Cego Coração escrita por Aella


Capítulo 15
Décimo Quinto Capítulo - Cego Coração


Notas iniciais do capítulo

Gente, desculpem pela demora! Eu viajei nas férias. ^-^
Espero que todos gostem bastante desse capítulo!



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O vento voava ao seu lado, desarrumando a trança que Kagome tão cuidadosamente havia feito. As lágrimas manchavam seu rosto enquanto ela corria, mas as árvores altas e com folhas grossas davam uma sensação de proteção a ela, então ela não se importava. Tudo que ela queria era sair dali, sair de perto de tudo. Tentar livrar sua mente das palavras venenosas que haviam a machucado tanto.


Ela correu até cansar. Seu vestido de pele de lobo estava amassado e um pouco rasgado por causa dos vários galhos que engatavam nele e, com o puxar do corpo da moça, o estragavam. Mas, novamente, ela não se importava. Ela queria se distanciar de Kouga e de sua rejeição, por isso ela xingou quando percebeu que não ia conseguir correr mais, não por um tempo.


Kagome sentou-se em um tronco caído e limpou o suor da testa. Decidiu deitar-se no tronco para tentar recuperar o fôlego melhor, mas o cansaço acabou ganhando e ela adormeceu.


–x-


– Noriko! - O príncipe chamou a loba. Já fazia um bom tempo que Kagome havia saído com ela e Noriko voltado, mas ele ainda não havia visto a sacerdotisa.


– Ah, Alpha Kouga! - Ela respondeu com um sorriso.


– Noriko, você sabe onde está Kagome? - Ele perguntou preocupado. - Eu não a vi voltando com você...


– Não mesmo. Ela não voltou comigo. Ela disse que ia ver umas coisas... Ela não disse o que, mas eu não a vi desde então.


– Ver umas coisas...? Tipo o quê? - Kouga perguntou mais para si do que para a loba, mas mesmo assim ela deu de ombros e sumiu entre os lobos na caverna.


‘Ver umas coisas... Kagome, o que aconteceu?’ Pensou, e em seguida saiu da caverna.


Lá fora, onde o cheiro dos lobos não estava tão forte, conseguiu identificar alguns cheiros. Seguiu-os até a beira do lago.


‘Droga, esse é o cheiro da Ayame e das amigas dela... Alguns outros lobos estavam aqui também.’ Kouga ia de um lado para o outro da margem. ‘Kagome! Esse é o cheiro dela! Mas... Também sinto o cheiro de lágrimas e... medo?’ Levantou num pulo e correu de volta a caverna, tentando achar Ginta ou Hakkaku.


Ao longe pode achar o cabelinho cinza com a mecha escura de Ginta e, sem ligar para quem estava por perto ou o que o youkai estava fazendo, pegou-o pela armadura e o arrastou para fora da caverna.


– Kouga! - Ginta berrou. - O que é isso? Calma! - O youkai podia sentir a raiva que seu líder estava emanando.


O príncipe finalmente o soltou, perto da margem do rio onde ele estava antes.


– Diga-me, Ginta, o que sente? - Falou rosnando.


O lobo engoliu em seco e cheirou o solo e o ar. Sua expressão mudou assim que ele percebeu do que tudo se tratava.


– É o cheiro da irmã Kagome... Misturado com o cheiro de medo e tristeza. E um pouco de desespero também. - Kouga concordou com a cabeça, mas fez um movimento com as mãos que sinalizava para Ginta continuar a procurar. - Hm... Tem também o cheiro dos lobos da Tribo do Norte. - Falou confuso. - Mas qual relação teriam os lobos com esses sentimentos de Kagome?


– Continue. - Ordenou e seu fiel amigo continuou a investigar o local.


– Espera! - Exclamou Ginta, com os olhos arregalados. - Ayame! Não pode ser... Será que ela...


– Com certeza! - Respondeu o Alpha com um grunhido, levantando-se de onde havia permanecido sentado.


Pegou Ginta pelo pescoço e o empurrou contra a parede de pedra da caverna.


– Você vai ficar de olha na Ayame enquanto eu vou procurar Kagome. Você não vai tirar os olhos dela por um instante sequer. Você vai assegurar que ela não saia da caverna e faça mais merda.


– S-sim, Kouga.


– E quando eu voltar e a Kagome estiver a salvo, eu vou banir essa vadia.


– Banir? Mas Kouga, ela é a princesa, eu acho que você nem pode fazer-


– Cale a boca, Ginta! - Kouga explodiu. - Essa mulher vem aqui, sem aviso prévio, em primeiro lugar. Depois ela tenta me seduzir na frente de todo mundo, o que iria humilhar a Kagome indiretamente se tivesse funcionado. Depois ela descobre que eu ainda estou com Kagome e mesmo assim não desiste de tentar virar minha fêmea, mesmo após anos de rejeição. E agora... - Ele continua, quase incrédulo com o que Ayame fora capaz de fazer. - Ela encurrala minha Kagome e chama seu bando de lobos para fazer alguma coisa terrível com ela. Tão terrível que agora ela está desaparecida. - Ele solta Ginta que, assustado, tenta se distanciar de seu Alpha, deslizando pela parte de fora da caverna de um jeito que seria até engraçado em outras circunstâncias. - Então, não me venha dizer que eu não posso banir Ayame. Esse é meu território e com o que ela fez ela desrespeitou a mim e a minha companheira.


– E-ela não é sua c-comp-


– Ainda! Porra Ginta! - Kouga socou a parede da caverna, fazendo um pequena buraco na mesma, mas machucando sua própria mão ao ponto de sangrar. - Desrespeitou minha companheira ao ponto de humilhá-la e fazê-la sentir a necessidade de sumir.


O youkai lobo andou até a margem do rio, onde o cheiro de Kagome estava mais forte. Provavelmente o lugar onde ela estava quando suas lágrimas começaram a cair.


– Quando eu voltar, Ayame nunca mais irá pisar em meu território. Nem ela e nem nenhum dos outros lobos envolvidos. - Ele disse, de costas para Ginta. - E, enquanto você estiver cuidando da desgraçada, o Hakkaku vai descobrir de quem são os outros cheiros que estão aqui. Além das duas fêmeas que vieram com ela, há mais uns três ou quatro lobos envolvidos.


– S-sim, Kouga. Eu dou o recado.


– Vá. - Ordenou simplesmente e, assim que sentiu que o youkai havia entrado na caverna, voltou a investigar o local.


Conseguiu pegar o cheiro de sua amada novamente. ‘O cheiro dela... Continua para a floresta?’ Perguntou a si mesmo, preocupado. Seu território só se estendia até metade da floresta. Se Kagome passasse dessa “barreira”, ela com certeza teria problemas. Inúmeros youkais caçavam por lá e Kouga achava que, no estado que ela parecia estar, ela não conseguiria se defender de todos. Sem contar que ela obviamente não havia trazido nenhum tipo de arma, nem mesmo seu arco e flechas.


Sem perder tempo, o Alpha saiu correndo para dentro da floresta, criando seu famoso tornado com suas pernas velozes, mesmo sem os fragmentos da jóia. Nem pensou em pegar Goraishi, ele tinha que chegar até Kagome antes que outra coisa chegasse, e ele conseguiria dar conta do que fosse sem a arma antiga de seus ancestrais.


Correu como uma bala pela floresta. Não conseguia nem enxergar as árvores que voavam ao seu lado, mas, com seus reflexos de lobo, conseguiu não esbarrar em nenhuma, mesmo em, provavelmente, a velocidade mais rápida que já havia viajado.


Finalmente, após seguir o cheiro de Kagome por um bom tempo, parou em um lugar onde seu cheiro estava muito forte. Diminuiu sua velocidade para poder dar uma olhada melhor no lugar e ver se Kagome ainda estava por ali.


Havia parado perto de um tronco caído. O tronco já havia caído há uns bons anos, dava para perceber por causa do número grande de outras plantas e até algumas flores que tinham crescido em torno e por cima. Chegou mais perto, sentindo o cheiro de Kagome por toda a área. O cheiro no tronco, porém, era muito mais forte do que ao redor. ‘Ele deve ter sentado aqui, ou deitado.’ Pousou sua mão, ainda sangrando, por cima do tronco. ‘Se ela veio correndo, ela deve ter parado aqui para descansar.’


O aroma de Kagome ainda estava relativamente fresco. O príncipe deu mais uma olhada ao redor, para ter certeza que ela não estava ali perto, mas não havia nenhum sinal dela. Conseguiu pegar uma trilha com seu cheiro e, novamente, saiu atrás dela.


–x-


Suas pernas já estavam cansadas, mas ela sabia que precisava continuar. Quando parou para deitar-se no tronco e pegou no sono havia perdido tempo demais. Tudo bem que ela havia apenas cochilado por uns minutinhos, mas todo tempo era precioso.


Seu coração doía, chorava, gritava para ela parar e virar, começar a correr na outra direção. Seu coração estava tentando convencê-la de que seu lugar era ali, na tribo, com Kouga, Ginta, Hakkaku, Katsumi e todos os outros que agora eram sua família.


Ela parou. Hesitou por um momento. A última coisa que ela queria era ir embora. Ela amava o lugar, ela amava seus amigos, amava todo o povo, os filhotes... Ela amava Kouga. Irônico que ela só percebeu isso justamente quando ela tinha que fugir dele. Ele iria escolher Ayame, e, se tinha uma coisa que Kagome não iria aturar, era ser trocada mais uma vez. Ser deixada de lado. Ser a segunda opção.


As lágrimas, agora já praticamente as melhores amigas de Kagome, voltaram a encher seus olhos. A primeira delas iria cair, mas antes dela sequer começar seu rastro, um mão carinhosa a limpou.


Assustada, Kagome deu um passo para trás, tropeçando em uma raiz. Caiu de costas no chão forrado de folhas.


Seus olhos não acreditavam no que viam. Em pé, em cima dela, estava o único homem que ela, ao mesmo tempo, mais queria e não queria ver.


– Kagome... - Sua voz a chamou. Ela nunca havia percebido antes como o seu nome ficava milhares de vezes mais bonito quando falado por ele. Ele ajoelhou-se ao seu lado, entre as folhas. - Kagome...


A presença de Kouga era demais para ela. Era avassaladora. Tão avassaladora que ela não conseguia nem levantar. Significava que ela havia falhado, ela não conseguiu sumir, como deveria. Em contra-partida, significava que ela estava segura. Kouga transmitia para ela um sentimento de segurança, nada aconteceria com ela se ele estivesse junto.


– Kagome, por que...? - Perguntou, mas ela não conseguia responder. - Ah, Kagome... - Ele disse, assim que percebeu que ela nada falaria. - Você me deixou tão preocupado... Eu quase enlouqueci. Eu queria rasgar alguém em pedaços. - Respirou fundo, inalando o aroma de Kagome, algo que ele sempre, secretamente, adorava. - Mas é incrível como, agora que estou com você, estou completamente... calmo.


A sacerdotisa conseguiu tomar coragem para olhá-lo nos olhos. Suas orbes azuis como o céu observavam-na, preocupadas.


– Eu sei que foi a Ayame. - Ele lhe disse. - Não sei o que ela fez pra você, mas ela não vai nos incomodar nunca mais. - Kagome voltou a chorar, lembrando das palavras e da risada da loba. - Não, querida, não chore. Vai ficar tudo bem. Ela nunca mais vai poder fazer nada para você.


Por algum motivo, o coração da moça se acalmou. Ela acreditou no que ele disse, acreditou em tudo. Acreditou na sensação de segurança que ele lha dava. Mas ela não fazia ideia do por que que ele faria essas coisas por ela. Ele não a merecia, ele não a queria. Ela sempre o havia tratado como um amigo, mais nada. Ele iria ficar com Ayame, não com ela, então por que ele dizia essas coisas pra ela? E por que ela acreditava?


– Por que? - Perguntou, a voz fraca.


– Por que o quê, Kagome? - O youkai estava confuso com sua pergunta e ao mesmo tempo aliviado por ela estar falando novamente. Ela estava melhorando.


– Por que está preocupado? Por que fez tudo isso por mim?


Kouga engoliu em seco. Não era algo novo para ele, mas agora tudo tinha um novo sentido. Tudo estava mais sério e ele achava que agora... Poderia dar certo.


– Porque eu... Eu lhe amo. - Ele disse, olhando para seu rosto, ainda deitado sobre as folhas caídas. - E eu faria qualquer coisa por você. Farei de tudo para lhe proteger. Para sempre.


Mais uma vez, sem a permissão de Kagome, as lágrimas começaram a escorrer. Ele não deveria estar falando isso... Não para ela. Mas seu coração estava a mil, e ela estava imensamente aliviada. Era aqui, com Kouga, que ela pertencia.


– Por que está chorando? - Perguntou o príncipe, preocupado que ele fosse receber a mesma resposta que ele sempre recebia.


– E-eu nunca pensei que fosse tão lindo ouvir essas palavras.


Kouga sorriu e viu um sorriso maravilhoso brotar nos lábios de Kagome. Ele passou sua mão limpa por seu rosto, acariciando sua bochecha e limpando as lágrimas que estavam no caminho. Abaixou-se, fechando seus olhos segundos antes de beijar-lhe suavemente nos lábios.


Já havia beijado outras mulheres antes, mas a sensação dos lábios de Kagome contra os dele era algo completamente fora desse mundo. Ele sentiu, pela primeira vez, que estava inteiro. Kagome o completava, e ele teve certeza, a partir daquele momento, que nunca mais deixaria ela partir. Nunca mais deixaria ninguém machucá-la como Ayame havia feito.


Tirou seus lábios dos dela, terminando assim o beijo momentaneamente. Os olhos castanhos de Kagome brilhavam como ele nunca havia visto antes, e ele se sentiu extremamente orgulhoso por ser o motivo desse brilho.


– Eu lhe amo, Kouga. - Ela disse, passando seus braços por trás de seu pescoço, puxando-o novamente de encontro com ela.


Beijou-lhe ferozmente. Seu beijos tendo um contraste enorme com o que Kouga havia lhe dado. Ela estava machucada, precisava se curar. E o único remédio que funcionaria era o conforto e as sensações que somente Kouga conseguia dar a ela.


–x-


Ficaram na floresta até escurecer. Ainda estavam no território do Alpha, então não existiria perigo. Kouga achou melhor eles continuarem ali até a Tribo do Norte ir embora, pois, mesmo com Kagome ao seu lado, ele não iria conseguir se controlar se visse o rosto de Ayame, e ele não gostada nem um pouco da ideia de começar uma guerra. Bani-la, mais tarde, seria uma ideia infinitamente melhor.


Passaram a tarde deitados no mesmo lugar, Kouga saciando a fome que tivera desde o momento que viu a moça pela primeira vez e Kagome se limpando de todos os pensamentos negativos que lhe foram implantados.


A sacerdotisa descansou a cabeça no peito de Kouga, que tinha seus braços em volta dela, protegendo-a, como ela sabia que ele sempre faria.



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Notas finais do capítulo

Obrigada a todos por ler! Deixem suas opiniões para eu ler nos comentários!
Viva à Kagome e ao Kouga! *O*