me machucava. Ao ter esse pensamento, tive medo de mim mesmo. Quanto ódio um coração despedaçado pode produzir? Ainda mais agora que Kamile não está lá para amenizar esse ódio. Ela era o motivo dele.

Não consegui fazer nada até nos primeiros minutos. Kamile estava parada da minha frente. Seu rosto estava firme, mas lagrimas caiam seguidas de outras muitas. Lysandre havia desaparecido. Sentia o ódio consumir a dor dentro de mim. Então eu corri. Corri para longe. Sem rumo. Corri na direção contraria da do que eu havia vindo. Simplesmente precisava tentar gastar um pouco de adrenalina que pulsava nas minhas veias.

Ouvi passos atrás de mim. Não precisa me virar para ver quem era. Kamile estava tentando acompanhar meu ritmo. Mas ela não tinha aquela quantidade de ódio para gastar. Naquele momento, o ódio já tinha consumido dois terços de toda dor. Mas ele nunca acabava completamente com ela. Sempre sobrava um pouquinho... Só para atormentar.

Me espantei quando reconheci a placa “Central Park”. Eu, em algum momento, tinha entrado no parque. Os passos de Kamile ficavam mais abafados na grama, mas ainda estavam lá. Talvez fosse maldade da minha parte, mas eu me dirigi para a grande cerejeira. Quando paramos, ela estava ofegante, ao contrario de mim. Na verdade, eu estava até mais leve. Não como eu gostaria. Não no limite do suportável, mas mais leve. Bem, a pior parte ainda estava por vir.

-C-castiel. –Ela gaguejou.

Uma brisa forte fez os cabelos dela desalinharem, fazendo-os molhar e grudar nas lagrimas que escorriam na bochecha. Eu a odiava? Dois terços do meu corpo responderam “Sim!”. E a pequena sobra, sussurrou “Você nunca vai consegui odiá-la, mesmo que você tente. Tire o cabelo do seu rosto e diga o quanto a ama”. Mas eu abafei o sussurro.

-Eu não tenho mais nada para falar com você. Eu não quero mais falar com você. Eu não estou suportando olhar na sua cara. Vá embora. –Vi as palavras pularem da minha boca em um tom mais alto do que eu imaginava.

Ela fechou os olhos, deixou mais 2 lagrimas rolarem, sugou o ar em volta dela como se o mesmo fosse lhe dar força.

-Por favor. Por favor. Me deixa explicar. Por favor. –Ela repetiu, com uma voz bem mais inteligível e firme.

-Eu não preciso de explicações. Sou grande o suficiente para compreender o que meus olhos viram. –Eu estava evitando o máximo olhar para ela. Minha voz soava mais áspera do que eu esperava.

-Lysandre me beijou! Eu não pude fazer nada com as mãos presas, acredita em mim! –Eu acreditava nela. Pelo fato de acreditar que Lysandre era capaz de tudo depois daquele incidente.

-Ah, pensei que ele fosse sua médica. Dermatologista bom ele, não acha? –Minhas palavras fizeram mais lágrimas rolarem.

Há alguns momentos atrás, eu me odiaria até a morte em ser o motivo do seu choro. Naquele momento, dois terços de mim até gostavam daquilo. “Pagar na mesma moeda! Faça a sentir dor! Do mesmo jeito que você está sentindo!” sibilavam. Mas o sussurro era persistente, “Abrace-a! Conforte-a! Tome-a em seus braços! É isso o que você quer. É isso que você tem vontade de fazer quando a vê chorando”. Mesmo que você só um sussurro, mesmo que você só um terço, era difícil de lutar contra aquela parte de mim mesmo. Então eu me agarrei ao ódio. Era realmente confuso saber o que eu mesmo estava sentido naquele momento. Mas uma coisa era certa; eu não conseguiria perdoar Kamile. Talvez nunca mais. Do mesmo modo, só havia ódio para com Lysandre. Esse sim, com toda a certeza do mundo, para sempre.

Mesmo só pensando nessa hipótese, aquelas palavras eram ácidas. E só faziam tudo doer. Ainda mais. Lysandre era uma coisa. Kamile era outra. Não havia comparação. Estava questionando quanta doer o corpo humano pode suportar. Não tinha a menor noção. Mas poderia afirmar cegamente, que não chega aos pés do que um coração suporta.

Kamile

Visão de Kamile

Eu queria uma adaga. E um assassino. Assim ele poderia me dar a morte lenta e dolorosa que eu merecia. Estava sentindo tudo em mim um destroço. Como se um furacão tivesse passado e destruído tudo. E o que resistiu e sobrou, estava totalmente uma bagunça.

-Castiel. –Repeti o nome o mais suavemente possível. Estava tentando manter a calma e não sair por aí que nem louca para ressuscitar Einstein, torna-lo meu escravo e obriga-lo a construir uma maquina do tempo para mim. Ou render ao impulso de procurar um assassino portador de adaga em qualquer esquina escura em um beco. Não me parecia ideias tão ruins.

Mas o problema não era eu. O problema era a dor que eu causara nele. Eu o conhecia. O conhecia mais do que conhecia a mim mesma. Eu nunca havia o visto naquela maneira. Seus olhos estavam completamente cinzas. Não havia nenhum vestígio do castanho mel que o preenchera o rosto intensamente esse ultimo dias. Talvez ele não estivesse percebendo, mas sua respiração estava ofegante. Não de cansaço, mas como se estivesse lutando contra uma fera dentro dele. Uma batalha interminável onde ele não tinha a menor chance de vitória.

Respirei fundo mais uma vez. Queria que o ar pudesse purificar o que havia sobrando dentro de mim. Não por que a sensação de se perder de si mesmo era horrível. Eu merecia isso, eu merecia muito mais que isso. Mas eu queria estar bem para reconforta-lo. Eu queria poder tirar toda aquela dor que eu sabia que ele estava sentindo e jogar em mim.

Normalmente, em outras situações parecidas (mas nem comparáveis a essa), como quando ele brigava com os pais ou quando uma corda da guitarra se quebrava, eu conseguia facilmente distrai-lo, conforta-lo... Mas agora era diferente. Eu me sentia impotente. Impotente em ajudar meu melhor amigo. Não, muito mais que meu melhor amigo. A única pessoa viva que eu tinha a certeza absoluta que amava. E eu o havia machucado.

As lagrimas rolavam compulsivamente no meu rosto sem minha permissão. Estava me sentindo tão péssima que era possível que nem um assassino portador de adaga se acharia digno de me matar. Agora mais que nunca eu deveria tomar consequências sobre meus atos. Por mais doloroso que isso fosse. Sim, eu estava certa. Mas isso não queria dizer que eu aceitava. No fundo remoto do meu coração, havia uma vontade de louca de poder voltar àquela manhã e mudar tudo aquilo que estava acontecendo. Impossível. Droga.

-Eu só irei falar uma vez. Então escute bem. –Castiel sacudiu meus ombros fazendo meus olhos arregalados encarem aquela neblina cinza dos seus.

Doía.

Ótimo.

-Eu não quero saber o por quê. Eu não quero explicações. Eu vi. Não preciso nada mais do que isso. –Sua voz não soava mais tão bruta como alguns segundos antes. Soava fria. Parecia que ele havia conseguido achar um equilíbrio... Entre a fera e ele. –Quero deixar bem claro, que para mim, você não existe mais. Eu não quero mais saber de nada que tenha a ver com você. Não quero de você na minha vida. Você nunca existiu. Você foi um fruto da minha imaginação. Aqueles que crianças bobas chamam de amigos imaginários. Você não passa de uma velha lembrança de um irritante amigo imaginário para mim. Infelizmente, querendo eu ou não, vamos nos encontrar por aí. Rua, escola... Enfim... Eu vou te ignorar completamente. Sugiro que faça o mesmo. Não que eu me importe no que irá acontecer com você. Quer saber? Foda-se! –Ele largou meus ombros, o que me fez despencar de joelhos no chão, deus as costas e foi embora.

Nem que eu pensasse o resto da minha vida, poderia achar um “castigo” melhor que aquele. Ele se foi. Se foi para sempre. Eu não queria aceitar aquilo! Eu queria sair correndo e gritando atrás dele para ele não me deixar! Dizendo a ele o quanto o amava e o quanto ele significava na minha vida!

Mas eu não podia.

Eu não tinha esse direito.

Não depois do que fiz com ele.

Então, me pego a um deja vu. Estou sentada na cerejeira. E choro. Choro inconsolavelmente. De vez quando tento olhar para os lados para ver se avisto Ambre com um cabelo loiro brilhante chacoalhando e suas amigas. Aquilo poderia ser um sonho. Um sonho onde Castiel apareceria, me defenderia, e eu, depois de um ano da morte da senhora Stark, poderia reencontrar a felicidade novamente. A felicidade rockeira, rabugenta, mal humorada, mal compreendida, desafiadora, irritante, arrogante, troll... Mas a felicidade. Eu acabara de perder a felicidade para o resto da minha vida. Pela segunda vez.

Droga. Desabei em choro novamente. Dessa vez, porém, a culpa tinha sido exclusivamente minha. E de mais ninguém. Não, pera...

Castiel        

Ele saiu do parque sem rumo. Sentia como se tivesse esquecendo alguma coisa... Ah, claro, uma parte dele. A coisa mais importante da vida dele. Bom, pelo menos desse jeito ele já iria se acostumando. Esquece-la era uma missão, um dever, uma obrigação. Á partir de agora. Mas nunca um desejo. Nunca.

Abafar aquele sussurro era cada vez mais fácil. Ele era pequeno e frágil. Depois daquele momento no parque, ele tinha perdido quase completamente a sua força. Mas nunca inteiramente. Nunca o suficientemente para deixa-lo bem.

Em algum momento, do qual ele estava muito distraído para perceber, ele entrou em casa. Subiu as escadas sem ver. Entrou no quarto, muralha. Porto seguro. Porto seguro sem vida, já que o com, se foi. Bate a porta com todo o resto de força que o resta. Desaba na cama. Aí sim. Só aí. Ele se permite chorar. Muito mais do que queria.   


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Notas finais do capítulo

Pois bem... Estou em uma fase meio "chatinha" da minha vida... Então estava um pouco inspirada para escrever desastre. Esse capitulo veio em boa hora.
E se não tiver bom (não deve estar, estou postando isso ás 03:30 da manhã, praticamente zonza de sono, mas enfim), fazer o que? n.n
Desculpa pela demora novamente para postar ;/ Como eu disse, "chatinha..."
Se quiser deixar um review, eu juro que não mordo, não arranco pedaço e ainda não tive oportunidade de executar meu primeiro assassinato então... Pode ter certeza que você não será a primeira... Ou será... e_e
Caraca, eu sou boa até pedindo review né? -SQN! *w*